30/12/2007

REFLEXÕES XXX

MENSAGEM À ASSEMBLEIA NACIONAL

Companheiros:

O vosso trabalho é muito duro. Perante as necessidades acumuladas e crescentes que a nossa sociedade herdou da neocolónia ianque em 1 de Janeiro de 1959, muitos sonhávamos criar um país com justiça plena e independência total. Na luta árdua e desigual, chegou uma altura em que ficámos sozinhos.

Resulta legítimo o nosso orgulho quando estamos próximos de completar 50 anos da vitória, porque temos resistido durante quase meio século ao império mais poderoso que foi criado na história. Na proclamação que subscrevi a 31 de Julho de 2006, nenhum de vocês viu jamais nenhum acto de nepotismo nem usurpação das funções do Parlamento. Nesse ano difícil e ao mesmo tempo prometedor da Revolução, a unidade do povo, do Partido e do Estado eram requisito essencial para continuar avante e encarar a ameaça declarada duma intervenção militar inimiga por parte dos Estados Unidos da América.

Na visita feita pelo companheiro Raúl, no passado dia 24 de Dezembro, a vários distritos do Município que me fez a honra de me postular como candidato ao Parlamento, constatou que todos os membros do grupo numeroso da candidatura da população que abrangia o distrito, que no passado fora famoso pela sua combatividade, ainda que de muito baixa escolaridade, eram formados de alto nível, o que lhe emocionou profundamente, como ele próprio narrou à nossa televisão.

Os quadros do Partido, do Estado, do Governo e as organizações de massas enfrentam novos problemas, no seu tratamento com o povo inteligente, observador e culto, que detesta os entraves burocráticos e as explicações mecânicas. No fundo, cada cidadão leva a cabo a sua própria batalha contra a tendência inata do ser humano a seguir o instinto de sobrevivência, uma lei natural que rege a vida.

Todos nascemos marcados pelo instinto que a ciência define como algo elementar. Chocar com ela é bom porque nos leva à dialéctica e à luta constante e desinteressada; torna-nos mais martianos e verdadeiros comunistas.

O que mais tem salientado a imprensa internacional sobre Cuba nos últimos dias, foi a frase em que expressei, a 17 deste mês em carta ao Director da Mesa Redonda da televisão cubana, que não sou uma pessoa aferrada ao poder. Posso acrescentar que o fui num tempo por excesso de juventude e escassez de consciência, quando sem preceptor algum ia saindo da minha ignorância política e me tornei um socialista utópico. Era uma etapa em que acreditava conhecer o que devia ser feito, e desejava poder fazê-lo! O quê me fez mudar? A própria vida, na medida em que aprofundava no pensamento de Martí e dos clássicos do socialismo. Enquanto mais lutava, mais me identificava com esses objectivos e muito antes da vitória pensava já que o meu dever era lutar por eles ou morrer no combate.

Por outro lado, sobre nós recaem grandes perigos que ameaçam a espécie humana. É uma coisa que se tornou cada vez mais evidente para mim desde que pela primeira vez previ no Rio de Janeiro que uma espécie estava em risco de desaparecer como consequência da destruição das suas condições naturais de vida, há mais de 15 anos, em Junho de 1992. Ultimamente, dia após dia, é cada vez maior o número dos que compreendem esse risco real.

Um livro recente de Joseph Stiglitz, que foi Vice-presidente do Banco Mundial e assessor económico principal do presidente Clinton até ao ano 2001, Prémio Nobel e best-seller nos Estados Unidos da América, contribui com dados sobre o tema que são irrefutáveis. Denuncia que os Estados Unidos, país que não subscreveu o convénio de Quioto, é o maior emissor de dióxido de carbono, lançando cada ano ao espaço 6 mil milhões de toneladas de dióxido de carbono que transtornam a atmosfera, sem a qual resulta impossível a vida. A isto se acrescenta a condição de ser o maior emissor de outros gases com efeito de estufa.

Poucas pessoas conhecem estes dados. O próprio sistema económico que impôs o esbanjamento insustentável de energia impede que esse livro de Stiglitz seja divulgado: a sua magnífica edição limita-se a uns poucos milhares para garantir as despesas. É uma exigência do mercado sem o qual a empresa editora não poderia existir.

Actualmente sabe-se que a vida na terra tem sido protegida pela camada de ozono, localizada no anel exterior entre 15 e 50 quilómetros de altura na zona conhecida como estratosfera, que serve de escudo ao planeta contra as radiações solares que podem ser daninhas. Há gases de efeito estufa que têm maior poder de aquecimento que o dióxido de carbono e ampliam o buraco da camada de ozono sobre a Antártida, que cada primavera perde até 70 por cento do seu volume, um fenómeno provocado pelo homem que tem lugar progressivamente. Para poder ter uma ideia esclarecida, é suficiente salientar que a média de carbono per capita emitida pelo mundo é de 4.37 toneladas métricas. No caso dos Estados Unidos a média é de 20.14, quase cinco vezes a mais. Na África é de 1.17, na Ásia e Oceânia, 2.87.

Resumindo, a camada de ozono, protege a visão, a pele e a vida dos seres humanos das radiações ultravioletas e calóricas que afectam o sistema imunológico. Em condições extremas, se essa camada for destruída pelo homem, afectará toda a forma de vida no planeta.

Outros problemas alheios à nossa pátria, ou a outra qualquer em condições similares, ameaçam-nos. Uma contra-revolução vitoriosa seria horrível, pior do que a tragédia sofrida pela Indonésia. Sukarno, derrotado em 1967, foi um líder nacionalista que desde posições leais à Indonésia dirigiu as guerrilhas que lutaram contra os japoneses.

O General Suharto, que o derrotou, foi treinado pelos ocupantes japoneses. Finalizada a Segunda Guerra Mundial, a Holanda, aliada dos Estados Unidos, restabeleceu o seu domínio sobre aquele longínquo, extenso e populoso território. Suharto manobrou. Fez suas as bandeiras do imperialismo ianque. Levou a cabo um cruel genocídio. Hoje sabe-se que cumprindo instruções da CIA, não só matou centenas de milhares, mas também prendeu um milhão de comunistas e privou-os junto dos seus descendentes, de toda propriedade e direitos; acumulou uma fortuna familiar de 40 mil milhões de dólares que segundo o valor actual dessa moeda seria equivalente a centenas de milhares de milhões pela entrega dos recursos naturais e do suor dos indonésios. O ocidente pagou. O texano Lyndon Johnson, sucessor de Kennedy, era o presidente dos Estados Unidos.

As notícias que chegaram hoje a respeito do acontecido no Paquistão são mais outro exemplo dos perigos que ameaçam a espécie: o conflito interno, num país que possui armas nucleares. Isso é consequência das políticas aventureiras e das guerras provocadas pelos Estados Unidos para se apoderar dos recursos naturais do mundo. Esse país, envolvido num conflito que não provocou, foi ameaçado com o ser levado à idade de pedra.

As circunstâncias especiais que rodeiam o Paquistão influíram logo nos preços do petróleo e nas acções das bolsas de valores. Nenhum país ou região do mundo pode libertar-se das consequências. Temos que estar preparados para tudo.

Nem um só dia da minha vida deixei de aprender alguma coisa.

Martí ensinou-nos que “toda a glória do mundo cabe em num grão de milho”. Tenho dito e repetido muita vezes aquela verdadeira cátedra de ética contida em apenas 11 palavras.

Os Cinco Heróis cubanos prisioneiros do império são paradigmas que as novas gerações devem imitar.

Felizmente as condutas exemplares sempre se multiplicam na consciência dos povos, enquanto exista a nossa espécie.

Estou certo de que muitos jovens cubanos, na sua luta contra o Gigante das Sete Léguas, fariam o mesmo. Tudo pode ser comprado com dinheiro menos a alma de um povo que jamais se colocou de joelhos.

Li o discurso breve e concreto de Raúl, o qual me enviou com antecedência. É preciso continuar a marcha sem nos deter um minuto. Alçarei a minha mão junto à de vocês para o apoiar.


Fidel Castro Ruz
27 de Dezembro de 2007

26/12/2007

ALI BABÁ

Tem sido entre o gozo e a indiferença que a opinião pública vai ouvindo falar do escândalo do BCP. Para que as reacções não sejam mais adequadas à realidade, muito tem contribuído a actuação de Jo Berardo, que se veste e fala como se de um português comum se tratasse, um de nós, sem tirar nem pôr, uma espécie de Zé Povinho com sorte. O capitalista bonzinho a atirar para o popularuncho. Aquele que faz os broncos pensar que, se tivessem trabalhado muito, também teriam lá chegado.

Contudo, o que se passa no maior banco privado português, é a prova exemplar daquilo que aqui temos dito muitas vezes a propósito do poder económico (e de como ele se sobrepõe ao poder político) e de como a justiça e as várias instituições, encarregadas de zelar pela salvaguarda das leis e do seu cumprimento, usam os chamados dois pesos e duas medidas.

Parece ser um facto indesmentível que foram praticados no BCP, pelo menos desde 1999, actos que apontam para graves crimes de natureza económica.

A primeira pergunta que me ocorre, é como foi possível, durante oito longos anos, ninguém ter dado por nada, especialmente o Banco de Portugal e a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM)?

A segunda, é porque razão, levantada a lebre, a Polícia Judiciária não avançou para buscas nas residências dos senhores administradores e demais elementos dos corpos sociais do BCP, desde 1999, levando atrás as televisões e demais comunicação social, para que víssemos, em directo, o arrombamento das portas e a detenção dos suspeitos?

A terceira questão decorre das anteriores. Será que esses procedimentos não são adequados aos crimes de colarinho branco, mas apenas aos rufiões da Ribeira do Porto ou aos mafiosos de terceira do Apito Dourado?

Pelo que se viu, para suspeitos deste quilate, basta o senhor governador do Banco de Portugal, o socialista Vítor Constâncio, convocar os principais accionistas do BCP para o seu luxuoso gabinete e declarar-lhes que acha conveniente que os administradores e responsáveis pelos órgãos de fiscalização do banco, desde 1999, fiquem inibidos de exercer cargos em instituições financeiras (inclusive o banqueiro da Opus Dei fugido para a Espanha após o 25 de Abril e ali repescado por Mário Soares).

Mas o Banco de Portugal fica muito mal neste retrato, depois de tantos anos de passiva conivência. A sua intervenção chega tarde e é praticamente virtual. Fica claro que só actuou quando já não podia mais fechar os olhos, dada a dimensão dos escândalos. Recordo que, há vários meses, a administração norte-americana abrira um processo contra a agência do BCP em Nova York, facto que o BP preferiu ignorar.

O que sabemos, é que as trafulhices reveladas, tanto no “offshore” como no “onshore” lusitano, constituem apenas uma ponta do iceberg. E que elas, certamente, não são uma exclusividade do BCP…

Certo, sob o ponto de vista do interesse nacional, estava o governo que, em 1975, decidiu nacionalizar toda a banca portuguesa. A devolução, pela mão do PS, do sistema financeiro aos banqueiros, conduziu ao que agora se assiste. E o que vemos – os que querem ver – é que a banca privada não serve o país; serve-se dele para exauri-lo.

(Faço aqui um parênteses, para defender este ponto de vista com notícias recentes. Dizem elas que «por cada hora do mês de Outubro, o endividamento das famílias portuguesas, perante a Banca, aumentou mais de 1,5 milhões de euros. Ao fim de cada dia a soma atingia 38 milhões de euros. No final do mês as dívidas dos particulares ao banco aumentaram mais 1,18 mil milhões de euros, o que significa que o crédito bancário junto dos cidadãos já ultrapassa os 125 mil milhões de euros. Estes números são assustadores e revelam que há uma ‘bomba-relógio’ que pode explodir no dia em que parte significativa das famílias já não conseguir honrar os compromissos bancários. Os números do crédito malparado também acompanham a subida do crédito e já vai em 2,238 mil milhões de euros».

Assim, enquanto as políticas económicas levam os portugueses a endividarem-se para fazer face às suas necessidades mais elementares, iludindo, deste modo, a recessão instalada, os bancos aproveitam e enchem os cofres. Entre o fracasso da sua governação, os interesses dos bancos e a saúde financeira das famílias, já se viu que Sócrates e Teixeira dos Santos consideram que esta fuga para a frente é a única solução. Fim de parênteses).

Voltemos ao pântano do BCP, onde, para além dos intocáveis banqueiros, há dois figurões que agem e falam como se nada fosse com eles. Um, como já se viu, é Vítor Constâncio, que está no BP desde 2002. O outro, é o actual ministro das Finanças, que presidiu à CMVM entre 2000 e 2005.

Assim sendo, parece que só restaria aos dois senhores alegarem razões de ordem pessoal e, rapidamente, desaparecerem de cena. É que, das duas, uma: ou foram altamente incompetentes nas suas funções; ou foram altamente coniventes com esta trapalhada toda.

Para além disto, um outro escândalo se perfila no horizonte. Desde sempre cúmplice dos grandes interesses financeiros deste país – o que não é o mesmo que defender-se o sistema financeiro essencial ao desenvolvimento económico e social do país, confusão que alguns, como Sócrates, gostam de fazer – o PS tem retirado gordos dividendos dessa opção. Como é sabido, tem vários boys e girls espalhados por tudo o que é empresa, fundação, organismo, instituto ou instituição de carácter público.

Como alguns dos accionistas do BCP são empresas onde o Estado tem posição dominante, caso da CGD, presidida pelo socialista Santos Ferreira, e porque todos preferem que as ondas sejam poucas e baixas – ou nenhumas – nada melhor que resolver-se o imbróglio de modo a satisfazer o poder político (entenda-se: a clientela socialista), que, por sua vez, tudo fará para que ninguém se afogue ou saia muito sujo do lamaçal.

Deste modo, Santos Ferreira saltaria da CGD para o BCP, e todos ficariam contentes. Acontece, porém, que o PS perdeu o pouco que lhe restava de bom-senso. A sua fúria de abocanhar depressa o que há para abocanhar, nem lhe permite parar para pensar. Assim, para além de Santos Ferreira, quer também outro boy no poleiro do BCP. Nada mais, nada menos do que Armando Vara.

Olha quem!

Armando Vara, se este país não fosse o escarro que é, mas algo minimamente evoluído e regido por valores básicos de ética e decência, seria hoje (se não estivesse de quarentena no sítio indicado, pelas suas proezas como governante, especialmente aquela da famigerada Fundação para Prevenção e Segurança – FPS – que o povo logo baptizou de Fundos para o PS, e que levou Jorge Sampaio a impor a sua demissão) dizia eu que Vara seria hoje o que era quando se meteu na vida partidária: um simples funcionário da CGD, já que ali nunca passou de um mero caixa num escondido balcão de Trás-os-Montes.

Mas não. Porque a política em Portugal é assim mesmo – e quando interpretada pelo PS ainda é pior – o pardacento e anónimo ex-caixa da CGD, encontrou no PS a lanterna mágica de Aladino. De facto, depois de ministro, demitido por indecente e má figura, foi promovido de caixa a director da CGD e, num abrir e fechar de olhos, de director a administrador.

Não nos iludamos. Ali Bábá não é uma lenda.

Nem os quarenta (só?) ladrões.


Crónica de: João Carlos Pereira
Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 26/12/2007.
(Não deixe de ouvir em 98.7 Mhz e participar pelos telefones 212277046 ou 212277047 todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00).

23/12/2007

BOAS FESTAS

Embora arredado de forma activa há já algum tempo destas “Crónicas”, não deixo de acompanhar os excelentes artigos do João Carlos Pereira e do Comandante Fidel Castro, em que, cada um com o seu estilo e dimensão, dizem as verdades do mundo em que vivemos.

Nesta época, é costume desejarmos Boas Festas e um ano vindouro melhor do que o presente, na esperança de que todos possam ter um pouco mais de saúde, dinheiro e felicidade.

Desejar, desejamos, mas lá que vai ser muito difícil alcançar esses objectivos, ninguém deverá ter dúvidas.

Corre na Internet um mail de autor desconhecido, que não resisto a transcrever, e que diz o seguinte:


“Um dia, o Senhor chamou Noé que morava em Portugal e disse-lhe:

- Dentro de 6 meses, farei chover ininterruptamente durante 40 dias e 40 noites, até que todo o Portugal esteja coberto pelas águas. Os maus serão destruídos, mas quero salvar os justos e um casal de cada espécie animal. Vai e constrói uma arca de madeira.

Chegada a altura, os trovões deram o aviso e os relâmpagos cruzaram o céu. Noé chorava, ajoelhado no quintal da sua casa, quando ouviu a voz do Senhor soar furiosa, entre as nuvens:

- Noé, onde está a arca?

- Perdoe-me, Senhor, suplicou o homem! Fiz o que pude, mas encontrei dificuldades imensas:

- Primeiro tentei obter uma licença da Câmara Municipal, mas, além das taxas elevadas para obter o alvará, pediram-me uma contribuição para a campanha do Partido, para a reeleição do presidente.

- Precisando de dinheiro, fui aos bancos mas não consegui empréstimo, mesmo aceitando aquelas taxas de juros...

- Os Bombeiros exigiram um sistema de prevenção de incêndio, mas consegui contornar a situação, subornando um funcionário.

- Começaram então os problemas com o Instituto Florestal para a extracção da madeira. Eu disse que eram ordens Suas, mas eles só queriam saber se eu tinha o “Projecto de Reflorestamento” e um tal “Plano Sectorial”.

- Neste meio tempo, a Protecção dos Animais descobriu alguns casais de animais guardados no meu quintal. Disseram-me que eram espécies protegidas! Além de pesada multa, fui colocado em prisão preventiva pela posse dos animais. Valeu-me a pulseira electrónica!

- Quando comecei a obra, apareceu a Inspecção do Trabalho. Multou-me porque eu não tinha um engenheiro naval responsável pela construção.

- Fui à Universidade Independente e comprei um diploma de engenheiro. Fecharam a Universidade e tive de pôr o diploma no papelão!

- Veio o Sindicato e exigiu contrato de funcionário público para os carpinteiros.

- Em seguida vieram as Finanças! Disseram-me que a arca era
um “sinal exterior de riqueza“ e agravaram-me o IRS. Não tive dinheiro para pagar e colocaram-me a arca sob penhora.

- Finalmente, quando a Secretaria de Estado do Ambiente pediu o “Relatório de Impacto Ambiental“ sobre a zona a ser inundada, juntei-lhe o mapa de Portugal. Enviaram-no para o INAG que só vai apreciar o assunto depois de resolver o problema da Costa da Caparica!

Noé terminou o relato a chorar.

- Senhor! Que hei-de eu fazer mais?

Notou então que o céu clareava e perguntou:

- Senhor, sempre vais destruir Portugal?

- Não! Respondeu a Voz entre as nuvens.

- Já vi que cheguei tarde! O Sócrates chegou primeiro!”


É este o tal Sócrates que se vangloria do seu sucesso na Presidência Portuguesa da Comunidade, culminando com a aprovação de um Tratado fértil em desigualdades.

Portugal já está destruído. Tenhamos esperança que os outros pequenos Países desta Europa alargada, não tenham nenhum Sócrates por perto.

BOAS FESTAS PARA TODOS.


Celino Cunha Vieira

19/12/2007

UM NEGRO E FATÍDICO “S”

- de Sócrates, de «socialista», de sinistro

Com o Natal à porta, as «boas» notícias não param de chegar.

Uma delas, é que o aumento médio das pensões da Segurança Social, em 2008, será apenas de 9,99€ por mês, o que corresponde a um aumento diário de 33 cêntimos.

Mas existem centenas de milhares de pensionistas que terão aumentos ainda menores. Assim, para os 278.300 pensionistas que recebem a chamada «Pensão Social» e a pensão do «Regime Especial das Actividades Agrícolas», o aumento varia entre 4,86€ e 5,83€ por mês, o que dá, por dia, entre 16 cêntimos e 19 cêntimos. Os 571.767 pensionistas com pensões médias de 239,9€ por mês, terão um aumento médio mensal de apenas 6,31€, o que corresponde a um aumento de 21 cêntimos diários. Não ouvi Sócrates, nem o ministro da Segurança Social, nem o ministro das Finanças apregoaram o feito, mas atribuo isso à sua reconhecida modéstia.

Outra boa notícia veio pela mão do maquiavélico e subversivo Eurostat, o instituto de Estatística da União Europeia, que decidiu esclarecer que o poder de compra, em Portugal, caiu de 76% da média europeia para 75%.

Esta notícia confirma aquilo que os nossos bolsos e estômagos estão fartinhos de saber: no que respeita ao poder de compra dos portugueses – da maioria dos portugueses, claro, e não dos distintos senhores banqueiros, grandes empresários e afins, cabendo nestes a não menos distinta classe política – estamos atrás de países como Espanha, Grécia, Chipre e Eslovénia e a par com República Checa e Malta. Já ninguém duvida que, muito em breve, os poucos países que estão pior do que nós, saltarão para a nossa frente, como outros já fizeram. Eles convergem; nós divergimos.

Também não ouvi o palavroso Sócrates, nem o seu ministro das Finanças, comentarem esta magnífica realidade.

Maravilhado fiquei, aqui há dias, quando soube que o país está há mais de um mês sem a vacina contra a tuberculose (BCG). Dizia a notícia, certamente maldosa e imprecisa e tendenciosa, que «depois de percorrerem hospitais, maternidades e centros de saúde sem obter respostas positivas, tanto no sector público quanto no privado, pais portugueses estão a optar por ir a Espanha vacinar os filhos recém-nascidos, pois o stock está esgotado em Portugal. Isto apesar de o Infarmed ter garantido ontem que as unidades de saúde já tinham sido reabastecidas. Por seu lado, a Direcção-Geral de Saúde desvalorizou a importância da ruptura de stock». Compreende-se: a Direcção-Geral de Saúde não tem filhos ou netos recém-nascidos. E se algum ministro ou secretário de Estado os tiverem, tal como qualquer senhor de altas posses, até alugam um avião para resolver o problema no estrangeiro.

Também neste caso, o senhor «engenheiro» nada disse, e o seu ministro da Saúde, se algo balbuciou, fiquei sem perceber o que foi.

Estando em maré de boas notícias, próprias da quadra que vivemos, aí vai outra. Perto de 50 funcionárias de uma fábrica têxtil de Mangualde souberam, por um comunicado emitido pela gerência, que estavam sem emprego. O comunicado da gerência da Anjal – assim se chama a firma – de Mangualde, informava que a empresa iria cessar de imediato a sua actividade para se apresentar à insolvência, acrescentando que não pagaria os vencimentos de Novembro, nem os de Dezembro e Janeiro de 2008.

Diz esta maravilhosa notícia que, desde Agosto que os ordenados eram pagos cada vez mais tarde. «Não havia trabalho e chegavam a mandar-nos dias para casa», adiantou uma trabalhadora. As encomendas eram cada vez menos e havia alturas em que nem tínhamos agulhas e linhas. Quando chegava uma encomenda, tínhamos de ir trabalhar até as tantas».

Perante mais esta prenda de Natal para 50 trabalhadores, que enfrentam uma situação muito complicada numa zona onde o desemprego tem vindo a aumentar e as alternativas são nulas, o Governo, talvez entretido a criar os tais 150 mil novos postos de trabalho, achou por bem nada dizer. O que se compreende, já que o fecho de uma fábrica e mais 50 desempregados são coisas a que, de tão rotineiras, já ninguém liga. Por isso, Sócrates, o ministro do Trabalho e o ministro da Economia mantiveram o bico calado. Tenham eles para a consoada, e a malta de Mangualde que se desenrasque.

Continuando nesta onda de felizes novidades, quais prendas que o governo «socialista» do «engenheiro» Sócrates (saliento, para quem só ouve estas crónicas na Rádio Baía, que tanto socialista, como engenheiro, estão entre aspas) decidiu, então, o governo pôr no sapatinho do povo português um outro embrulho. E bem pesado.

Que maravilha! Sem o desembrulhar, já todos sabemos que não vai haver referendo ao Tratado de Lisboa que, como disse – e bem – Marcelo Rebelo de Sousa, é uma Constituição Europeia disfarçada de Tratado.

Todos os grandes patrões, a começar por Belmiro de Azevedo, bateram palmas e entoam agora, em afinado coro, loas às intenções de Sócrates e do PS. Porque será – pergunto eu, que, como admiti a semana passada, sou estúpido que nem um pneu – que o grande patronato quer o Tratado aprovado sem chatices? O que terá ele de tão bom para os grandes capitalistas? O que se estará a querer esconder, a todo o custo, do conhecimento dos portugueses? Porque prometeram Sócrates e o PS um referendo à questão, e agora estão a virar o bico ao prego?

Se eu não fosse estúpido, responderia a estas perguntas – ou nem sequer as faria. Assim, socorro-me de coisas que por aí vou lendo, como esta, escrita por um jornalista e advogado já aqui citado há oito dias, João Marques dos Santos.

Disse ele:

«A presidência da UE deu-lhe (a Sócrates) a visibilidade por que tanto ansiava e parece ser a maior ambição de todos os políticos. Com a colaboração do seu amigo Barroso, ajudou a que os recados que lhe foram encomendados fossem levados a bom termo. A que tudo fosse “porreiro”.
É legítimo que Sócrates fique agora à espera do prémio que julga ser-lhe devido. Pelo menos, não evitou os mais arriscados exercícios de contorcionismo. Foi, sem dúvida, um mandatário aplicado e zeloso. Tão zeloso, que conseguiu vender o tratado como se ele não fosse um tratado constitucional. Uma constituição grosseiramente travestida. A mais estúpida das teses. E, para que ninguém tenha dúvidas sobre a sua fidelidade, até se dispõe a engolir em seco uma das suas mais emblemáticas promessas eleitorais. A de referendar o texto do Tratado. Ultrapassando, com a ousadia dos corriqueiros incumpridores de promessas, a linha divisória daquilo a que Adriano Moreira chamou um dia “a mentira razoável”.
Infelizmente, a verdade é que Sócrates parece muito mais preocupado com o que possam pensar dele Merkel, Sarkozy, Brown e todos os pajens desta corte de interesses contraditórios que é esta Europa. Os seus favores durante seis meses não foram para nós. As suas preocupações não foram as nossas. As suas ansiedades nada tiveram a ver com as nossas desgraças. Há uma ironia amarga no facto de o Tratado ter sido assinado em Lisboa. Com pompa e circunstância. Afinal, somos um dos parceiros menores que com ele veremos amputada mais uma parcela da nossa já reduzida soberania. Com princípio da subsidiariedade ou sem ele. É claro que a nossa soberania foi sempre muito mais ficcional do que real. A cultura política dos nossos dirigentes sempre foi a da moda importada. A da subserviência. A do medo e da incapacidade de afirmar que temos interesses próprios. Mas dava para disfarçar. Só que, a partir de agora, as limitações à nossa soberania já não poderão ser disfarçadas. A festa acabou. Para sempre. Já ninguém duvida de que Sócrates fará tudo quanto os parceiros europeus lhe sugerirem para impedir que os Portugueses sejam ouvidos. Reduzindo-nos ao grau zero da cidadania.
Ontem foi a festa. Preparemo-nos para o velório».

Também o insuspeito Marcelo Rebelo de Sousa afirmou, neste domingo, que Sócrates deveria referendar o Tratado, e que se arrependerão todos aqueles que, agora e anteriormente, impediram os portugueses de se pronunciarem sobre a adesão de Portugal à UE.

Mas vem aí o Natal. Um Natal de fome e carências de vária ordem para milhões de portugueses. Com Sócrates, todos os dias, cada um de nós, perde qualquer coisa. Todos empobrecemos.

E, em cada dia que passa, mais são os candidatos a essa vergonha que, de tão banal e glorificada nos noticiários, é, aos meus olhos, verdadeiramente monstruosa: a caridadezinha como instituição nacional, onde uns portugueses recebem as sobras de outros portugueses, como se não ter o suficiente para não precisar de esmolas, seja ela de roupa usada, do brinquedo que já não se quer, ou do pacote de arroz ou massa, fosse a coisa mais natural do mundo. Como se não fosse obrigação primeira dos governantes garantir a cada governado o direito a viver com autonomia e dignidade.

Natal? Qual Natal?

Não pode haver Natal quando Sócrates e o seu «socialismo» pintam de tons sinistros o presente e o futuro dos portugueses.


Crónica de: João Carlos Pereira
Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 19/12/2007.
(Não deixe de ouvir em 98.7 Mhz e participar pelos telefones 212277046 ou 212277047 todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00).

12/12/2007

SOMOS TODOS UMA DATA DE ESTÚPIDOS

A crónica de hoje é dirigida apenas aos ouvintes estúpidos, aos analfabetos, aos pobres de espírito, aos ignorantes, aos atrasados mentais, enfim, à escumalha sem qualquer espécie de qualificação e estatuto social. Para que ninguém se ofenda, quero esclarecer que me incluo neste vasto grupo, isto é, sou um português comum, incapaz, portanto, de pensar pela sua cabeça, tomar uma decisão e – muito menos – criticar um senhor doutor, um ministro, um presidente, um agente da autoridade, um comentador político, treinador de futebol, padre, bispo ou papa. Mais afirmo que, de hoje em diante, esforçar-me-ei por aceitar sem a mínima contestação, crítica ou insidiosa desconfiança, qualquer medida governamental, pois, como pessoa reles e tacanha que sou, jamais estarei à altura de a tanto me atrever.

Longe de mim, assim – e de nós, a escória da sociedade – a veleidade de discutir, comentar ou pôr em causa a bondade das decisões que as altas esferas da política e da finança vão tomando, pois elas, além de serem as mais aconselháveis para o povo, para a nação, para a civilização ocidental e, por consequência, para o mundo, são de tal modo complexas e elaboradas, que os cérebros atrofiados e desprovidos de neurónios suficientes e capazes, como são os nossos, jamais conseguirão entender.

Isto, meus amigos de infortúnio, meus companheiros da classe da ralé, foi-nos misericordiosamente informado, como se recordam, por um ouvinte das classes superiores, um senhor doutor, dito jurista, justamente irritado com a nossa aleivosa impertinência de aqui pretendermos discutir a sábia governação dos nossos lídimos dirigentes políticos e da não menos impoluta e distinta alta classe empresarial, altos crânios a quem tudo devemos e a quem, tantas vezes, por ignorância, ofendemos e injuriamos.

Posto isto, já não posso dizer o que pretendia, precisamente que foi uma atrapalhada e nervosa criatura que aqui, há oito dias, veio tentar enganar a gentalha que somos, começando por dizer que o Eurostat não era um organismo que elaborasse estatísticas. Se eu pudesse responder-lhe, diria que no Portal de UE está escrito o seguinte, pelo próprio Eurostat: «A nossa missão é prestar à UE um serviço de informação estatística de qualidade».

Também era minha intenção dizer (mas já não digo, porque me faltam as capacidades intelectuais e o estatuto social para tanto) que seria da mais elementar transparência democrática submeter a Constituição Europeia (disfarçada de Tratado Europeu – e de Lisboa chamado) a referendo, pois sendo algo de tão bom para Portugal e para a Europa – ou tão porreiro, para utilizar a expressão do inefável e aflautado «engenheiro» Sócrates – certamente que todos diríamos um enorme e glorificador SIM a tal maravilha, conferindo ao novo tratado uma digna e eterna legitimidade. Mas isto são ideias de gente estúpida e desqualificada, que não consegue entender que os nossos queridos líderes é que sabem como é…

Era também para falar na famosa cimeira UE-África, que inchou Sócrates e esganiçou ainda mais Durão. Diria, se a elite de inteligentes nacionais me deixasse, que fiquei a saber que em África há ditadores bons e ditadores maus. Os maus, são os que não obedecem às ordens dos dirigentes ocidentais. Os bons, são os outros todos. A olho nu, é difícil distingui-los, pois têm todos excelente aspecto e usam roupas caríssimas, seja segundo os padrões ocidentais, seja segundo os padrões regionais.

Percebi – se é que consigo perceber alguma coisa – que os direitos humanos só são violados em Africa, mas nunca na Europa, pois não há por cá gente com fome, sem trabalho, sem tecto, sem acesso ao Ensino e à Saúde. Por cá não há crianças famintas e exploradas. Nem velhos ao abandono. Por cá não se morre sem assistência médica, ou por ela ser deficiente. Não há medicamentos por aviar por falta de dinheiro. Pois não…

Dizem-nos que, por cá, os governos são todos eleitos pelo povo. E são. Mas – e é para aí que aponta a Constituição Europeia (perdão: o Tratado Europeu liofilizado) cozinhada em Lisboa – os governos são, cada vez mais meras mulheres-a-dias dos grandes empresários, que não são eleitos por ninguém, e que, beneficiando das decisões políticas tomadas nesse sentido, se apoderam de todos os recursos dos países, tomando assim conta efectiva da vida das pessoas. Na verdade, são os donos do dinheiro que determinam a nossa vida, sendo, na realidade, também os nossos donos.

Mas voltando à cimeira: entre dois banquetes pagos pela presidência portuguesa (ou não seria mais bonito dizer que foram pagos por todos nós?) proferiram-se belas palavras. Resultado? Tudo na mesma. Ou melhor: arrumaram-se novos entendimentos – e, certamente, novas taxas – para que os responsáveis africanos continuem a conceder aos interesses europeus o acesso às suas matérias-primas. Um neocolonialismo revestido de celofane e enfeitado com laçarotes de euros. Muitos euros.

Fome? Esqueletos vivos? Crianças de ventre inchado a quem as moscas vão comendo, enquanto os abutres esperam? Sida? Malária? Tuberculose? Isso, meus amigos (amigos, como eu estúpidos e mentecaptos) isso foi só o cenário para iludir as nossas mentes obtusas. O que caracterizou a cimeira de Lisboa foi o aparato, o espectáculo e a confissão da indisfarçável convicção dos europeus, civilizados e cristãos, de que devem continuar a dizer aos gentios como é que as coisas são. Com uma ligeira novidade em relação há 500 anos atrás: agora, já não se trata de pilhar a ferro e fogo, nem de embarcar ninguém em navios negreiros. Agora, civilizadamente, encontram-se meios de todos eles (os das cúpulas, entenda-se) enriquecerem entre salamaleques amigáveis ou falsas divergências.

Isto é o que eu diria, se não fosse tão lerdozinho de condição… Assim, calo-me para que o nosso ouvinte inteligente não se irrite nem se descomponha E nos descomponha. Mas como, apesar de bronco, ainda consegui aprender a ler, queiram ouvir um precioso trecho de um artigo que o jornalista e advogado João M. Santos escreveu há dias a propósito da cimeira.

«A presidência portuguesa, que felizmente está no fim, cumpre um ciclo de faxineiro desejoso de mostrar serviço. Ficará contente se nada der para o torto e não tem mais aspirações. Os restantes líderes europeus vêm para marcar o ponto. Sabem que os grandes interesses económicos se não discutem em cimeiras mas em recatados gabinetes devidamente insonorizados.

Os europeus querem apenas salvaguardar o que resta dos seus interesses económicos em África. Antes que os chineses comam tudo. Numa espécie de neocolonilismo doce, para que se reclama o assentimento dos líderes africanos. Porque haverá brindes para todos. Quem quiser falar dos dramas de África, que fale. Mas em voz baixa e nos corredores. Como conspiradores envergonhados.

Direitos humanos? Qual o quê? Se até na Europa esses direitos começam a ficar em risco, o que podem estes líderes europeus ensinar, prometer ou garantir às populações africanas? Ou exigir aos seus líderes? Nada. Esta cimeira vai saldar-se pela maior mentira da presidência portuguesa. Bem vindos senhor Mugabe e seus iguais. O império de Sua Majestade já fez a sua rábula e tudo irá correr pelo melhor. E muito obrigado por ter servido de manobra de diversão. Os povos africanos continuarão a morrer em genocídios, à fome e por falta de assistência médica. A Somália existe? A Etiópia não é uma invenção de visionários românticos? Darfur? Onde é que fica isso?».

Se a minha – e a vossa – capacidade mental desse para tanto, ainda gostava de falar do desemprego (a riquíssima PT quer despedir, em 2008, mais umas centenas largas de trabalhadores), do fecho das urgências, que a Ordem dos Médicos considera «criminosa», e que substituir, como se prevê, «o trabalho médico por trabalho de enfermagem, é criminoso e vai colocar em risco muitas vidas». Acrescenta não ter dúvidas de que se «irão perder vidas» se a «assistência de doentes graves for feita por pessoas que não são médicos». Mas, porque não somos pessoas capazes de perceber porque é que estas coisas acontecem, o melhor é não dizer nada.

Para fechar, só vos digo que mais uns estúpidos que por aí andam, ligados a uma coisa chamada GfK Metris, elaboraram um estudo, chamado Roper, onde se demonstra que os portugueses vivem desalentados em relação ao modo como a economia tem avançado, sendo os mais pessimistas no que respeita à situação económica do país. Em tempo de crise, o povo mostra que anda desencantado, porque ganha pouco ou simplesmente porque está desempregado, ou em risco disso. As principais preocupações dos portugueses estão relacionadas com a recessão económica e o desemprego, com o crime e ausência de Lei e ainda com a inflação e os preços elevados que se praticam a nível nacional.

Segundo um responsável da GfK, Luís Valente Rosa, «este desencanto que se vive em Portugal está relacionado com o descrédito que há nas instituições políticas». O mesmo responsável frisa que a confiança no Governo, na AR e nos partidos é «ainda reduzida».

«Há um desalento em relação ao modo como o país tem avançado, nos últimos anos. Os portugueses estão desiludidos e consideram que já não vale a pena confiar ou investir», acrescenta Luís Rosa.

É o que diz o outro: «Somos todos uma data de estúpidos…»


Crónica de: João Carlos Pereira
Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 12/12/2007.
(Não deixe de ouvir em 98.7 Mhz e participar pelos telefones 212277046 ou 212277047 todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00).

05/12/2007

NÃO HÁ PRESÉPIO QUE AGUENTE

Anda aí, pela net, uma paródia política sobre o presépio, de que não resisto a deixar aqui um registo. Diz ela – a paródia – que este ano não vai haver presépio. E explica porquê:

- Os Reis Magos lançaram uma OPA sobre a manjedoura, que foi retirada do estábulo, até decisão governamental;

- O ribeiro que fazia girar a azenha foi privatizado e imediatamente levado pelos novos proprietários;

- Os camelos estão todos no governo, ou ao seu serviço;

- Os cordeirinhos, de tão magros e tão feios, não podem ser exibidos;

- A vaca está louca e não se segura nas patas;

- As vacas substitutas encontram-se perdidas no meio dos camelos;

- O burro está na Escola Básica a dar aulas de substituição;

- Nossa Senhora e S. José foram chamados à Escola Básica para avaliar o burro;

- A estrelinha de Belém perdeu o brilho, porque o Menino Jesus, por lhe terem oferecido uma “playstation”, não tem tempo para olhar para ela;

- Os pastorinhos mais novos foram levados para um edifício enorme, ali no Largo do Rato, a fim de substituírem os meninos da Casa Pia, que começaram a dar com a língua nos dentes;

- O Menino Jesus, entretanto, foi enviado para o Politeama, para actividades de enriquecimento curricular, mas o tribunal de Coimbra ordenou a sua entrega imediata ao pai biológico;

- A ASAE fechou temporariamente o estábulo pela falta da manjedoura e, sobretudo, até serem corrigidas as péssimas condições higiénicas do estábulo, de acordo com as normas da UE.

- Agora, a ASAE, entusiasmada com o sucesso da operação, já pensa em fechar o próprio país, que será posto em hasta pública, a fim de ser totalmente privatizado.

***

Com presépio, ou sem ele, meus amigos, eu gostava de ter boas notícias para vos dar, mas, mais uma vez, prefiro a «nudez crua da verdade» ao «manto diáfano da fantasia». Por isso, preparem os sapatinhos para as seguintes prendas:

- O preço dos transportes vai subir acima da inflação prevista;

- Os preços do leite, pão, carne, combustíveis e de todos os géneros de primeira necessidade não lhes vão ficar atrás;

- O crédito vai ser mais caro e mais difícil, especialmente para quem tem empréstimos à habitação;

- O consumo vai diminuir e, com ele, um longo cortejo de falências;

- As exportações também vão diminuir;

- O investimento vai abrandar, especialmente devido às condições de financiamento;

- O desemprego, em consequência, vai continuar a subir;

- Por tudo isto, o crescimento económico vai ser uma desgraça em 2008, afastando-nos ainda mais da EU.

***

No meio desta tragédia – e para amenizar – o governo veio contar-nos uma anedota. Disse ele que estava muito satisfeito por os números do desemprego, afinal, não serem aqueles que o Eurostat tinha divulgado. Não, meus queridos amigos. A taxa de desemprego não é de 8,5%. É só de, apenas… 8,2%. Menos umas miseráveis 3 décimas, mas o suficiente para não sermos os campeões europeus da modalidade, que fica a caber à Grécia. Até ver…

O país respirou aliviado. E os desempregados sentiram que, assim sendo, o seu Natal vai ser bem melhorzinho. Quanto ao facto de existirem mais de 64 mil jovens licenciados que não encontram ocupação para as suas habilitações, aí o primeiro-ministro não se pronunciou, nem quanto ao facto de não existirem razões para satisfação quando foi o próprio Governo que prometeu a criação de 150 mil novos empregos e tem mais de 440 mil desempregados registados, fora os não registados e os que não contam para as estatísticas, porque trabalharam 15 dias nos últimos três meses.

Mas o governo pensa que pode rejubilar porque um organismo comunitário errou, e em vez de nos colocar como campeões do desemprego da Zona Euro, nos colocou atrás da Grécia, que tem uma taxa de 8,4%. O que dirá o «engenheiro» quando, como se prevê, formos, de facto, os desonrosos campeões, pois, apesar da correcção anunciada, verdade é que o desemprego continua a aumentar em Portugal?

A provar isto, a fábrica de confecções Dergui, em Paul, Covilhã, encerrou e deixou no desemprego e sem subsídios de Natal (o do ano passado e o deste ano) 53 trabalhadoras. A unidade têxtil chegou a laborar com mais de 250 trabalhadores, mas foi despedindo pessoal através de sucessivas reestruturações.

Em Setúbal, mais de 80 trabalhadores da empresa setubalense Unidos Panificadores, que receberam uma carta para ficar em casa durante dois meses, estão sob ameaça de desemprego, caso se concretize a falência da empresa proposta pelos accionistas.

Para desanuviar, dou agora um saltinho à Venezuela, onde Hugo Chávez não viu aprovada pelos eleitores a sua proposta de alteração constitucional. Apesar de lhe chamarem ditador – ou, no mínimo, de ter tendências ditatoriais – a verdade é que submeteu ao eleitorado, a sua visão do texto constitucional. Perante o foguetório que por cá se deitou, será de esperar – porque somos governados por «democratas» da mais fina cepa – que a Constituição Europeia (disfarçada de tratado constitucional) que nos querem impor à má fila, seja também ela referendada, pois, entre outras desgraças, limita a nossa independência e soberania.

Por isso, em breve veremos quem são os «democratas» e quem são os «ditadores». Entretanto, o serviçal Proença, líder duma coisa chamada UGT, já veio dizer que referendar a Constituição Europeia não lhe parece nada aconselhável.

Não termino sem referir algumas afirmações do doutor Carlos Silva Santos, docente da Escola Nacional de Saúde Pública e candidato a bastonário da Ordem dos Médicos.

Diz ele:

«O SNS está doente. Primeiro sintoma: está cada vez mais difícil a acessibilidade dos portugueses aos serviços de saúde. Segundo: com as medidas tomadas por este e outros governos, está mais desorganizado. Em terceiro, o resultado, em matéria de saúde global, não tem sido o melhor».
(…)
«Não havendo uma estratégia política bem definida, mas só estratégia contabilística de diminuição de gastos, o que se tem são serviços que não são melhorados, nem organizados, não há integração nem uma regra fundamental para melhorar os serviços».
(…)
«Com esta desorganização dos serviços (cada um por si), com modelos diferentes de organização, integrações precipitadas, toda a estrutura está a cair, tal como as carreiras médicas».
(…)
«Se nada for feito para inverter a situação, o SNS tenderá a piorar cada vez mais e a não responder às necessidades da população».

***

O ano de desgraça de 2007 aproxima-se do fim. Como vimos, um ano pior está prestes a abater-se sobre os portugueses.

Este ano, meus amigos, não vai haver presépio, mesmo para quem, por tradição ou pura fé, o armar. Ele simboliza e promete, na sua pureza original, um tempo de paz, de solidariedade e de calor humano.

Mas Portugal, guiado pela desumana e bárbara horda socratiana, transformou-se num sítio gélido, insalubre, injusto e violento.

Não. Não há presépio que aguente.


Crónica de: João Carlos Pereira
Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 05/12/2007.
(Não deixe de ouvir em 98.7 Mhz e participar pelos telefones 212277046 ou 212277047 todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00).

01/12/2007

REFLEXÕES XXIX

UM POVO SOB O FOGO

A Venezuela, cujo povo herdou de Bolívar ideias que transcendem a sua época, encara hoje a tirania mundial mil vezes mais poderosa do que a força colonial da Espanha somada à da República recém-nascida dos Estados Unidos, que através de Monroe proclamou o direito à riqueza natural do continente e ao suor dos seus povos.

Martí denunciou o brutal sistema e qualificou-o de monstro, em cujas entranhas viveu. O seu espírito internacionalista brilhou como nunca quando, em carta inconclusiva pela sua morte em combate, revelou publicamente o objectivo do seu incessante batalhar: “...já estou todos os dias em perigo ao dar a minha vida pelo meu país, e pelo meu dever - visto que o entendo e tenho ânimos com que o realizar - de impedir a tempo com a independência de Cuba que se estendam pelas Antilhas os Estados Unidos e caiam, com mais essa força, sobre as nossas terras da América...”

Não foi em vão que num verso singelo exprimiu: “Com os pobres da terra quero jogar minha sorte”. Mais tarde proclamou com frase lapidária: “Pátria é humanidade”. O Apóstolo da nossa independência escreveu um dia: “Dê-me Venezuela em quê servi-la: em mim ela tem um filho”.

Os meios mais sofisticados desenvolvidos pela tecnologia, utilizados para matar seres humanos e submeter os povos ou exterminá-los; a plantação maciça de reflexos condicionados na mente; o consumismo e todos os recursos disponíveis, hoje são empregados contra os venezuelanos, pretendendo fazer em estilhaços as ideias de Bolívar e Martí.

O império tem criado as condições propícias para a violência e os conflitos internos.

Falei com Chávez muito seriamente na sua última visita do passado 21 de Novembro sobre os riscos de magnicídio aos que se estava expondo constantemente em veículos desprotegidos. Fi-lo a partir da minha experiência como combatente treinado no uso da mira telescópica e do fuzil automático e ao mesmo tempo, depois do triunfo, como alvo de planos de atentados directamente ordenados ou induzidos por quase todas as administrações dos Estados Unidos desde 1959.

O governo irresponsável do império não se detém um minuto a pensar que um magnicídio ou uma guerra civil na Venezuela, pelas suas enormes reservas de hidrocarbonetos, fariam estourar a economia mundial globalizada. Tais circunstâncias não têm precedente na história do homem.

Cuba, na fase mais dura a que nos conduziu o desaparecimento da URSS e o recrudescimento do bloqueio económico dos Estados Unidos, desenvolveu estreitos vínculos com o governo bolivariano da Venezuela. A troca de bens e serviços, de quase zero, elevou-se a mais de 7 mil milhões de dólares anuais, com grandes benefícios económicos e sociais para ambos os povos. Dali recebemos na actualidade o fornecimento fundamental de combustível que consome o país, muito difícil de adquirir noutras fontes devido à escassez de crudes ligeiros, à insuficiente capacidade de refinação, ao poder dos Estados Unidos e às guerras que têm desatado para se apropriar das reservas de petróleo e gás no mundo.

Aos elevados preços da energia acrescentem-se os dos alimentos, determinados pela política imperial de convertê-los em combustível para os vorazes automóveis dos Estados Unidos e doutros países industrializados.

Não bastará a vitória do Sim no dia 2 de Dezembro. As semanas e meses posteriores a essa data podem chegar a ser sumamente duros para muitos povos, entre eles o de Cuba, a não ser que antes as aventuras do império conduzam o planeta a uma guerra atómica, como têm confessado os seus próprios chefes.

Os nossos compatriotas podem ter a certeza de que tive tempo para pensar e meditar muito sobre estes problemas.


Fidel Castro Ruz
29 de Novembro de 2007

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