28/12/2005

Os Verbos-de-Encher

Rezam os dicionários que a expressão verbo-de-encher significa «palavra, acto ou pessoa desnecessária; pessoa que só faz número, sem préstimo, pessoa inútil». Na linguagem comum, aplica o povo esta expressão quando pretende designar alguém que parasita os demais, que se instala num cargo e, sem nada fazer de útil, se enche com aquilo que o cargo tem para dar. O verbo-de-encher é, segundo o senso comum, um parasita oportunista, um sanguessuga, uma carraça, um descarado aproveitador do suor – e do sangue – dos outros.

A expressão veio-me à ideia numa altura em que os políticos, percebendo que a sua imagem andava pelas ruas da amargura (outra expressão popular que não carece de explicação livresca), iniciaram uma campanha para modificar a ideia negativa que os cidadãos deles formaram. Agora, tentam fazer-se passar por gente que se sacrifica em prol dos seus semelhantes, um exemplo de altruísmo e de entrega, enfim, uns novos Cristos capazes de se deixarem pregar na cruz se a felicidade do povo o exigir.

«Tarde piaste», dirá o povo, que tem sempre a língua armada com um arsenal léxico para carimbar – ou atirar – à malandragem, seja ela a mais rasteira ou, como é o caso, a de mais alto coturno.

Mas tudo isto me veio à ideia quando, olhando distraidamente a televisão, me passou pela frente uma estranha figura que tardei em identificar como o primeiro-ministro (e engenheiro sem obra feita, que se saiba), de seu nome José Sócrates. Mas era ele, conforme percebi, depois de esfregar longamente os olhos. Abundantemente retocado, tão pintado como se duma miss universo se tratasse, com as sobrancelhas e os olhos artisticamente salientados com claros/escuros espampanantes, as pálpebras com brilhos de madrepérola – só a custo se poderia chamar àquilo maquilhagem – o senhor primeiro-ministro estava lindo, verdadeiramente belo, angélico, até. Quase divino. Depois, com a sua voz delicadamente aflautada, toda cheia de entoações e requebros magnificamente estudados, com as mãos e os braços em discretos afagos às frases que ia debitando, ofereceu-nos uma mensagem de Natal que, se passar no próximo Carnaval, vai ser um sucesso.

Mas disse-nos o quê, esta aparição quase travestiana, este anjinho alantejoulado que os deuses mandaram à terra para nos salvar da perdição?

Disse, em termos gerais, que não vamos para o paraíso se não compreendermos os sacrifícios que ele e o seu governo nos estão a impor e, principalmente, se não cooperarmos nessa tarefa sacrificial. Disse, usando eu uma linguagem teológica tão adequada à época, que somos os carneiros que é necessário agora imolar aos deuses para que, num dia que há-de vir, todos sejamos felizes. Explicou que, em 2005, começámos a enfrentar e a resolver os nossos problemas, parecendo não saber que, desde sempre, todos nós, os que não vivemos do trabalho dos outros, mas do nosso – e que não fomos para a política para sermos «verbos-de-encher» – sempre enfrentámos e resolvemos a maior parte dos nossos problemas. Aliás, o grande problema que nos falta resolver, e do qual depende a resolução de todos os outros, é pormos com dono e a trabalhar numa profissão qualquer os «verbos-de-encher» que se têm enchido à nossa conta, e entregarmos a governação do país a gente séria, a gente nossa, a gente que não se venda ao deus dinheiro, a gente que governe para todos, e não apenas para os que têm muito. Que governe, especialmente, para os que pouco ou nada têm, fazendo deles cidadãos de primeira. De corpo inteiro…

Quanto ao resto, a mensagem natalícia do primeiro-ministro-lantejoula foi um chorrilho de lugares comuns e promessas de dias melhores, coisa que eu oiço há muitos anos pelos aldrabões de serviço em cada Natal. Pelos sucessivos «verbos-de-encher».

Falando de Natal, vem a propósito trazer a esta conversa a morte de duas meninas de três e cinco anos, a Bianca e a Vanessa, vítimas, por um lado, da negligência dos pais e, por outro, do facto fortuito de terem nascido em Portugal e serem meninas que, tal como acontece a milhares de outras crianças, nunca foram… meninos, como disse Soeiro Pereira Gomes. Moravam na Urbanização Vila d’Este, em Gaia, e estavam sozinhas em casa, onde, segundo se disse, não havia água nem luz, mas lixo e desleixo por todo a lado. Os pais, à hora em que deflagrou o incêndio que as vitimou, estavam no café…

A urbanização Vila d’Este é mais uma como centenas – ou milhares – de outras em Portugal, onde se concentram milhares de pessoas afectadas pelas mais diversas mazelas sociais. Desemprego, baixos salários, trabalho precário, doenças de todos os foros, baixas perspectivas de vida, desesperança e, consequentemente, a consolidação de valores éticos e sociais muito condicionados. A droga e o seu tráfico, a adopção de padrões de comportamento marginais como única resposta visível para as frustrações que decorrem de uma sociedade desigual e injusta, as crianças a conviverem com essa degradação familiar e social que as envolve, a habituação à miséria por parte dos que desistiram de esperar e de acreditar na sociedade, uma comunidade inteira metida num gueto, onde só emergem algumas boas vontades e uma auto-organização incipiente e ineficaz face à indiferença do poder político e dos seus agentes – é esse o quadro.

Quando o ministro do Trabalho e da Segurança Social, entrevistado a este respeito, a meio de um almoço de bodo aos pobres, organizado pelo aparelho socialista de Loures, sacode a água do capote, e o mesmo faz a Comissão de Crianças e Jovens em Risco de Gaia, tal como a Segurança Social, que atira para cima da autarquia, dizendo esta ter feito tudo o que devia, e quando todos dizem que fizeram o que deviam, só pode chegar-se à conclusão de que ninguém tem culpa de nada, que são todos, ao fim e ao cabo, um bando de irresponsáveis. E são. Afinal, todos eles se limitam a servir políticas que, ao invés de resolverem estes problemas, estão na sua origem. São a sua causa.

Diz a comunicação social que os problemas de Vila d’Este foram, em devido tempo, apresentados aos diversos poderes, incluindo a Presidência da República, que nem se dignou responder. Se calhar – digo eu – porque o tempo de «haver mais vida para além do défice», como disse uma vez Jorge Sampaio, só se aplica se o governo for do PSD. Sendo do PS, já o problema do défice é mais importante do que os problemas das pessoas, do que a VIDA, mesmo que seja a vida das mais de 200 crianças em situação de risco existentes naquela urbanização de Gaia.

E pela comunicação social também ficámos a saber que o caso dessas mais de 200 de crianças estavam, no ano passado, nas mãos da Comissão de Crianças e Jovens em Risco de Gaia. 106, por situações de risco, e 95 por negligência familiar. Isto sem contar com os cerca de 180 processos de absentismo escolar, também do conhecimento daquela comissão. Estes dados foram divulgados pela Associação de Proprietários da Urbanização de Vila d’Este no Diagnóstico Social do Concelho, levantamento que abrangeu os 16.710 habitantes da urbanização.

E foi com base neste retrato negro que a associação apresentou, à Segurança Social, o projecto «Futuro para Todos», no âmbito do programa «Ser Criança». Porém, os argumentos apresentados não sensibilizaram o Conselho Directivo da Segurança Social que, em 27 de Outubro, rejeitou a proposta, apesar de pareceres favoráveis da direcção distrital do Porto, da Comissão de Protecção de Menores e do Concelho Local de Acção Social. Justificação? «Insuficiência orçamental do programa». Pudera! Há que financiar o Lisboa / Dakar, o campeonato do Mundo de Vela, há que pagar a derrapagem dos estádios do Euro, que ficaram por mais do dobro, os ordenados e reformas de luxo dos governadores e vice-governadores, dos administradores, presidentes e vice-presidentes, dos deputados, ministros e presidentes da República, (este, os idos e os por haver), etc, e por aí fora.

Com este chumbo, ficaram por terra as intenções da associação em alargar as actividades de tempos livres até às 22.30 horas, tirando das ruas quem não tem, em casa, cuidados básicos e, sobretudo, carinho. Os meios de que a associação dispõe não deixam que o espaço ocupacional que possui tenha as portas abertas para além das 18 horas. Depois disso, 5.535 crianças e jovens ficam entregues a si próprios, muitos deles servindo de correio no tráfico de droga – sendo alguns já toxicodependentes.

Isto, veio nas páginas interiores de alguns jornais, foi referido por outra comunicação social, e não é só um retrato de Vila d’Este. É um retrato do próprio país. Aliás, a quadra festiva que atravessamos está a mostrar, nas chamadas iniciativas de solidariedade que por aí acontecem, como os pobrezinhos são uma coisa enternecedora, são mesmo do melhor que há para fazerem saltar de nós, os mais felizes (os pobres são, apenas, os «menos felizes» estão a perceber a subtileza?...) os mais belos sentimentos. Que haja sempre pobrezinhos, para nós podermos bem-fazer e salvar as nossas almas. E, já agora, libertarmos o Orçamento Geral do Estado do peso desses nossos irmãos «menos»… afortunados.

Sócrates pintou-se e aperaltou-se todo para nos tentar convencer à imolação silenciosa e, mesmo, à auto-imolação. «Não vou por aí!», disse José Régio no seu famoso Cântico Negro.

«Não vou por aí!»

Nem eu!


Crónica de João Carlos Pereira - Lida aos microfones da Rádio Baía em 28/12/2005

21/12/2005

Os carneirinhos do presépio

Diz o Banco de Portugal que a economia estagnou. Nos últimos três meses, a maioria dos portugueses só comprou o indispensável à sua sobrevivência. Desceu a procura, como se diz em linguagem de economista, e nem mesmo a época do Natal, com a respectivo subsídio a aconchegar os bolsos dos portugueses mais felizes (que não de todos), chega para disfarçar a crise. O país vai de mal a pior. Aparentemente, só o engenheiro Sócrates e Cia, banqueiros e outros senhores da alta finança estão optimistas. E felizes.

Outras notícias dizem-nos que o desemprego não pára de subir. Segundo os números oficiais, que só contabilizam os desempregados inscritos nos centros de emprego, e que também se esquecem daqueles que só trabalham meia dúzia de horas por semana, estamos quase no meio milhão. Destes, mais de 40 mil dizem respeito a licenciados, «só» cerca de mais 6 mil do que existiam há um ano. Já há quem pergunte se Sócrates prometeu mais 150 mil postos de trabalho, ou… dar cabo de 150 mil postos de trabalho.

Contudo, o senhor ministro do Trabalho e da Solidariedade, Vieira da Silva, reconheceu, do alto do seu alto e bem remunerado emprego de político profissional, que este «aumento do desemprego é um factor de preocupação, apesar de se tratar de um aumento moderado e já esperado». O ministro disse ainda que «é preciso procurar novos e mais investimentos para substituir os que têm encerrado e apelar a políticas de emprego que valorizem a qualificação das pessoas, de modo a que estas possam aceder ao mercado de trabalho». Isto é: o ministro não disse nada, que é como quem diz: disse zero. Achar normal o desemprego dos outros, é típico de quem tem o seu tacho sempre assegurado – ou na política, ou na administração de qualquer empresa que engorde à conta… da política.

Ou por outra: o ministro disse que o aumento do desemprego já era esperado, e isso já tem muito que se lhe diga. Se não estivermos com atenção, somos levados a crer que o desemprego é como o mau tempo, que os meteorologistas podem prever, mas não podem evitar. «Prevê-se para o dia de hoje um agravamento do estado do tempo, com vento a soprar de sudoeste com rajadas fortes, que podem atingir os 110 quilómetros, acompanhado de chuva intensa a partir da tarde». Adaptando esta terminologia ao seu discurso, o ministro até poderá dizer um dia destes: «Prevê-se para o próximo ano um agravamento da taxa de desemprego, que será acompanhado de baixos salários e de um aumento generalizado da inflação. Esta situação resulta de uma frente depressionária que atingiu o território nacional, e cuja duração é, neste momento, imprevisível. Pede-se à população afectada que reaja com calma às restrições necessárias, estando o governo naturalmente preocupado com a situação e a fazer todos os esforços para debelar os prejuízos resultantes desta intempérie social, a que, naturalmente, é alheio».

Pois… o desemprego e a crise são como a chuva: vêm quando Deus manda!

Ao mesmo tempo, multiplicam-se as iniciativas natalícias a favor das crianças mais desfavorecidas, e até o príncipe Aga Khan, líder dos ismaelitas, veio recentemente a Portugal para promover uns programas de combate à pobreza. Mas o que eu sei – e parece que mais ninguém nos órgãos de comunicação social sabe – é que acções de ajuda às crianças desprotegidas (como eles gostam agora de lhes chamar, mas que aqui há uns anos, no tempo do fascismo, eram englobadas na designação genérica de infância desvalida) e esmolazinhas e iniciativas de ajuda aos pobrezinhos desamparados, coitadinhos, foi coisa que sempre existiu neste país, salvo no período entre Abril de 1974 e Novembro de 1975, quando se entendeu que a solução não era a esmola, mas eliminar a pobreza e dar a cada português condições dignas de vida: emprego, salário, habitação, educação, coisas dessas… Ou seja: não dar o peixe, mas ensinar a pescar.

Ora, dizia eu que essas misericordiosas acções de ajuda aos pobrezinhos, que sempre vi as boas alminhas levarem à prática para descanso das suas consciências, nunca resolveram o problema da pobreza, porque se o tivessem resolvido, não era preciso, agora, em Dezembro de 2005, ir dar brinquedos, biscoitos e um pacotinho de sumo aos meninos e meninas dos bairros de lata, ou levar alguns à Disneylândia, nem era preciso distribuir arroz e feijão pelos deserdados desta democracia de faz-de-conta.

Dizia o dono do Circo Cardinalli, – e com uma certa razão e muita ironia – em resposta aos que afirmam ser uma crueldade e uma violência a utilização de animais nos números circenses, que achava estranho que se dissesse tal coisa, já que os seus tigres eram bem alimentados e devidamente tratados, coisa que não acontecia com mais de dois milhões de portugueses que vivem na miséria. Guardadas todas as distâncias, confesso que o argumento me fez sorrir, mas não sei o que pensará dele o senhor ministro do Trabalho e da Solidariedade. Pense o que pensar, só espero que não decida transformar o país num circo, para resolver os problemas da pobreza e do desemprego. De jaulas e de palhaços, de camelos e ursos estamos todos fartos – e não é só de agora.

Mas as coisas não vão melhorar, mesmo com os «choques tecnológicos», essa anedota que Sócrates inventou para nos fazer rir e desopilar a vesícula biliar. É que em 2006, o investimento público que o Governo se propõe fazer diminuirá, relativamente ao de 2005, em – 27,8%.

Para além disso, Portugal, é o país da União Europeia onde o nível de escolaridade da população é mais baixo (79,4% tem apenas o ensino básico ou menos; apenas 11,3% possui o secundário e somente 9,4% o ensino superior) e onde o abandono escolar prematuro é mais elevado (em 2004, atingia 39,4% em Portugal, quando a média em todos os países da União Europeia alcançava apenas 15,7%). No entanto, no Orçamento do Estado para 2006, o valor orçamentado para o «ensino básico e secundário» diminui em 0,5% e, para o ensino superior, desce em 2,5%.

Os transportes e os combustíveis, que aumentaram em cadeia este ano, vão conjuntamente com a electricidade, atacar de novo no início de 2006. Tudo subirá, em consequência. Continua a politica do transporte caro e poluente, assente na promoção do transporte rodoviário que foi iniciada pelo governo de Cavaco Silva, que investiu fundamentalmente nas infra-estruturas, ou seja, no "betão", em prejuízo do investimento nas pessoas, apesar de Guterres ter jurado que, consigo, as pessoas estariam primeiro. Com Guterres e, depois, com Durão e, agora, com Sócrates, Portugal segue uma politica radicalmente diferente, por exemplo, da Finlândia, que investiu fundamentalmente nas pessoas e na inovação, e que por isso apresenta elevadas taxas de crescimento económico.

Cá, em vez de se governar para as pessoas, como faria um governo de esquerda ou que, no mínimo, fosse inteligente, sensível e decente, o governo socialista insiste em governar à custa das pessoas, politica esta que vai continuar – e agravar-se – em 2006. A prová-lo, apenas um simples exemplo, que parece ridículo ou caricato, mas que pode ser comprovado por quem dê uma olhadela ao OGE para 2006. Num conjunto de 21 projectos que constam da lei deste OGE, no valor de 742 milhões de euros, 90% dizem respeito ao transporte rodoviário e apenas 5% ao transporte ferroviário. E bem pior! O Estado Português vai gastar no próximo ano mais com o Campeonato Mundial de Vela e com o Paris-Dakar (7.000.000 de euros) do que com o Metro de Lisboa (5,7 milhões de euros) onde os atrasos por "razões técnicas" são cada vez mais frequentes e onde a insuficiência do material circulante e da linha, que ainda não chega aos concelhos da Área Metropolitana de Lisboa com maior concentração de uma população que todos os dias se têm de deslocar de uma forma pendular para o concelho de Lisboa, por razões de trabalho e de estudo, é cada vez mais notória.

Por isso, ao desejar-vos um Bom Natal e um Ano Novo próspero e feliz, tenho vontade de morder a língua. Nem o Natal dos portugueses vai ser bom, nem 2006 vai ser, sequer, melhor do que 2005. Eles não vão deixar.

E – o que é pior – nós vamos continuar a deixar… que eles não deixem. Continuamos, no presépio da vida, a fazer de mansos carneirinhos.

Que, de facto, somos.

Crónica de João Carlos Pereira - Lida aos microfones da Rádio Baía em 21/12/2005

14/12/2005

Um bacilo chamado miséria

Naturalmente, muitos ouvintes julgarão que a nossa conversa de hoje vai tocar nos temas que têm dominado os noticiários nos últimos dias: o ex-combatente que invectivou Mário Soares, a morte do chefe da PSP, abatido pelo gang que anda, há semanas, a assaltar as caixas do multibanco, ou, ainda, a explosão de um dos maiores depósitos de combustível no Reino Unido.

Francamente, não me apetece embarcar nessa onda e alimentar a gritaria que por aí vai.

Em primeiro lugar, Mário Soares não foi agredido, como se pretende fazer crer, salvo se sacudir o braço de um tipo que passa a vida a estendê-lo a torto e a direito, na caça ao voto, já seja uma agressão. Depois, o homem não disse nada demais, bem pelo contrário: disse de menos. Se eu tiver, um dia, a sorte de encarar o maior aldrabão que, em termos políticos, nasceu em Portugal, certamente lhe direi (se a jagunçada deixar) muito mais do que aquilo.

Quanto ao gang que abateu o chefe da PSP, já está tudo resolvido. O ministro Costa, sempre sorridente, desencantou, de um dia para o outro, não sei quantos coletes à prova de bala e mais uns milhões de euros para trocar as fisgas das forças de segurança por arcos e flechas. Por outro lado, foi preciso morrer um agente para que as polícias fossem, em força, à procura dos criminosos, que estavam referenciados há várias semanas e, segundo consta, um deles até foi solto por um tribunal qualquer. Há muito que ouvíamos dizer que o bando tem sede em Espanha, na zona de Sevilha, e que andava por aí a sacar as caixas multibanco sempre com o mesmo modus operandi e mais ou menos à vontade. Francamente! Roubar viaturas de luxo, carrinhas Ford Transit, reboques e, ainda por cima, assaltar sempre locais com as mesmas características, não será assim uma coisa tão discreta e imprevisível quanto isso. Adiante…

Quanto à misteriosa explosão dos depósitos de combustíveis, relativamente perto de Londres – e que a polícia, insistentemente, teima em considerar acidente – das duas, uma: ou foi mesmo acidente (e era deplorável a segurança das instalações e equipamentos); ou não foi acidente, e as coisas são mais complicadas do que parece. A verdade, é que a al Quaeda, dias antes, avisou que iria atacar alvos desta natureza.

Seja como for, hoje não vou atrás da actualidade noticiosa, do espavento, da notícia que está na berra. Esta semana preocupou-me mais um outro tipo de notícia, mais silenciosa, mas não menos preocupante e significativa. E, acima de tudo, bem ilustrativa do nosso terrível atraso social, isto é, da impiedade com que os portugueses têm vindo a ser tratados nos últimos anos. Vamos a isso.

Portugal é o país da Europa Ocidental com maior incidência de tuberculose. Este tristíssimo sinal de terceiro-mundismo – que só não espanta porque somos os primeiros em tudo o que é mau ou péssimo – floresce por todo o lado, e atacou, recentemente, onde menos seria de esperar: dentro dos próprios hospitais. E isto acontece quando o Governo entoa cânticos ao nosso desenvolvimento, que é disso que fala quando anuncia que vamos construir um aeroporto novinho em folha, uma rede de comboios de altíssima velocidade, e depois de termos construído – nunca é demais recordá-lo – dando provas da nossa grandeza e inquestionável modernidade, uma grande exposição internacional e dez estádios para futebol, cuja maioria, daí para cá, tem servido de poiso a pombos e pardais, sem falar nas moscas que, no tempo quente, apreciam e aplaudem o esforço dos craques.

Sobre a tuberculose, dizem os entendidos que ela existe em todo o mundo, mas é mais comum nas regiões onde existe muita pobreza, promiscuidade, más condições de higiene e saúde pública deficitária, e, ao dizê-lo, estão a fazer um retrato, a corpo inteiro, de um país chamado Portugal. De facto, só em 2004, foram notificados 3.511 novos casos de tuberculose no nosso país, o que corresponde a uma incidência de cerca de 40 casos por cada cem mil habitantes. Uma situação bem longe do que se verifica em países como o Chipre, Dinamarca, Finlândia, Alemanha, Grécia, Irlanda, Itália, Malta, Holanda ou Suécia, com menos de 10 casos por cem mil habitantes.

Mas dizia eu que a tuberculose, farta de vitimar nos subúrbios miseráveis das nossas grandes cidades, atacou em força onde seria menos previsível, concretamente no Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital de S. João, no Porto, onde nove profissionais de saúde foram infectados com o bacilo. Na verdade – e segundo os profissionais de saúde já fizeram saber – não é certo que os números se fiquem por aqui, temendo-se que mais pessoas estejam infectadas. É que, de acordo com o Centro Nacional Contra Riscos Profissionais, este ano foram diagnosticados cerca de 30 casos de tuberculose em hospitais e centros de saúde na Região Norte. Um médico do Centro de Saúde da Senhora da Hora, em Matosinhos, reconheceu a gravidade do problema e disse aos jornais: «Como médico, sei que a nossa profissão é de risco. E até conheço alguns colegas infectados com várias doenças. Por isso, o que veio agora para os jornais peca por ser tardio». Já o responsável pelo Serviço de Pneumologia do Hospital de S. João, sabendo melhor o país em que vive (e como o poder é vingativo), tentou desdramatizar, embora confirmasse o internamento, no mês passado, de um doente com tuberculose na laringe. «Vários profissionais de saúde foram infectados, mas é um risco a que estão sujeitos médicos e enfermeiros. Isso acontece com frequência no meu serviço. Mas o problema está ultrapassado. É preciso combater a doença e o alarmismo», disse ele. Mas a verdade é que os utentes do HSJ estão mesmo alarmados. Disse um deles aos jornais: «Quando soube o que se tinha passado não fiquei admirado. Este hospital não tem condições e o atendimento é péssimo. Vim acompanhar um doente, porque se o problema fosse comigo, ia ao Santo António».

Prestimosos, alguns especialistas nesta matéria dizem desconhecer as razões porque, em Portugal, as taxas de incidência da tuberculose são tão altas, acrescentando que «o elevado número de casos de toxicodependentes e doentes com sida pode ajudar na explicação. Estes grupos são mais susceptíveis e neles é maior a facilidade de contágio, o que vai proporcionar o aparecimento de formas mais graves da doença, com maior resistência aos medicamentos», dizem.

Além desta explicação – e muito candidamente – apontam ainda como razão o facto de, muitas vezes, as pessoas desvalorizarem os sintomas, ignorando a tosse persistente, o cansaço, a febre. Afirma um deles: «As dificuldades em diagnosticar a doença podem também ajudar a justificar os números. Mas não é fácil perceber porque são tão elevados, já que temos acesso aos medicamentos e à vacinação à nascença».

Não é que estas razões não sejam verdadeiras, mas… ou muito me engano, ou alguns senhores doutores esquecem-se da razão mais decisiva: a miséria galopante que vai por aí. Os milhões de portugueses e os muitos milhares de estrangeiros de quem o poder político há muito se esqueceu, voltado que está para outras prioridades. Tuberculose, sida, toxicodependência, desemprego, trabalho precário, salários baixos, salários em atraso, este é o bacilo, o bacilo chamado miséria, que abre as portas ao outro, o tal bacilo, o famoso bacilo de Kock.

Enquanto isto, José Sócrates já pensa em fechar os hospitais de S. José, do Desterro e dos Capuchos. Para os substituir, três novos hospitais, um deles – o de Loures – a construir no âmbito de uma parceria público-privado, como convém ao negócio em que a saúde se transformou.

E depois… já pensaram bem quanto não valerão os terrenos onde estão os hospitais que o governo quer encerrar? Quem será o feliz contemplado com este novo negócio da China que já se adivinha?

Crónica de João Carlos Pereira - Lida aos microfones da Rádio Baía em 14/12/2005

07/12/2005

Que venha o Diabo e… não escolha

Não sei se Mário Soares é apenas descarado, se está completamente gagá, ou se à sem-vergonha e à senilidade junta uma cada vez mais acentuada dose de imbecilidade galopante. Esta dúvida surgiu-me quando, a propósito dos 25 anos passados sobre a morte de Sá Carneiro, o ouvi dizer, sem papas na língua ou embaraços de qualquer espécie, que convidara, logo a seguir ao 25 de Abril, o falecido fundador do PPD a aderir ao partido Socialista. Perante o espanto de Sá Carneiro, Soares assume ter-lhe dito que, sendo social-democrata, seria no PS que estaria bem. «Mas vocês são um partido socialista», retorquira o outro, acrescentando que lera o programa do PS e lá se via que era um partido de inspiração marxista. Que não ligasse a isso, confessa Soares ter-lhe respondido, pois isso são coisas que se escrevem nos programas, mas a realidade é outra coisa completamente diferente.

Traduzindo isto por outras palavras, queria Soares dizer, lá na sua, que o nome do PS (socialista) e a as suas bases programáticas, longe de corresponderem à sua identidade – princípios, projectos e objectivos – não passavam (como não passam, ainda hoje) de artifícios para iludir o povo e conquistar-lhe os votos. Soares, em trinta segundos, confessou que tanto ele, como o partido de que diz ter orgulho em pertencer, não passam de uma imensa fraude política, o exemplo acabado do que é a pulhice como instrumento ao serviço da manipulação do eleitorado.

E se isto já era mau, mesmo considerando a estrumeira que é a prática política na sua generalidade, o descaramento de Soares, ao confessar alegremente a sua desonestidade política, é a prova real de que tudo é ainda pior do que parece. E que se ele, apesar da provecta idade, não está completamente pifado dos neurónios, então é porque julga que os portugueses já aceitam a trampolinice como uma qualidade natural dos políticos, e a indignidade como uma virtude indispensável na política. Nada mau, para quem anda agora a defender a política e os políticos como coisas decentes e sem mácula. Vê-se…

Por isso, se eu já não tivesse decidido, há muito, que nenhum socialista, seja em que circunstância for, contará com o meu voto, esta confissão bastaria para que, nas próximas eleições presidenciais – e caso haja 2.ª volta – não fosse à minha custa que a canalhice política tivesse lugar em Belém. Entre um salazarista requentado e um fulano sem princípios, não há escolha possível. E não me digam que a opção será, nessa altura, entre a esquerda e a direita, porque Mário Soares não é – como nunca foi e jamais será – um homem de esquerda. Felizmente para a esquerda, diga-se.

Sobre isto, em 15 de Março de 2000, o advogado e jornalista António Marinho, publicou um artigo onde, entre outras coisas, disse:

«A polémica em torno das acusações das autoridades angolanas, segundo as quais Mário Soares e seu filho João Soares seriam dos principais beneficiários do tráfico de diamantes e de marfim levados a cabo pela UNITA de Jonas Savimbi, tem sido conduzida na base de mistificações grosseiras sobre o comportamento daquelas figuras políticas nos últimos anos. Espanta desde logo a intervenção pública da generalidade das figuras políticas do país, que vão desde o Presidente da República até ao deputado do BE, Francisco Louçã, passando pelo PP de Paulo Portas e Basílio Horta, pelo PSD de Durão Barroso e por toda a sorte de fazedores de opinião, jornalistas (ligados ou não à Fundação Mário Soares), pensadores profissionais, autarcas, «comendadores» e comentadores de serviço, etc. Tudo como se Mário Soares fosse uma virgem perdida no meio de um imenso bordel. Sei que Mário Soares não é nenhuma virgem e que o país (apesar de tudo) não é nenhum bordel. Sei também que não gosto mesmo nada de Mário Soares e do filho João Soares, os quais se têm vindo a comportar politicamente como uma espécie de versão portuguesa da antiga dupla haitiana «Papa Doc» e «Baby Doc».

Mais adiante, escreve António Marinho:

«A primeira ideia que se agiganta sobre Mário Soares é que é um homem que não tem princípios, mas sim fins. É-lhe atribuída a célebre frase: “Em política, feio, feio, é perder”. São conhecidos também os seus ziguezagues políticos desde antes do 25 de Abril. Tentou negociar com Marcelo Caetano uma legalização do seu (e seus amigos) agrupamento político, num gesto que mais não significava do que uma imensa traição a toda a oposição, mormente àquela que mais se empenhava na luta contra o fascismo. Já depois do 25 de Abril, assumiu-se como o homem dos americanos e da CIA em Portugal e na própria Internacional Socialista. Dos mesmos americanos que acabavam de conceber, financiar e executar o golpe contra Salvador Allende, no Chile, e que colocara no poder Augusto Pinochet. Mário Soares combateu o comunismo e os comunistas portugueses como nenhuma outra pessoa o fizera durante a revolução e foi amigo de Nicolau Ceaucescu, figura que chegou a apresentar como modelo a ser seguido pelos comunistas portugueses. Durante a revolução portuguesa andou a gritar nas ruas do país a palavra de ordem «Partido Socialista, Partido Marxista», mas mal se apanhou no poder meteu o socialismo na gaveta e nunca mais o tirou de lá. Os seus governos notabilizaram-se por três coisas: políticas abertamente de direita, a facilidade com que certos empresários ganhavam dinheiro e essa inovação da austeridade soarista (versão bloco central) que foram os salários em atraso».

Porque isto está engraçado, continuemos com António Marinho:

«Em minha opinião, Mário Soares nunca foi um verdadeiro democrata. Ou melhor, é muito democrata se for ele a mandar. Quando não, acaba-se imediatamente a democracia. À sua volta não tem amigos, e ele sabe-o; tem pessoas que não pensam pela própria cabeça e que apenas fazem o que ele manda e quando ele manda. Só é amigo de quem lhe obedece. Quem ousar ter ideias próprias é triturado sem quaisquer contemplações. Algumas das suas mais sólidas e antigas amizades ficaram pelo caminho quando ousaram pôr em causa os seus interesses ou ambições pessoais. Soares é um homem de ódios pessoais sem limites, os quais sempre colocou acima dos interesses políticos do partido e do próprio país. Em 1980, não hesitou em apoiar objectivamente o General Soares Carneiro contra Eanes, não por razões políticas, mas devido ao ódio pessoal que nutria pelo general Ramalho Eanes. E como o PS não alinhou nessa aventura que iria entregar a presidência da República a um general do antigo regime, Soares, em vez de acatar a decisão maioritária do seu partido, optou por demitir-se e passou a intrigar, a conspirar e a manipular as consciências dos militantes socialistas e de toda a sorte de oportunistas, não hesitando mesmo em espezinhar amigos de sempre, como Francisco Salgado Zenha. Confesso que não sei por que é que o séquito de prosélitos do soarismo (onde, lamentavelmente, parece ter-se incluído agora o actual presidente da República), apareceram agora tão indignados com as declarações de governantes angolanos e estiveram tão calados quando da publicação do livro de Rui Mateus sobre Mário Soares. Na altura todos meteram a cabeça na areia, incluindo o próprio clã dos Soares, e nem tugiram nem mugiram, apesar de as acusações serem então bem mais graves do que as de agora. Por que é que Jorge Sampaio se calou contra as «calúnias de Rui Mateus?»

Edificante, não é? Mas a coisa não fica por aqui. Ouçamos mais:

«Anos mais tarde, um senhor que fora ministro de um governo de Mário Soares, Rosado Correia, vinha de Macau para Portugal com uma mala com dezenas de milhares de contos. A proveniência do dinheiro era tão pouco limpa que um membro do governo de Macau, António Vitorino, foi a correr ao aeroporto tirar-lhe a mala à última hora. Parece que se tratava de dinheiro que tinha sido obtido de empresários chineses, com a promessa de benefícios indevidos por parte do governo de Macau. Para quem era esse dinheiro, foi coisa que nunca ficou devidamente esclarecida. O caso Emaudio e o célebre fax de Macau é um episódio que envolve destacadíssimos soaristas, amigos íntimos de Mário Soares e altos dirigentes do PS da época soarista. Menano do Amaral chegou a ser responsável pelas finanças do PS e Rui Mateus foi durante anos responsável pelas relações internacionais do partido, ou seja, pela angariação de fundos no estrangeiro. Não haveria seguramente no PS ninguém em quem Soares depositasse mais confiança. Ainda hoje, subsistem muitas dúvidas (e não só as lançadas pelo livro de Rui Mateus) sobre o verdadeiro destino dos financiamentos vindos de Macau. No entanto, em tribunal, os pretensos corruptores foram processualmente separados dos alegados corrompidos, com esta peculiaridade judicial (que não é inédita): os pretensos corruptores foram condenados, enquanto os alegados corrompidos foram absolvidos».

E mais adiante:

«Mário Soares utilizou o cargo de presidente da República para passear pelo estrangeiro como nunca ninguém fizera em Portugal. Ele, que tanta austeridade impôs aos trabalhadores portugueses enquanto primeiro-ministro, gastou, como presidente da República, milhões de contos dos contribuintes portugueses em passeatas pelo mundo, com verdadeiros exércitos de amigos e prosélitos do soarismo, com destaque para jornalistas. São muitos desses «viajantes» que hoje se põem em bicos de pés a indignar-se pelas declarações dos governantes angolanos. Enquanto Presidente da República, Soares abusou como ninguém das distinções honoríficas do Estado Português. Não há praticamente nenhum amigo que não tenha recebido uma condecoração, enquanto outros cidadãos, que tanto as mereceram, não obtiveram qualquer distinção durante o seu «reinado». Um dos maiores vultos da resistência antifascista no meio universitário, e um dos mais notáveis académicos portugueses, perseguido pelo antigo regime, o Prof. Doutor Orlando de Carvalho, não foi merecedor, segundo Mário Soares, da Ordem da Liberdade. Mas alguns que até colaboraram como antigo regime receberam as mais altas distinções. Orlando de Carvalho só veio a receber a Ordem da Liberdade depois de Soares deixar a Presidência da República, ou seja logo que Sampaio tomou posse. A razão foi só uma: Orlando de Carvalho nunca prestou vassalagem a Soares e Jorge Sampaio não fazia depender disso a atribuição de condecorações».

E António Marinho termina com a célebre FUNDAÇÃO COM DINHEIROS PÚBLICOS. Diz ele:

«A pretexto de uns papéis pessoais cujo valor histórico ou cultural nunca ninguém sindicou, Soares decidiu fazer uma Fundação com o seu nome. Nada de mal, se o fizesse com dinheiro seu, como seria normal. Mas não; acabou por fazê-la com dinheiros públicos. Só o governo, de uma só vez, deu-lhe 500 mil contos, e a Câmara de Lisboa, presidida pelo seu filho, deu-lhe um prédio no valor de centenas de milhares de contos. Nos Estados Unidos, na Inglaterra, na Alemanha ou em qualquer país em que as regras democráticas fossem minimamente respeitadas, muita gente estaria, por isso, a contas com a justiça, incluindo os próprios Mário e João Soares, e as respectivas carreiras políticas teriam aí terminado. Tais práticas são absolutamente inadmissíveis num país que respeitasse o dinheiro extorquido aos contribuintes pelo fisco. Se os seus documentos pessoais tinham valor histórico Mário Soares deveria entregá-los a uma instituição pública, como a Torre do Tombo ou o Centro de Documentação 25 de Abril, por exemplo. Mas para isso era preciso que Soares fosse uma pessoa com humildade democrática e verdadeiro amor pela cultura. Mas não. Não eram preocupações culturais que motivaram Soares. O que ele pretendia era outra coisa. Porque as suas ambições não têm limites, ele precisava de um instrumento de pressão sobre as instituições democráticas e dos órgãos de poder e de intromissão directa na vida política do país. A Fundação Mário Soares está a transformar-se num verdadeiro cancro da democracia portuguesa».

É de esquerda, este homem aqui tão bem retratado? Há quem diga que sim. Cá para mim, no entanto, entre Soares e Cavaco, que venha o Diabo e… não escolha, para não ficar irremediavelmente desacreditado.


Crónica de João Carlos Pereira - Lida aos microfones da Rádio Baía em 07/12/2005

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