30/03/2009

CHINA, A FUTURA GRANDE POTÊNCIA ECONÓMICA

Nestes dias muitos telexes falam do potencial económico da China.

Ontem 28 de Março foi a principal agência de notícias norte-americana a que reconhece que a "China é a única economia importante que continua crescendo com força no mundo...”

"No seu segundo reproche à liderança estadunidense em uma semana ─ continua o telex, não muito amável no fim do parágrafo ─ o governador do banco central chinês, Zhou Xiaochuan, assegurou que a rápida resposta da China à fase de contracção económica internacional incluindo um pacote de estímulo equivalente a 586 bilhões de dólares ─ tem demonstrado a superioridade do seu sistema político, autoritário e uni-partidarista."

A agência AP divulga logo as palavras textuais do governador do banco central chinês:

"Os factos são evidentes e demonstram que comparativamente com outras economias importantes, o governo chinês tem adoptado medidas políticas pontuais, firmes e eficazes, demonstrando a vantagem do seu sistema…", tomadas de umas declarações de Zhou que segundo afirma a agência foram difundidas no sítio da internet do Banco Popular da China.

"Quando faltavam duas semanas para a cúpula do Grupo dos 20 países de economias mais importantes (G20), ─ acrescenta o telex ─ a 2 de Abril em Londres, Zhou fez um apelo aos demais governos que participarão para que outorguem aos seus ministros das finanças e aos bancos centrais toda a autoridade para que possam ‘agir audaz e eficazmente, sem ter que passar através de um processo de aprovação longo ou inclusive doloroso’.

"A China deixou bem clara sua aspiração: quer um dólar estadunidense estável e inclusive tem defendido a criação de outra moeda mundial paralela. Beijing opõe-se ao proteccionismo ─ continua essa agência ─ e está exigindo que lhe emprestem mais ouvidos sobre como se regulam os sistemas financeiros e como são resgatados, enquanto se abstém de fazer qualquer promessa de novos planos de resgate ou estímulo no seu próprio solo.

Na parte final do seu telex, expressa:

"… o Primeiro-ministro chinês Wen Jiabao instou Washington para que a união norte-americana continue sendo ‘uma nação acreditável’.

"Noutras palavras, Beijing deseja que Washington evite estimular a inflação com uma despesa excessiva do governo em pacotes de salvamento e estímulo."

Pelo que se pode constatar, a influência da República Popular da China na reunião de Londres será enorme do ponto de vista económico face à crise mundial. Isso não tinha acontecido nunca antes quando o poder dos Estados Unidos reinava totalmente nesse âmbito.

Por outro lado, no nosso hemisfério resulta divertido ver como se agitam as entranhas do império, pleno de problemas e contradições insuperáveis com os povos da América Latina, aos quais pretende dominar eternamente.

Aqueles que lerem as declarações do piedoso católico Joe Biden em Viña del Mar, que descarta levantar o bloqueio económico a Cuba, suspirando por uma transição interna que no nosso país seria francamente contra-revolucionária, ficarão surpreendidos. Os seus lamentos plangentes dão lástima, especialmente quando não existe um só governo latino-americano e caribenho que não veja nessa medida antediluviana um lastre do passado. Que ética subsiste na política dos Estados Unidos? Quanto resta de cristão no pensamento político do Vice-presidente Biden?


Fidel Castro Ruz
29 de Março de 2009

26/03/2009

O FEITIÇO E O FEITICEIRO

Os feiticeiros deste país – e deste mundo – querem ter tudo. Querem ter sol na eira e chuva no nabal. Mas tal como é impossível que dois corpos ocupem, ao mesmo tempo, o mesmo espaço, também esta pretensão dos senhores da política e dos seus donos, os distintos senhores capitalistas, não é concretizável. Ou raramente o é. A eira e o nabal estão sempre perto demais, e só por um milagre da Natureza as coisas se conjugam favoravelmente.

Durante algum tempo, foi possível pagar baixos salários e baixas pensões e, ao mesmo tempo, conseguir-se ir enchendo os cofres das empresas, dos bancos e do Estado. Depois, quando os baixos salários e pensões se transformaram em salários e pensões de penúria, por via de não serem actualizados de acordo, no mínimo, com a inflação real, os governos e os senhores capitalista, para continuarem a espremer a maralha, inventaram o crédito fácil. A qualquer hora, de qualquer maneira.

Agora, esgotado o recurso, com o carapau mais seco que uma palha ao sol de Verão, aí estão eles de mãos na cabeça e crise na boca. A rapaziada, esmifrada até ao tutano, só compra o essencial – às vezes, nem isso – e vê-se grega para pagar o dinheiro que a levaram a pedir emprestado. Quando paga.

Assim, não se vende tudo o que se fabrica, não se paga tudo o que se deve, não se gasta um cêntimo mal gasto. A economia definha, a produção estagna ou reduz-se, os stocks amontoam-se, as fábricas e as lojas fecham, o desemprego sobe em flecha e, em consequência, os cofres do Estado, não se enchem como eles esperavam. Qualquer dia, nem dinheiro há para continuar a encher os alforges dos banqueiros. Aqui d’el Rei!, que vem aí o fim do mundo, gritam.

A provar o que digo, aí estão notícias recentes, dizendo que as receitas fiscais do Estado estão a afundar, tendo caído 9,4 milhões de euros por dia, um total de 558,4 milhões de euros em Janeiro e Fevereiro últimos, face ao período homólogo. Só a quebra no IVA traduziu-se numa perda de 4,9 milhões por dia, o que faz sobressair as dificuldades da economia nacional.

Realmente, a receita de IVA caiu um total de 289 milhões de euros, o que demonstra que as empresas estão a vender menos do que no início de 2008. Outro indício das dificuldades das empresas, foi a quebra de 138,8 milhões de euros no Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas (IRC). Curiosamente, só o IRS subiu, em relação a 2008.

Contas feitas, como as despesas do Estado mantêm o ritmo de crescimento, o saldo final está em 907 milhões de euros negativos, o que significa que o défice aumentou mais de 12 vezes face aos dois primeiros meses do ano passado, o que está a deixar o ministro das Finanças preocupado. Não sei porquê. Eu, que não sou economista – nem sequer licenciado pela Universidade Independente – há muito que aqui disse que isto ia acontecer. Aliás, até Karl Marx, esse maldito bruxo de ideias verdadeiramente socialista, falecido em 1883, adivinhou – e escreveu – o que hoje se está a passar. Se Teixeira dos Santos alguma vez pensou que as políticas económicas que tem apadrinhado e defendido com unhas e dentes iam ter outro resultado, desculpem-me a linguagem pouco ortodoxa, é um parvo chapado.

Claro que ele não é parvo. Pode ser o ministro das finanças mais incompetente da Europa, mas parvo, o que se diz mesmo parvo, ele não é. Faz-se de parvo, o que é diferente. Ele pouco se rala com o agravamento do défice, pois ele já sabe como resolver o problema. Quando a crise se atenuar, aí estará ele – ou outro igual a ele, pois lêem todos pela mesma cartilha, que não é a de Karl Marx, como se percebe à vista desarmada – a dizer que é preciso recompor o défice, entretanto agravado. E vá de manter a crise para a rapaziada, agora, e de novo, em nome do equilíbrio das contas públicas. Estão a perceber, ou querem que faça um desenho?

Por isso, alguns papagaios do capitalismo reinante já aí estão a dizer que é preciso sanear as contas públicas após a recessão, como afirmou o economista Vítor Gonçalves. Mas a mais escandalosa afirmação, nos últimos dias, veio de um certo senhor, que já foi ministro das finanças e governador do Banco de Portugal, um certo Silva Lopes, que defendeu, tal o actual governador, o senhor Vítor Constâncio, ser necessário, para enfrentar a crise actual, congelar os salários da generalidade dos trabalhadores portugueses.

Eu não quero ofender ninguém, mas vou explicar quem é o senhor doutor Silva Lopes, como se quem me lê ou ouve fosse mesmo muito burro.

O senhor doutor Silva Lopes foi presidente do Conselho de Administração do Montepio até a Abril de 2008, portanto durante apenas quatro meses desse ano. Lê-se, no entanto, no Relatório e Contas de 2008, do Montepio que o presidente (o tal senhor doutor Silva Lopes) recebeu, por quatro meses de gestão, 410.249,21 €, o que dá 102.562,30 € por mês, ou seja, mais de 20.500 contos mensais. Saliento, agora, que a remuneração base média mensal dos trabalhadores portugueses era, em 2008, de apenas de 891,40€. Ora, para amanhar o que amanhou, mais o que adiante vou dizer, é preciso ser-se um grande desavergonhado, para afirmar que os que ganham uma miséria por mês devam ver os seus ordenados congelados. Mas vergonha, ao contrário das mordomias, é coisa que não abunda para os lados destes autênticos vampiros.

E o que eu vou dizer a respeito do senhor doutor Silva Lopes, para além do que já atrás disse, é que ele, tendo exercido as funções de presidente do Montepio durante quatro aninhos, vai receber, por esse lapso de tempo, uma reforma de 4.000 € por mês, a juntar às que tem do Banco de Portugal e da Caixa Geral de Depósitos, onde também exerceu o seu mister. Isto, sem contarmos com o que escorrerá de ter trabalhado para o FMI, Banco Mundial e ter sido deputado à Assembleia da República e governante.

Mas o mais giro disto tudo, é que o senhor doutor Silva Lopes se reformou do Montepio alegando que já tinha 74 anos e precisava de descansar. Coisa merecida para quem tanto labutou e tantas dificuldades deve ter passado ao longo da vida. Mas, se assim foi, porque carga de água aceitou o cargo de administrador da EDP Renováveis, onde recebe um ordenado que, por enquanto, ainda é segredo dos deuses?

É este, então, o homem que propõe o congelamento das remunerações da maioria dos trabalhadores portugueses. Claro que nunca lhe passa pela cabeça incluir-se nessa maioria, nem – muito menos – acabar com o regabofe do qual é um enormíssimo beneficiário!

Ao alto da minha ignorância, recordo ao excelso doutor Silva Lopes, que o congelamento dos salários só poderia trazer ainda um maior agravamento das desigualdades. Primeiro, porque seria uma medida socialmente injusta (agravaria a situação daqueles que já vivem com grandes dificuldades, e beneficiaria os grandes accionistas das empresas, que ficariam com mais lucros para receber), para além de ser, tecnicamente, um erro crasso, pois reduziria ainda mais a procura interna, provocando mais falências e mais desemprego.

Pois foi: deixámos os feiticeiros à solta, e é o que se vê. É verdade que o feitiço se volta, de quando em vez, contra os feiticeiros, mas devemos dar uma ajuda, não é?

É que se não dermos, eles até pensam que têm mesmo poderes sobrenaturais. Na verdade, só têm o poder que nós lhes dermos. Ou deixarmos ter.


Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 25/03/2009.
(Não deixe de ouvir em 98.7 Mhz e participar pelos telefones 212277046 ou 212277047 todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00).

18/03/2009

ANEDOTAS

Primeira anedota

Dia 13 de Março não houve uma gigantesca manifestação de protesto, em Lisboa, contra as políticas do «engenheiro» José Sócrates. Não desfilaram cerca de 200 mil manifestantes. Segundo a opinião, bastante irritada, do visado, tratou-se apenas de um grupo de arruaceiros, manipulados por dois partidos minúsculos, destinada a insultá-lo e ao seu honrado e eficiente governo. Ah! Já me esquecia: governo socialista e de esquerda. E também me esquecia de outra coisa: Salazar dizia exactamente o que Sócrates agora disse. Salvo quanto ao Bloco de Esquerda, que ainda não existia.

Segunda anedota

Os projectos assinados por José Sócrates, no concelho da Guarda, nos anos oitenta, eram aprovados num vê se te avias. Mesmo nos casos em que os processos tinham pareceres desfavoráveis de várias entidades regionais – ou até embargos da autarquia – bastava que o engenheiro-técnico responsável fosse José Sócrates, então a trabalhar na Câmara da Covilhã, para os projectos serem aprovados em tempo recorde. Entre a entrada do procedimento, até à decisão camarária, os prazos variavam entre os oito e os quinze dias e, nos casos mais espantosos, eram aprovados em apenas um dia. Quinze dos 23 projectos de Sócrates aprovados em tempo recorde, são na região de onde são naturais Joaquim Valente, actual presidente da Câmara da Guarda, e Fernando Caldeira, técnico da autarquia. Os três foram colegas em Coimbra.

Terceira anedota

A Câmara Municipal de Vale de Cambra faz parecer o Ferrari do Cristiano Ronaldo uma pechincha. Sim, se pensam que o Ferrari do Cristiano Ronaldo foi caro, fiquem a saber que um autocarro de 16 lugares para as crianças, custou 2.922.000,00 euros. É isso mesmo: quase 3 milhões de euros. Seiscentos mil contos!

Quarta anedota

A Operação Furacão envolve nomes graúdos da alta finança e investiga uma gigantesca teia de fuga ao fisco e outros crimes de colarinho branco. Muitos dos implicados correram já a liquidar os impostos de que haviam, consciente e criminosamente, fugido. Tal como fizeram os marajás das facturas falsas, de há uns anos atrás. Ninguém foi preso, então. E agora?

Quinta anedota

A casa de Sócrates, no registo predial, não passa de um simples apartamento. Na verdade, trata-se de uma casa senhorial, no coração de Lisboa. São cinco assoalhadas dum 3.º andar no edifício Heron Castilho. Tem 150 metros quadrados, avaliados em 800.000 euros, que custaram, em Fevereiro de 1996, 240.000 euros. Antes, vivia num modesto apartamento T2 na calçada Eng. Miguel Pais, em São Bento. Na garagem, tem um Mercedes C230. Longe vão os tempos em que conduzia um vulgar Rover. Frequenta restaurantes caros e usa fatos de marca. Sócrates vive como um homem rico, com 82 mil euros brutos (57 mil líquidos) que foi o que declarou ao Tribunal Constitucional ganhar por ano. Garante não ter rendimentos de quaisquer empresas, acções ou planos de poupança. O único património que diz ter é o carro, a casa e ordenado.

Sexta anedota

Mesquita Machado, presidente da Câmara Municipal de Braga, enriqueceu subitamente – e de forma inexplicável. Melhor dizendo: de forma explicável, a fazer fé no que foi publicamente denunciado e apresentado às instâncias judiciárias. Tudo foi arquivado, por falta de provas. Reavivado o caso, parece que a Justiça se dispõe a voltar a verificar os factos. Pois…

Sétima anedota

Pinto da Costa jurou, em nome de Deus e pela saúde da filha, que está inocente no caso do envelope. Com esta prova de fé no Todo-Poderoso e na robustez da sua petiza, fica definitivamente provada a sua imaculada inocência.

Oitava anedota

O Freeport nunca existiu. Nem existe.

Nona anedota

Há uns tempos atrás, uma idosa de poucos recursos levava de um supermercado, sem pagar, um produto de alguns (poucos) euros. Foi imediatamente detida e presente a tribunal.

Décima anedota

Um homem roubou duas galinhas, avaliadas em 50 euros. Vai ser julgado no dia 20 de Abril, no Tribunal da Maia.

Décima primeira anedota

Foi preso um jovem que fez um download de música na Internet – ou seja, pirateou umas musiquinhas. Tornou-se, assim, o primeiro português condenado a prisão por pirataria musical na Internet. O jovem poderá passar entre 60 a 90 dias atrás das grades por ter feito o download e partilhado música ilegalmente com outros utilizadores.

Finalmente, a Justiça, em Portugal, dá um ar da sua graça. Livra! Já não era sem tempo…


Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 18/03/2009.
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11/03/2009

O SENHOR SOUSA – O PRINCÍPIO DO FIM?

Em 7 (sete!) dos últimos 10 (dez!) anos, o país esteve entregue aos senhores doutores e engenheiros do PS. Nesse período, as desigualdades sociais agravaram-se de forma abismal, não havendo maneira de atirar as culpas para cima da recém-nascida crise internacional. Só em 2008 – antes, portanto, dessa crise – saíram de Portugal, como emigrantes, rumo a vários países da Europa, para Angola e para outros destinos, cerca de 150 mil portugueses. Tantos quantos os empregos que o senhor Sousa (Sócrates, para os mais distraídos) prometeu criar.

Dados recentes dizem-nos que mais de 30 mil desempregados já estão em risco de pobreza absoluta. Os dramas de famílias inteiras entregues à miséria dos frágeis e perecíveis subsídios de desemprego e, a par disso, a angústia de centenas de milhares de outras que dependem de um emprego precário e sem direitos, retratam um país cada vez mais injusto e mais desigual. Nenhum português comum sabe como vai ser o dia de amanhã. Ou melhor: os portugueses sabem que o dia de amanhã vai ser pior do que o dia de hoje.

Há pouco mais de oito dias, em Espinho, no congresso do PS, para além das palmas ao engenheiro Pinto de Sousa (é, outra vez, a Sócrates que me refiro) nem uma palavra para o desemprego, para os baixos salários, para os salários em atraso, para os mais de 2 milhões de portugueses que vivem no limiar da miséria. Ou na mais absoluta miséria. Só palmas, bandeiras, aparato, alegria e festa. Tudo iluminado e cor-de-rosa, como convém. Ideias para a negridão em que o país está mergulhado, zero. Nada se passa de preocupante neste quintal que não se resolva com o Simplex ou o Magalhães.

A propósito do Magalhães, cá está mais uma digna do senhor Carvalho Pinto de Sousa (Sócrates, se preferirem). Então, não é que uma preciosidade destinada, principalmente, aos nossos alunos mais jovens, tem textos com mais erros ortográficos, gramaticais e de sintaxe, que milímetros mede o nariz do Pinóquio? Já não bastava o Magalhães ser um negócio à PS, feito com e para «camaradas socialistas» com problemas fiscais, sem concurso e contrabandeando um produto original da Intel, ainda precisava de mais esta trapalhada pedagógica?

Então, onde estão a qualidade e a excelência, já que a transparência, essa, há muito que parece uma mina de carvão em noite de lua nova? Quem é responsável por esta bronca terceiro-mundista que, aqui para nós, me deu um gozo dos diabos. Parece que ainda estou a ver o senhor engenheiro Sousa, com um batalhão de câmaras e microfones atrás, a fingir que distribuía Magalhães a alunos/figurantes, e lá dentro, da caixinha azul, um rol de asneiras e calinadas maior que a viagem de circum-navegação do próprio Fernão de Magalhães.

Por estas e por outras, é que já se diz que Sócrates «está mais sozinho do que parece» (disse-o Manuel Alegre), ou que ele «é um homem muito cansado, obcecado com o BE e o PCP» (disse-o Soares dos Santos, presidente do grupo Jerónimo Martins). Mas nem seriam precisas estas dicas, porque é visível no seu comportamento, nas suas atitudes, no vazio dos seus repetitivos discursos e intervenções, no descontrolo que evidencia nos debates, enfim, nos tiques que os sorrisos forçados já não mascaram, que José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa, engenheiro-técnico, bacharel e, finalmente, engenheiro, já percebeu que dias negros (para ele) se aproximam. E bem os merece. A ambição levou-o a ser o que não podia ser.

No meio disto tudo, um homem (entre outros) vai-se agitando no seio do PS. Não, não me refiro a Alegre, nem a Seguro. Muito menos a Santos Silva ou Silva Pereira, já que estes não passam de dois caniches do senhor Sousa e, em termos mediáticos, só existem porque o senhor Sousa existe. Refiro-me a António Costa. Ora, aí está a sombra negra do senhor Pinto de Sousa (não, não se trata de uma baixa metáfora inspirada na cor da pele). António Costa tem sabido, pela calada dos reposteiros do aparelho socialista – e parecendo estar sempre ao lado do chefe – fazer a caminhada da sucessão.

O seu gabinete na Praça do Município é um gabinete-sombra de São Bento, onde se vão tecendo tácticas e estratégias para o PS que aí vem. Um PS que já percebeu que não pode governar sozinho e que, com o senhor José Sousa (Sócrates, como gosta de ser tratado) e as suas inenarráveis figuras (Linos, Lurdinhas, Pinhos, Anas Jorges, Jaimes Silvas ou Albertos Costas) corre o risco de nem sequer governar.

Há muito que é sabido que muitos dos dados referentes às aventuras de Sócrates só vieram a público porque alguém, dentro do próprio PS, as pôs cá fora, dando pistas a jornalistas e a elementos da oposição para que as broncas estoirassem ou renascessem.

António Costa, porém, em termos ideológicos, não é melhor do que o tal senhor Sousa – ou o Zézito, para os familiares. É um neo-liberal, tal e qual o outro, o senhor engenheiro. Sorri mais, tem voz de homem, de barítono, figura bonacheirona, formou-se mesmo a sério, sem trapalhadas, enfim, não tem – que se saiba – rabos-de-palha (mas isso também se julgava que o senhor Sousa não tinha).

Porém, se Costa chegar, como deseja, ao topo do PS e da nossa governação, não será mais do que uma nova roupa e uma nova máscara para a mesma política. Não acredito, por isso, que haja quem pense que a câmara municipal de Lisboa possa ser palco de alianças e experiências unitárias, à esquerda, pois isso seria tão irrealista e tão espúrio que deverá estar fora de qualquer cogitação. E se Costa já excluiu o Bloco de Esquerda dos seus planos, todo eu tremo só de pensar com quem andará agora a conversar.

A propósito de autarquias, julgo que prestamos pouca atenção ao que se passa nesse patamar do poder político. Abílio Curto, Fátima Felgueiras, Isaltino, Valentim, Ferreira Torres e mais alguns menos mediáticos, são meros exemplos do relaxamento que por aí vai. Mesquita Machado, cuja súbita fortuna ninguém quer explicar – e que a justiça, talvez por estar vendada, se recusou a investigar – é, seguramente, o caso mais exemplar da impunidade reinante.

Todos os dias ouvimos coisas estranhas e nos deparamos com estilos de vida e patrimónios que não podem ser explicados. Eis um bom tema para, um dia destes, aqui trazermos.

Afinal, Mesquitas Machados, de vários tamanhos, cores e paladares, parece ser coisa que por aí não falta. De tal modo que o povo já diz, matreiro:

Queres encher a arca? Então, faz-te autarca.


Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 11/03/2009.
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08/03/2009

VISITA A CABO VERDE

Acompanhado por nove ministros e sete secretários de Estado, José Sócrates irá a Cabo Verde esta semana.

Da comitiva farão parte também alguns empresários e gestores públicos, para além do indispensável Basílio Horta.

As crianças esperam ansiosamente que o presidente do conselho leve alguns “magalhães” mesmo com os erros de português, pois assim será mais fácil de adptar ao crioulo.

Não desejando mal nenhum ao povo caboverdiano, antes pelo contrário, seria uma felicidade para os portugueses se todos por lá ficassem.

Cabo Verde tem um óptimo clima e grandes extensões de terrenos para o desenvolvimento da arquitectura socratina e a instalação de vários “freeportes”.

04/03/2009

COITADO DO PINÓQUIO – O BONECO

Costumam comparar Sócrates ao Pinóquio. Quanto a mim, é uma maldade. Pinóquio é um boneco simpático, incapaz do mal, generoso e humilde, que tem, como única fraqueza, a tendência para pregar umas valentes petas.

Sócrates, para além de ser um mentiroso compulsivo (o que o leva a mentir mesmo nas situações em que pode ser facilmente desmascarado), é vaidoso, arrogante, agressivo e capaz de agir sem cuidar dos valores éticos mais básicos. Sócrates é cruel e insensível, características típicas de um egocentrismo congénito. Se o não fosse, em Portugal a miséria não alastraria, como alastra, o desemprego não subiria em flecha, os serviços de saúde públicos não estariam em vias de extinção, muitas portuguesas não iriam parir a Espanha – ou nas ambulâncias – e não se morreria à porta de urgências encerradas ou à espera de socorro que não há.

Por isso, Pinóquio – o boneco – é querido no mundo inteiro. E Sócrates – o político – só é estimado no PS. Mas não por todo o PS. Estimam-no – ou suportam-no – enquanto ele for a galinha dos ovos de ouro para a rapaziada socialista.

Em nome da verdade e da decência peço, por isso, desculpas ao Pinóquio. O boneco.

A última grande aldrabice de Sócrates não tem mais de oito dias de vida. De facto, faz precisamente hoje oito dias, disse à saída do debate parlamentar, que só teve conhecimento do prémio de 62 milhões de euros, que a Caixa Geral de Depósitos deu ao empresário Manuel Fino, no dia de Carnaval. Devia ser uma piada de Entrudo. Ora, Sócrates pode ser muita coisa – até engenheiro – mas distraído é que ele não é. Na verdade, há muito que Francisco Louçã, andava a falar na coisa e, antes disso, já o Correio da Manhã e o Jornal de Negócios haviam posto a nu a escabrosa negociata. Ou seja: o país inteiro sabia, mas Sócrates não. Não lhe convinha saber, porque não lhe convinha que a coisa fosse badalada. Mentiu mal. Mentiu descaradamente. Mentiu, acima de tudo, porque sabe que o pode fazer impunemente. Até ver…
Outra grande mentirola de Sócrates, também proferida na Assembleia da República, em resposta a uma interpelação d’Os Verdes, dizia respeito ao caso Freeport. Para explicar a aldrabice, socorro-me do que disse à comunicação social o advogado Castanheira Barros.

Disse Castanheira Barros:

«O curto debate que ontem ocorreu entre o deputado do Partido Os Verdes, Madeira Lopes, e o primeiro-ministro, foi descrito de forma fidedigna pelo jornalista da Lusa, que elaborou a notícia em apreço, apenas tendo sido omitido (pelo jornalista ou pela redacção da Lusa) a afirmação falsa, proferida por José Sócrates, de que o licenciamento do Freeport tinha sido aprovado “na vigência da anterior Zona de Protecção Especial”. Esta afirmação constitui uma grave mentira, pois o licenciamento do Freeport ocorreu muito tempo depois de ter entrado em vigor o Decreto-Lei aprovado em Conselho de Ministros de 14.03.2002, pelo governo socialista, então em gestão.

O primeiro-ministro José Sócrates mentiu, pois, aos deputados e aos portugueses, procurando também criar a confusão entre a Declaração de Impacte Ambiental, proferida pelo então secretário de Estado do Ambiente, favorável ao Freeport, e o licenciamento deste empreendimento, que é da competência da Câmara Municipal de Alcochete.

A alteração dos limites da Zona de Protecção Especial do Estuário do Tejo aprovada no supra-referido Conselho de Ministros, abriu as portas ao licenciamento do Freeport, pelo que é inteiramente legítimo assacar responsabilidade política ao actual primeiro-ministro (e então ministro do Ambiente) por essa alteração, que impedia a Comissão Europeia de accionar o Estado Português por violação das normas comunitárias relativas às ZPE, e abria assim caminho à aprovação, pela Câmara Municipal de Alcochete, do projecto Freeport».

Antes disso, o governo encenou, com Sócrates à cabeça, uma farsa que queria fazer crer aos portugueses que a OCDE se pronunciara sobre a educação em Portugal, considerando-a do melhor que há no mundo. Conforme foi obrigado a confessar depois, não se tratava de nenhum documento da OCDE, mas de um trabalho de uma girl socialista. Esta intrujice, só por si, define o carácter – a falta dele – da gentalha que governa.

Se juntarmos estas mentiras recentes a outras, grandes ou pequenas, da autoria do mesmo cavalheiro – sem esquecer aquela, verdadeiramente deliciosa, de ter sido apanhado a fumar, escondido, num avião e, muito candidamente, dizer que pensava que ali se podia fumar – temos um retrato muito nítido da integridade moral do político que governa o país.

Para comparar o que se passa aqui, em Portugal, com o que se passa em qualquer país dito democrático, basta lembrarmo-nos do que aconteceu recentemente em Espanha, quando um ministro de Zapatero foi apanhado a caçar, indevidamente, numa coutada. Claro: foi demissão imediata.

Imaginemos, agora, que este Sócrates, sem tirar nem pôr, era espanhol e conseguia, por artes mágicas, ser primeiro-ministro em Espanha. E que, por ser o mesmo, dele se vinha a saber aquilo que hoje todos sabemos. Posso perguntar, sem que me chamem tolo, se alguém pensa que ele ainda fosse governante em Espanha? Ou posso perguntar, sem que me chamem exagerado, se não estaria já a prestar contas à Justiça?

O que daqui resulta, é que Portugal se transformou num país sem valores, onde os conceitos de dignidade, honra ou honestidade andam pelas ruas da amargura. No fundo, o que suportamos aos nossos governantes e à inenarrável classe dominante – a classe dos Berardos, dos Jardins Gonçalves, dos Oliveiras e Costas, Finos e, de uma maneira geral, de toda a alta finança e distinto escol empresarial – só é explicável porque nós, enquanto povo, consideramos que as mentiras, os roubos de luva branca, as falcatruas mais impensáveis e as negociatas mais obscenas não passam, afinal, de artimanhas de gente esperta que «sabe fazê-la». Ou seja: a maioria dos portugueses, embora censurando e desprezando esta gente, não se indigna o suficiente para dizer um sonoro e vigoroso BASTA!

Se me perguntarem porquê, eu direi que será porque, no fundo – e como me custa dizer isto! – a maioria dos portugueses não desdenharia, se para tanto tivesse oportunidade, de se amanhar como os poderosos se amanham.

E só assim se explica que aguentemos, Sócrates, Varas, Loureiros, Miras Amarais, Berardos, Constâncios, Jardins Gonçalves e demais nababos que, sem o mínimo pudor, se enchem à conta do que os portugueses produzem.

Ah! E que ainda queiram que produzamos mais!

E fazem bem em querer. Como a besta é mansa, há que aproveitar…


Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 04/03/2009.
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01/03/2009

VIVA SÓCRATES!

Um menino regressa da escola cansado e faminto e pergunta à mãe:

- Mamã, que há de comer?

- Nada, meu filho.

O menino olha para o papagaio que têm na gaiola e pergunta:

- Mamã, porque não há papagaio com arroz?

- Porque não há arroz.

- E papagaio no forno?

- Não há gás.

- E papagaio no grelhador eléctrico?

- Não há electricidade.

- E papagaio frito?

- Não há azeite.

E o papagaio contentíssimo gritava:

- VIVA SÓCRATES!!! VIVA SÓCRATES!!!

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