25/06/2006

ESTA SEMANA

"NÃO SEI"
Um senhor de nome Mário Simões, que se apresentou como porta-voz da Administração Regional de Saúde do Alentejo, disse não saber como se poderiam resolver as situações que pudessem surgir com as parturientes que fossem ter as suas crianças em Espanha, pois não tinha recebido quaisquer instruções superioriores. Também eu não sei como é possível tanta insensibildade do ministro socialista Correia de Campos perante os pais que perderam um filho na maternidade de Badajoz e que não podem sequer transladar o seu corpito para ser sepultado em Portugal.

A correria desenfreada ao encerramento de unidades de saúde sem o devido planeamento que pudesse precaver as falhas do sistema, só poderia vir a dar os problemas que já começaram a surgir e que, infelizmente, se vaticina venham a agravar-se com percas de vidas humanas.

Provavelmente, em muitos casos, as situações clínicas dos doentes levariam a um desfecho fatal, independentemente de existirem ou não unidades de saúde mais próximas. Mas quem pode provar isso ? Quem convence os familiares que assim seria ? Não será isto uma espécie de eutanásia encapotada ?

Deem-se todas as condições, gaste-se o dinheiro que for preciso e apele-se aos “nossos bravos futebolistas” para lutarem e ganharem à Holanda, à Inglaterra, ao Brasil e à Alemanha, para serem campeões do mundo. Mas porque se não oferecem as mesmas condições aos profissionais de saúde, dando-lhes a possibilidade de lutarem no seu dia a dia para salvar vidas ?

Para todos os efeitos o consulado do senhor Correia de Campo e do seu chefe José Sócrates fica manchado por estas situações e se continuam por lá muito tempo, ainda nos arriscamos a desaparecer do mapa e a não precisarmos das míseras reformas que nos esperam.

Como se já não bastasse o que este (des)governo socialista tem vindo a retirar aos que já estão aposentados, ou aos outros que ainda o não estão mas que já contam com o aumento da idade para atingir esse estatuto, após uma vida inteira de trabalho e descontos, agora têm mais uma na manga que é a de penalizarem em 7,5% por cada ano, quem queira ir para casa antes dos 65 anos de idade.

Como a lista de espera para as cirurgias tem vindo a aumentar, calculando-se que haja neste momento cerca de 257.000 utentes, mais 57 mil que o ano passado, brevemente conseguir-se-á chegar ao equilíbrio da segurança social.

O método é simples: aumentam-se os anos de trabalho e as contribuições, diminuem-se os cuidados de saúde física e mental, baralha-se tudo e no final a morte antecipada é certa.


HELICÓPTEROS
Estando praticamente a chegar ao fim o mês de Junho, ainda não se sabe bem ao certo se sempre vêm as tais máquinas voadoras de combate a incêndios, na medida em que o concurso que foi lançado para o seu fornecimento foi contestado e portanto está em fase de recurso.

Disse o ministro que é normal haver sempre reclamações dos concorrentes que perdem e por isso o governo não tem qualquer culpa do atraso.

Pois é. Somos todos estúpidos ou o senhor ministro Costa julga que com este tipo de desculpas pode apagar a sua responsabilidade ? Felizmente que ainda não deflagraram grandes incêndios – também não deve existir muito para arder – e os helicópteros não fizeram falta. Mas se já se sabia que o concurso iria ter um prazo mais alargado até à adjudicação devido às reclamções, porque será que o senhor ministro Costa não o lançou mais cedo ?

21/06/2006

MANUAL DO LOCUTOR PATRIOTA E OUTRAS PROVOCAÇÕES

Como já informei os ouvintes da Rádio Baía, devo agora informar os leitores destas crónicas que vou estar ausente cerca de três semanas. Contudo, posso ainda, para este nosso site, deixar alguma coisa escrita, prometendo que, se tal me for possível, enviarei outros textos.

As minhas palavras de hoje foram-me sugeridas pelos relatos do mundial de futebol, a decorrer na Alemanha. Porque os nossos locutores, tanto na rádio, como na televisão, em vez de profissionais encarregados de relatarem e comentarem um jogo, me parecem membros vesgos e fanáticos da claque a quem puseram um microfone na mão, lembrei-me que seria giro – já que ninguém lhes chama a atenção para a coisa, sendo, por isso, oportuno pensar-se que os seus patrões estão de acordo com o método – elaborar um Manual de Locutor Patriota, que seria distribuído pelos candidatos a futuros locutores e comentadores. Vamos a isso?

Capítulo I
Do árbitro e seus auxiliares

1 – Todas as faltas cometidas pelos jogadores nacionais não devem ser relatadas como faltas.

1.1 – Assim, devem evitar-se frases do género: «Maniche agarrou o adversário, e o árbitro assinalou a respectiva falta».

1.2 – O locutor deve, por isso, dizer: «O árbitro decidiu assinalar uma falta que, sinceramente, não descortinámos. Aliás, o juiz estava distante do lance, e o auxiliar nada assinalou». Ou então: «Foi falta, na opinião do árbitro». Ou ainda: «O juiz de campo viu ali uma falta, num lance que nos pareceu absolutamente normal!». Isto é: nunca se diz que foi falta, mas sim que o árbitro viu uma falta.

1.3 – Se a falta tiver sido muito evidente, o lance deve ser relatado assim: «O jogador português reagiu à dureza que os nossos adversários vêm usando, mas já vimos lances semelhantes, por parte da equipa contrária, e o juiz não assinalou nada».

1.4 – Qualquer falta, mesmo que ligeira, cometida sobre um jogador português, deve ser sempre relatada deste modo: «Falta! O árbitro, bem posicionado, não teve dúvidas em assinalar a entrada sobre o nosso jogador, só é pena que outras já tenham passado em claro.

1.5 – Se houver uma entrada dura sobre um jogador nacional, o locutor deve mostrar a sua indignação e reclamar, logo, a amostragem do vermelho. Se tal não se verificar, e for o amarelo, dirá que «o árbitro está a prejudicar, claramente, a equipa das quinas». Se nem for o amarelo, então, o árbitro é, no mínimo, «um elemento da equipa adversária».

1.6 – Admitamos, agora, uma entrada violenta sobre um jogador adversário, daquelas que até o senhor Scolari põe as mãos na cabeça à espera da expulsão. O locutor patriota deve relatar assim. «Bom… pareceu-nos falta. De facto, Deco entrou de pé em riste, mas o seu adversário também baixou a cabeça. Enfim… no critério do árbitro, o amarelo devia ser mostrado… e foi o que ele fez».

1.7 – Há uma jogada duvidosa, em que parece ter havido falta sobre um jogador nacional, mas o árbitro nada marca. O locutor deve gritar: «Incrível! Foi mesmo nas barbas do árbitro e, mais uma vez, o senhor do apito mandou seguir! Inadmissível. Esperemos pela repetição para vermos melhor aquilo que só ele não viu!».

1.7.1 – Se a repetição, de vários ângulos, der razão ao árbitro, o comentador e o locutor devem ignorar o facto, continuando o relato do jogo.

1.8 – Se a pretensa falta tiver sido dentro da área, deve dizer-se mais tarde, que «já houve um lance muito duvidoso, que pareceu penalti claro, a que o árbitro fez vista grossa», e insistir nisso nos comentários finais.

1.9 – Se o árbitro, porém, tiver marcado, a nosso favor, uma falta inexistente, e a repetição provar isso mesmo, o locutor patriota deve dizer que «o árbitro, de onde estava posicionado, terá visto algo que justificou a marcação do castigo», acrescentando que «no entanto, as próprias imagens da repetição deixam algumas dúvidas».

1.10 – Resumindo, os nossos jogadores nunca fazem (ou raramente fazem) faltas. Faltas para expulsão, isso, NUNCA!

1.11 – Os nossos adversários só fazem faltas, quase todas passíveis de acção disciplinar.

1.12 – A equipa de arbitragem nunca favorece Portugal. Favorece, sempre, os nossos adversários.

Capítulo II
Do mérito das equipas

2 – A «selecção de todos nós» joga sempre bem, podendo, às vezes, ter uma exibição menos conseguida. (exclui-se o caso em que a exibição e o resultado forem miseráveis, pelo que, apenas nesses casos, é permitido ao locutor ser objectivo, mas só a partir dos último quarto hora de jogo.

2.1 – Os nossos jogadores são sempre excelentes, salvo quatro (Figo, Deco, Cristiano e Quaresma) que são «mágicos», os «melhores do mundo», «de outra galáxia», «fantásticos», etc, etc.

2.2 – Uma bola rematada por um dos nossos jogadores, que passe a dois metros dos postes ou da barra, é sempre uma «jogada perigosíssima» (convém dizê-lo em altos gritos, como se a bola já estivesse a beijar as redes), e o remate «rasou» o poste – ou a barra.

2-3 – Um adorno do Cristiano ou Quaresma, mesmo que dê em nada – ou dê, até, num golo do adversário – deve ser relatado assim: «É para ver isto que as multidões enchem os estádios! É a fantasia de um dos maiores jogadores do mundo – provavelmente, daqui a dois ou três anos, o melhor jogador do mundo!».

2.4 – Deco faz um bom passe, e o locutor deve dizer: «Magnífico passe de Deco, um passe que só ele é capaz de executar. Excelente visão de jogo». Se Deco falhar uma série de passes, ignora-se o facto, podendo encontrar-se, quando muito, uma desculpa no estado do terreno ou na capacidade de antecipação da defesa adversária.

2-5 – A equipa adversária, (salvo se conseguir anular completamente a equipa nacional), é, apenas, uma equipa esforçada, composta por bons jogadores, mas sem a técnica e a capacidade de improvisação e a disciplina táctica da selecção nacional.

2-6 – Se o resultado não for favorável, deve atribuir-se o insucesso a:
- A erros da arbitragem, que, apesar de não ter influído directamente no resultado, foi cortando, com o uso habilidoso do apito, o nosso fio de jogo;
- Ao anti-jogo do adversário, muito fechado no seu meio campo, não jogando, nem deixando jogar;
- Ao mau estado do terreno, o que favorece sempre a equipa menos apetrechada tecnicamente;
- Falta de inspiração de alguns dos nossos melhores elementos.

Buzinam carros, lá fora

Ao concluir este pequeno manual, começo a ouvir buzinas lá fora, na minha rua. Deve ser a população a protestar por mais um aumento dos transportes, que aí vem. Só este ano – e só agora vamos em metade – já chegam aos 5%!

Afinal, não era nada disso. Eram só uns patriotas a celebrar a passagem da selecção aos oitavos de final. Que bom, não é? Para aqueles, a gasolina deve ser de borla. Trabalham ao pé da porta, se calhar…

AZAMBUJA

A Opel vai fechar, porque diz que consegue fazer carros 500 euros mais baratos, em Saragoça. Se os espanhóis ganham mais, se a produtividade da fábrica da Azambuja é das mais altas da Europa, quem é que me explica isto? Olhem: mas expliquem como se eu fosse muito estúpido…

GUANTÁNAMO

Na prisão hitleriana de Guantánamo, foram suicidados três afegãos. O Hitler norte-americano, por alcunha, George, e por cognome, O Bush, diz que vai mandar para o Afeganistão alguns outros prisioneiros que estão, há vários anos, presos na referida base nazi, sem culpa formada, a fim de que possam, naquela colónia norte-americana da Ásia, serem julgados ou libertados. Mais uns que vão ser suicidados…

TIMOR

Ramos Horta, o homem que os norte-americanos e os seus aliados australianos têm em Timor, lá vai fazendo pela vida. Incapaz de disfarçar a ambição e a sede de protagonismo, quer transformar Timor numa colónia do Império. Vaidoso, mas estúpido, não percebeu que a sua necessidade de aparecer nas varandas é topada à légua.

Depois, Timor tem petróleo. O que podia ser um bem, acaba por ser um mal. É que há vampiros que se alimentam de crude. E onde há crude… há vampiros destes. Lindos, de gravata – ou lacinho – risonhos, bem falantes. E quem não vai na conversa, come com o Plano B. B, de BOMBA!


Crónica de: João Carlos Pereira

18/06/2006

ESTA SEMANA

POR CUBA CONTRA FIDEL
Não, não me enganei no título. Este foi o que saiu na nossa comunicação social, referindo que o líder do CDS/PP apoiou a criação em Portugal de um Comité para a Democracia em Cuba, proposto pelo “dissidente” cubano Carlos Franqui, com quem reuniu em Lisboa. Disse Ribeiro e Castro que “Cuba é a ditadura mais antiga com que o mundo se confronta e portanto devemos lutar por boas notícias de acesso à liberdade”.

Saberá o senhor Ribeiro e Castro que Portugal mantém relações diplomáticas com Cuba ao nível de Embaixada e que ele, como eurodeputado português e pretendente a ocupar um lugar de destaque num futuro governo, podem estas suas opiniões e encontros serem consideradas ingerências na política interna de um outro país ?

Que conhecimentos tem o senhor Ribeiro e Castro sobre Cuba para dizer que o sistema é uma ditadura ?

Saberá o senhor Ribeiro e Castro quem é Carlos Franqui ?

Não sabe ? Ele não lhe explicou ?

Pois bem, o tal “dissidente” é tão só um dos sócios mais chegados de um outro “dissidente” de nome Carlos Montaner, que após o triunfo da Revolução em 1959 foi recrutado em Havana para realizar trabalhos de sabotagem para a CIA, tendo a sua actividade provocado numerosas vitimas inocentes com o rebentamento de explosivos por ele colocados em centros comerciais de Havana. Em 1960 foi capturado, mas conseguiu evadir-se com o apoio dos seus “patrões” da CIA, vindo a instalar-se com todas as mordomias nos Estados Unidos, continuando até hoje a conspirar e a recrutar “dissidentes” para a sua causa terrorista não só contra Cuba, como também contra outros países da América Latina, onde já cumpriu variadas missões.

Ele e todos os seus comparsas, mascarados de artistas, de jornalistas ou de escritores, são sustentados pela CIA e percorrem o mundo à procura de apoios políticos, apanhando alguns ingénuos ou ignorantes nas suas malhas.

Cuidado senhor Ribeiro e Castro; veja lá com quem anda a encontrar-se e para a próxima informe-se primeiro quem são, o que fazem e o que andam à procura.

E já agora, quando quiser, terei muito gosto em o acompanhar a Cuba, tal como já fiz com outros, para lhe mostrar a tal “ditadura”.



CRIMINOSO DE GUERRA
O líder da ultra-direita austríaca, Joerg Haider, declarou recentemente que “o presidente norte-americano George W. Bush é um criminoso de guerra, cujas acções reforçaram o terrorismo internacional em vez de o enfraquecerem”.

Não deixa de ser curioso como a opinião dos mais variados quadrantes políticos é coincidente no que se refere ao chefe do “IV Reich” (como lhe chama e bem o João Carlos Pereira), esperando-se que chegue o dia em que este assassino possa ser julgado pelos crimes que tem vindo a cometer por todo o mundo, matando indiscriminadamente inocentes com a justificação do combate ao terrorismo.

Para além da ingerência e destruição de todo um país, a sua paranóia com o Iraque tem vindo a assemelhar-se a um verdadeiro holocausto, este o dos tempos modernos que não utiliza câmaras de gás mas sim as bombas que são mais rápidas e eficazes. parecendo que só desistirá quando não houver qualquer sobrevivente para poder contar a história.



PAPALVOS ?
Se bem se lembram, ainda não foi assim há tanto tempo, o senhor Sócrates e o seu ministro da economia vieram propagandear os grandes investimentos privados que estavam previstos para breve e que viriam trazer grandes benefícios ao país, com o consequente aumento do emprego. Mas aquilo que se tem visto são as fábricas a fecharem e os investimentos, que se vislumbrem, só os conseguidos com a abertura de novas catedrais do consumo.

Para que não se note muito mais este insucesso e para tapar o “sol com a peneira”, fazem-se uns malabarismos com os números do desemprego, adoptam-se novos critérios e definições, e assim já podem apregoar que o mesmo está a diminuir, como se isso fosse possível face ao encerramento quase diário de muitas empresas que abrem falência ou se deslocalizam. A falcatrua foi de tal ordem que até um dos principais responsáveis do Instituto de Emprego se demitiu para não ser conivente com tal situação. Mas disso pouco ou nada se falou e a nossa Assembleia da República, que deveria servir para fiscalizar estas situações, permaneceu muda e calada, não fosse levantar alguma “lebre” que poria em causa este e os governos anteriores.

Esta situação da Opel da Azambuja é mais um caso de (in)sucesso do actual governo socialista que temos, ao permitir que se ponha em causa a subsistência de cerca e 2.000 trabalhadores, depois de o seu actual deputado Pina Moura, enquanto ministro do governo Guterres em 1998, ter apoiado financeiramente com o nosso dinheiro, em nome do progresso e da criação de emprego, qualquer coisa como 6 milhões de contos a fundo perdido. Até a Câmara Municipal da Azambuja isentou a empresa ao pagamento de 400 mil contos de Sisa, como forma de apoiar o progresso regional.

Depois de tudo isto ainda se ouve o actual ministro da economia dizer que “o governo não tem culpa de nada porque não fabrica automóveis e não pode interferir nas decisões internas das empresas privadas que são livres de gerirem as mesmas da forma como muito bem entendem”. Ou seja, qualquer “macaco” entra por aqui dentro, recebe subsídios comunitários, do governo e das câmaras municipais e ao fim de alguns anitos ameaça com o encerramento da fábrica com a desculpa de poder reduzir os custos de produção se a deslocalizar para outro país.

Depois é esperar a contestação generalizada e que os “papalvos do governo” acreditem na chantagem, que critiquem e pressionem os trabalhadores (como aconteceu na Auto Europa), que prometam mais umas benesses e isenção de impostos à empresa em nome do aumento das exportações e marcar a conferência de imprensa – com o ministro ao lado – para dizerem que reconsideraram a posição graças à consideração e inteligência do senhor primeiro-ministro e do seu ministro da economia.

Mas onde é que eu já vi este filme ?

Será por estas razões que o eurodeputado socialista e ex-secretário de estado Manuel dos Santos apontou o dedo a Sócrates, criticando-o por ter tomado decisões assentes em critérios liberais e que o governo se apresenta como uma comissão liquidatária ?

Quando haverá coragem política para legislar sobre isto e só aceitar a instalação de multinacionais ou de outras empresas com contratos-programa perfeitamente definidos e que contemplem fortes penalizações para todos aqueles que não os cumpram, depois de terem recebido importantes incentivos ?

Ou a “marosca” já está toda combinada e os tais “papalvos” são afinal coniventes com esta situação ?

14/06/2006

A CRUZ OU O CHICOTE

Com o mundial a decorrer, a selecção já demonstrou que não é por haver jogadores de luxo numa equipa, treinada por um nome famoso e com ordenado fabuloso, que se ganha bem e joga melhor. Estou a referir-me, é claro, ao Portugal – Angola, onde o resultado e a exibição não espelham o fosso que separa os milionários portugueses, alguns deles actuando nos maiores clubes do mundo (Chelsea, Barça, Inter, MU, Benfica, Lyon, PSG, Estugarda, etc, etc) dos «pobres» angolanos, onde há jogadores que nem clube têm neste momento, enquanto outros servem emblemas pobrezinhos (mas honrados), como o Varzim ou o Barreirense.

Mas não é de futebol, claro está, que vamos falar (e a alusão serviu apenas para dizer que, na gloriosa incerteza do desporto, pode muitas vezes mais o amor à camisola do que os contratos milionários e os vedetismos imbecis). Não! Vamos falar de algo realmente importante e sério.

O Presidente da República, Cavaco Silva, pediu aos portugueses, nas comemorações do Dia de Portugal, para não se resignarem face às dificuldades do país. Disse mesmo – e cito: «que isso seria indigno do nosso passado, um desperdício do nosso presente e o adiar do nosso futuro». Inspirando-se em Jonh Kennedy, Cavaco Silva disse pretender «interpelar directamente» os portugueses, para os exortar «a reflectir sobre o que desejam e o que se dispõem a fazer» pelo país. (JK disse, na sua tomada de posse, que não deviam os americanos perguntar o que poderia o seu país fazer por eles, mas sim o que poderiam eles fazer pelo seu país).

Cavaco afirmou, ainda, que «ambicionamos um país mais rico e mais justo, uma sociedade que não seja atravessada por tantas assimetrias e desigualdades, um território mais equilibrado no desenvolvimento de todas as suas parcelas». Salientou que deveriam ser colhidas lições na «insatisfação colectiva» e na «coragem para enfrentar dificuldades» evidenciada nas descobertas marítimas de há cinco séculos. «Sem ela (a coragem) teríamos ficado reféns da resignação», sublinhou, para apelar depois para que os portugueses «não se deixem vencer pelo desânimo ou pelo cepticismo». O Presidente da República ainda pediu aos portugueses que corrijam «uma certa tendência para atribuir aos outros muito daquilo» que acontece e que desistam da ideia de que o «Estado é, para o bem e para o mal, a raiz e a solução de todos os nossos problemas». Um dos traços do «nosso destino comum», considerou ainda Cavaco Silva, é a «insatisfação colectiva». Mas «também o é a coragem para enfrentar dificuldades».

Sócrates gostou do discurso – e mesmo que não gostasse, diria sempre que sim. É o costume: o cinismo e a hipocrisia fazem parte das normas do «Politicamente Correcto». Mas eu, que não tenho que obedecer a essas normas – nem quero – tenho uma visão mais crítica das palavras de PR.

Em primeiro lugar, Cavaco falou como se tivesse chegado a Portugal no dia em que foi eleito Presidente da República. Parece que nunca foi primeiro-ministro. Parece não saber porque razão Portugal é esse tal país desequilibrado, assimétrico e injusto. Mais: parece que ele, tal como outros governantes – antes e depois dele – não tiveram nada a ver com isso. A crise chegou, caída do céu, instalou-se, e os portugueses, coitados, resignaram-se, perderam a fé e a coragem e – está bom de ver – se a coisa continuar assim, nunca mais passamos da cepa torta. Que chatice!

Então, qual é a receita de Cavaco? Simples. Os portugueses não devem resignar-se (face às dificuldades do país). Devem ter coragem (para enfrentar essas dificuldades). E devem, a partir da sua insatisfação colectiva, dispor-se a fazer qualquer coisa pelo país.

Mais simples do que isto, meus amigos, só um ovo estrelado com salsichas de lata.

Então, um português, logo de manhãzinha, ao acordar, deve dizer lá para si: «O que é que tu, Zé, podes fazer hoje por Portugal?». Põe-se a pensar, pensa, pensa, volta a pensar, e decide: «Pronto! Vou pagar mais impostos, mais taxas e tarifas. Vou pedir para me reduzirem o ordenado. Vou, até, se for preciso, trabalhar umas horitas de borla e, em último caso, pedir ao patrão que me despeça, para a empresa ser mais competitiva».

Como pensou em voz alta, a mulher, que é professora e formada (tal como o professor Cavaco) em Economia, logo lhe berra da cozinha: «Tu estás estúpido, ou quê?! Assim, não ajudas nada, meu burro! Admite que mais dois milhões pensam como tu. O que é que dá, não me dizes? Se te reduzirem o ordenado, como é que podes pagar mais impostos? E se trabalhares de borla ou fores despedido, então nem impostos pagas. E depois, o que é que te ficava para comprar seja o que for? Nem uma carcaça compras, homem! Se não comprares a carcaça, nem a manteiga, nem um bife, nem torresmos, ou pevides, a actividade económica abranda, as fábricas fecham, o comércio definha, a receita do IVA, do IRS e do IRC desce. Conclusão: entramos em recessão. Ou, até, em depressão».

O Zé, que é patriota (também pôs bandeira à janela, para apoiar a selecção), mas, ao contrário da mulher, não tem curso superior (ficou-se pelo 9.º ano, já que teve de dar o corpo ao manifesto bem cedo, para ajudar lá em casa, quando era solteiro, e, depois, foi sempre a esgalhar, para sustentar a sua casa, quando constituiu família) ficou calado um bom bocado. Depois, com cara de quem descobriu a pólvora, gritou para a mulher:

«Ai, não pode?! Ai, não pode?! Mas não é isso que já acontece? Pode, ou não? Cada vez pagamos mais impostos, taxas e tarifas, cada vez ganhamos menos, e até a moda dos salários em atraso pegou de estaca. Não querem pôr-nos a trabalhar mais anos, e dar-nos piores reformas? Pode, ou não?».

A mulher calou-se, mediu as palavras do marido e, depois, cheia de paciência, lá foi explicando: «Tá bem, querido, mas não foi isso que o professor Cavaco quis dizer. Ele até deu a entender que isso está mal. Portanto, o que ele quis dizer é que não nos podemos resignar com essa situação. Percebes?».

O Zé ficou quieto, a lembrar-se do anúncio: «Olha, explica-me essa coisa outra vez, como se eu fosse muito burra».

«Então, o que é que o Cavaco quis dizer com isso de não nos resignarmos, da coragem, do que desejamos que o país seja e do que estaremos dispostos a fazer por ele?», perguntou, seriamente embaraçado. E continuou: «Se eu já trabalho, se já pago impostos, se já aperto o cinto até ao furo zero, se faço tudo isto, o que é que eu posso fazer mais? O que é ter mais coragem do que aquela que já tenho, para aguentar, sem desbroncar, quando vejo tantas desigualdades, injustiças e assimetrias, como ele próprio diz? Sou eu que tenho a culpa delas?».

E ela, cheia de paciência: «Pois, mas o senhor professor não se estava a referir a ti, certamente. Estava a referir-se… olha, sei lá. Aos mandriões, a gente assim, percebes?»:

Ele não percebia. E então, teve um rasgo de argúcia argumentativa: «Tu não me digas que o discurso do 10 de Junho do Cavaco tinha como destinatário apenas meia dúzia de portugueses. Se não era para os que trabalham, como nós, também não era, certamente, para aqueles que estão desempregados e os que todos os dias ficam sem trabalho, porque as fábricas encerram, ou fogem para o estrangeiro. Aos reformados, também não devia assentar a carapuça. Quem é que sobra?».

Ela começou a perder a paciência: «Já vi que estás para desconversar. A verdade é que o país precisa de avançar, não achas? E não avança com gente resignada face à crise, com gente descrente, com imobilismos».

Mas o Zé não se dava por vencido. «A desconversar estás tu. Afinal, em que ficamos? O que é que o homem quer, realmente, que façamos? E tu, que és tão esperta, troca-me lá por miúdos aquilo que ele disse.

Ela ficou calada.

E o Zé continuou: «“Não nos resignarmos”. O que é isso? É nunca mais votarmos nesta gente? É corrê-los à cachaporra? Se não é isto, explica-me lá o que é. (E ela caladinha). “Ambicionarmos um país mais rico e justo, ou uma sociedade que não seja atravessada por assimetrias e desigualdades”. Ambicionar, todos ambicionamos, mas quem é que tem nas mãos os instrumentos políticos para fazer isso? És tu? Sou eu? Ou são os políticos que nos têm governado e, em vez disso, semearam e semeiam a injustiça, a desigualdade e puseram o país de pantanas? (A mulher continuou silenciosa). E o que é isso de “uma certa tendência para atribuir aos outros muito daquilo que acontece”? Por acaso somos nós que queremos fechar a fábrica da General Motors, e que fechámos dezenas de outras fábricas? Somos nós que fazemos subir o petróleo? Fomos nós que vendemos a Siderurgia Nacional aos espanhóis? Fomos nós que demos cabo da Lisnave? Fomos nós que assinámos acordos de pescas ruinosos? Somos nós que decidimos quantas litros de leite é que Portugal pode produzir? Somos nós que decidimos os ordenados do Governador do Banco de Portugal, as reformas do Mira Amaral, os tachos do Armando Vara, e o regabofe dos ordenados e das reformas dos políticos? Somos nós que decidimos sobre a Ota ou o TGV? Somos nós que fechamos escolas e maternidades e aumentamos três vezes as taxas nas urgências?».

O Zé já começava a mostrar alguns sinais de apoplexia. Estava a ficar arroxeado. A mulher, ao vê-lo assim, pôs água na fervura: «Pronto, pronto, tens razão, mas a verdade é que o homem tinha de dizer qualquer coisa no 10 de Junho, não é? E aquelas coisas que ele disse, ficam sempre bem. Não o leves tanto à letra…».

O Zé, porém, estava lançado: «Pode ser. Mas vir cá com esta conversa da “insatisfação colectiva”, da “coragem para enfrentar dificuldades”, reflectir sobre o que desejamos e o que nos dispomos a fazer, e não nos deixarmos “vencer pelo desânimo ou pelo cepticismo”, serve para alguma coisa, a não ser para nos convencer a aguentar todo isto, mas de cara alegre?

Tomou fôlego. Respirou fundo.

E disse, baixinho: «O que é que eu posso fazer pelo meu país? Uma das duas coisas que dizem que Cristo fez. Ou deixar-me crucificar, ou corrê-los à chicotada…».


Crónica de: João Carlos Pereira
Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 14/06/2006. (Não deixe de ouvir e participar todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00, em 98.7 Mhz)

11/06/2006

ESTA SEMANA

VISITAS A CUBA
Como se sabe, desde 1961 que os sucessivos governos norte americanos mantêm um boicote económico e político contra Cuba, aligeirando-o quando lhes convém ou agravando-o de acordo com os seus interesses. A perseguição que fazem no seu território e fora dele a quem tem negócios com Cuba, vai até ao ponto de revogarem as licenças de funcionamento de empresas.
Desde Janeiro que esta escalada contra as empresas que se dedicam a operações com Cuba tem vindo a agravar-se e desta vez calhou o “brinde” às Agências de Viagem “La Perla del Caribe” de Miami e “Transeair Travel” de Washington, bem como à empresa de Remessa de Encomendas “Uno Remittance Inc.” com sede em Miami.
É de salientar que vivem nos Estados Unidos da América mais de um milhão de pessoas de nacionalidade ou origem Cubana e que muitos deles desejam visitar o seu País e os seus familiares, estando assim impedidos de concretizar essa vontade, porque o terrorista Bush e a sua “tropa” nazi utilizam os procedimentos mais baixos e mais desumanos que existem ao cimo da terra, já que até a remessa de medicamentos está proibida.
E falam os americanos de Deus, Pátria e Família …


PORTUGAL-ANGOLA
Há hora a que estou a escrever já o primeiro-ministro deve ir a caminho da Alemanha no Falcon de serviço, acompanhado certamente por um ou outro ministro, secretário de estado ou amigo, para assistirem em Colónia ao grande jogo contra Angola.
Não sei qual vai ser o resultado, mas uma coisa é certa: estou farto desse senhor de apelido Italiano que nasceu no Brasil e que vive em Portugal graças ao proteccionismo do senhor Madail, que continua com a sua teimosia a mantê-lo com um bom emprego na Federação Portuguesa de Futebol.
Isto porque, em termos técnicos, ainda nada se viu de especial a não ser a acção psicológica das bandeirinhas, e, como arrogância e prepotência, temos já por cá para dar e vender, começando no Sócrates, passando pelos ministros e acabando nalguns presidentes de Câmara, pode o senhor sargentão voltar para a sua terra porque não faz cá falta nenhuma.


FÁBULA
Todos os dias, a formiga chegava cedinho à oficina e desatava a trabalhar até altas horas da noite. Produzia, produzia e era feliz.
O gerente, o leão, estranhou que a formiga trabalhasse sem supervisão e logo pensou: se ela produzia tanto sem supervisão, não seria melhor se ela fosse supervisionada?
E contratou uma barata, que tinha muita experiência como supervisora e fazia belíssimos relatórios.
A primeira preocupação da barata foi a de estabelecer um horário para entrada e saída da formiga. De seguida, a barata precisou de uma secretária para a ajudar a preparar os relatórios e contratou uma aranha que além do mais, organizava os arquivos e controlava as ligações telefónicas.
O leão ficou encantado com os relatórios da barata e pediu também gráficos com índices de produção e análise de tendências, que eram mostrados em reuniões específicas para o efeito.
Foi então que a barata comprou um computador e uma impressora laser e admitiu a mosca para gerir o departamento de informática.
A formiga, de produtiva e feliz, passou a lamentar-se com todo aquele universo de papéis e reuniões que lhe consumiam o tempo!
O leão concluiu que era o momento de criar a função de gestor para a área onde a formiga operária trabalhava.
O cargo foi dado a uma cigarra, cuja primeira medida foi comprar uma carpete e uma cadeira ortopédica para o seu gabinete.
A nova gestora, a cigarra, precisou ainda de computador e de uma assistente (que trouxe do seu anterior emprego) para ajudá-la na preparação de um plano estratégico de optimização do trabalho e no controlo do orçamento para a área onde trabalhava a formiga, que já não
cantarolava mais e cada dia se mostrava mais enfadada.
Foi nessa altura que a cigarra, convenceu o gerente, o leão, da necessidade de fazer um estudo climático do ambiente. Ao considerar as disponibilidades, o leão deu-se conta de que a Unidade em que a formiga trabalhava já não rendia como antes; e contratou a coruja, uma prestigiada consultora, muito famosa, para que fizesse um diagnóstico e sugerisse soluções.
A coruja permaneceu três meses nos escritórios e fez um extenso relatório, em vários volumes que concluía: "Há muita gente nesta empresa".
Adivinham quem o leão começou por despedir?
A formiga, claro, porque "andava muito desmotivada e aborrecida".

Esta fábula, que veio parar à minha caixa de correio electrónico, não deve ser confundida com qualquer medida contemplada na eterna Reforma Administrativa do Estado, com “boys” ou com mulheres de vereadores, pois qualquer semelhança com a realidade só pode ser considerada como pura coincidência.


ROTEIRO PARA A INCLUSÃO
O Presidente da República andou pelo Alentejo a falar em desertificação e a criticar as políticas que têm levado à exclusão e isolamento de muitas localidades pela falta de desenvolvimento, omitindo as responsabilidades directas que teve durante cerca de 10 anos como primeiro-ministro. Feitios …
Mas como para tudo existem soluções, aqui vos transcrevo mais um mail que me chegou e que julgo poder ajudar: é só questão do PR encontrar uns quantos portugueses iguais ao Prior de Trancoso, cujo processo judicial se encontra no Arquivo Nacional da Torre do Tombo (armário 5, maço 7) e que diz assim:

SENTENÇA PROFERIDA EM 1487 NO PROCESSO CONTRA O PRIOR DE TRANCOSO

"Padre Francisco da Costa, prior de Trancoso, de idade de sessenta e dois anos, será degredado de suas ordens e arrastado pelas ruas públicas nos rabos dos cavalos, esquartejado o seu corpo e postos os quartos, cabeça e mãos em diferentes distritos, pelo crime que foi arguido e que ele mesmo não contrariou, sendo acusado de ter dormido com vinte e nove afilhadas e tendo delas noventa e sete filhas e trinta e sete filhos; de cinco irmãs teve dezoito filhas; de nove comadres trinta e oito filhos e dezoito filhas; de sete amas teve vinte e nove filhos e cinco filhas; de duas escravas teve vinte e um filhos e sete filhas; dormiu com uma tia, chamada Ana da Cunha, de quem teve três filhas, da própria mãe teve dois filhos. Total: duzentos e noventa e nove, sendo duzentos e catorze do sexo feminino e oitenta e cinco do sexo masculino, tendo concebido em cinquenta e três mulheres".

[agora vem o melhor:]

"El-Rei D. João II lhe perdoou a morte e o mandou pôr em liberdade aos dezassete dias do mês de Março de 1487, com o fundamento de ajudar a povoar aquela região da Beira Alta, tão despovoada ao tempo e guardar no Real Arquivo esta sentença, devassa e mais papéis que formaram o processo".

07/06/2006

A BANDEIRA E AS CUECAS

Há dias em que estou assim, voltado para o deboche, só me apetece rir, até das coisas mais sérias. Melhor dizendo: principalmente das coisas mais sérias.

E não há coisa mais séria do que a bandeira nacional. Ela é o símbolo da pátria, dos nossos valores mais sagrados. Fala da nossa história, dos nossos feitos, eleva o sangue derramado pelos nossos heróis, ensina a ter esperança num futuro radioso de que nos possamos todos orgulhar. Ela é o símbolo de um povo. E, se não estou errado, um povo é constituído por pessoas, por seres humanos que, segundo rezam os entendidos, são o que há de melhor sobre a terra (eu tenho as minhas dúvidas, mas quem sou eu para duvidar de sábios e de bispos, mesmo do maior deles, o papa? Enfim…).

Ora, se a bandeira não é só um trapo vermelho e verde, com uma esfera armilar e um escudo estampados no sítio onde as duas cores se juntam, mas algo com uma dignidade muito superior à bandeira do Grupo Cultural e Desportivo Os Unidos do Arco da Travessa, não deve estar, como algumas que eu vejo, pendurada no estendal da roupa, a partilhar o arame com as cuecas da dona Otília e as peúgas do senhor Mendonça (nomes fictícios, claro está, assim como os Lopes da Silva, dos Gatos Fedorentos).

Mas eu, ao ver isto, em vez de me enfurecer e, com modos desabridos, tocar à campainha dos nossos concidadãos e pedir-lhes que vejam lá essa pouca-vergonha, de pôr a bandeira das quinas ao nível dos trapos das… das partes íntimas, ou da extremidade dos membros inferiores, dá-me uma incontrolável vontade de rir. E rio, às gargalhadas, a bandeiras despregadas.

Afinal, como estão a pátria e o povo, é mesmo ali, ao nível da cuequinha – e de tudo o que ela sugere – que a bandeira nacional fica bem. Ou de pernas para o ar, como também já vi, assente na vidraça, quando não está, presa por uma ponta, tipo pano da cozinha, no fecho da janela. Também há quem, por ser mais patriota do que os vizinhos todos juntos, pendure várias num fio, e vá de o atar da sua janela ao poste da iluminação pública, no outro lado da rua, assim como os festões dos bailes populares. Ditosa pátria que tais filhos tem!

Claro quer todo este patriotismo vem a propósito do mundial de futebol, que começa, na Alemanha, já no próximo fim-de-semana. O que ainda me dá mais vontade de rir, só de pensar no que vai acontecer se os nossos valentes rapazes repetirem a magnífica proeza dos sub-21.

Entretanto, Sócrates respira fundo. Com o mundial a entreter o pagode, ninguém lê as notícias que dizem que, só em Maio, foram vendidos 100 automóveis de luxo, num Portugal em crise, vejam bem. E eu sempre a rir. Só a Lexus vendeu 39 unidades (já tinha vendido 130, entre Janeiro e Abril), mas a Jaguar não esteve nada mal, com os seus 35 carritos vendidos, a juntar aos 100 que vendeu também nos primeiros 4 meses. A Porsche, que disse já pretender vender 300 unidades este ano no nosso país, vendeu, em Maio, 20 unidades, e desde o início do ano, já lá vão 120. Aston Martin, Maserati e a Lótus já venderam, este ano, 15, 5 e 2 unidades, respectivamente. A Bentley e a Rolls Royce venderam 3 e 1 carros, respectivamente. E não falamos de carros de gama alta, como o Audi ou o BMW, que entre si – e só este ano – já despacharam 7.022 popós.

Já com a barriga a doer de tanto rir, e sempre com a gloriosa bandeira nacional a ondular na janela do meu cérebro, fiquei a saber que, enquanto as lojas portuguesas perto da fronteira estão cada vez mais às moscas (e o perto da fronteira é cada vez mais longe dela…), os cidadãos nacionais fazem fila nas lojas espanholas, do lado de lá. De gargalhada em gargalhada, dou comigo a pensar no que também devem rir os comerciantes e governantes espanhóis, os únicos e verdadeiros beneficiários das políticas inteligentes do PS de Sócrates e do seu ministro das Finanças – para além, está bem de ver, daqueles que compraram os tais carros de luxo. É isso: os comerciantes portugueses queixam-se de uma quebra de 20 a 40% nas vendas, pelo menos nas zonas fronteiriças, mas os comerciantes espanhóis falam de uma onda de clientes portugueses, que, dizem eles, já são cerca de 20% da sua clientela, como afirmou à «Agência Financeira» o presidente da associação de comerciantes de Badajoz, António Garcia Salas. Este responsável, que preside também à Escola de Negócios da Extremadura, diz mesmo que «existem clientes regulares, portugueses, que vêm com frequência abastecer-se no comércio local, sobretudo por causa dos preços, que são aqui, em média, 10 a 20% mais baixos. Cada vez mais, os portugueses têm o hábito de vir aqui fazer compras, vêm frequentemente e ao longo do ano todo, e não só aos fins-de-semana».

Neste momento, já estou a rebolar-me no chão, rindo que nem um louco, só de pensar que esta divergência de preços, como é sabido, se deve à menor carga fiscal espanhola, o que faz com que o custo de vida acabe por ser lá muito mais baixo. Na gasolina, por exemplo, é ainda mais flagrante: os preços chegam a ser 30% mais baratos. E assim, sai o tiro pela culatra a Sócrates e companhia, que vê aumentar o buraco orçamental, enquanto os espanhóis batem palmas. Olé!

Tento acalmar-me, respirar fundo, descontrair, aliviar as contracções dos músculos abdominais, do peito e da garganta, evitar que os maxilares se desencaixem, e dou por mim a lembrar-me daquela de pôr os pais a avaliar os professores dos filhos. De repente, imagino o ministro da Justiça a pôr os cidadãos que frequentam os tribunais, seja como queixosos, seja como arguidos, a classificarem, para efeitos de carreira e aposentação, os juízes e os delegados do Ministério Público. E – porque não? – o senhor secretário de Estado do Desporto pôr as namoradas do Ronaldo a classificarem o senhor Scolari mais os árbitros que apitem os jogos da jovem vedetinha. Ou – ainda melhor – os contribuintes a dizerem quanto é que o senhor Vítor Constâncio deve ganhar e em que idade se deve reformar – e com quanto.

Quando aqui chego, a este delírio populista, já me falta o ar de tanto rir, e só as notícias de mais alguns massacres no Iraque, levados a cabo pelas tropas do IV Reich, é que me fazem voltar ao sério. Por pouco tempo. Porque logo a seguir vejo Cavaco Silva a pedir aos empresários uma ajudinha para acabar com a exclusão social no nosso país. Como? Dando emprego a toda a gente e pagando decentemente e a tempo e horas? E lá volto eu a rir às gargalhadas, incontidas, enormes, sufocantes. Eh, pá, não me façam rir mais, pela vossa rica saudinha…

«Esta é a ditosa Pátria minha amada», cantou Camões. E, na altura, ainda não havia selecção nacional de futebol, nem Sócrates, nem PS, nem um tal Ascenso Simões, que foi deputado socialista e, hoje, é o secretário de Estado do Tesouro, ou coisa que o valha. Este cromo, quando era deputado, enviou uma mensagem ao senhor Paulo Pedroso, a perguntar se queria que assinasse por ele a folha de presenças na Assembleia da República. Belo exemplo de camaradagem e, sobretudo, de seriedade. Olha, deixa estar, que o Tesouro está bem entregue, não haja dúvida…

Em Rio Maior, PS e PSD andam numa acesa troca de palavras, porque o presidente da Câmara, que é PS, dá jobs a tudo o que é família ou aproximado. Diz o PSD que é um escândalo. Diz o PS, que nem por isso, pois alguns dos beneficiários até têm pais e avós que são – ou foram – do PSD.

Ó, Camões! Esta é que é a ditosa Pátria tua amada? A da bandeira ao nível das cuecas? A do Ronaldo e do Quaresma? A dos dois milhões de portugueses com fome e dos carros de luxo a saírem como gente grande? De termos que ir a Espanha para nascer, tratar da saúde e comprar aquilo que, por cá, já não podemos?

Agora já estou com lágrimas nos olhos. E olha, Luís Vaz, que não sei se é de tanto rir…


Crónica de: João Carlos Pereira
Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 07/06/2006. (Não deixe de ouvir e participar todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00, em 98.7 Mhz)

04/06/2006

ESTA SEMANA

RAUL CASTRO
Ontem, dia 3 de Junho, o Comandante da Revolução Raul Castro cumpriu o seu 75.º aniversário, continuando a dedicar toda a sus vida à causa que abraçou desde muito jovem, colocando ao serviço da Revolução Cubana toda a sua inteligência, cultura e humanismo.
Há quem pense que Raul Castro é uma figura política “apagada” e que as responsabilidades que lhe têm sido atribuídas se devem a ser irmão de quem é. Puro engano! Raul Castro é uma das individualidades cubanas com mais competência, sendo um incansável trabalhador, metódico e sempre pronto a enfrentar e a resolver os problemas que surgem.
Ao longo da história cubana dos últimos 50 anos, Raul Castro esteve sempre na primeira linha do combate às desigualdades sociais, à educação, à saúde, etc. e se não se tem evidenciando mais, é porque a sua modéstia assim o impõe e porque também existe um outro homem que ele respeita e admira: o seu irmão Fidel.
Das muitas qualidades que possui destaco apenas a do seu sentido de justiça e da sua importante intervenção nos primeiros dias após o triunfo da Revolução, onde conseguiu conter os excessos que sempre existem, evitando muitos fuzilamentos de possíveis inocentes, julgados por tribunais populares e sem qualquer garantia de defesa, que eram sumariamente encostados ao “paredão” da Fortaleza “Morro Cabaña”.
Centenas de vidas foram salvas por ele e possivelmente alguns foram juntar-se à corja de Miami que conspirou e conspira contra Cuba, mas o que importa é a acção em si, porque a Revolução tinha e tem princípios e não foi feita para vinganças pessoais ou colectivas, mas sim para libertar todo um povo escravizado.
São episódios como este que poucos conhecem e que revelam bem o seu carácter e a sua personalidade, constituindo um dos principais pilares de toda uma ideologia e estrutura implantada no País desde 1959 e que continua a progredir e a consolidar-se.
Parabéns Comandante Raul Castro.


OBRAS NA A1
A Brisa anunciou que vai reforçar o apoio aos automobilistas no troço que está em obras entre Santarém e Torres Novas, como se isso fosse uma benesse e não a sua obrigação, na medida em que continua a cobrar pelo mau serviço que presta a quem por lá tem de passar.
Atente-se que estas obras, num troço de 27 quilómetros, só estarão concluídas lá para Dezembro de 2007.
A este ritmo de trabalho, se o aeroporto da Ota e o TGV viessem a ser construídos, as suas inaugurações deveriam ser apenas para o próximo século.


DIA NACIONAL DO CÃO
Um projecto de resolução apresentado pelo PSD na Assembleia da República pretende instituir o “Dia Nacional do Cão” porque, segundo os seus subscritores, é um animal que vive junto do homem desde a pré-história.
Mais tarde, o grupo “paralamentar” do PSD veio dizer que o projecto é só de alguns deputados e que não envolvia o partido. Não sei o que será mais ridículo: se a proposta, se a demarcação da autoria de tão importante documento.
Não quererão também instituir o “Dia do Gato”, o “Dia do Periquito”, ou o “Dia do Peixinho Amarelo Dentro do Aquário” ?
Já que estão tão preocupados e atentos aos animais, podiam era resolver instituir o dia, o mês ou o ano da erradicação total dos ratos que existem principalmente em muitos bairros degradados de Lisboa e Porto e que constituem um verdadeiro atentado à saúde pública de quem tem de ali habitar por falta de recursos económicos.
E andamos todos nós a pagar para esta gentalha brincar à democracia, gastando este ano, só para o subsídio de transporte, mais de 3,5 milhões de euros para se deslocarem das suas residências até S.Bento, o que representa um aumento de 27,4% em relação a 2005.
Ou seja, todos nós suportamos do nosso bolso os brutais aumentos dos combustíveis e dos transportes, mas os senhores deputados da Nação são compensados com mais quase 30% no subsidiozinho, que também somos nós que temos de pagar.
Ainda se eles tivessem alguma utilidade para o País…


MORGUES
Chegou à minha caixa de correio o texto que transcrevo, que pela oportunidade e sentido de humor, “negro” é certo, mas que nos deve fazer reflectir pela forma desumana como o actual (des) governo que temos trata estes assuntos.

Diz assim:

Encerramento de morgues obrigam portugueses a ir morrer a Badajoz "Vão morrer Longe" é o nome de uma nova medida anunciada pelo Governo. Depois do encerramento das maternidades, o Ministério da Saúde prepara-se para mandar fechar as morgues onde não entre um mínimo de 1500 mortos por ano. É o caso da morgue do Hospital de Santo Tirso onde, de acordo com o ministro Correia de Campos, "o número de mortos é ridículo!". A população está naturalmente preocupada e as reacções não se fizeram esperar. "É uma vergonha!", confidenciou Américo Jacinto, de 82 anos, "tenho de ir morrer a mais de 60 quilómetros daqui! Agora diga-me se isto dá jeito a alguém". Concentrados esta manhã à porta da morgue, os populares garantiram que vão fazer tudo para aumentar o número de mortes na cidade. "Nem que tenha de me matar! A mim e à minha família toda! Ouviram?! “Eu mato-me já aqui!", ameaçou uma senhora, antes de se regar com gasolina.

1997, 2007 © Guia do Seixal

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