30/04/2006

ESTA SEMANA

CONSUMO
O Ministério da Educação vai estabelecer um quadro de orientações para a oferta de alimentos nas escolas. Estas regras restringirão o consumo de certos produtos, como bolachas, e poderão mesmo proibir outros, como refrigerantes e batatas fritas. O assunto ganhou actualidade com o aumento da obesidade entre as crianças e adolescentes e consequentes problemas de saúde. Portugal é o vice-campeão da Europa em excesso de peso nos mais novos.
Há dias, falando com um Professor da Escola de Pinhal de Frades, fiquei espantado quando este me disse que muitos dos alunos não utilizam o refeitório da Escola, preferindo dar uma saltada ao renovado espaço comercial recentemente inaugurado no Fogueteiro, para aí adquirirem os “hamburguersinhos” as batatas fritas e os refrigerantes da moda.
Bem pode o Ministério definir orientações, quando os jovens são bombardeados diariamente com campanhas publicitárias para os aliciar ao consumo destes e doutros produtos nocivos à sua saúde.

GASOLINEIRAS
A legislação que obriga a colocar painéis electrónicos com os preços comparativos dos combustíveis nas auto-estradas e nas SCUT foi publicada em Diário da República há quatro meses, mas ainda não foi cumprida.
Esta Lei, anunciada em Agosto de 2005 e que entrou em vigor a 1 de Janeiro deste ano, foi criada com vista a proteger os consumidores, permitindo escolher o preço mais baixo entre as gasolineiras disponíveis.
Com a nova Lei passa a ser obrigatório colocar um painel electrónico com os preços praticados nas três estações de abastecimento seguintes, dois quilómetros antes de cada estação de serviço.
O problema é que os nossos políticos de cravo ao peito fizeram a Lei mas não a regulamentaram, impossibilitando assim a sua aplicação.
Teria sido por falta de tempo ou os senhores políticos não querem entrar em litígio com as gasolineiras, porque não se sabe se no futuro não poderão vir a ser penalizados na obtenção de um lugarzito na administração de uma delas ?

CHERNOBYL
Passaram-se já 20 anos sobre a tragédia que se abateu sobre Chernobyl e essa triste efeméride trouxe-me a imagem das crianças Ucranianas que tive a oportunidade de visitar por mais de uma vez em Tarará (Cuba), onde estavam em tratamento intensivo das enfermidades provocadas pelo desastre nuclear.
Após o acidente, Cuba ofereceu gratuitamente os seus serviços para receber as crianças afectadas em Chernobyl, tendo já passado por Tarará mais 20.000 menores sofrendo dos efeitos das queimaduras radioactivas, as quais são tratadas através de um programa de regeneração celular que utiliza algumas propriedades extraídas da placenta humana e em que a Medicina Cubana é pioneira.
É por estas e por outras é que me orgulho muito de Cuba: enquanto uns falam, falam e não fazem nada, outros, mesmo tendo pouco para si próprios, estão sempre na primeira linha para ajudar os que mais necessitam.

26/04/2006

Meu querido e estimado Zé

Escrevo-te esta carta no dia 25 de Abril de 2006. Calhou assim. Calhou – e nada mais. É que é sempre à terça-feira – ou quase sempre – que escrevo as provocações que leio à quarta, aqui na nossa Rádio Baía e, assim sendo, aproveito o facto para, como se costuma dizer, matar dois coelhos de uma só cajadada. Não fora isso, e, meu caro amigo, nem no 25 de Abril tocaria. Acho que tem direito a descansar em paz, a ser respeitado lá no assento etéreo onde subiu, como diria Camões.

Antes de mais, quero dizer-te que, ao contrário do que me aconteceu há 32 anos atrás, em que passei o dia nas ruas de Lisboa, de transístor colado aos ouvidos e, depois, pela noite fora, agarrado à televisão, hoje, cá em casa, decidimos que, tanto rádio como televisão, ficam em silêncio. Hoje, meu amigo, meu irmão, em nome da nossa memória e das nossas esperanças, em nome da minha e da tua dignidade, é dia de recolhimento, e nenhum canalha entrará na minha casa para conspurcar o pão – cada vez menos e cada vez mais duro – que vamos comungar. Hoje, em minha casa, em memória de Abril, os meus e os teus inimigos ficarão a falar sozinhos nos estofos e nos palanques, onde certamente irão bolçar as hipócritas confissões democráticas ou, já sem qualquer decoro ou maquilhagem, a retórica opressora do sacrossanto poder do deus dinheiro, o único a que obedecem, o único em que acreditam.

Perguntou-me alguém, há dias, se eu iria às comemorações do 25 de Abril, feitas de um espectáculo musical, eventualmente antecedido de discurso de circunstância, debitado pelo mandante do sítio, e seguido do habitual fogo de artifício. Respondi-lhe assim: «Não, minha querida amiga e camarada, amanhã não vou assistir às cerimónias litúrgicas por alma do 25 de Abril, pois deixaram de ter, há já alguns anos, qualquer significado para mim (ou só têm esse, o significado de me lembrar que Abril está morto e enterrado). Para além disso, lembro-me sempre que aqui, no nosso caso concreto, onde o 25 de Abril devia – e podia – ser praticado todos os dias, é pura hipocrisia transformá-lo numa efeméride branqueadora da «ideologia» e das práticas em curso. Aqui também se está a enterrar Abril – e a todo o vapor. Por isso, ninguém conte comigo para folclores, nem para ouvir discursos quadrados, sempre iguais, sempre estúpidos e sempre falsos. O meu ABRIL já é outro».

E é isso que eu penso, meu amigo. O 25 de Abril deveria fazer hoje 32 anos, mas não faz. E sabes porquê? Porque morreu há muito, e ainda ninguém (para além de mim e de mais uns quantos loucos) teve a coragem de o dizer. Escondem-nos que o 25 de Abril morreu, para que continuemos a acreditar que tudo o que nos esmaga e tritura é democrático e é, em última análise, bom para nós.

Há dias, dizia um dos muitos espertos que ganham a vida a falar bem dos governos e a tentar explicar a bondade das suas políticas, que a nossa economia não aguenta o Estado Social. «Claro que não», pensei eu. A nossa economia, como sabes, amigo Zé, só aguenta a acumulação de mais e mais riqueza nas mãos de uns quantos. A nossa economia só aguenta os baixos impostos que os bancos pagam sobre os seus lucros fabulosos. A nossa economia só aguenta os “off-shoores”. A nossa economia só aguenta a isenção de impostos sobre os lucros da especulação da bolsa. A nossa economia só aguenta toda a bateria de tachos com que os políticos se presenteiam uns aos outros, com ordenados sobre ordenados, com reformas sobre reformas, com reformas mais ordenados, com ordenados mais reformas, com carros, telemóveis e “plafonds” quase sem limites para despesas de representação que cobrem almoços e jantares grátis, com belos acepipes e uísques com idade superior a (pelo menos) 15 anos.

E neste baile macabro, um verdadeiro «baile dos malditos», dançam quase todos os que, por várias manhas e artimanhas, treparam aos lugares de mando desta indecorosa democracia. Dançam, até, muitos dos que deveriam combater, pelo exemplo de inquestionável honestidade e dedicação, tão repulsiva farra.

A nossa economia só aguenta a paga de favores, também chamada corrupção, com as enormes negociatas a baloiçar entre as grandes obras públicas e os arranjinhos urbanísticos, com toda a gente a comer à conta de ti, amigo Zé, que és tu quem paga, sempre, a factura final.

Dê cá um lote, tome lá mais área de construção: tome lá a minha boa-vontade, dê cá uma piscina para a minha pequena herdade; fecha-me os olhos a isto, toma lá este cargo, que é mesmo à tua medida; sim, concordo com a obra, mas o que é que eu ganho em troca?

Zé, meu querido e pobre Zé, esta democracia transformou-se num bacanal. Cantava, aqui há uns anos, certo cantor de intervenção, que «cravo vermelho ao peito, a todos cai bem. Sobretudo dá jeito a muitos filhos da mãe». E é bem verdade. Foi agarrado aos cravos e a belos princípios que muito oportunista trepou por aí acima. O cravo é o seu balão de oxigénio, o seu salva-vidas, o seu soro fisiológico. Acena com ele no dia em que tira a ridícula pose emproada e a gravata de circunstância, para que tu, amigo Zé, penses que ele ainda é um dos teus. Mas olha bem para o que se esconde atrás das palavras e dos gestos, olha para o teu dia-a-dia, olha para ti, que nunca passaste da cepa torta, e olha para ele, e vê lá se o reconheces, se é que alguma vez o conheceste. E se abres a boca para dizeres que isto não é cumprir Abril, que isto é uma mascarada, que, afinal, talvez o 25 de Abril só esteja a aproveitar a uns quantos, e logo te cairão em cima raios e coriscos, dizendo que o malandro és tu.

Sabes que mais? Acho que chegámos à fase do democrata “Mac Donnalds”. Que raio de democrata é esse? – perguntas tu. E eu respondo: é o democrata “pronto a servir-se”.

Por isso te digo, Zé, que o 25 de Abril foi chão que deu uvas – ou só dá uvas, nos tempos que correm, para a nova aristocracia instalada no poder político, e a velha casta dos Senhores do Cacau – os nossos «coronéis» – que estão melhor hoje do que estavam no tempo da Outra Senhora. E, também para os “boys” e “girls” que povoam os gabinetes da administração central e local, latindo e dando à cauda conforme julgam que o seu amo deseja. Um nojo, meu amigo. Um nojo.

Olha bem para eles, vê o que fazem, pergunta quanto ganham à tua conta, mira-os dos pés à cabeça, vê que carros conduzem, em que moradias moram, onde passam as férias, que perfumes gastam, em que restaurantes comem, e pergunta a ti mesmo se é assim que eles viveriam se – coitados! – não se tivessem dedicado a servir o bom povo português. Um dia, Zé, talvez te mostre uma colecção que eu tenho, composta de pequenos rectângulos cheios de palavras e números, prova acabada do que fazem certos democratas a quem tu, meu ingénuo amigo, na melhor das intenções entregaste o poder. Um dia, se calhar…

Dito isto, talvez agora percebas porque são tão poucos os que hoje, no panorama político/partidário, combatem o 25 de Abril. É que «este» 25 de Abril (este, e não o teu – o nosso – que está morto) lhes serve às mil maravilhas. Vão-se enchendo, asseguram o seu presente e o seu futuro e, o que é mais importante – e verdadeiramente diabólico – é que todos os sacrifícios que te impõem, Zé, são sempre em nome da democracia e – vê lá tu bem a ironia! – em nome desse mesmo 25 de Abril.

Por hoje, Zé, meu querido amigo, fico por aqui. Para a semana, se tiver pachorra, talvez te fale do descalabro da nossa economia, dos dias terríveis e inquietantes que se aproximam, dessas coisas. E doutras.

Mas não quero acabar sem te dar, em primeira-mão, uma notícia espantosa e que reflecte, sem margem para dúvidas, o estado a que esta nossa «democracia» chegou, prova de que o nosso 25 de Abril está mais do que morto. Tens ouvido falar do caso Casa Pia e dos nomes envolvidos (dos que estão na barra do tribunal, e dos que – todos sabemos porquê – não chegaram a sentar-se no banco dos réus), tens ouvido falar disso, não tens? Pois…

O que tu não sabes, é que todo o processo pode ser anulado. «Porquê!?», perguntarás tu, incrédulo. Eu esclareço-te. Lembras-te, logo no início do processo, de um dos advogados ter pedido que o juiz Teixeira fosse substituído pelo juiz «natural», a quem competia pegar no processo? Lembras-te que isso foi parar ao Supremo? Pois foi, e aí é que está o busílis! É que o acórdão, segundo ouvi dizer a fonte bem colocada, rezará que embora o juiz Teixeira não seja o juiz «natural», dado o volume de trabalho do titular, o juiz Teixeira continuará com a instrução do processo. No final do julgamento, se a defesa reclamar, voltará o Supremo a debruçar-se sobre o pedido de rejeição do juiz! Ficaste de boca aberta? Também eu. Já viste, certamente, onde é que isto vai dar: É isso mesmo. Se a defesa, reclamar, porque o julgamento lhe correu mal, então, o Supremo decidirá. Isto quer dizer, para muito boa gente, que o mais natural é… TODO O PROCESSO SER ANULADO!

Será, meu querido amigo – e sempre lixado – Zé, como se nunca tivesse havido processo Casa Pia. Muitos milhões de euros, incalculáveis horas de trabalho, anos de “stress” e de violência física, de sórdida farsa legal... tudo – mas tudo mesmo! – para o lixo! Principalmente as vítimas. Afinal, até já foram indemnizadas, estás a perceber agora?

Olha, Zé. Como te disse, «este» 25 de Abril já não é o nosso. Nossas, são a esperança, a luta, a coluna vertebral bem direita, a coragem de sermos homens livres e de dizermos o que pensamos.

Zé. Nosso, é o 25 de Abril por haver.

SEMPRE!


(Crónica de João Carlos Pereira - Lida aos microfones da Rádio Baía em 26/04/2006)

22/04/2006

URUBUS

São aqueles passarões que esperam que os moribundos passem a cadáveres para depois os comerem. A TVI obteve, com a transmissão em directo do funeral de um jovem actor, cerca de 65,5 % de ‘share’, transformando em espectáculo o que deveria ser um momento de recolhimento profundo para familiares e amigos.
Não sei o que mais me indigna: se o aproveitamento de uma televisão sobre uma tragédia, se o conjunto de gente mórbida agarrada à televisão e que não deve ter mais nada para fazer.
Pobre rapaz, que depois de morto ainda continua a dar lucro a quem não olha a meios para atingir fins, indiferente à dor e ao desgosto, explorando os sentimentos que deveriam ser respeitados.
Será esta a sociedade e o mundo onde queremos viver ?

JUSTIFICAÇÕES ?
O líder da bancada parlamentar do PS, Alberto Martins, propôs a redução de três para duas o número de sessões plenárias por semana. A proposta surgiu após a polémica ‘gazeta’ parlamentar do passado dia 12, onde 107 deputados falharam a votação no Plenário.
Aqui está uma boa fórmula para que não volte a acontecer o mesmo: basta reduzir o número de sessões plenárias e assim os riscos serão menores.
Houve quem justificasse a falta porque esteve numa consulta médica ou porque teve uma reunião partidária inadiável, mas também houve quem dissesse que faltou por razões pessoais, como o deputado Luís Rodrigues, eleito pelo PSD no circulo eleitoral de Setúbal.
Como as justificações dadas por alguns deputados são de tal modo esfarrapadas, melhor seria acabarem de vez com toda aquela palhaçada mascarada de democracia.
Tal como sugeriu o prof. Marcelo Rebelo de Sousa, devemos saber quem são os faltosos para que numas próximas eleições não nos venham pedir o voto.
Por Setúbal, os faltosos foram os seguintes:
Alberto Marques Antunes, António Vitorino. Maria Sarmento Dinis e Vítor Ramalho (PS); Fernando Negrão e Luís Rodrigues (PSD); Francisco Lopes (CDU).

PARIDADE ?
Após mais uma palhaçada, lá foi aprovada a custo e à segunda tentativa, pelo PS e pelo BE, a tal Lei da Paridade(?) dos sexos nas listas concorrentes a eleições legislativas, europeias e autárquicas.
Não percebo é porque não aplicam essa mesma paridade no governo, pois certamente que as mulheres seriam muito mais competentes que a maioria dos ministros e secretários de estado.
E porque será que nas administrações das empresas públicas de nomeação governamental não existem mulheres ?
Para além de subsistirem sérias dúvidas sobre a constitucionalidade desta Lei, ela encerra em si um atestado de menoridade às mulheres, porque, se estas não participam mais activamente na politica é por razões de ordem social e não de qualquer outra discriminação, pelo que, os argumentos apresentados são pura demagogia.

19/04/2006

Amêndoas amargas

Passou a Páscoa. Os mais endinheirados puderam sair das rotinas diárias, quer isso significasse uma viagem à terrinha, ou, noutros casos (e isto, a acreditar no que nos foi dizendo a televisão, que insistiu na tecla), uma ida até aos Algarves. Os tesos, ficaram por aí. Dos muito endinheirados – os super-ricos, quer sejam os do costume, quer sejam os novos-ricos que por aí vão florescendo à custa da política e doutras habilidades – desses, não soubemos nada, mas deve ter sido bem doce e suculenta a sua festa pascal. Se Cristo os visse, certamente se perguntaria porque carga de água tanto se esforçou há dois mil anos – até se deixando crucificar para limpar tanta sujeira – se as coisas estão hoje bem piores do que nesse tempo.

É. O mundo está mais perigoso, mais violento, mais desigual e mais injusto, a tal ponto, que já se diz que é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha, que, algum dia, um pobre sair do inferno em que vive. E como os ricos se estão nas tintas para o reino dos céus (embora finjam o contrário) – que para paraíso já lhes chega este que na terra têm – Cristo que volte e resolva isto de uma vez por todas.

É claro que se Jesus voltasse para acabar a sua obra, seria o pandemónio lá para as bandas do Vaticano, que – diga-se a verdade – não se tem dado nada mal com este estado de coisas. Aliás, como explicar ao Nazareno tanto luxo, tanto ouro, tanta opulência, tanto príncipe da Igreja tão bem paramentado, tão reluzente e anafado, tão saciado de tudo o que são bens materiais, tão perto e tão afim dos poderosos desta terra, e tão distante de milhões de seres humanos famintos, doentes, os Lázaros deste tempo, que suas eminências, do alto da sua santidade, só sabem de ouvir contar? E do Banco do Vaticano nem é bom falar, pois Judas, ao pé de qualquer banqueiro, passa por santo entre os mais santos.

(Aliás, desde que, no ano 313 D.C, o Imperador Constantino, aproveitando a grande difusão do Cristianismo entre um povo farto de sustentar as loucuras do Império, deitou a mão à religião emergente, para dela tomar conta e a modificar conforme os seus interesses, levando a que, alguns anos depois, no Concílio de Nicéia, fosse fundada, oficialmente, a Igreja Católica e materializada a primeira grande traição a Cristo – parece que as de Judas e Pedro nem traição terão sido – nunca a hierarquia católica se deu mal com o poder temporal, passando a usar Jesus de Nazaré de acordo com o que mais conviesse aos poderosos).

Mas, queria eu dizer que, ou Cristo volta e resolve isto de vez, ou os pobres e os remediados vão ter de abrir os olhos e resolverem eles a questão, o que também seria cumprir os Evangelhos. Afinal, os desfavorecidos sempre estão em maioria e, diga-se lá o que se disser, haverá paz na terra no dia em que houver trabalho e pão por todos – e por todos bem distribuídos.

Para os pobres, então, a Páscoa foi cheia de amêndoas amargas. Já falámos, há oito dias, na queda dos benefícios fiscais para as míseras poupanças dos reformados e deficientes. Hoje, falamos de mais do mesmo, ou seja, do aumento de impostos para os reformados. É que o governo acabou de publicar a tabela de retenções de IRS que será aplicada às pensões já a partir deste mês. A simples comparação entre a tabela que vigorou em 2005 e a que se aplicará em 2006, mostra que centenas de milhares de reformados verão o IRS que pagam aumentar e, em muitos casos, significativamente. E isto porque, contrariamente ao que seria normal, os valores dos escalões de 2006, a começar pelo mais baixo, para idêntico nível, são inferiores aos de 2005, o que leva a que milhares de pensionistas sejam prejudicados de duas formas.

Em primeiro lugar, devido à diminuição do valor do escalão, o que determina que uma parcela do seu rendimento que não estava sujeita a IRS em 2005 passe a estar em 2006, ou que, embora sujeita em 2005, passe a estar sujeita a uma taxa de retenção maior.

E em segundo lugar, são também prejudicados pois, contrariamente ao que seria de esperar, não se verificou a actualização do valor dos escalões, necessária para compensar os reformados pelo aumento de preços que se verificará em 2006. Por exemplo: o valor do 1.º escalão era, em 2005, de 808,36 euros mas, em 2006, é apenas 767 euros, ou seja, menos 41,36 euros. O mesmo sucede em relação aos outros escalões. Esta diminuição determina que pensões que em 2005 estavam isentas de retenção de IRS, em 2006 já não o estarão. Assim, uma pensão mensal de 800 euros a que, em 2005, não era feita qualquer retenção para IRS, em 2006 já sofre uma retenção (redução) de 1%. E situação semelhante se verifica relativamente a valores de pensões mais elevados, que passam a estar sujeitos a taxas de retenção mais elevadas. Por exemplo, em 2005, uma pensão de 900 euros sofria uma retenção de 1%; mas em 2006, uma pensão mensal com esse valor já sofre, não uma retenção de 1%, mas sim de 2%, ou seja o dobro; e assim por diante.

Resumindo: a redução de 8.283 euros para 7.500 euros da dedução especifica que incide sobre os rendimentos de pensões, aprovada pelo governo, determina que rendimentos de pensões que antes não pagavam IRS, o paguem em 2006, ou então que rendimentos que pagavam IRS em 2005, continuem a pagar em 2006, mas sujeitos a uma taxa mais elevada. Por outras palavras, todos os reformados com pensões mensais superiores a 535 euros (7.500 euros por ano) pagarão mais IRS em 2006 do que em 2005 por igual rendimento. E isto resulta do facto de que uma parcela do rendimento no valor de 783 euros – a diferença entre 8.283 euros e 7500 euros – que não estava sujeita a IRS em 2005, em 2006 já estará sujeita. E não se pense que o seu número é pequeno, como afirmaram o ministro das Finanças e o deputado do PS, Carlos Candal, pois, só na Administração Pública, corresponde a cerca de 74,5% dos aposentados e reformados existentes em Dezembro de 2005.

E para quem teve aumentos de 2% nas pensões, como sucedeu com muitos reformados, uma subida de um ponto percentual na retenção corresponde a metade do aumento que, desta forma, é «comido». Fica assim claro, que grande número de reformados sofrerão efectivamente um aumento do IRS em 2006, contrariamente ao que afirmou o ministro das Finanças e o porta-voz do grupo parlamentar do PS.

Em Novembro de 2005, aquando do debate do Orçamento do Estado, o deputado do PCP, o economista Eugénio Rosa, cujos estudos pirateei na Net para fazer esta crónica, solicitou, através de um requerimento, ao Ministério das Finanças, que o governo informasse qual seria o acréscimo de receita fiscal ou, por outras palavras, quanto custaria aos reformados, em aumento de impostos, a redução da sua dedução especifica de 8.283 euros para 7.500 euros. E a resposta foi a seguinte: “de acordo com os exercícios de simulação levados a cabo para o efeito, estima-se um acréscimo de receita de cerca de 26 milhões de euros em 2006”.

Na mesma altura em que o governo propunha – e a bancada parlamentar do PS caninamente aprovava – esta medida a aplicar aos reformados, que determina um aumento de impostos que o próprio governo avaliou em 26 milhões de euros, o mesmo governo e a mesma bancada do PS recusavam eliminar o art.º 59 do Estatuto dos Benefícios Fiscais, que estabelece que apenas 50% dos dividendos das empresas adquiridas em processos de privatização estão sujeitos a imposto. E fique-se a saber que a receita fiscal que o Estado perde devido a este benefício é quase igual ao aumento da receita a pagar agora pelos reformados. Isto é: enquanto tira aos pobres e remediados, o governo recusa-se a tocar nos lucros fabulosos que a especulação bolsista e os processos de privatização rendem aos grandes grupos económicos e aos seus donos. É a «esquerda moderna» e socialista do engenheiro Sócrates a funcionar no seu melhor.

Mais – e pior: os rendimentos superiores a 250 mil euros (50 mil contos anuais) continuam isentos de impostos na parte que excede esse valor, mas a tal «esquerda moderna» que o PS diz ser, aí não toca. Enquanto se agacha face aos muito ricos, entra à ganância nos bolsos dos que mais precisam.

Ainda na mesma altura, o governo e a bancada do PS recusavam também uma outra proposta, apresentada pelo PCP, que visava introduzir uma norma travão, de forma a impedir que os bancos continuassem a pagar taxas de IRC que correspondem a menos de metade da taxa legal de IRC (em 2004, a taxa efectiva média de IRC paga pelo sector bancário foi apenas de 12,1%, quando a taxa legal de IRC é de 25%, que é a taxa que incide sobre a maioria das PME. E esta situação verificar-se-á certamente em relação aos lucros escandalosos obtidos pelos bancos em 2005).

«Ó Cristo, não venhas cá abaixo ver isto!» peço-lhe eu, que nem sou crente. Mas, à cautela, sempre acho melhor evitar a repetição da história, já que não duvido de que hoje, como naquele tempo, (fez agora 1.973 anos, pois JC nasceu há 2006 anos e crucificaram-no tinha ele aos 33, logo… é só fazer as contas, como gaguejou o outro), pois não duvido, dizia eu, que novo Calvário se haveria de inventar para lá sacrificar o atrevido, desta vez, seguramente, sobre a acusação de terrorista ligado ao Eixo do Mal.

Mas há mais amêndoas amargas – e já não falo do aumento dos combustíveis, que já subiram 3 vezes este mês. Em Portugal, a carga fiscal cresceu durante o ano passado ao ritmo mais alto desde 1999, fazendo com que Portugal tenha sido o segundo país com uma variação mais acentuada deste indicador em toda a União Europeia. Segundo dados divulgados pela Direcção-Geral do Orçamento, no âmbito do acordo de divulgação de dados com o Fundo Monetário Internacional, passou de 34,2% em 2004 para 35,2% em 2005.

Esta subida de um ponto percentual no peso dos impostos e contribuições na economia é uma das mais fortes registadas em Portugal. Nos últimos 20 anos, de acordo com a Comissão Europeia, apenas por quatro vezes a variação anual deste indicador foi idêntica ou superior a um ponto percentual do PIB. A última vez que foi superior foi em 1999, ano em que a carga fiscal portuguesa aumentou 1,1 pontos percentuais do PIB.

Em comparação com os outros países da União Europeia, Portugal está entre os que viram a pressão fiscal exercida sobre as empresas e os particulares crescer mais. Entre as economias que em 2005 viram a carga fiscal diminuir, destaque para as do Leste europeu, notando-se a tentativa de países como a Polónia, Lituânia e Estónia se tornarem competitivos em termos fiscais. A Alemanha, Itália e a Grécia, que, tal como Portugal, enfrentam problemas orçamentais graves, registaram ainda assim uma redução da carga fiscal durante o ano passado.

Por isso, meus amigos, quem pode vai viver para Espanha, como se prova pelas constantes notícias sobre portugueses que fogem deste barco negreiro chamado Portugal.

Para acabar, vou ler-vos o que escrevi, há dias, a um amigo meu, no meio de um texto sobre estas e outras coisas. Disse eu:

«Vivi quase 32 anos em ditadura, e vou com quase outros 32 em “democracia”. Mas nunca me senti tão pouco livre, tão amarrado, tão sem soluções, tão sem esperança de viver numa sociedade justa. No fascismo, dizíamos: «um dia... mais tarde ou mais cedo, a coisa vai». Com estes, estamos presos na armadilha democrática, que é infinitamente mais eficaz que Caxias ou Peniche, ou que a PIDE e a Censura. Mas que levam a água para o moinho dos mesmos».

Ou por outras palavras: Nunca tive natais tão tristes e nunca provei amêndoas tão amargas.


(Crónica de João Carlos Pereira - Lida aos microfones da Rádio Baía em 19/04/2006)

16/04/2006

ESTA SEMANA

ANGOLA
Sócrates foi a Angola e levou consigo a tiracolo alguns ministros, secretários, empresários e amigos. A vasta comitiva pôde empanturrar-se em todas as refeições com mariscadas e outras iguarias oferecidas pelo presidente José Eduardo dos Santos e o resultado foi a comitiva ter ficado com fortes indisposições. Apenas ficaram incólumes José Sócrates e o ministro da economia, o que quer dizer que são tão indesejáveis que nem as salmonelas querem nada com eles.

CLASSE TURÍSTICA
Os ministros, secretários de Estado, directores-gerais e equiparados deverão passar, "por princípio" a viajar de avião em classe turística. Atenção, que isto é só “em princípio” e só poderá vir a aplicar-se em viagens dentro da Europa.
E depois querem que a TAP apresente lucros, quando o principal cliente, que é o Estado Português, quer que os seus altos funcionários viagem junto ao comum dos cidadãos que têm de pagar as viagens do seu próprio bolso.
Estou desejoso de um destes dias encontrar no avião um ministro ou secretário de estado ao meu lado, para lhes poder dizer cara a cara aquilo que penso deles.

SACRIFÍCIOS NA PÁSCOA ?
A Igreja Católica sugere que pelo menos na Quarta-Feira de Cinzas e na Sexta-Feira Santa não se coma carne. E há muitos católicos a cumprir escrupulosamente essa regra.
Passar fome, ou pelo menos evitar os excessos, como comer carne, salmão, linguado, ou marisco, não usar jóias e evitar as idas ao cabeleireiro, são algumas dos “sacrifícios” que milhões de católicos em todo o mundo se propõem fazer durante a Quaresma (período de quarenta dias que vai desde a Quarta-Feira de Cinzas até Domingo de Páscoa), recordando assim o sacrifício que Jesus Cristo fez pela humanidade, morrendo na cruz.
Em Portugal podemos até garantir que mais de 2 milhões de reformados (Católicos e não Católicos) irão cumprir escrupulosamente estas recomendações não só na Quaresma, mas durante todo o ano, não por convicção ou fé, mas porque aquilo que auferem não lhes permitem estes luxos.

DEPUTADOS
A falta de quorum devido à presença em plenário de apenas 111 dos 230 deputados impediu as votações semanais na Assembleia da República, que exigem a comparência de mais de metade do Hemiciclo.
É este o exemplo que estes senhores nos dão e que só vem dar razão a quem cada vez mais deixa de votar por já não creditar nesta pseudo-democracia em que assenta o sistema político em Portugal.
Dizia Vasco Pulido Valente, no jornal Público de 15/04/2006:
"O deputado comum não é ouvido ou consultado sobre coisa nenhuma: nem sobre política, nem sobre estratégia. Recebe ordens para votar assim ou assado ou, de quando em quando, para dizer isto ou aquilo, sem sequer lhe perguntarem se concorda ou discorda, como se a consciência e o carácter dele não valessem nada".
Acrescento eu:
O deputado comum só lá está porque soube movimentar-se dentro do partido a que pertence, utilizou os mais variados processos para afastar outros concorrentes e só pode fazer ou dizer aquilo que os directórios autorizam, para assim poder perpetuar o seu mandato e atingir a almejada reformazinha vitalícia. E se porventura o Partido ganhar alguma das eleições, até pode vir a ser promovido a secretário de estado ou administrador de uma empresa pública.
Infelizmente, para a grande maioria dos deputados, é para isto que serve o Parlamento. Também serve para outras negociatas e troca de favores, mas isso já estamos cansados de saber.
O Estatuto dos Deputados considera "motivo justificado" para as faltas "a doença, o casamento, a maternidade e a paternidade, o luto, missão ou trabalho parlamentar e o trabalho político ou do partido a que o deputado pertence", bastando para isso que escolha uma das várias hipóteses, porque "a palavra do deputado faz fé".
Tendo o Presidente da República a responsabilidade de cumprir e fazer cumprir a Constituição zelando pelo normal funcionamento das instituições, deve agora pronunciar-se e tomar as devidas providências, já que uma delas não funcionou por exclusiva culpa dos seus titulares.

12/04/2006

Somos doidos, ou quê?!

Vamos começar a nossa conversa de hoje pegando ainda na conversa da semana passada. E se quero fazê-lo, não é por nos termos confrontado, há oito dias, com opiniões contraditórias – coisa que, como sabem, muito me agrada (e só lamento que não aconteça sempre) – mas porque a discussão havida resultou de um equívoco. Isto é: não tivemos pontos de vista diferentes sobre uma mesma situação, mas duas situações diferentes tomadas como se de uma só se tratasse.

Eu explico:

Para mostrar como a vida dos portugueses é, nos dias que correm, um mar de insegurança e um atentado à sua dignidade, dei como exemplo o que aconteceu a um casal com dois filhos, na altura residentes na Charneca de Caparica. Qualquer dos elementos do casal tinham um bom emprego, aparentemente estáveis, e nada fazia prever que, no curto espaço de meses, ambos o perdessem. Naturalmente que haviam assumido responsabilidades compatíveis com a realidade do seu orçamento, designadamente a compra de um duplex, dois automóveis e, como seria natural, tinham os filhos a estudar num bom colégio.

Não se tratou de um caso de falta de cabeça para governar a vida, como também não é disso que se trata quando um jovem casal, face aos seus rendimentos, mais ou menos modestos, decide iniciar a sua vida comum, comprando um pequeno andar, a mobília e os equipamentos necessários a um conforto mínimo, um carrito em segunda mão, coisas assim. Num caso e noutro, quando esta bela sociedade democrática resolve dar o coice, não há volta a dar-lhe. Vai tudo com a trouxa às costas para casa dos pais ou, na pior das hipóteses, para um bairro de lata ou para debaixo da ponte.

O que acontece é que uma ouvinte de Lisboa meteu no mesmo pacote estes casos e aqueles – que todos também conhecemos – de má governação, ou seja, daquelas pessoas que gastam o que têm e o que não têm e que, haja ou não a mão do capitalismo a funcionar no seu melhor, acabam por encravar a vidinha sem remédio que lhes valha. Conheço casos dramáticos desta natureza, nascidos apenas da má cabeça das pessoas, e que acontecerão sempre, sejam quais forem os governos ou as políticas em curso.

Por isso, tive o cuidado de esclarecer a ouvinte que, embora estando de acordo na crítica a esse tipo de irresponsabilidade – que aqui reafirmo – não era disso que eu estava a falar quando deu o exemplo do casal da Charneca de Caparica. Uma coisa, é ser-se irresponsável e não saber governar a vida que se tem; outra, é ser-se vítima das políticas assassinas e desumanas com que os governos, pela arreata do grande capital, vão chacinando franjas cada vez mais vastas do povo português.

Mas pronto! Estava armado o baile. Que a ouvinte – e eu, por tabela – defendíamos que as pessoas não tinham direito a uma vida digna, com casas decentes, férias, conforto, que deviam fazer sacrifícios toda a vida para não terem surpresas desagradáveis, etc. etc. Não me custa – e até gosto – que me contradigam e provoquem (e é mesmo para isso que eu aqui estou, para me sujeitar ao debate e à troca de ideias), mas, quando isso acontecer, que seja por algo que eu realmente diga e defenda, e não por coisas que eu não digo nem penso. Estamos esclarecidos?

E salto já daqui, a propósito, para o que disse o presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza, de Portugal, padre Jardim Moreira, ao denunciar que as assimetrias sociais no país «são escandalosas», sendo urgente «encontrar um equilíbrio para a distribuição da riqueza». «Portugal tem ainda dois milhões de pobres», o que equivale a cerca de 20 por cento da população, constatando-se que «muitos deles são empregados», pelo que «não basta uma política de emprego» para resolver a situação, acrescentado que «é preciso qualificar as pessoas para terem competências que lhes permitam chegar a um emprego, mas um emprego que lhes possa dar rendimento suficiente». «O trabalho tem que estar ao serviço das pessoas e não as pessoas ao serviço do capital», disse ainda o presidente da REA-PN, na Marinha Grande, na abertura do seminário «As políticas sociais em Portugal: O que são? Como estão? Para onde vão?».

Dando o exemplo do aproveitamento dos fundos estruturais, este responsável sublinhou que «a Irlanda investiu mais na educação e nós no betão», o que originou que «hoje tenhamos uma sociedade mais atrasada».

Ainda há padres assim…

Entretanto, a esquerda moderna de José Sócrates, já faz muita gente ter saudades da direita antiga. Velha direita que, diga-se a verdade, com uma esquerda destas está como quer – e sem custos políticos. E não se pense que isto é um elogio a essa direita – porque não é – mas, isso sim, uma acusação tremenda a um PS que, sem ponta de vergonha, está a fazer aos portugueses aquilo que depois do 25 de Abril nem o mais retinto cavaquismo conseguiu – ou, antes dessa data, jamais passou pela cabeça de Salazar ou Marcelo. E se sou assim tão peremptório, é porque sei – como sabem todos os que sob o fascismo viveram – que se os ditadores o quisessem fazer, não precisariam de pedir licença a ninguém, e muito menos usar desculpas de mau pagador, como acontece no caso que vamos tratar a seguir.

É que veio, agora, o Grupo de Trabalho nomeado pelo ministro das Finanças para reavaliar a aplicação dos benefícios fiscais, recomendar que sejam abolidos os benefícios de que gozam as contas poupança-reformados e as dos deficientes. Dizem eles, para justificar a medida, que os efeitos da isenção de imposto sobre os juros dos depósitos a prazo de reformados e pensionistas é um benefício tão pequeno, que mais vale não haver nenhum! Ouvimos isto, e não sabemos se havemos de rir… ou de chorar, tal o cinismo que embrulha a afirmação. Mas os senhores sábios das Finanças acrescentam mais: «Também não é por este incentivo que se levam os reformados a constituir poupanças, nem será pela queda dele que se verificará uma redução da taxa de aforro dos contribuintes reformados ou deficientes». Assim como quem confessa, descaradamente, que «nem os bancos viram aumentar substancialmente a sua carteira de depósitos, nem a mesma se perderá se os reformados pagaram imposto sobre as suas miseráveis poupanças». Ora, se o fim dos benefícios não vai prejudicar os bancos, e como a sua existência também não os beneficiava grandemente, acabe-se com a mama, que sempre serão mais uns cobres para os cofres das Finanças, em vez de ficarem nos magros bolsos dos reformados e deficientes.

Ficamos a saber, então, que sempre que um benefício for pequeno, mais vale a acabar com ele. E já dizia a minha avó, que «para pouca saúde, mais vale nenhuma». Sendo assim, seguindo este velho aforismo, o melhor é acabar com as pensões miseráveis que são pagas a milhões de portugueses, pois ninguém sabe para o que servem (se há quem viva com aquilo, também pode viver sem nada), além de ser para prolongar a agonia que é ter-se nascido em Portugal e ver chegada a última das idades. De vivermos sobre a pata desumana de uma «esquerda moderna» que – e como me custa dizer isto – deve fazer Salazar, lá no sítio onde está, chocalhar os ossos de tanto casquinar.

A compor este ramalhete, temos à nossa frente um relatório do Conselho da Europa, onde são apontadas falhas graves no combate à corrupção em Portugal. Corrupção em Portugal? Políticos a enriquecerem à custa da delapidação dos dinheiros públicos? Partidos a serem financiados para influenciarem políticas de favorecimento aos grandes interesses económicos? Responsáveis partidários, com cargos governamentais, a cobrarem 3, 5 e, até, 10% por cada obra adjudicada? Trabalhos a mais e revisões de preços que fazem as obras públicas custarem o dobro ou o triplo (como a casa da Música, no Porto) do valor inicialmente adjudicado? Alterações aos PDMs, para permitir que se construa em zonas protegidas, ou classificadas para outros fins?

Oh, meus amigos, isso, em Portugal, não é corrupção! Isso é poder negocial, é agilizar os processos de desenvolvimento, é vencer os obstáculos burocráticos, é o maravilhoso lubrificante que faz trabalhar sem ruído e avançar sem paranças o motor da nossa democracia.

Corrupção, é um agente da BT fechar os olhos a uma infracção do Código da Estrada a troco de uns litros de azeite ou de uma lembrança monetária pela Páscoa ou pelo Natal. Corrupção, é o fiscal municipal não ver o muro, e receber duas notas, inspirado, se calhar, no presidente da Câmara e restante vereação, que não «viram» como certa urbanização devia figurar no Guiness, por os lotes se terem multiplicado como cogumelos e as respectivas áreas de construção terem inchado como sapos fumadores.

Não, meus caros ouvintes. Os políticos nunca são corruptos. E os grandes empreiteiros e os senhores da alta finança nunca são corruptores. São pessoas com uma visão mais esclarecida sobre os métodos necessários para a economia se dinamizar. Dá cá uma urbanização cinco estrelas, toma lá uma discreta vivenda perdida numa herdade tranquila. Dá cá um benefício fiscal, toma lá um cargo numa instituição que vou criar só para te pagar o favor. Dá cá um cargo para a minha mulher, que eu arranjo outro igual para a tua filha.

Corruptos, são os badamecos lá de baixo, que não se contentam com os seus ordenaditos, e querem – esses pelintras – à custa da segurança das pessoas e do bom-nome das instituições fazer vidinha de lordes. Era só o que faltava!

Aliás, até me parece que nem o senhor Pinto da Costa, nem os senhores árbitros, nem os senhores majores, nem a D. Fátima são corruptos. Agiram sempre no interesse das instituições que serviam. E se daí escorreu qualquer coisa, deve ter sido para cobrir despesas, já que os rebuçadinhos e chocolates estão pela hora da morte. Vão ver se não vai ser assim…

E se não for assim, qualquer dia não há políticos, nem agentes desportivos, nem árbitros, nem partidos políticos, nem instituições, nem – que horror! – órgãos de soberania. Acabava a democracia. Pior: acabava o país.

Combater a corrupção?! Somos doidos, ou quê?!

Onde é que já se viu – a não ser num manicómio – um tipo aos murros a si mesmo?


(Crónica de João Carlos Pereira - Lida aos microfones da Rádio Baía em 12/04/2006)

09/04/2006

ESTA SEMANA

DIA DAS MENTIRAS ?
Era costume comemorar-se anualmente o 1º de Abril como o dia das mentiras, em que toda a comunicação social não deixava de pregar uma ou outra partida inocente para assinalar a efeméride.
Este ano não se deu por nada e alguns directores de jornais disseram até que já não o faziam porque para isso já temos os nossos políticos o ano inteiro, não sendo justo que para os outros haja só um dia por ano.

JUDICIÁRIA
Afinal porque se demitiu ou foi demitido o Director Nacional da Polícia Judiciária ? Nada se sabe a não ser aquilo que disse o senhor ministro: “tinha que ser e por isso foi feito o que tinha de ser”; perfeitamente esclarecedor ...
Parece que o homem começava a ser incómodo para o Governo e tinha a mania de não bajular o chefe, pelo
que, “democraticamente”, foi despedido sem apelo nem agravo, pois ninguém o mandou andar a dizer para os jornais que os serviços tinham entrado em rotura financeira e que por isso as diligências e investigações em curso estavam comprometidas.
Esta exoneração não deixa também de ser um aviso para outros dirigentes ficarem calados, já que em rotura financeira esta todo o Estado, que, para cumprir o tal défice dos 6%, está a utilizar o Orçamento deste ano para pagar as dívidas do ano passado.
E assim iremos cantando e rindo, enquanto o chefe do (des)Governo que temos cria linhas de crédito para Angola no valor de 300.000 milhões de euros, no intervalo das corridinhas para a fotografia que há-de servir a propaganda que nos querem fazer engolir e calar.

EMPREGO OU DESEMPREGO ?
Três em cada quatro desempregados ou inactivos que frequentaram no ano passado cursos de formação profissional, com duração superior a cem horas, não conseguem obter emprego nos três meses seguintes.
Entre aqueles que conseguiram arranjar trabalho, mais de metade (44 por cento) declarou que a formação "não contribuiu em nada para a obtenção do seu emprego". Estas são as principais conclusões de um inquérito do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) dirigido a 31.368 utentes dos IEFP.
Para quem já tentou utilizar os serviços do IEFP não deve ficar admirado com estas conclusões. Como empresário, já algumas vezes recorri ao Centro de Emprego (ou será Desemprego?) aqui da zona com ofertas de vagas e das poucas pessoas que me mandaram, ou estas não tinham o perfil adequado, ou então só aceitariam uma colocação se pudessem continuar a receber o subsidiozinho.
Da última vez que recorri ao Centro de Emprego (e foi há poucos dias) a diligente funcionária que me atendeu estava mais preocupada em aspectos burocráticos, do que propriamente em encontrar alguém que se pudesse enquadrar mais ou menos no perfil de colaborador que eu havia definido.
Explicando melhor: necessito de um(a) colaborador(a) para a área do turismo (Agência de Viagens) tendo referido que não era requerida licenciatura ou sequer bacharelato, mas sim uma pessoa que fosse dinâmica, com vontade de aprender e que pudesse adaptar-se às funções exigidas.
A resposta que obtive é que os serviços iriam (mais tarde) consultar a base de dados e que depois diriam alguma coisa. Como até à data ainda não fui contactado pelos ditos serviços ou por qualquer candidato ao emprego, presumo que a tal base de dados deve estar sediada na Austrália ou na Nova Zelândia.


FUMADORES
As máquinas automáticas de venda de tabaco podem ser um negócio em extinção. Segundo uma proposta do Governo para restringir o fumo nos locais públicos, apenas os estabelecimentos "com acesso condicionado a maiores de 18 anos" vão poder manter estes equipamentos.
De acordo com a actual lei, como até os bares e discotecas têm permissão para receber clientes a partir dos 16 anos, no futuro não poderão comercializar tabaco, restando apenas os "clubes nocturnos e similares". Ou seja, bares de strip-tease, cabarés ou casas de alterne.
Assim os fumadores já têm uma boa desculpa para dar às respectivas esposas quando forem apanhados num desses estabelecimentos: - querida, só lá fui comprar uns cigarrinhos !

05/04/2006

Um desgosto do caraças!

Se eu hoje tivesse 20 anos, e estivesse, como é natural nessa idade, a pensar em criar família, dificilmente encararia a possibilidade de trazer filhos a este mundo – e, quando digo mundo, quero dizer, principalmente, Portugal. Aliás, se eu tivesse menos 20 ou 30 anos, certamente já teria emigrado, livrando-me, assim, do enxovalho de viver num país onde os bandos partidários se revezam na tarefa de asfixiar milhões de pessoas, e delas tirar o oxigénio que enche os pulmões dos grandes interesses económicos.

Talvez por isso – e por haver muita gente que pensa como eu penso – Portugal seja hoje um país envelhecido, habitado por um povo triste, sem esperança e descrente de, a curto ou médio prazo, ver invertido este estado de coisas. Cada criança que nasce, hoje, em Portugal, é um cordeiro deitado aos lobos do neo-liberalismo reinante (a que alguns preferem chamar capitalismo selvagem), cordeiro destinado a penar nas garras gulosas do poder económico, uma peça descartável no obsceno processo de acumulação de riqueza. Um ser praticamente sem direitos e sem capacidade de intervenção, destinado, unicamente, a produzir mais-valias toda a vida.

Há dias, diziam alguns arautos do-assim-é-que-isto-se-endireita, que a estabilidade de emprego e a segurança profissional e económica são ideias do passado, são coisas negativas para o progresso e o desenvolvimento das sociedades. Pelo contrário – diziam eles – a precariedade, a instabilidade, a necessidade de um ser humano se ter de ajustar (sujeitar, digo eu) ao que aparece e à possibilidade de, de um momento para o outro, se poder ficar sem emprego – e, por consequência, sem dinheiro para o pãozinho para a boca – diziam eles que isso é estimulante em termos da atitude e do desempenho profissional e, portanto, muito bom em termos económicos.

Quem assim falava, curiosamente, tem trabalho certo e remuneração (excelente remuneração, diga-se) certíssima. Eram os habituais comentadores e analistas políticos e económicos e, está claro, três patrões de empresas de aluguer de mão-de-obra, actividade que, mantidas as devidas distâncias, se fosse exercida num barco negreiro dos belos tempos do saudoso comércio de escravos, ninguém se espantaria com o facto.

Hoje, são imorais, negativas, antiquadas, desaconselháveis, crime de lesa pátria, perigosas ou puro suicídio económico quaisquer medidas, ideias ou pretensões que falem em direitos laborais, designadamente salários decentes e estabilidade de emprego. São coisas do passado, inaceitáveis numa sociedade moderna e que se quer desenvolvida. É esta, pode dizer-se, a ideologia dominante, interpretada melhor do que nunca pelo tenor falsete, José Sócrates. E nunca, em momento nenhum deste curto arremedo democrático, que faz este mês 32 anos, os portugueses sofreram uma tão brutal investida contra a sua cidadania e uma tão cínica violação dos seus direitos humanos. Mais de nove milhões de pessoas são consideradas responsáveis pela crise em que vivemos e, por o serem, estão condenadas a pagar o que for necessário para a sua resolução.

É assim, sem mais nem menos, que eles nos apresentam as coisas. Por isso, cortam nos salários e nas pensões, cortam nos direitos sociais, cortam no ensino, cortam na saúde, sangra-se o rebanho o mais que o rebanho deixar. E, pelo que estou a ver, o rebanho está a aguentar lindamente a sangria.

Assim sangrado, abre o redil as portas a outro maná – a especulação da renovada classe dos prestamistas. Floresce, então, a indústria desses agiotas de nova geração, outra forma da cavalgada saqueadora do capital financeiro, ávido dos últimos cêntimos que possam sobrar nos forros da nossa roupa. Na rádio, nos jornais, na televisão, incontáveis empresas oferecem-nos dinheiro de um dia para o outro. Basta telefonar e, num abrir e fechar de olhos, a nossa conta fica recheada com uns milhares de euros. Para muitas (muitíssimas) famílias com a corda na garganta, é difícil resistir às aliciantes propostas. Está ali a salvação. Quatro mil euros vão dar para pagar as duas prestações atrasadas do empréstimo à habitação, carregar o telemóvel, encher, enfim, o depósito do carro, rechear o frigorífico, comprar, talvez, aqueles sapatos (que nem eram caros…), para poder levar estes ao sapateiro e, principalmente, para calar a boca aos miúdos, que são todos os dias humilhados pelos colegas, lá na escola, por ainda não terem telemóvel, mochilas da Nike, ténis da Adidas, e jeans de uma marca qualquer da moda.

Assim são os tempos, é verdade, em que os meninos se julgam todos ricos, ou disso querem fazer figura, mesmo que os pais sejam pobres, ou mesmo muito pobres. É a cultura do shopping center, das vacuidades, do supérfluo, do virtual, do faz-de-conta, do caça-níqueis. Tempos em que ser pobre (ou remediado) é considerado um estigma, quase um crime – ou um falhanço pessoal de quem não soube ser rico nesta sociedade de oportunidades. A culpa da miséria – fazem-nos crer – não é das políticas, não é dos governantes, não é do sistema económico e político em que vivemos, não é desta sociedade injusta e desumanizada, não é, como dizia Almeida Garrett, de serem precisos muitos pobres para se fazer um rico (em boa verdade, ele não dizia, perguntava: «Quantos pobres serão necessários para se fazer um rico?»). Não! Os meninos e as meninas de hoje, com honrosas excepções, julgam que vivem dentro de uma telenovela brasileira – ou naquelas ainda mais imbecis, as nacionais – onde é tudo cor-de-rosa e os dramazinhos dos enredos têm sempre soluções felizes. Os próprios pais, para evitarem o descrédito familiar, com os traumas daí decorrentes para as infantes criaturas, fazem o que podem e o que não podem – ou não devem – para salvar as aparências.

O pior, é que o tal empréstimo milagroso afundou ainda mais a crise orçamental e a liquidez da família. Dentro de um mês ou dois, tudo estará pior. E se um dos elementos do casal perde o emprego, em nome da tal modernidade que ia salvar a economia, o drama transforma-se em tragédia.

Só um exemplo: sei de um casal, com dois filhos já em idade escolar, que vivia com bastante desafogo. Moravam, até há dois anos atrás, na Charneca de Caparica, num belíssimo duplex. Boas roupas, bons carros para ele e para ela, os filhos num dos melhores externatos da zona, boa vida, em suma. Primeiro, foi ela a ficar desempregada, por ter fechado a firma onde trabalhava. Passados alguns meses, foi ele a perder o emprego, numa conhecida estação televisiva. Praticamente de um dia para o outro, todo ruiu para aquelas quatro pessoas. A casa está agora desocupada, depois do banco que financiou o empréstimo para a sua aquisição, ter accionado a respectiva hipoteca. Pais, filhos e carros desapareceram da zona, e sobre os seus destino apenas podemos especular.

Mas, caros ouvintes, quantos dramas como estes não se repetem, todos os dias, um pouco por toda a parte? E quantas destas vítimas não votaram – e, se calhar, voltarão a votar – nos partidos que defendem e praticam as políticas que a estas situações conduzem? As milagrosas políticas da modernidade?

Veja-se e oiça-se como altas figuras da direita e do grande patronato não se cansam de elogiar a coragem e a determinação de Sócrates na concretização dessas políticas, e perceba-se a quem elas, afinal, servem. E se alguém, mesmo assim, ainda não percebeu, eu explico: servem para saquear um povo inteiro em favor de quem detém o poder económico.

E pergunto-me, na sequência do que venho a dizer, que futuro vai ser o destes jovens, cuja mentalidade se forma à margem da realidade social e económica do país que temos? Que capacidade terão para enfrentar a vida quando, perdida a inocência e as ilusões dos seus verdes anos, se virem confrontados com a crueza da luta pela sobrevivência, especialmente se os pais já cá não estiverem para lhes valer, ou se – muito pior – necessitarem, também eles, de uma sopa ou de um canto para dormitar?

Não sei responder a isto. Ou, se calhar, tenho medo da resposta.

No entanto, dizem as sondagens que os portugueses continuam pessimistas em relação à sua situação financeira e à situação económica do país, e sem grandes expectativas de que este panorama negativo possa melhorar no prazo de um ano. Colocados perante a questão de como perspectivam a sua situação económica pessoal e a do seu agregado familiar dentro de um ano, mais de 43% das respostas foram no sentido de uma deterioração e apenas menos de 20% dos inquiridos acreditam numa melhoria. Pouco menos de um terço disse que não haverá alterações. Perante a mesma questão, mas em relação à situação económica do país, mais de 45% dos inquiridos acredita que a economia portuguesa estará pior em Março de 2007, e apenas 26,5% vislumbram uma melhoria.

Ainda no campo das sondagens, ficámos a saber que perto de metade dos portugueses que têm dívidas à banca, ou crédito bancário, confessa que nos últimos meses já teve de reduzir despesas de consumo para poder satisfazer os compromissos que assumiu com o sector financeiro. Este endividamento é mais patente nas mulheres, com mais de metade a confessar que tiveram de cortar despesas de consumo. Por escalão etário, são os inquiridos com mais de 55 anos que mais se encontram nesta situação, tal como os que vivem no interior norte e pertencem à classe média.

Pois é. Como as coisas estão, deitar filhos ao mundo é quase criminoso. Ou vêm os lobos e devoram-nos, ou – outra possibilidade, ainda que remota –juntam-se aos lobos e passam a ser a desonra da família.

É que um homem sério que tenha um filho político, como a política é hoje em Portugal… oh, meus amigos, deve ser cá um desgosto do caraças!

Para mim, é bem pior do que ser o mais pobre dos pobres.

(Crónica de João Carlos Pereira - Lida aos microfones da Rádio Baía em 05/04/2006)

02/04/2006

ESTA SEMANA

GUANTANAMO
A secretária de Estado norte-americana Condoleezza Rice prometeu que o seu governo iria encerrar o Campo de Concentração a que eles chamam pomposamente de Centro e Detenção de Guantanamo, mas, só quando este deixar de ser necessário.
Sabendo-se da coerência desta gente, que durante mais de um século já prometeu várias vezes abandonar as instalações que ocupam em Cuba, é de prever que o encerramento nunca venha a acontecer.

TAXAS MODERADORAS
Desde o dia 1 de Abril que começámos a pagar mais pelos cuidados de saúde que, segundo a Constituição da República Portuguesa, deveriam ser tendencionalmente gratuitos.
Nalguns casos o aumento chega aos 23%, justificando-se o (des)governo que temos com a necessidade de controlar o acesso à utilização de cuidados de saúde e de fazer uma actualização regular destas taxas.
Ou seja, a tendência é para aumentos progressivos em vez da completa isenção, com a desculpa ridícula que servirá para combater as falsas urgências ou o prazer mórbido das pessoas irem passar, sem necessidade, dias inteiros nos excelentes Centros de Saúde que temos, os quais, são propícios à organização de tertúlias culturais ou de chás canastra para passar o tempo.

IMPOSTOS
O ministro das Finanças disse que não haveria mais aumentos de impostos (este ano) a não ser os que já estavam previstos, como se isso fosse uma benesse que nos estava a dar para ficarmos mais tranquilos e contentinhos.
Como também já não há muito por onde nos possam tirar mais, basta mexer no Imposto sobre os Produtos Petrolíferos (que está previsto subir duas ou três vezes) para que tudo aumente, gerando mais receitas de IVA e de todos os outros impostos.
Não é de estranhar esta esperteza saloia, quando o chefe deste ministro tem como leitura preferida a Alice no País das Maravilhas.

1997, 2007 © Guia do Seixal

Visões do Seixal Blog Directório Informações Quem Somos Índice