30/07/2006

ESTA SEMANA

CRIMINOSOS
Mais um cobarde ataque da aviação israelita à cidade de Caná, assassinou esta madrugada para além de 50 pessoas indefesas, na sua maioria crianças.
A justificação para estes massacres é o de que o Hezbollah utiliza edifícios civis no Líbano como bases de lançamento de mísseis, mas até hoje ainda não se viu qualquer rampa ou míssil entre os escombros.
O primeiro-ministro israelita Bhud Olmert, lacaio do seu amigo Bush, aprendeu bem a lição: os EUA também invadiram o Iraque com a justificação de que existiriam armas de destruição maciça que tinham de ser destruídas, mas que nunca apareceram.
Mas, mesmo que assim fosse e Israel tivesse o direito de se defender bombardeando e invadindo outro Pais por este acolher terroristas, como muitos argumentam, então, pela mesma ordem de razões, também Cuba já deveria há muito ter bombardeado e invadido os EUA, que desde 1959 vem treinando, armando e apoiando financeiramente todos os terroristas que têm praticado actos de sabotagem contra Cuba, com perca de muitas vidas humanas e milhões de dólares de prejuízos materiais.
Assim se demonstra que há dois pesos e duas medidas: na cena internacional há terroristas maus e terroristas bons, dependendo dos aliados de momento e dos interesses económicos e políticos que melhor sirvam estes criminosos da humanidade.


MAIS EMPREGO ?
De acordo com as notícias vindas a público e não desmentidas, a BP prepara-se para reduzir os seus efectivos em 30% até ao final deste ano e a PT quer fazer o mesmo até 2008, num número total que deve envolver cerca de 3.000 pessoas.
É notório e só não vê quem não quer, que a actual política económica (se é que existe) não vai resolver coisa nenhuma e que o desemprego tem uma forte tendência para aumentar, já que o sector produtivo está a diminuir e não se vislumbra qualquer estratégia política para inverter esta situação.
Anunciar-se com pompa e circunstância que vão ser criados incentivos à modernização do comércio e que isso irá criar postos de trabalho é pura demagogia barata, pois o comércio tradicional não tem condições para competir com as grandes catedrais do consumo e a perspectiva futura é a sua progressiva falência.
Não exploramos os poucos recursos naturais, não temos frota de pescas, não temos agricultura e cada vez temos menos indústria. O que nos resta para além do TGV e da OTA ?


EXÍLIO
A pianista Maria João Pires bateu com a porta e foi viver para o Brasil, dizendo-se perseguida e vítima de uma verdadeira tortura, já que, por falta de apoios, estava a ter dificuldades em dar continuidade à Fundação que criou, proprietária do Centro para o Estudo das Artes de Belgais, perto de Castelo Branco.
Tanto a Autarquia como os Ministérios da Educação e o da Cultura têm financiado o Centro (e não foi tão pouco como se possa pensar) mas a chata da ministra da Cultura quis saber em que foram gastos 65.000 contitos e a D.Maria João Pires sentiu-se pressionada.
Parece que a Fundação Mário Soares ainda nada recebeu desta ministra e por isso não necessita de lhe apresentar as contas, porque senão, lá teria outra vez o seu presidente de se auto-exilar, seguindo o exemplo da pianista.

26/07/2006

AINDA O HOLOCAUSTO

Hoje, às seis e meia da tarde, vou estar em Lisboa, junto à embaixada de Israel, para gritar o meu protesto contra a barbárie nazi que, na Palestina e no Líbano, provoca milhares de vítimas. Vou gritar pelo fim do genocídio do povo palestiniano – e agora também do libanês. Vou recordar que, com a cumplicidade e o apoio dos países ocidentais, tudo isto começou nos finais da Segunda Grande Guerra, quando os judeus se instalaram na Palestina, roubando terras, água, casas e bens ao povo palestiniano, que escorraçaram e desde aí, têm impunemente massacrado ou mantido empilhado em enormes guetos. Vou gritar que o comportamento do estado sionista, à imagem dos seus aliados norte-americanos, é mais atroz do que o da Alemanha hitleriana. E se não vemos fornos crematórios é porque, na verdade, as bombas e o poderio bélico sionista fazem muito bem o mesmo serviço.

Este é, infelizmente, o tema obrigatório de hoje, aquele a que, por razões de consciência cívica e humanitária – que se sobrepõem às de natureza ideológica que, contudo, não deixo de assumir – vou voltar, mas antes queria abordar mais uma cena canalha cá do meu bairro, isto é, da minha «nação valente e imortal»: a reforma de Manuel Alegre.

Segundo li e ouvi, o «deputado do PS, Manuel Alegre, foi reformado com 3.220 euros mensais (mais de 640 contos), por ter desempenhado, segundo o próprio, durante “pouco tempo”, funções de “coordenador de programas de texto” da RDP», isto a fazer fé na lista dos aposentados e reformados divulgada pela Caixa Geral de Aposentações. O Correio da Manhã avança que o vice-presidente da Assembleia da República esteve apenas três meses como director dos Serviços Criativo e Culturais da RDP.

Apesar de garantir àquele jornal que sempre descontou por esse cargo na RDP, Manuel Alegre confessa que “se não fosse a CGA a escrever” uma carta a informá-lo da reforma “nem teria dado por isso”. O deputado/poeta, candidato derrotado nas últimas eleições presidenciais, aproveitou para esclarecer o bom povo português que vai optar por receber o ordenado como deputado e apenas um terço da reforma que agora lhe foi concedida. Não rima, mas deve ser verdade…

Ora, Alegre entrou para a RDP pouco depois do 25 de Abril. Mas, assim que foi eleito deputado do PS, nas primeiras eleições para a Assembleia Constituinte, em Abril de 1975, nunca mais desempenhou trabalho efectivo no cargo para o qual fora designado. Alegre revela, no entanto que, caso alguma vez não tivesse sido eleito, “teria regressado para a RDP”. Questionado pelo Correio da Manhã sobre o tempo de trabalho efectivo na RDP e o valor da reforma agora divulgado, Alegre fez questão de sublinhar que tudo “é legal”. Sobre o facto de este cargo não ser referido na sua biografia do Parlamento, o deputado do PS confessa que houve “uma lacuna” que não é da sua responsabilidade.

Claro que Manuel Alegre não tem responsabilidade nenhuma nisto. Responsabilidade nisto temos nós – nós, povo português – quando deixámos – e deixamos – que meia dúzia de tachistas fizessem – e façam – boas leis para eles e (como hoje se vê a olho nu, com as propostas de Sócrates para a chamada sustentabilidade da Segurança Social e as novas fórmulas de cálculo das pensões) leis péssimas para o português comum. «Nem tinha dado por isso», confessou Manuel Alegre, como se 640 contos fossem uma bagatela. Tal e qual os pobres pensionistas deste povo, que também não «dão por isso» quando recebem a sua reformazita, mas por outra razão: é que ela é tão baixa, que antes de ser… já era.

O caso da reforma de Manuel Alegre não é só escandaloso pelo prebendado ser quem é, ou seja, um homem que diz lutar em defesa da ética e dos princípios morais na política e que, entusiasmado, chegou a defender que os políticos deveriam doar o excedente dos subsídios estatais a que têm direito, depois de pagarem as contas das campanhas. Não! O caso é principalmente escandaloso porque tudo isto é legal, porque estes luxos, estas prebendas, foram afanosa e quase secretamente cozinhadas pelos seus autores para si próprios. E por ser ao contrário que eles tratam a generalidade da população. Ou seja: porque nos têm governado bandos de imorais gananciosos, sem ponta de escrúpulos.

Uma outra questão, esta já mais ligada ao Médio Oriente. Li que «o Paquistão está a construir um potente reactor nuclear que, de acordo com analistas, terá capacidade de produzir, por ano, plutónio suficiente para fazer entre 40 e 50 armas nucleares. Esta informação surge quando os americanos vão debater, no Congresso, um programa de cooperação nuclear entre a Administração Bush e o governo indiano, que poderá passar a dispor de sofisticada tecnologia nuclear norte-americana, para colocar sob mais apertadas salvaguardas os reactores nucleares indianos. Tais medidas não se aplicam, porém, aos reactores militares da Índia, que possui, actualmente, entre 30 e 35 sofisticadas ogivas de plutónio.

Dizem as notícias que os EUA estão, é claro, ao corrente do projecto paquistanês, de tal modo que o porta-voz da Casa Branca, Tony Snow, instado a comentar a situação, afirmou: «Estamos ao corrente desse projecto e solicitámos ao Paquistão que se abstenha de usar essas novas instalações para fins militares, como é o caso do fabrico de armas».

É o que faz o Paquistão viver sob uma ditadura amiga. Olhem se fossem os malvados da Coreia do Norte ou do Irão!

Comecei por dizer que hoje, às seis e meia da tarde, vou estar em Lisboa, junto à embaixada de Israel, para protestar contra a barbárie nazi que, na Palestina e no Líbano, provoca milhares de vítimas. E aqui apelo àqueles que agora me escutam para também não faltarem. Juntemo-nos no mesmo abraço e unamo-nos no mesmo espírito que uniu quase toda a humanidade, entre 1938 e 1945, contra a barbárie nazi.

É evidente que os jornais, a rádio e a televisão que temos não ajudam a despertar as consciências. E se não me enganam a mim, que lhes conheço os truques e os vícios de ginjeira, iludem e manipulam, seguramente, milhares de portugueses, ou, na melhor das hipóteses, escondem-lhes o verdadeiro horror desta guerra. É certo que podemos passar pelos canais franceses, italianos ou ingleses, para sabermos algo mais, mas nunca saberemos o essencial. Por isso, eu convido os ouvintes da Rádio Baía a consultarem os seguintes sites na Internet: www.resistir.info, ou www.uruknet.info, para assim poderem ter uma visão mais aproximada da realidade.

Vejam fotos dos corpos de homens, mulheres e crianças calcinados ou horrivelmente esfacelados pelo efeito de armas das quais ainda se desconhecem todas as características, mas que, médicos libaneses e palestinianos não hesitam em considerar proibidas pela Convenção de Genebra. Vejam jovens israelitas a escreverem mensagens na ponta das bombas que irão matar outros jovens, coisa que nem lembraria à Juventude Hitleriana. Vejam as crateras e as ruínas produzidas pelos bombardeamentos em Beirute e noutras localidades libanesas. Vejam o resultado da promessa sionista, segundo a qual, por cada míssil do Hezbollah, os israelitas farão dez bombardeamentos no Líbano, tal como faziam os nazis em represália pela acção das forças da resistência e dos patriotas que se lhe opunham. Vejam e leiam ali, nesses sites, o que a nossa comunicação social não mostra nem diz, porque, como facilmente se percebe em todos os serviços noticiosos, os «judeus» são os nossos e os árabes são os «outros».

E não me digam que Israel apenas usa o seu direito de autodefesa, porque todo este conflito começou em 14 de Maio de 1948, quando os judeus proclamaram o Estado de Israel, ocupando as melhores terras da Palestina, controlando os recursos hídricos, essenciais numa zona por natureza árida, e expulsando os árabes das suas terras e casas. Foi aqui que tudo começou e não quando um palestiniano, porque não tem tanques, nem satélites espiões, nem helicópteros, nem aviões bombardeiros, usa o corpo como arma e investe contra os usurpadores da sua terra e do seu povo, ou quando morre ou é capturado um soldado sionista.

Hoje, às seis e meia da tarde, vou estar ao lado dos povos do Líbano e da Palestina e, principalmente, ao lado das suas vítimas e dos seus mártires. Ali, em Lisboa, em frente à embaixada de Israel.

Até logo!


Crónica de: João Carlos Pereira
Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 26/07/2006.
(Não deixe de ouvir e participar todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00, em 98.7 Mhz)

23/07/2006

ESTA SEMANA

MAGALHANICES
O presidente e um destacado dirigente do Sindicato de Profissionais da Polícia foram aposentados compulsivamente através de um despacho do secretário de estado da Administração Interna, o agora “democrata e socialista” José Magalhães, numa clara demonstração de prepotência e abuso de poder, para fazer calar quem defende a sua classe profissional e se opõe a esta política do faz de conta.
As denúncias e as perseguições políticas já andam por aí, os processos pidescos estão à vista, pelo que só falta encontrar os locais que possam substituir a António Maria Cardoso, Peniche ou Caxias.


SCOLARICES
Pronto, finalmente podemos dormir descansados, porque o senhor Scolari e os restantes membros da equipa técnica já assinaram mais um contrato por dois anos com a Federação Portuguesa de Futebol, para continuarem à frente dos destinos da nossa selecção.
Os objectivos estão definidos e Scolari já disse que o desafio será qualificar Portugal para a fase final do Europeu de 2008, tendo que confrontar-se com as fortíssimas equipas da Bélgica, Sérvia, Polónia, Finlândia, Azerbaijão, Arménia e Casaquistão
E digam lã se não devemos estar orgulhosos desta sumidade futebolística, que tanto tem feito para unir os portugueses.


DROGAS
Uma comissão de peritos nomeada por despacho conjunto dos ministros da Justiça e da Saúde em Janeiro deste ano para o combate à propagação de doenças infecto-contagiosas em meio prisional, vai recomendar a adopção de programas de troca de seringas, efectuada por técnicos de saúde em todas as prisões portuguesas.
Mas afinal já é legal a comercialização e o consumo de drogas em Portugal ?
Compreende-se que não seja fácil controlar o pequeno tráfico fora das prisões e que o que verdadeiramente interessa é desmantelar as redes dos todo-poderosos que disso fazem negócio e enriquecem com as desgraças alheias. Mas o Estado admitir que o possam fazer dentro das prisões, é o reconhecimento de que ela existe, que entra descaradamente com a cumplicidade dos funcionários e que não se aproveita esse período de reclusão para tratar a toxicodependência daqueles que se deixaram apanhar por essa praga.
Já agora, só falta que a tal comissão recomende que o Governo forneça também a droga. Ou isso iria estragar o negócio a muita gente?


TUBERCULOSE
De acordo com o Dr. Henrique de Barros, especialista em epidemiologia e coordenador do Programa Nacional Contra a Tuberculose, a “luta está perdida”.
Para essa derrota, segundo ele, contribuem vários factores: os doentes não se tratam convenientemente e infectam outras pessoas, há falta de médicos e de outros profissionais de saúde para trabalhar na área da prevenção e tratamento da doença. Mas não só. Existe falta de coordenação entre os vários sectores do Sistema Nacional de Saúde e não há decisões políticas que ponham um travão à propagação da doença.
É nas zonas mais ricas do País onde existem mais casos, como Lisboa e Porto, apesar de a doença também estar ligada à droga e à pobreza.
Mas alguém se pode admirar disto ?
Com o (des)governo que temos outra coisa não se poderia esperar, já que com esta política economicista, a saúde a que todos deveríamos ter direito, não passa de um mero exercício estatístico.
Um destes dias ainda vamos ver o ministro da saúde, em conferência de imprensa, dizer que a tuberculose está a baixar em Portugal. Não diz certramente é que a diminuição se deve aos óbitos registados.


FREEPORT
Dois jornalistas e um ex-agente da PJ foram acusados formalmente pelos crimes de violação do segredo de justiça sobre o processo do caso Freeport de Alcochete, em que estava em causa a obtenção de contrapartidas financeiras para a campanha eleitoral do Partido Socialista, tendo o então ministro do Ambiente, José Sócrates, alterado a Zona de Protecção Especial do Estuário do Tejo, para que se pudesse construir o empreendimento comercial.
É assim: nada se sabe sobre a investigação do assunto e provavelmente nunca se virá a saber por motivos óbvios, mas condene-se, a bem da democracia, quem divulgou tal coisa.

19/07/2006

HOLOCAUSTO (II) E IMUNDICE

Esta semana não me faltaram temas inspiradores para as provocações que, em cada quarta-feira, aqui faço. Podia, sei lá, falar-vos do «visível / invisível» que descobri ao assistir, em directo, a etapas da volta a França em bicicleta. Visível / invisível, porque «vi» o que não estava exposto à evidência do olhar. De facto, atravessando planícies, vales e montanhas, regiões luxuriantes ou áridas, alongando-se por zonas florestais ou terrenos agrícolas, cruzando vilas e cidades, enfim, passando por toda a França sob um calor que, muitas vezes, os comentadores diziam ser tórrido, os ciclistas só tinham à sua volta espaços bem tratados, quer passassem em áreas urbanas ou agrícolas, por florestas ou montanhas. Então, o que foi, para mim, visível, sendo, no entanto, invisível? Apenas isto: ressalvando que não assisti a todas as etapas, «vi» a ausência de manchas negras, um só vestígio de incêndio, recente ou antigo. Em Portugal, no entanto, país que cabe num bolso da França, todos os dias ardem centenas ou milhares de hectares. Vamos para onde formos, logo deparamos com o negro dos solos e o esqueleto absurdo das árvores. Pergunto: porquê? Os ouvintes que respondam, se souberem, mas não é com isto que vou hoje provocar ninguém.

Podia, também, agarrar na última descoberta do famigerado FMI, que chegou a duas sábias conclusões, expressas pelo seu representante, senhor Philip Gerson, enviado a Portugal para salivar sentenças: uma, sobre a longa duração do subsídio de desemprego, que, em Portugal, desincentiva a procura de um novo trabalho por parte do desempregado; outra, a que os salários são muito altos e devem baixar. E o cavalheiro explicou a sua ideia: «O aumento da competitividade, através da redução dos salários, é a melhor forma de estimular o crescimento, a curto prazo».

Mas os portugueses merecem isto e muito mais. É que depois do Governo perceber que pode puxar as rédeas e chicotear à vontade (que esta besta dá mostras de aguentar tudo), foi a vez do FMI chegar à mesma conclusão.

Assim, de que serve o Eurostat dizer que o nosso salário mínimo é o mais baixo dos Quinze, e que já foi ultrapassado por dois dos países do mais recente alargamento da União Europeia? Diz ele que Portugal, com 432 euros mensais, foi já ultrapassado pela Eslovénia e por Malta, com 512 e 580 euros, respectivamente. Então, talvez o FMI se estivesse a referir aos ordenados do Governador do BP, dos governantes, deputados, presidentes da República, das câmaras municipais, dos institutos e fundações, ou dos administradores das empresas públicas e privadas. Deve ser isso…

Também o TGV e o aeroporto da Ota estiverem na berra. No primeiro caso, porque Cavaco Silva acha que o TGV deve ser seriamente discutido e analisado antes de se avançar a… toda a velocidade, como Sócrates quer, só para mostrar serviço e porque, como toda a gente sabe, o partido do governo que arranca com grandes obras públicas ganha sempre bastante com isso. No caso da Ota, porque, segundo o professor catedrático António Diogo Pinto, o novo aeroporto vai custar o dobro do que custaria se fosse construído na Margem Sul, e só terá metade do tempo de vida possível. Quando abrir, outro terá de ser planeado. Cada passageiro custará 100 euros, quando podia ficar por 50. Fechar a Portela demonstra falta de juízo do Governo, garante o especialista, um dos responsáveis pelo nascimento do Aeroporto de Macau, ao qual está ligado desde o seu planeamento. Mas o Sócrates é que é o sabichão…

Embora gostasse de falar mais destes projectos megalómanos, onde o nosso dinheiro vai estoirar como bolas de sabão em dia de chuva e vento, não o faço. Aliás, também gostaria de falar do que escreveu o economista Eugénio Rosa, a propósito do SNS, provando, com números, que «as despesas que mais têm aumentado no SNS se referem a negócios com entidades privadas. Entre 2003 e 2005, as "Despesas com Pessoal" aumentaram 10,8%, mas as despesas com "Subcontratos" com privados cresceram 21,3%, praticamente o dobro. E se somarmos às despesas com "Compras", com "Fornecimentos e Serviços de Terceiros" os "Subcontratos", ou seja, se somarmos as despesas de todos os negócios com privados, a soma já representava, em 2005, cerca de 48,5% das despesas totais do SNS. Esta provocação de fazer das nossas doenças um rico negócio para os privados e um péssimo negócio para as contas do Estado, também não é suficiente para me levar a contra-provocar.

Mas, meus amigos, não posso calar o Holocausto em curso no Médio Oriente, nem a imundice informativa que lhe está subjacente. E não farei como a canalha que controla a comunicação social nacional e internacional, os lacaios que fazem e lêem as notícias, os comentadores e analistas chamados a «explicar» o que se passa no Médio Oriente. Não! Eu vou contar a história desta guerra desde que ela, de facto, começou, e não quando foi aprisionado, agora, um soldado israelita. Oiçam com atenção:

Com o fim do Império Otomano, no final da I Guerra Mundial, a Inglaterra obteve da Liga das Nações um mandato para administrar a Palestina e o Iraque. Estava-se num ponto alto das ideias racistas e colonialistas. Recorde-se que os hebreus chegaram à região da Palestina por volta do ano 2.000 a.C., onde já viviam os filisteus, ancestrais dos árabes. Com a decadência dos reinos de Judá e Israel, as populações locais foram dominadas sucessivamente por assírios, caldeus, persas, gregos e romanos. Contudo, no início da era cristã, os judeus foram derrotados pelos romanos, iniciando-se, então, a Diáspora Judaica. A partir do Sec. VII, dá-se o advento do Islão, e quando os turcos otomanos chegaram, toda a região da Palestina já se encontrava sob o domínio dos muçulmanos, que controlavam os lugares sagrados: Meca e Medina, na Península Arábica, e Jerusalém e Hebron, na Palestina. Espalhados pelo mundo, os judeus mantiveram, contudo, a esperança de voltar à Terra Prometida, sonho que começou a materializar-se com o aparecimento do sionismo, um movimento criado por Theodor Hezl, no final do século XIX, e que defendia o retorno ao Sion, nome bíblico de Canaã, a Terra Prometida.

Em 1917, Lord Balfour, o secretário inglês para os Assuntos Estrangeiros, fez publicar a “Declaração Balfour”, onde se apoiava a imigração de judeus para a Palestina e o estabelecimento de um "lar nacional para o povo judeu" na região, afirmando que "nada será feito que possa prejudicar os direitos civis e religiosos das comunidades não judaicas existentes" – uma referência clara aos árabes, que, então, representavam 92% da população.

Comentando esta declaração, o escritor palestiniano, Edward Said, no seu livro “The Question of Palestine”, desmontou assim o seu carácter:

"O que é importante a respeito da declaração é que, em primeiro lugar, durante muito tempo ela foi a base legal para as reivindicações sionistas em relação à Palestina e, em segundo lugar, e mais importante para os nossos objectivos, foi uma declaração cuja força só pode ser avaliada quando as realidades demográfica e humana da Palestina ficarem claras na mente.

Isto é, a declaração foi feita:

a) por um poder europeu,

b) a respeito de um território não-europeu,

c) num claro desrespeito à presença e aos desejos da população nativa residente no território e

d) tomou a forma de uma promessa sobre este mesmo território por um outro grupo estrangeiro, a fim de que esse grupo estrangeiro pudesse, literalmente, fazer desse território uma nação para o povo judeu."

Mas, como seria de esperar, a “Declaração Balfour” foi logo interpretada pelos líderes sionistas como um apoio à criação de um estado judeu soberano, e usada como argumento internacional para a formação de Israel. Nas décadas que se seguiram, dezenas de milhares de judeus fixaram-se na Palestina, movidos pelo ideal do sionismo. Eram, na sua maioria, oriundos da Europa. Se o estímulo sionista à imigração judaica é compreensível, já as vacilações britânicas para contê-la não o são. Mas foram elas que, a par das perseguições nazis, fizeram aumentar o número de judeus na Palestina, criando áreas de tensão com as populações árabes locais. Em 1922, os judeus representavam 11% da população, e em 1949 eram mais de 30%. Nessa altura, cerca de 20% da terra arável tinham sido tirada aos palestinianos, pertencendo já ao Fundo Nacional Judaico.

Após a II Grande Guerra, e sob a capa dos massacres nazis (que não foram praticados apenas sobre judeus, mas, como se sabe, sobre comunistas, socialistas, sindicalistas, democratas sem filiação definida e outros opositores ao nazismo, pois todos estes homens e mulheres alimentaram as câmaras de gás e os fornos crematórios), os judeus reforçaram a exigência de criar um estado. A Inglaterra tinha consciência da instabilidade que a criação desse estado na Palestina provocaria na comunidade árabe, mas os EUA, que emergiam da guerra como uma nova potência, e sob a pressão do sionismo, cuja força económica sempre foi determinante na economia norte-americana, pressionaram a favor da causa judaica.

A tragédia do povo palestiniano tinha início, e sucedia ao drama da ocupação inglesa. Em 1947, a Inglaterra submete a questão às Nações Unidas, cuja Assembleia, ignorando todos os argumentos e apelos dos palestinianos, aprova a partilha da Palestina entre árabes e judeus. Em 14 de Maio de 1948, a Inglaterra retira-se da Palestina e os judeus proclamam o Estado de Israel, ocupando as melhores terras e controlando os recursos hídricos, essenciais numa zona por natureza árida. Face ao roubo, os árabes da Palestina, do Egipto, Jordânia, Iraque, Síria e Líbano declaram guerra ao recém-criado Estado de Israel, ignorando a excelência do potencial bélico sionista, prenda dos brancos ocidentais contra os «selvagens escuros».

Com a vitória dos judeus, em 1949, são estabelecidas fronteiras ainda mais draconianas. Cerca de 75% da Palestina é incluída nas fronteiras de Israel; Jerusalém foi dividida entre Israel e Jordânia. O estado árabe-palestino deixa de existir. Quase 2/3 da população árabe é forçada a abandonar as suas casas e torna-se refugiada. Centenas de milhares de palestinianos emigram para os estados árabes, nos quais passaram a sobreviver em acampamentos precários. Os que permaneceram, ficaram na condição de refugiados na sua própria pátria, de seres humanos de segunda. Jerusalém, então dividida entre cristãos, judeus, e muçulmanos, tornou-se pólo de conflitos que se estendem até os nossos dias. Nos campos de refugiados, desde então, nasceram, sofreram e morreram gerações inteiras de palestinianos. Repito: nos campos de refugiados, desde então, nasceram, sofreram e morreram gerações inteiras de palestinos, alimentados pelo ódio que a potência colonial (haverá outro termo mais adequado?) fez germinar.

Apesar da comunidade internacional pouco mais fazer do que derramar lágrimas de crocodilo pela infelicidade dos palestinianos, e porque é sempre bom, em política, salvar as aparências, foram aprovadas várias resoluções na ONU, apelando à paz, ao retorno dos refugiados às suas terras e casas (as que não tiverem sido ocupadas ou destruídas pelos judeus), exigindo a retirada dos sionistas dos territórios ocupados e o estabelecimento de fronteiras permanentes. Israel não acatou nem uma.

Curiosamente – ou talvez não – os paladinos «justiceiros» norte-americanos, que já invadiram países depois de sobre eles derramaram toneladas de bombas, argumentando que não cumpriam resoluções da ONU, ainda não tiveram oportunidade de invadir Israel e obrigar os judeus a respeitar as resoluções que os vinculam. Aparentemente – e de acordo com a velha filosofia nazi – para norte-americanos e judeus, os palestinianos não deverão ser seres humanos, ou, sendo-o, não se lhes aplica, por qualquer desconhecida razão, a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Nem dos animais, pelo que parece…

Socorro-me de um artigo publicado no “New York Times”, pela altura da célebre visita do Papa, João Paulo II, em 1999, ao campo de refugiados de Dehaishem:

"Quase 10.000 refugiados palestinos, quase todos muçulmanos, vivem em menos de 1 milha quadrada de terra, amontoados em barracas que formam becos salpicados de sucata de carros velhos, velhas bobinas de fio e lixo. Eles são refugiados há 52 anos, e muitos deles ainda guardam as chaves de suas casas, que foram forçados a abandonar, na luta que se seguiu à criação de Israel."

Mas quem conseguir visitar a Faixa de Gaza, perceberá ainda melhor as razões para o descontentamento dos palestinianos. Com uma população de mais de 1 milhão de habitantes, a Faixa de Gaza, (o «Soweto de Israel» em alusão ao gueto da África do Sul), não é um estado e não foi anexada a Israel. As forças de Israel controlam toda a fronteira. Se os moradores de Gaza quiserem sair dessa área, precisam de obter uma permissão dos israelitas. Muitos palestinianos - nascidos a partir de 1967 - nunca saíram dessa faixa, uma tira de terra situada entre o deserto de Negev e o mar Mediterrâneo, que mede 46 km de comprimento e 10 km de largura, Perante este quadro, quem se pode admirar por ataques suicidas? Não perderam os palestinianos tudo o que é possível perder (menos a dignidade e a coragem)?

Esta é a realidade que se vive na Palestina, de 1947 para cá. Liberdade, justiça, democracia, direito a uma pátria e a ser-se independente? Que significam estas expressões para um palestiniano? E para os sionistas, carniceiros brutais, que envergonhariam Hitller ou qualquer um dos seus sequazes? E para Bush, seu digno amigo e protector? O que fica a dever a acção conjunta de Israel e EUA, na Palestina, às acções dos nazis nos anos 30 e 40 do Sec. XX? Falar em neo-nazismo é muito? Não! É o mínimo!

Sabemos agora – e a imundice reinante na comunicação social dá isso como facto natural e imutável – que os soldados e as forças de segurança israelitas podem capturar e assassinar todo e qualquer palestiniano, ou destruir as suas casas e pulverizar as suas terras. Os palestinianos não podem lutar pela sua liberdade e independência, muito menos pela recuperação do chão que foi seu. Capturar um soldado israelita? Nunca! Isso é crime, é terrorismo. Assim vêem e assim nos dizem jornais, rádios e televisões. Israel, que tudo tirou aos palestinianos, pode matar quando e sempre que lhe apetecer, para manter os seres inferiores na ordem e jamais virem a ser obrigados a devolverem o que roubaram.

Então, nos dias que correm, o genocídio do povo palestiniano, e agora também do libanês, continua. O comportamento do estado sionista é mais atroz do que o da Alemanha hitleriana. Isto está a ser cuidadosamente mascarado pelos media «de referência», quando apresentam tais massacres como se fossem uma luta entre iguais. Não são. Trata-se de dizimar populações civis indefesas, homens, mulheres e crianças, e destruir infra-estruturas civis como centrais eléctricas, pontes e edifícios governamentais.

O estado racista judeu (como racistas são todos aqueles que defendem o direito de Israel subjugar os povos a quem roubou terras, casas, água e a própria vida) usa ainda a arma da fome contra o milhão e meio de palestinianos que vivem na Faixa de Gaza, agora às escuras, sem electricidade, sem água e isolados do mundo.

A entidade sionista esmera-se em ultrapassar em barbárie todos os seus feitos anteriores. Revela-se agora a utilização de novas armas não convencionais na Faixa de Gaza. O Dr. Al Saqqa, do hospital central, revelou que "estas munições penetram no corpo e fragmentam, provocando combustão interna que conduz a queimaduras de quarto grau, expondo o osso e afectando o tecido e a pele". E acrescentou: "Estes tecidos morrem, não sobrevivem, o que obriga a executar amputações de braços ou pernas, e há fragmentos que penetram o corpo e não aparecem no raio X. Ao entrar no corpo, eles chispam como uma combustão de arma de fogo, mas não quimicamente. Eles parecem radioactivos". Até mesmo intelectuais de direita, como Vargas Llosa, protestaram contra tais actos de selvajaria. O silêncio do governo português em relação a estes crimes não o dignifica.

E isto, meus amigos, eu não podia calar. Nem o seguinte: se alguém me fizesse, em Portugal, o que os judeus fazem aos palestinianos, na Palestina, também eu era capaz de pôr uma bomba à cintura. E você?


Crónica de: João Carlos Pereira
Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 19/07/2006.
(Não deixe de ouvir e participar todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00, em 98.7 Mhz)

12/07/2006

PORTUGAL SOFRE DE CANCRO

" (...) O que eu invejo, doutor, é quando o jogador cai no chão e se enrola e rebola a exibir bem alto as suas queixas. A dor dele faz parar o mundo. Um mundo cheio de dores verdadeiras pára perante a dor falsa de um futebolista. As minhas mágoas, que são tantas e tão verdadeiras e nenhum árbitro manda parar a vida para me atender, reboladinho que estou por dentro, rasteirado que fui pelos outros. Se a vida fosse um relvado, quantos penalties eu já tinha marcado contra o destino? (...)”

Mia Couto, in “O fio das missangas”


Soube-se dia 27, através do jornal Público, que a distinta advogada Vera Sampaio foi contratada, como assessora, pelo membro do Governo, senhor doutor Manuel Pedro Cunha da Silva Pereira, não menos distinto ministro da Presidência, e amigo muito íntimo do senhor primeiro-ministro (também ele distintíssimo), engenheiro José Sócrates.

Como a tarefa de assessorar o senhor ministro da Presidência não é muito cansativa, foi a novel assessora autorizada a continuar a dar aulas numa universidade privada, onde ganha uns cêntimos para compor o salário e poder aspirar a ter uma vidinha um pouco mais desafogada.

O facto de ser filha do senhor ex-presidente desta República do Figo e das Bananas, que também dá pelo nome de Portugal – e cujos indígenas fizeram rir o mundo inteiro por festejarem um suado 4.º lugar no campeonato do mundo de futebol, como se dum feito heróico se tratasse ou, mesmo, da conquista do próprio título – mas, dizia eu, o facto de a distinta senhora ser filha do doutor Jorge Sampaio não teve nada a ver com este reconhecimento das suas capacidades, juram, pela saúde do engenheiro Sócrates, o governo e quase todo o PS.

Acontece, apenas, é que há famílias a quem a mão do Senhor toca com a sua graça – ámen, e que assim seja “in saecula saeculorum”, que é como quem diz, em linguagem comum, que assim seja até sempre, ou, pelo menos, enquanto esta democracia durar – e que dure o mais possível. Porém, soube-se há tempos que o rebento masculino do mesmo ex-presidente, depois de se ter formado, foi logo para consultor da Portugal Telecom, onde certamente porá toda a sua «longa» experiência ao serviço de todos nós. Agora, como se viu, calhou a sorte à maninha (que o Senhor seja bendito, na sua infinita misericórdia) e lá foi ela, em part-time bem remunerado, servir o governo do partido do papá, onde certamente também porá toda a sua experiência a bem do povo (que lhe paga) e do país.

E o papá, para não destoar, escavacou uns bons centos de milhares de euros na remodelação de um palacete ali para a Ajuda, onde instalará um gabinete à altura das suas altas funções de presidente-que-já-foi-mas-já-não-é, para onde será transportado pelo nosso carro, conduzido pelo nosso motorista e onde certamente porá, também ele, toda a sua vastíssima experiência ao serviço deste heróico povo e desta nação valente. Nação valente e imortal, conforme nos fartámos de ouvir nos últimos tempos…

Parece mentira, não parece? Mas é verdade! Apetece gritar: Às armas! Às armas!

E tudo isto se passa num sítio mal frequentado, onde um milhão e duzentas mil pessoas vivem com reformas abaixo dos 375 Euros por mês, ou seja, menos de 75 contos dos antigos, sendo certo que mais de metade delas não chegam aos 50 contitos. No mesmo sítio mal frequentado onde, todas as semanas, centenas de trabalhadores são atirados para o desemprego, por gestão incompetente ou fraudulenta dos seus patrões, ou, no melhor dos casos, vítimas das sacrossantas leis do mercado, ou seja, das políticas económicas adoptadas e seguidas nos sistemas políticos designados como capitalistas (e, por alcunha, «democráticos»), mas onde os seres humanos não passam de peças descartáveis, a sacrificar em função dos interesses do grande – grande e intocável – patronato.

A este propósito, vou contar-lhes um episódio banal que vivi na segunda-feira, mas que, apesar de banal, é um bom exemplo da espécie de montureira em que vivemos. A senhora abordou-me, mostrando um cartão que trazia pendurado ao pescoço, dizendo que se chamava Fulana de Tal, e que representava uma qualquer instituição que apoiava crianças com determinada doença. Naturalmente, solicitava o meu apoio. Respirei fundo e respondi-lhe algo muito parecido com isto:

«Vai-me desculpar, mas já dei para esse peditório. Sabe quando? Quando cumpri as minhas obrigações fiscais. A partir daí, compete ao Governo tratar das crianças doentes, seja a doença qual for. Por outro lado, mesmo que eu lhe desse tudo o que trago no bolso, acha que iria resolver algum problema? O que eu ia fazer era tirar de cima do Governo parte das suas responsabilidades, ia ajudá-lo a ser ainda mais irresponsável e desumano».

Com um sorriso amarelo, a criatura interrompeu-me para dizer que «pois é, mas infelizmente o governo não faz mais, se calhar porque não pode…». E eu continuei. «Não pode?! Que possa! Quem tem dinheiro para estádios e futeboladas, para novos aeroportos e coisas dessas, deve ter dinheiro para cuidar da saúde das suas crianças, não lhe parece? Ou não acha que isso seja prioritário? Desculpe, mas se participasse nisso, era estar a ser cúmplice com políticos e com políticas assassinas. E, ainda por cima, com a convicção de que não ia resolver nada». A senhora deixou-me em paz, não sei se me rogando pragas, se achando, lá fundo, que eu teria alguma razão.

Eu já tinha, nessa altura, esta crónica engatilhada, inspirada naqueles a quem a «bondade divina», como a família Sampaio, permite tudo ter, mesmo dois ou três empregos e reformas várias, enquanto crianças com cancro ou leucemia, para serem devidamente tratadas, estão sujeitas à caridade pública, porque o país esbanja recursos de forma imoral e improdutiva e deixa que a pouca riqueza criada seja tão mal distribuída. Isto é indecente, é imoral, é criminoso! De cancro sofre o país, cancro, que é esta política do plano inclinado sempre para o lado dos poderosos, dos instalados, dos que mexem e remexem os cordelinhos do poder económico e do poder político, cancro que o apodrece, desfaz e desmoraliza. Pelo menos, é assim que eu vejo a coisa – e se houver algum ouvinte que pense de outra forma, que diga de sua justiça. Mas que o faça de forma objectiva e explicando claramente as razões da sua divergência. E, se for possível, de forma inteligente e elevada. Mas, se preferir o insulto, também serve…

Entretanto, o bom povo português (parte dele, claro…), andou cerca de um mês vestido de vermelho e verde, mascarado de patriota, cantando o hino nacional a toda a hora, embalado por uma competição desportiva onde o que estava realmente em jogo eram os múltiplos e milionários interesses económicos e financeiros, a par das grandes apostas, e não uma mera taça chamada Jules Rimet. Aliás, quem for lúcido e honesto, facilmente concluirá que, em termos desportivos ou competitivos, o campeonato não deixou saudades. Não houve um único jogo empolgante e, sem medo de errar, até se pode dizer que, se alguma emoção houve, ela se resumiu às decisões por grandes penalidades. O que, convenhamos, pouco tem de futebol, pelo menos como eu o entendo. O resto, foi futebol cobarde e calculista, onde o medo de perder foi superior à vontade de ganhar.

Bom, mas como tudo tem sempre um lado positivo, pode acontecer que, um dia destes, o povo português consiga orientar as suas energias para alguma coisa mais séria e infinitamente mais importante do que um campeonato de futebol. Para objectivos verdadeiramente patrióticos, como seja elevar o nível cultural, económico e social de mais de 9 milhões de portugueses, garantir trabalho e remuneração digna a toda a gente, acesso à saúde e à educação, habitação decente, protecção às crianças, aos idosos e a todos os que padeçam de qualquer incapacidade, enfim transformar-se num país desenvolvido e justo. Num país decente e respeitável. Porque isso é que seria ser moderno.

A respeito do moderno, não resisto, a terminar, a contar-vos uma anedota que anda por aí a circular na Internet, a propósito do choque tecnológico.

Está um velho pastor a guardar o seu rebanho, quando pára, ao pé dele, um jeep, 4X4, todo artilhado, de onde sai um jovem com cerca de 30 anos. Veste de negro, fato tipo «Hugo Boss», sapatos «DKNY». Dirige-se ao pastor e diz-lhe. «Se eu adivinhar quantas ovelhas tem você aí no seu rebanho, dá-me uma?». O pastor sorriu e respondeu. «Tá bem, homem. Adivinhe lá, que pode levar um animal».

O jovem volta ao «todo-o-terreno», tira de lá um computador Toshiba, Tecra 9.000 Pentium, a 38 GHZ, com 2 Gb de RAM, liga-se à Net, via satélite, e acede a uma base de dados da 300 MB. Entra numa página da NASA que identifica, por satélite, a zona onde está, calcula a média do tamanho de uma ovelha tipo «merino», através de uma tabela dinâmica do EXCEL e, com a execução de algumas macros personalizadas, em Visual Basic, consegue completar o diagrama do fluxo. Depois de alguns minutos, volta-se para o velho pastor e proclama: «O senhor tem 1.347 ovelhas, 256 são machos e 1.091 são fêmeas, das quais quatro podem estar prenhes».

O pastor olha para ele, ligeiramente admirado, e diz. «Acertou. Olhe, agarre lá no animal e leve-o. É seu». Quando o jovem, com o animal já dentro do jeep, se prepara para partir, o pastor pergunta-lhe. «Oiça cá. Se eu adivinhar para quem você trabalha, devolve-me o animal?». O jovem ri-se e respondeu que podia ser. «Você trabalha para o governo do engenheiro Sócrates, não me enganei, pois não?». Admirado, o jovem volta a sair do jeep e pergunta como é que o pastor tinha adivinhado.

- É simples, é mesmo muito simplex! – responde o velho. – Você tem pinta de maricas, chegou sem ninguém o chamar, disse-me o que eu já sabia e, principalmente, não percebe nada do negócio. É que em vez de levar uma ovelha, já ia levar o meu cão…

E esta, hein?! (Como diria o Peça).


Crónica de: João Carlos Pereira
Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 12/07/2006.
(Não deixe de ouvir e participar todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00, em 98.7 Mhz)

02/07/2006

ESTA SEMANA

REMODELAÇÃO
O senhor Diogo demitiu-se, justificando essa decisão com problemas de saúde e toda a gente vem agora dizer que ele já o devia ter feito há muito tempo porque não estava em sintonia com alguns ministros do governo de Sócrates.
O que ninguém percebeu é que ele era um dos 257.000 que estavam em lista de espera para uma cirurgia e que foi chamado à pressa para a operaçãozinha à coluna, não podendo perder esta oportunidade por desconhecer quando poderia surgir outra.
Vá lá, teve sorte e ainda conseguiu uma vaga antes de ficar sem se poder mexer ou antes de passar para o outro mundo como já aconteceu com tantos outros.
Assim já o seu ex-colega Campos pode dar uma conferência de imprensa a anunciar que a lista está a diminuir e que agora já só são 256.999 em lista de espera.


INTERNET
Temos muita Internet, somos o 11º país da Europa a ter os serviços do estado informatizados, a sofisticação leva a que tenhamos a melhor oferta “on-line”, o plano tecnológico esta a dar excelentes resultados, mas quando necessitamos de algumas coisitas simples, é o cabo dos trabalhos.
Podemos requisitar tudo ou quase tudo pela Internet, podemos até solicitar e pagar a uma Câmara Municipal a ligação e a colocação de um contador de água para uma obra devidamente legalizada, mas o serviço demora mais de um mês a ser executado porque devem existir muitos doutores informáticos mas faltam os operários, os que recebem pouco mais que o salário mínimo.
Ou seja, para se admitirem e se poder pagar a doutores e engenheiros informáticos, têm os organismos que dispensar quem verdadeiramente trabalha no terreno e pode ajudar à recuperação da nossa economia.
Será que ninguém percebe que a Internet é muito útil mas que só por si não resolve problema nenhum se não existirem serviços oficinais devidamente estruturados para poderem dar resposta às solicitações ?
De propósito não divulgo qual é a Câmara Municipal onde tudo isto se passa, mas posso adiantar que é a mesma onde um vereador diz que a colocação de um simples corrimão num parque público leva algum tempo a realizar, esperando-se que até ao final do ano a obra (do corrimão) possa ser concluída.


BLOQUEIO
E já que se fala tanto de internet, também é de referir que o bloqueio económico, financeiro e comercial dos Estados Unidos contra Cuba, que vigora desde há 45 anos, não é apenas o mais prolongado, mas o mais abrangente.
O bloqueio chega a cada canto e aspecto da sociedade cubana e também à Internet. Cuba aderiu à rede internacional de computadores em 1996 e a partir de então Washington não deixou de criar dificuldades. Assim, o cabo de fibra óptica que passa perto de Cuba, constituindo o principal suporte para a transmissão de dados, não pode enlaçar Cuba, que tem de recorrer à Internet por satélite, opção mais lenta, de menor qualidade e muito mais cara.
A Casa Branca não revela esta realidade, nem que, mesmo assim, o modelo cubano de informatização beneficia gratuitamente cerca de 10% da população, mas acusa Cuba de limitar as liberdades individuais, quando apenas são esabelecidas restrições lógicas devido às dificuldades económicas impostas pelos vizinhos americanos.
O bloqueio, ao contrário do que dizem, não é contra Fidel nem contra o regime: é contra todo o povo cubano que tem de encontrar no seu dia a dia as mais variadas formas de suplantar as dificuldades provocadas pelo imperialismo dos senhores que se julgam donos do mundo.


AUSÊNCIA
Tal como o João Carlos Pereira, também eu vou estar ausente por uns dias. Não por três semanas (não tenho esses privilégios) mas apenas por uma semanita fora das confusões do futebol, das remodelações do governo e dos anúncios patéticos de grandes investimentos que nunca chegam.
Até ao meu regresso espero que não tenham de recorrer ao dito serviço nacional de saúde e se possível, sejam felizes.

1997, 2007 © Guia do Seixal

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