30/08/2007

REFLEXÕES XXIII

A SUBMISSÃO À POLÍTICA IMPERIAL

Dos Presidentes dos Estados Unidos e dos aspirantes a esse cargo, apenas conheci um que por motivos ético-religiosos não foi cúmplice do brutal terrorismo contra Cuba: James Carter. Isto supõe, logicamente, um outro Presidente que proibiu o emprego de funcionários dos Estados Unidos para assassinar dirigentes cubanos. Trata-se de Gerald Ford, que substituiu Nixon após o escândalo de Watergate. Devido à sua chegada irregular ao cargo poderia ser qualificado como Presidente simbólico.

Ao ilustre presidente Eisenhower, que em nenhum momento actuou contra o terrorismo anticubano, melhor ainda, foi o seu iniciador, devemos agradecer ao menos a sua definição do complexo militar-industrial que hoje, com a sua insaciável e incurável voracidade, constitui o motor que conduz a espécie humana à sua actual crise. Tinham transcorrido mais de três bilhões de anos após o surgimento no planeta Terra das primeiras formas de vida.

Um dia o Che e eu fomos jogar golfe. Ele tinha sido caddie para fazer alguma coisa durante o seu tempo de ócio; no que a mim respeitava, não sabia absolutamente nada desse difícil desporto. O Governo dos Estados Unidos já tinha decretado a suspensão e a partilha da cota açucareira de Cuba, depois de ter sido aprovada pela Revolução a Lei de Reforma Agrária. A partida de golfe foi com a imprensa gráfica. O verdadeiro propósito era de nos enganar com Eisenhower.

Nos Estados Unidos pode ter-se uma minoria de votos e ganhar a Presidência. Isso foi o que aconteceu a Bush. Contar com a maioria de votos de eleitores e perder a Presidência foi o que aconteceu com Gore. Daí deriva-se que o Estado da Flórida é cobiçado por todos devido ao número de votos presidenciais que outorga. No caso de Bush, foi necessário, além disso, a fraude eleitoral, na qual os primeiros emigrantes cubanos de origem batistiana e burguesa eram especialistas.

Disso não está excluído Clinton, nem a pré-candidata do Partido Democrata. Com o seu apoio foi aprovada a Lei Helms-Burton, para o qual encontrou um pretexto: a queda de pequenos aviões civis da organização “Irmãos ao Resgate”, que por mais de uma vez voaram sobre a cidade de Havana e dezenas de vezes violaram o território de Cuba. A ordem de impedir vôos sobre a Capital de Cuba foi transmitida semanas antes à Força Aérea cubana.

Devo contar-lhes que, muito próximo ao episódio, tinha chegado de visita a Cuba o legislador Bill Richardson, em 19 de janeiro de 1996. Trazia como de costume, solicitações de que fossem postos em liberdade vários presos contra-revolucionários. Ao comunicar-lhe que já estávamos aborrecidos com sses pedidos, falei a respeito do que acontecia com os vôos dos “Irmãos ao Resgate”. Também fiz referência às promessas não cumpridas relacionadas com o bloqueio. Richardson regressou poucos dias depois, em 10 de Fevereiro, e lembro com maior ou menor precisão que com entoação sincera me expressou o seguinte: “Isso não se repetirá, o Presidente ordenou a suspensão dos mesmos”.

Nessa altura eu achava que as ordens de um Presidente dos Estados Unidos eram cumpridas. Os pequenos aviões civis foram derrubados em 24 de Fevereiro, uns dias após a resposta. A revista The New Yorker fala e oferece detalhes sobre essa reunião com Richardson.

Parece certo que Clinton deu a ordem de que esses vôos fossem suspensos, mas ninguém se importou com isso. Era um ano eleitoral, e aproveitou esse pretexto para convidar os líderes da Fundação e subscrever, com o apoio de todos, a criminosa Lei.

A partir da crise migratória desatada em 1994, soubemos que Carter desejava actuar em busca de uma solução. Clinton não aceitou, e chamou Salinas de Gortari, Presidente do México. Cuba foi o último país a reconhecer o seu triunfo eleitoral. Contactou com ele na sua tomada de posse como novo Presidente do México.

Salinas comunicou-me pelo telefone a decisão do presidente Clinton de buscar uma solução satisfatória, a quem por sua vez rogou-lhe cooperasse nessa busca. Assim foi como se chegou a um acordo de princípio. Esse acordo com Clinton incluía a ideia de pôr fim ao bloqueio económico. A única testemunha com a qual contávamos era Salinas. Clinton tinha “eliminado” Carter desse processo. Cuba não podia decidir quem seria o mediador. Salinas narra este episódio com fidelidade. Aquele que desejar, pode lê-lo em seus textos.

Clinton foi realmente amável quando por acaso coincidiu comigo numa reunião da ONU abarrotada de chefes de Estado. Foi, aliás, amistoso, também inteligente, ao exigir o cumprimento da Lei a respeito do menino sequestrado ao ser resgatado com forças especiais enviadas desde Washington.

Os pré-candidatos agora estão concentrados na aventura da Flórida: Hillary, a herdeira de Clinton; Obama, o popular candidato afro-norte-americano e vários dos mais 16 que neste momento propuseram a sua candidatura em ambos os partidos, com excepção de Ronald Ernest Paul, congressista republicano, e de Maurice Robert Gravel, ex-senador democrata pela Alaska.

Sei lá o que Carter disse nos seus dias de candidato. Seja qual for sua posição, o certo é que adivinhei que a sua eleição poderia evitar um holocausto ao povo do Panamá, e dessa maneira o expressei a Torrijos. Criou em Cuba a Repartição de Interesses e promoveu um acordo sobre limites jurisdicionais marítimos. As circunstâncias do seu tempo impediram-lhe chegar ainda mais longe e fracassou, segundo a minha opinião, nalgumas aventuras imperiais.

Hoje fala-se de que um compromisso - ao parecer invencível - poderia ser criado com o binômio Hillary presidente e Obama vice-presidente. Ambos sentem o dever sagrado de exigir “um governo democrático em Cuba” não estão a fazer política; estão a jogar às cartas a um domingo à tarde.

Os grandes meios afirmam que isto seria imprescindível, excepto se Gore se aposentasse. Não acho que o faça, ele conhece melhor do que ninguém a catástrofe que espera à humanidade se esta continuar pelo actual caminho. Quando foi candidato, evidentemente cometeu o erro de suspirar por “uma Cuba democrática”.

Chega de contos e nostalgias. Isto é escrito simplesmente para incrementar a consciência do povo cubano.


Fidel Castro Ruz
27 de Agosto de 2007

28/08/2007

REFLEXÕES XXII

CHIBÁS, AO COMPLETAREM-SE 100 ANOS DO SEU NASCIMENTO

Quando li no jornal Granma o artigo do companheiro Hart ao comemorar essa data, menciona-se um parágrafo do discurso que proferi no dia 16 de Janeiro de 1959 no Cemitério de Colombo, aos oito dias de minha chegada a Havana depois da vitória. Trouxe-me muitas lembranças dos heróicos companheiros mortos. Pensava em Juan Manuel Marquez, brilhante orador martiano e Segundo Chefe da força expedicionária do “Granma”; em Abel Santamaría, substituto no comando se eu morresse no ataque ao Quartel Moncada; Pedro Marrero, Ñico López, José Luis Tasende, Gildo Fleitas, os irmãos Gómez, Ciro Redondo, Júlio Díaz e praticamente todos os membros do numeroso contingente de jovens de Artemisa que morreram no Moncada ou na Serra. A lista seria interminável. Todos eles procediam das fileiras ortodoxas.

O primeiro problema a ser resolvido era Batista no poder.

Com Chibás vivo não poderia ter dado o golpe de Estado, porque o fundador do Partido do Povo Cubano (Ortodoxo) o observava de perto e metodicamente o punha no cepo público. Morto Chibás, era seguro que Batista perderia as eleições que deviam realizar-se em 1 de Junho do ano de 1952, dois meses e meio depois do golpe de Estado. As análises de opinião eram bastante precisas e a rejeição a Batista crescia constantemente, dia após dia.

Eu estava na reunião onde foi eleito o novo candidato ortodoxo, mais como atrevido do que como convidado. Ingressaria no Parlamento, onde lutaria por um programa radical. Ninguém teria podido impedi-lo. Haviam boatos nessa altura que diziam que eu era comunista, palavra que despertava muitos reflexos plantados pelas classes dominantes. Falar então de marxismo-leninismo, e inclusive nos primeiros anos da Revolução, teria sido insensato e torpe. Naquele discurso perante o túmulo de Chibás falei de molde a que fossem compreendidas pelas massas as contradições objectivas que a nossa sociedade encarava na altura, e ainda tem que enfrentar.

Comunicava-me todos os dias através duma estação de rádio local situada na capital e com mensagens enviadas directamente a dezenas de milhares de eleitores espontaneamente inscritos no Partido Ortodoxo. Além disso fazia-o para toda a nação através das edições extraordinárias do jornal Alerta, durante várias segundas-feiras quase consecutivas, com as denúncias provadas da corrupção do governo de Prío formuladas entre 28 de Janeiro e 4 de Março de 1952. Pude intuir e aprofundar sobre as intenções golpistas de Batista.

Denunciei isso à direcção e pedi-lhes para utilizar a hora dominical que tinha Chibas, para o fazer. “Pesquisaremos”, foi a resposta deles. Dois dias mais tarde comunicaram: “Temos pesquisado pelas nossas vias e não existe nenhum indício”.

O golpe podia ter sido evitado e não se fez nada. Já Chibás meses antes, com muito trabalho pôde impedir “um pacto sem ideologia”, como ele o classificou, entre ortodoxos e o antigo Partido Revolucionário Cubano (Autêntico). A maioria das direcções provinciais apoiou esse pacto. O sistema económico imperante facilitou que em quase todas as províncias, a oligarquia e os latifundiários se apropriassem da direcção. Apenas uma foi leal, a da Capital, com grande influência de intelectuais radicais na direcção. Consumado o golpe e quando mais se precisava da união, o papel da oligarquia foi deixar a massa maioritária do povo à mercê do vento imperialista. Eu segui com o meu projecto revolucionário, em que desta vez a luta, desde o seu próprio início, seria armada.

No dia em que Chibás, cuja sentinela do cadáver foi feita na Universidade de Havana, ia ser enterrado, propus à direcção ortodoxa dirigir aquela enorme massa para o Palácio Presidencial e tomá-lo. Tinha passado toda a noite respondendo a perguntas dos repórteres de rádio e preparando os ânimos do povo para acções radicais.

Ninguém na universidade prestava atenção às emissoras de rádio naquela noite. Tinha um governo desorganizado e cheio de pânico; um exército desmoralizado e sem ânimos para reprimir aquela massa.

Ao comemorar-se o primeiro aniversário da morte de Chibás, escrevi uma proclamação cujo título foi: “Pancada de garra”, impressa em mimeógrafo seis dias depois do golpe traidor. A seguir o seu texto:

- Revolução não, Pancada com Garra! Patriotas não, liberticidas, usurpadores, retrógrados, aventureiros com sede de ouro e poder.

- Não foi uma quartelada contra o Presidente Prío, abúlica, indolente; foi uma quartelada contra o povo, nas vésperas de eleições cujo resultado era conhecido de antemão.

- Não havia ordem, mas era ao povo que lhe correspondia decidir democraticamente, civilizadamente e escolher os seus governantes por vontade e não pela força.

- Correria o dinheiro em favor do candidato imposto, ninguém o nega, mas isso não alteraria o resultado como não o alterou a dilapidação do Tesouro Público em favor do candidato imposto por Batista em 1944.

- É totalmente falso, absurdo, ridículo, infantil, o facto de que Prío intentasse um golpe de Estado, mero pretexto, a sua impotência e incapacidade para intentar semelhante empreitada ficou irrefutavelmente demonstrada pela cobardia com que deixou arrebatar o comando.

- Sofria-se o desgoverno, mas era sofrido havia anos na espera da oportunidade constitucional de conjurar o mal, e você Batista que fugiu covardemente quatro anos e fez politicaria inutilmente outros três, agora aparece com o seu tardio, perturbador e venenoso remédio, fazendo em cacos a Constituição quando apenas faltavam dois meses para chegar à meta pela via adequada.

- Tudo aquilo alegado por você é mentira, cínica justificação, dissimulo do que é vaidade e não decoro pátrio, ambição e não ideal, apetite e não grandeza cidadã.

- Estava bem deitar por terra um governo de esbanjadores e assassinos, e isso tentavamos fazer pela via cívica com o apoio da opinião pública e a ajuda da massa do povo. Que direito têm, em câmbio, a substitui-lo em nome das baionetas os que ontem roubaram e mataram sem medida?

- Não é a paz, é a semente do ódio o que assim se semeia. Não é felicidade, é luto e tristeza o que sente a nação perante o trágico panorama que se enxerga. Nada há tão amargo no mundo como o espectáculo dum povo que se deita livre e acorda escravo.

- Mais uma vez as botas; mais uma vez Columbia ditando leis, tirando e colocando ministros; mais uma vez os tanques rugindo ameaçadores sobre as nossas ruas; mais uma vez a força bruta imperando sobre a razão humana. Estavamo-nos acostumando a viver dentro da Constituição; levávamos doze anos sem grandes empecilhos apesar dos erros e desvarios. Os estados superiores de convivência cívica não são alcançados senão através de longos esforços. Você, Batista, acaba de deitar por terra numas horas essa nobre ilusão do povo de Cuba.

- Tudo aquilo que Prío fez de mau durante três anos, você esteve fazendo-o por onze anos. O seu golpe é, portanto, injustificável, não se baseia em nenhuma razão moral séria, nem em doutrina social ou política de nenhuma classe. Só encontra razão de ser na força e justificação na mentira. A sua maioria está no Exército, jamais no povo. Os seus votos são os fuzis, jamais as vontades; com eles pode ganhar uma quartelada, nunca umas eleições limpas. O seu assalto ao poder carece de princípios que o legitimem; ria se quiser, mas os princípios são afinal mais poderosos do que os canhões. De princípios se formam e alimentam os povos, com princípios se alimentam na luta, pelos princípios morrem.

- Não chame de revolução esse ultraje, esse golpe perturbador e inoportuno, essa punhalada traiçoeira que acaba de cravar nas costas da República. Trujillo foi o primeiro a reconhecer o seu governo; ele sabe quem são os seus amigos na camarilha de tiranos que açoitam a América, isso diz melhor do que nada o carácter reaccionário, militarista e criminoso da sua pancada com garra. Ninguém acredita nem remotamente no sucesso governamental da sua velha e apodrecida camarilha; é muito grande a sede de poder, é muito escasso o freio quando não há mais Constituição nem mais lei do que a vontade do tirano e seus sequazes.

- Sei de antemão que a sua garantia à vida será a tortura e o purgativo. Os seus irão matar embora você não queira, e você consentirá tranquilamente porque a eles se deve por completo. Os déspotas são amos dos povos que oprimem e escravos da força em que sustentam a opressão. A seu favor choverá agora propaganda mentirosa e demagógica em todos os porta-vozes, às boas ou às más e sobre os seus opositores choverão desprezíveis calúnias; assim também o fez Prío e de nada lhe valeu no ânimo do povo. Mas a verdade que alumie os destinos de Cuba e norteie os passos do nosso povo nesta hora difícil, essa verdade que vocês não permitirão dizer, a saberá todo o mundo, correrá subterrânea de boca em boca, em cada homem e mulher, ainda que ninguém o diga em público nem o escreva na imprensa, e todos acreditarão nela e a semente da rebeldia heróica se irá plantando em todos os corações; é a bússola que há em cada consciência.

- Não sei qual será o prazer vesânico dos opressores, no chicote que deixem cair como Caimes sobre as costas humanas, mas sei que há uma felicidade infinita em combatê-los, em erguer forte a mão e dizer: Não quero ser escravo!

- Cubanos: Mais uma vez há tirano, mas haverá mais uma vez Mella, Trejos e Guiteras. Há opressão na pátria, mas haverá algum dia mais uma vez liberdade.

- Convido os cubanos de valor, os bravos militantes do Partido de Chibás; a hora é de sacrifício e de luta, se perdermos a vida nada se perde, “viver em cadeias, é viver em opróbrios e afrontas submergidos. Morrer pela pátria é viver”.

Fidel Castro


Ao não ser publicado este irreverente artigo – quem se atreveria? – foi distribuído no Cemitério de Colombo por amigos e simpatizantes ortodoxos em 16 de Março de 1952.

A 16 de Agosto de 1952 foi publicado no jornal clandestino O Acusador, um artigo intitulado “Reconto crítico do P.P.C. (Ortodoxo)”, assinado com um pseudónimo do autor: Alejandro. Já que fiz uma avaliação crítica daquele partido, pareceu-me conveniente incluir essa análise:

- Por cima do tumulto dos cobardes, os medíocres e os pobres de espírito, é preciso fazer uma apreciação breve, mas valente e constructiva do movimento ortodoxo, depois da queda do seu grande líder, Eduardo Chibás.

- A formidável aldrabice do paladino da Ortodoxia, deixou ao Partido um caudal tão imenso de emoção popular que o colocou às portas do Poder. Tudo estava feito, apenas era necessário saber reter o terreno ganho.

- A primeira pergunta que deve fazer todo ortodoxo honrado é esta: Temos engrandecido o legado moral e revolucionário que nos legou Chibás..., ou, antes pelo contrário, temos delapidado parte do caudal...?

- Quem julgue que até agora tudo foi bem feito, que nada temos a nos repreender, esse será um homem muito pouco severo com a sua consciência.

- Aquelas pugnas estéreis que sobreviveram à morte de Chibás, aquelas gritarias colossais, por motivos que não eram precisamente ideológicos, mas de sabor puramente egoístas e pessoais, ainda ressoam como marteladas amargas na nossa consciência.

- Aquele funestíssimo procedimento de ir à tribuna pública para elucidar bizantinas querelas, era sintoma grave de indisciplina e irresponsabilidade.

- Inesperadamente tiveram lugar os acontecimentos de 10 de Março. Era de se esperar que tão gravíssimo facto arrancasse de raiz, no Partido, as pequenas desavenças e os personalismos estéreis. Por acaso foi totalmente assim...?

- Com espanto e indignação das massas do Partido, as torpes querelas voltaram a reluzir. A insensatez dos culpados não reparava em que a porta da imprensa era estreita para atacar o regime; porém, em câmbio, muito larga para atacar os próprios Ortodoxos. Os serviços prestados a Batista com semelhante conduta não foram poucos.

- Ninguém se irá escandalizar de que tão necessário reconto seja feito hoje, em que lhe coube o turno à grande massa que em silêncio amargo tem sofrido esses extravios e nenhum momento mais oportuno do que o dia de prestar contas a Chibás junto de seu túmulo.

- Essa massa imensa do P.P.C. está de pé, mais decidida do que nunca. Pergunta nestes momentos de sacrifício...:Onde estão os que aspiravam... os que queriam ser os primeiros nos lugares de honra das assembleias e dos executivos, os que percorriam localidades e faziam tendências; os que nas grandes concentrações reclamavam um lugar na tribuna e agora não recorrem localidades, nem mobilizam a rua, nem demandam os lugares de honra da primeira linha de combate...?

- Quem tiver um conceito tradicional da política poderá sentir-se pessimista perante este quadro de verdades. Para os que tiverem, em câmbio, uma fé cega nas massas, para os que acreditarem na força irredutível das grandes ideias, não será motivo de afrouxamento e desalento a indecisão dos líderes, porque esses vazios são ocupados bem logo pelos homens inteiros que saem das fileiras.

- O momento é revolucionário e não político. A política é a consagração do oportunismo dos que têm meios e recursos. A Revolução abre passo ao mérito verdadeiro, aos que têm valor e ideal sincero, aos que expõem o peito descoberto e tomam na mão a bandeira. A um Partido Revolucionário deve corresponder uma liderança revolucionária, jovem e de origem popular que salve Cuba.

Alejandro.


Mais adiante criámos uma estação de rádio clandestina que fizesse o que depois fez Rádio Rebelde na Serra. Em pouco tempo relativamente, mimeógrafo, emissora e o pouco que tínhamos, caiu nas mãos do exército golpista. Então aprendi as regras rigorosas às quais deveria ajustar-se a conspiração que nos levou ao ataque de Moncada.

Proximamente será publicado um pequeno volume com duas ideias fundamentais que foram condensadas em dois discursos: o do Rio de Janeiro na Reunião de Cúpula das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento há mais de 15 anos e o que pronunciei na Conferência Internacional Diálogo de Civilizações, há dois anos e meio. Recomendo aos leitores que analisem bem ambos os documentos. Peço que me desculpem por este anúncio comercial, mas gratuito.


Fidel Castro Ruz.
25 de Agosto de 2007

22/08/2007

NOTÍCIAS DO PAÍS DO «ENGENHEIRO»

Portugal é o Campeão Europeu da Desigualdade. E ninguém, no Governo, fala disso. Bico calado, é a ordem do «engenheiro» feito à pressa. Mas o que acontece – e contra factos não há argumentos – é que as políticas económicas neoliberais executadas em Portugal desde há muitos anos – e selvaticamente intensificadas pelo governo Sócrates – reflectem-se nos indicadores estatísticos.

Os dados agora revelados pelo Eurostat, o serviço estatístico da União Europeia, revelam que Portugal já é o campeão europeu da desigualdade na distribuição do rendimento nacional: tem o pior Coeficiente de Gini do continente. Os ricos esfregam as mãos, os pobres e remediados enganam a fome. É o país de Sócrates a caminho do apogeu.

O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) português desacelerou no segundo trimestre do ano face ao anterior, mas apesar do abrandamento o Governo diz-se optimista e, segundo o ministro das Finanças, é o investimento e não o consumo das famílias (que estão tesas) quem está a "puxar" pela economia nacional. O aumento do PIB ficou 0,1% acima do ritmo de crescimento da Zona Euro, como, aliás, acontecera entre Janeiro e Março. Ainda assim, face à União Europeia (que cresceu 0,5%), a economia portuguesa volta a não convergir. É a Europa cada vez mais longe deste beco sem saída a que chamamos Portugal.

Conclusão: a economia portuguesa fraqueja e continua a ser, na União Europeia, a segunda com uma taxa de crescimento homóloga mais baixa.

Por isso, a habitação está em queda, com menos contratos e menor volume. Foi este o comportamento do crédito à habitação no continente, no primeiro trimestre, marcado por uma queda de 12,16% no número de contratos e de 9,89% nos montantes globais dos empréstimos face ao período homólogo. Por outro lado, o aumento das taxas de juro impostas do estrangeiro estrangula o sector e destrói o direito à habitação de milhares de portugueses.

Também por isso, a taxa de desemprego no segundo trimestre do ano atingiu os 7,9%. Segundo o Instituto Nacional de Estatística, mais de 440 mil pessoas estão sem emprego. São mais 40 mil desempregados do que no mesmo período do ano passado. Este crescimento é justificado pelo INE com a queda geral da população empregada (menos 26.200 indivíduos), a diminuição do emprego nos homens (menos 14.900 pessoas) e a perda de emprego sofrida pelos indivíduos com menos de 35 anos (caíram no desemprego 58 mil pessoas). Este fenómeno do desemprego está a atacar particularmente os jovens entre os 25 e os 34 anos. Nos meses de Abril, Maio e Junho, 17.200 indivíduos ficaram sem emprego, o que dá uma média de 191 desempregados por dia.

Mas aos 440 mil desempregados registados pelo INE é preciso somar mais 80 mil indivíduos que já desistiram de procurar emprego (inactivos desencorajados) e aqueles que, estando dispostos e em condições de trabalhar, nada fizeram para encontrar trabalho (inactivos disponíveis). Ao todo são 520 mil pessoas que estão sem emprego.

Mas os ministros falam e garantem que tudo vai bem sob a governação «socialista».

Contudo, num país que caminha para o zero absoluto, para se desfazer nos cofres dos senhores da banca e dos grandes impérios económicos e das multinacionais, um outro dado foi divulgado para grande alegria das hostes. Os preços médios em Portugal são cerca de 20% mais baratos do que na União Europeia a 15 membros. No entanto – e aqui é que bate o busílis – os portugueses ganham em média cerca de 40% menos que os cidadãos desta Europa da qual dizem que somos parte. E isto, meus amigos, não sou eu que digo, para denegrir Sócrates e a sua turba, mas são dados recentíssimos da OCDE, ou seja, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico. Os números europeus mostram, sem motivos para desmentidos, que os portugueses são os mais mal pagos da União Europeia a 15. Ou seja: apesar de conseguirem comprar os produtos mais baratos, o que é uma vantagem, os portugueses têm salários percentualmente ainda mais baixos, o que significa penúria, sofrimento, insegurança e, em última análise, cada vez mais fome e miséria.

E o pior, é que para agravar as condições dos portugueses, a carga fiscal tem vindo a crescer. O organismo de estatísticas da União Europeia conclui que a carga fiscal portuguesa atingiu os 35,3% em 2005, quando dez anos antes se encontrava nos 31,9%. Fazendo as contas aos valores do PIB divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), a preços do ano passado, esta variação representa um aumento de 5,2 mil milhões de euros. Aliás, a avaliar pelo último Boletim da Primavera do Banco de Portugal, a carga fiscal terá aumentado 37% em 2006.

Acrescento um dado que diz tudo. Um familiar meu, que foi para França à procura de uma vida mais desafogada e digna, veio agora passar férias a Portugal. Entre as várias coisas que me contou, exemplificativas do nosso vergonhoso atraso em relação aos nossos parceiros europeus, retive para vos contar este singelo exemplo.

Tendo-se deslocado de automóvel, pagou de portagens, por 850 km, entre Paris e Espanha (fronteira de Bayonne), 25 euros. Em Espanha, entre Bayonne e Salvaterra, sempre por auto-estrada, e por 892 km, pagou 12 euros. Em Portugal, de Valença ao Porto e do Porto a Lisboa, num total de apenas 450 km, pagou 44 euros.

Isto é: por 1.742 km de auto-estrada, percorridos em França e Espanha, paga-se 37 euros. Por 450 km de auto-estrada, em Portugal, paga-se 44 euros, o que dá uma média de 2 cêntimos/Km em França e Espanha, e cinco vezes mais, ou seja, 10 cêntimos/Km em Portugal. Dito de outra maneira: É mais caro 8 euros percorrer 450 km de auto-estrada em Portugal, do que percorrer quase quatro vezes essa distância em França e Espanha.

Nunca a expressão «roubar na estrada» teve uma aplicação tão apropriada.

Mas para se provar que Portugal é um país desenvolvido, aí está, finalmente, mais uma grande medida do Governo «socialista». Os presos toxicodependentes vão ter direito a um kit para satisfazerem o seu meritório e saudável vício. Será composto por duas seringas com agulha e invólucro de protecção, um filtro, um toalhete desinfectante, uma carica para preparar o caldo, uma carteira de ácido cítrico (substitui limão, para ‘cozer’ a heroína), uma ampola de água bidestilada e um preservativo.

Só falta a droga, claro, mas acho que o governo já deve ter pensado nesse detalhe, que, para mim, constitui mistério. Como é que a droga entra numa prisão – que deveria ser, por definição, o lugar mais seguro e vigiado do país – é um caso para ver. Se os guardas prisionais cumprirem a sua obrigação com eficácia, nenhuma droga entrará, mas aí, como se prevê, será legítimo que os detidos se sintam lesados nas suas justas expectativas, e perguntem ao governo para que raio serve o kit? Expliquem-me lá quem é que vai fornecer a droga – e como – para eu ficar tranquilo. Será alguma Fundação, a criar em breve, gerida por alguns boys e girls ainda sem job?

Em tratar e recuperar para a sociedade estes pobres coitados, em vez de lhes estimular o vício e as aberrações sexuais, não oiço ninguém falar. Muito menos em melhorar a segurança das prisões, não alimentando, o tráfico de droga que, aliás, a partir de agora, tem toda a razão de ser. Com que legitimidade, daqui para frente, se poderá impedir um familiar de levar droga ao detido que vai visitar, se é o próprio Estado que, em vez de o tratar, lhe oferece o necessário para que continue a drogar-se?

Entretanto, até 15 de Julho de 2008, ou seja, no espaço de um ano, o Estado português deve gastar mais de 11 milhões de euros na realização de abortos.

Está bem. Pagamos as seringas e pagamos os abortos. É verdade! Acho que nos vai cair em cima uma nova taxa para os Bombeiros. Já agora… para quando uma taxa – um imposto de circulação pedonal – para quem andar a pé na rua? É que as pedrinhas da calçada sempre se vão desgastando e, parecendo que não, conservar os passeios custa dinheiro.

Não é?


Crónica de: João Carlos Pereira
Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 22/08/2007.
(Não deixe de ouvir em 98.7 Mhz e participar pelos telefones 212277046 ou 212277047 todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00).

13/08/2007

FELICIDADES COMANDANTE

Ao assinalar-se hoje o 81.º aniversário daquele que há mais de 50 anos se dedica dia e noite na defesa do seu país e do seu povo, não posso deixar de aqui singelamente assinalar esta data, pela admiração que nutro por quem verticalmente continua a exprimir os seus ideais de um mundo melhor, mais justo e mais fraterno.

Muitas foram as vicissitudes e os ferozes ataques de que tem sofrido - ainda há dias se assistiu a um deles num dos nossos canais televisivos - mas a verdade é incontornável e o futuro dirá de que lado estava e está a razão.

Aqueles que querem denegrir a sua imagem, sem o conhecerem nem conhecerem o seu pensamento ou a sua grandiosa obra, não falam sequer dos alertas que nos últimos anos ele vem denunciando sobre as graves consequências para a humanidade, principalmente para os países do 3.º mundo, com a transformação das suas escassas matérias primas alimentares pelos chamados biocombustíveis ou agrocombustíveis, em substituição dos combustíveis fosseis que começam a faltar aos países mais ricos.

Quando há mais de 20 anos Fidel já vinha alertando para os perigos da globalização, poucos foram os que lhe deram ouvidos porque, diziam, eram ideias comunistas e isso não passava de pura demagogia. Hoje assistimos, para não ir mais longe nos exemplos, com o que se passa em Portugal, subjugado aos países ricos da União Europeia sem que possamos ter voto na matéria.

Fidel tem sabido inteligentemente e com o apoio da grande maioria dos cubanos manter a independência do seu país, mesmo nas horas mais difíceis que exigiram inúmeros sacrifícios, podendo mostrar ao mundo como a utopia seria possível, se não existissem embargos imperiais, capitalismos selvagens e as potencias bélicas em que se escudam.

Felicidades Comandante. Muitos e muitos anos de vida.

09/08/2007

REFLEXÕES XXI

A CONSTÂNCIA ESCRITA

No mundo acontecem factos muito importantes. Alguns relacionados com Cuba. Ao nosso país chegam às vezes notícias ainda mais interessantes que uma simples reflexão minha que tem o propósito de criar consciência.

A entrevista de Gerardo Hernández Nordelo, um dos nossos Cinco Heróis, com a BBC, divulgada ontem pela televisão, impactou-me muitíssimo, pelo seu grande conteúdo humano, intensidade, brilho, algo que só pode surgir de uma mente que tem sofrido nove anos de injusta tortura psíquica. Por favor, rogamos que a Mesa Redonda continue informando a respeito do histórico processo relacionado com o destino dos heróicos compatriotas.

No Brasil, entretanto, a imprensa continua à procura de notícias e informando sobre as atividades realizadas pelos pugilistas depois que, violando o rigor das normas, ausentaram-se do lugar onde se alojava delegação cubana.

Um cabograma da EFE datado no Rio de Janeiro em 3 de agosto, informa:

“Após serem surpreendidos na quinta-feira num balneário ao norte do litoral do Rio de Janeiro, onde passaram vários dias acompanhados por um empresário cubano e outro alemão, assim como por três prostitutas, os pugilistas foram levados na madrugada de hoje para um hotel, onde ficaram sob custódia de agentes da Polícia Federal”.

“Rigondeaux e Lara foram presos na quinta-feira no balneário de Araruama por agentes da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Nas suas declarações perante a Polícia Federal, os dois pugilistas disseram que, arrependidos, desejam voltar para Cuba, e que supostamente foram vítimas de um golpe, para o qual foram dopados pelos empresários antes de serem levados da Vila Pan-americana. Os atletas recusaram a ajuda dos advogados que se apresentaram na sede da Polícia Federal insistindo em representá-los”.

“Os dois cubanos, contudo, foram vistos em diferentes balneários no litoral norte do Rio de Janeiro em total liberdade e desfrutando das comodidades de hospedarias, festas com abundantes bebidas alcoólicas e mulheres. Segundo os donos de hospedarias no balneário de Saquarema consultados por O Globo, os dois pugilistas, junto com os empresários cubano e alemão, passaram vários dias nessa cidade antes de viajar a Araruama acompanhados por três prostitutas contratadas no Rio de Janeiro. ‘Eles são boas pessoas, trataram-nos como se fôssemos as suas namoradas e até disseram que vão ter saudade de nós’, disse uma das mulheres, que admitiu em declarações a O Globo ter recebido perto de 100 dólares diários”.

São detalhes desagradáveis, mas essenciais e não posso usar termos diferentes aos incluídos pela agência noticiosa no seu cabograma. Imagino que os próprios pugilistas informaram sobre isto os familiares adultos mais próximos.

Ontem, segunda-feira 6, outro cabograma da mesma agência afirmava:

“A polícia brasileira disse que confia na versão dos pugilistas cubanos deportados para o seu país depois de terem desaparecidos durante os Jogos Pan-americanos do Rio de Janeiro no sentido de que foram dopados e enganados por dois empresários que queriam levá-los para a Alemanha”.

“’Confiamos naquilo que eles nos disseram e consideramos a sua versão factível e provável’, declarou hoje à EFE o comissário da Polícia Federal, Felício Latera, responsável pela investigação”.

“’A Polícia Federal brasileira não investiga a suposta deserção dos dois cubanos, investiga os empresários que tentaram levá-los’, asseverou o comissário”.

Com essa mesma data e no mesmo cabograma a agência EFE informou:

“Numa entrevista a um jornal brasileiro, o empresário alemão Ahmet Öner, promotor de quatro pugilistas cubanos que já se encontram na Alemanha, admitiu que organizou a fuga de Rigondeaux e de Lara, pela qual segundo disse, pagou perto de meio milhão de dólares”.

Pelo nosso lado, não duvidamos, que a Polícia Federal acreditou no arrependimento dos dois atletas. A missão dessa instituição era fazer os trâmites com o consulado cubano da documentação que lhe solicitavam às pressas os pugilistas e explicar o que tinha acontecido com eles após 12 dias de ausência.

Para a imensa maioria do nosso povo o essencial é conhecer qual o comportamento moral dos atletas que com tanto sacrifício os educa e forma.

Sou da opinião que a maior responsabilidade corresponde a Erislandy Lara, que era o capitão da Equipa de Boxe, que apesar disso não cumpre as normas e vai parar directamente nas mãos dos mercenários. Ele tem 24 anos e é estudante universitário de Educação Física e Dsportos. Os dois pugilistas ignoram a influência nas suas condutas das estreitas relações de amizade que tinham com os três pugilistas que foram subornados na Venezuela, embora certamente desconhecessem a indiscreta verborreia com a qual o dono da empresa mafiosa falaria após eles não se terem apresentado na pesagem.

Os dois atletas mostraram resistência para conversar com a imprensa. Um jornalista do Granma, Miguel Hernández, ficou no aeroporto à sua espera e falou com eles sobre o tema. Ficou depois decepcionado com as respostas quando tentou escrever um artigo convincente da sinceridade dos pugilistas.

Julita Osendi, repórter de televisão e com muita informação sobre os Jogos Pan-americanos do Rio, solicitou visitá-los e esforçou-se para conseguir persuadi-los de que conversassem com toda sinceridade. Foram mais abertos e contaram-lhe alguns detalhes adicionais sobre sua insólita aventura, mas o resultado final foi o mesmo.

Pedi ao companheiro Fernández, Vice-ministro do Conselho de Ministros que atende entre outros organismos o Instituto Nacional de Desportos e Recriação (INDER), que me enviasse a transcrição da entrevista de Osendi com Erislandy Lara e Guillermo Rigondeaux. Não era suficiente a imagem, desejava analisar cada pergunta e cada resposta. O escrito ocupa duas vezes o espaço desta reflexão.

Pedirei ao jornal Granma que a publique na página desportiva ou noutro espaço qualquer, para deixar constância escrita da conversa.

Muitos países pobres não têm problemas com o profissionalismo, mas neles também numerosas pessoas morrem antecipadamente ou sofrem doenças que os invalidam por falta de exercícios. Essa tragédia também padecem os países ricos desenvolvidos por insuficiências no seu corrupto sistema e pelo espírito mercantilista dos seus serviços médicos.

O atleta que abandona a sua delegação é como um soldado que abandona os seus companheiros no meio do combate. Cuba possui muito bons desportistas, porém não os roubou a ninguém. O povo desfruta, além disso, dos seus maravilhosos desempenhos. Já faz parte da sua cultura, do seu bem-estar e da sua riqueza espiritual.

A Revolução cumpriu a sua palavra. Prometeu oferecer aos atletas um trato humano, reuni-los imediatamente com os seus familiares, facilitar-lhes o acesso à imprensa se o desejarem, e oferecer-lhes um emprego decoroso de acordo com os seus conhecimentos.

Preocupamo-nos igualmente pela sua saúde, exactamente igual como o fazemos com todos os cidadãos.

Era indispensável, por elementar justiça, escutá-los e conhecer qual o grau de arrependimento que alegavam quando se viram envolvidos em tão doloroso episódio.

Pomos à disposição do nosso povo os elementos de juízo que pudemos reunir. Já eles desejam ir embora juntamente com os seus familiares. Chegaram ao ponto em que deixarão de fazer parte da delegação cubana nesse desporto.

Nós, pelo contrário, devemos continuar a luta. Chegou o momento de fazer a lista de pugilistas cubanos que participarão das Olimpíadas de Beijing, com quase um ano de antecipação. Primeiro devem viajar aos Estados Unidos para participar no Campeonato Mundial, um dos três eventos classificatórios para os Jogos Olímpicos. Imaginem os tubarões da máfia procurando carne fresca.

Algo devemos advertir: não estamos ansiosos de fazer entregas ao domicílio. Cuba não sacrificará um ápice da sua honra nem das suas ideias por medalhas de ouro olímpicas; prevalecerão por cima de tudo a moral e o patriotismo dos seus atletas. Sabemos que no boxe o tamanho do ringue e das luvas foi modificado para afectar o nosso país, até conseguir que o boxe profissional seja também incluído nas Olimpíadas.

As autoridades desportivas examinam todas as variantes possíveis, incluindo mudar a lista de boxeadores ou não enviar delegação nenhuma, apesar dos castigos que nos imponham. Estudam igualmente estratégias e tácticas a seguir.

Manteremos a nossa política de princípios, embora o mundo se insira cada vez mais no profissionalismo, e como nos tempos de Kid Chocolate, um verdadeiro génio, não exista uma medalha para o desporto sadio e só seja concebido um desporto que ponha preço ao arremesso de bolas que não podem ser rebatidas, aos home-uns, à acção de receber e dar socos sem proteção alguma. Jamais voltaremos a uma época como aquela.

O desporto sadio é incompatível com o consumismo e o esbanjamento que são a base da actual e irreversível crise económica e social do mundo globalizado.


Fidel Castro Ruz
7 de Agosto de 2007

04/08/2007

REFLEXÕES XX

REFLEXÃO SOBRE DURAS E EVIDENTES REALIDADES

Pela sua importância dou prioridade a este tema, embora existam outros.

Não vou negar que as prerrogativas do poder, seja real, relativo ou fictício, exercem influência sobre os seres humanos, porque todos foram educados dessa maneira desde os tempos mais remotos da espécie.

Não foi em apenas um minuto que cheguei ao que hoje penso sobre o poder, mas acho que se trata de um pensamento consequente. A modesta contribuição da nossa Revolução deve-se ao facto de que as nossas respostas às perguntas nunca evoluíram, apesar do cru realismo que nos impôs o brutal bloqueio do império.

Na reflexão do passado 31 de Julho, eu falava sobre o que significava para mim ter disposto de um ano para reunir informação e meditar profundamente acerca dos problemas vitais que ameaçam hoje mais do que nunca a nossa espécie.

No passado dia 24 de Julho a agência russa Ria Novosti publicou a seguinte informação:


"Leonid Ivashov, coronel general, perito em matéria de defesa, exprimiu que a principal ferramenta da política estadunidense é o ditado pelo sector económico, financeiro, tecnológico e militar.

"Implantando-o os Estados Unidos tentam afiançar a sua hegemonia mundial. A sua estratégia de segurança nacional indica explicitamente a necessidade de garantir o acesso sustentável, quer dizer, controlado, para as regiões chave do planeta, as comunicações estratégicas e os recursos globais. Trata-se de uma estratégia consagrada em forma de lei, o que nos leva a concluir que aos Estados Unidos lhes esperam no futuro conflitos ainda mais fortes com a Rússia, a China e a Índia.

"Washington obstina-se em construir um sistema capaz de neutralizar o potencial nuclear dos seus rivais estratégicos, Moscovo e Pequim para conseguir um monopólio no âmbito militar. Os Estados Unidos querem instalar o seu escudo antimíssil não apenas na Europa, mas também em outras partes do mundo, para ver quanto está acontecendo na Rússia e na China. Também tentam incrementar o seu arsenal ofensivo a um ritmo que ultrapassa incluso o ritmo do período da Guerra Fria.

"Após o colapso da União Soviética, a NATO perdeu o seu carácter defensivo, que tinha na altura em que foi fundada, no ano 1949, para se transformar numa ferramenta poderosa e agressiva ao serviço da oligarquia mundial, desejosa de estabelecer o seu domínio a nível mundial. O novo conceito estratégico da Aliança, aprovado em Abril de 1999, graças ao esforço dos Estados Unidos, inclui funções novíssimas e amplia o seu âmbito de responsabilidades ao mundo todo, sem se limitar ao Atlântico Norte. O actual secretário geral da NATO, Jaap de Hoop Scheffer, visita frequentemente a Austrália, a Nova Zelândia ou o Japão. A Aliança começou a passar por cima do Direito Internacional e do Conselho de Segurança da ONU. Entretanto, os Estados Unidos promovem a expansão da NATO e negam-se a ratificar o Tratado sobre as Forças Armadas Convencionais na Europa (FACE), atribuindo-se o direito de actuar à margem de determinadas limitações e configurar as tropas a seu bel-prazer.

"Os Estados Unidos fazem qualquer coisa para que a Rússia não seja uma jogadora autónoma. Os debates sobre a defesa antimíssil, o Irão e o Kosovo ainda não produziram fórmulas de compromisso.

"É importante que a Rússia consolide as suas posições e recupere o seu potencial geopolítico. Nos inícios da década de 70, quando Moscovo conseguiu a paridade nuclear com Washington, ele acabou por compreender que não lhe poderia ganhar no âmbito militar e aceitou negociar de igual para igual. Como resultado disso, foram assinados o Tratado de Defesa Antimíssil (DAM), em 1972, e os posteriores Acordos sobre a Limitação de Armas Estratégicas Ofensivas (SALT). A única coisa que os Estados Unidos respeitam é a força. Se eles se sentem numa posição mais forte, jamais fazem concessões a ninguém.

"Para neutralizar os planos da hegemonia mundial, é preciso construir um pólo alternativo, e existe já um fundamento para fazê-lo: a Organização de Cooperação de Shangai (OCSH).

"Na verdade, parece um pouco incorrecto falar da força estadunidense. Os Estados Unidos têm poderio militar, economia vigorosa e quantidade enorme de moeda forte que pode imprimir de maneira ilimitada, mas o poder geopolítico do país está pelo chão. Os Estados Unidos inspiram pouquíssima confiança política ao resto do mundo.

"Em 1999, a China e a Rússia colocaram perante a Assembleia Geral da ONU a necessidade de preservar o Tratado DAM de 1972. A favor da proposta votaram todos os países, salvo quatro: os Estados Unidos, Israel, a Albânia e a Micronésia. O resultado confirma o total isolamento internacional dos Estados Unidos.

"Será impossível resolver sem a participação da Rússia a situação configurada no Médio Oriente, nos Balcãs, na Península da Coreia ou noutras regiões do planeta. O anterior aplica-se também à China, que é capaz de encarar a pressão por parte dos Estados Unidos. A China goza de grande prestígio no mundo, tem uma economia poderosa e uma moeda forte.

"A OCSH deveria recrutar novos aliados e unir o potencial daqueles países que desejam e são capazes de implementar uma política autónoma. Primeiro, é preciso proclamar oficialmente a rejeição à hegemonia mundial por parte dos Estados Unidos. Segundo, a China e a Rússia deveriam denunciar perante o Conselho de Segurança da ONU a instalação do sistema DAM estadunidense, como acção que altera a arquitectura de segurança global e ameaça a toda a comunidade internacional. A China, a Índia e a Rússia poderiam formar uma frente única perante o ditado dos Estados Unidos. Também é possível colocar-se como tarefa a estabilização do sistema financeiro global. No quadro da OCSH poderia formular-se uma filosofia novíssima, baseada na harmonia das civilizações e no uso racional dos recursos naturais. A maioria dos Estados, com certeza, apoiarão tais medidas, estou certo disso. Assim, ir-se-ia formando um novo pólo político, o pólo da paz. A missão da OCSH é criar um novo modelo de desenvolvimento para a civilização humana."

"Ao império estadunidense poderia opor-se apenas uma aliança de civilizações: a russa, cuja órbita inclui a Comunidade de Estados Independentes (CEI); a chinesa, a hindu, a islâmica e a latino-americana. É um espaço imenso no qual poderíamos criar mercados mais equitativos, o nosso próprio sistema financeiro de carácter estável, a nossa engrenagem de segurança colectiva e a nossa filosofia, baseada na prioridade do desenvolvimento intelectual do homem perante a moderna civilização ocidental que aposta pelos bens materiais e mede o êxito com mansões, iates e restaurantes. A nossa missão é reorientar o mundo para a justiça e para o desenvolvimento intelectual e espiritual."

Até aqui as ideias essenciais do pensamento de Ivashov, transmitidas pela Ria Novosti.


Sabemos que o General Leonid Ivashov é Vice-presidente da Academia de Problemas Geopolíticos, foi Secretário do Conselho de Ministros de Defesa da Comunidade de Estados Independentes e Chefe do Departamento de Cooperação Militar do Ministério de Defesa da Federação da Rússia. No dia 11 de Setembro de 2001, dia em que aconteceram os trágicos factos de Nova York, que serviram de pretexto para definir as bases da política genocida dos Estados Unidos há quase 6 anos, o general Ivashov era Chefe do Estado Maior das Forças Armadas Russas. Um homem realmente bem informado. Vale a pena que o nosso povo conheça as suas opiniões.

É evidente a preocupação que sempre teve a Revolução cubana pela educação do povo. Julgando a minha própria experiência, cheguei rápido à ideia de que só a consciência podia prevalecer sobre os instintos que nos orientam. Os avanços tecnológicos falam hoje da possibilidade de manipular as funções das células do cérebro humano. Para que servirá todo isso num mundo onde impera o valor comercial dos bens e dos serviços? Que autoridade o determinará? Por essa via e através do roubo desavergonhado de cérebros, fenómeno no qual devemos insistir muito, poderiam destruir o que mais vale do ser humano, que é a sua educação através da consciência.

Dos laboratórios pode sair um medicamento que salve vidas, algo socialmente muito valioso se esse produto pudesse estar à disposição de todos. Mas, dos laboratórios também estão a nascer todo o tipo de armamentos que podem acabar com a vida humana.

A publicidade comercial e o consumismo são inconciliáveis com a sobrevivência da espécie. Façam-se todos os cálculos possíveis e veremos que os recursos naturais, o espaço, o clima, o tempo e o sistema, ao ritmo e na direcção que levam, não podem dar um outro resultado.


Fidel Castro Ruz
3 de Agosto de 2007

03/08/2007

REFLEXÕES XIX

A CHAMA ETERNA

Esta é uma reflexão política. Para o dizer de uma maneira mais exacta,: é mais outra proclamação. Faz hoje exactamente um ano desde a primeira, em 31 de Julho de 2006. Contudo o ano transcorrido vale por 10 no que respeita à possibilidade de viver uma experiência única que me ofereceu informação e conhecimentos sobre questões vitais para a humanidade, os quais tenho transmitido ao povo de Cuba com toda honestidade.

Agora acossam-me com perguntas sobre qual o momento em que ocuparei aquilo a que alguns chamam o poder, como se esse poder fosse possível sem independência. Existe sim um poder destrutivo no mundo, emanado de um império decadente que ameaça a todos.

O próprio Raúl tem-se encarregado de responder que enquanto eu me recuperava, cada decisão importante era consultada comigo. O que farei? Lutar sem descanso como o fiz toda a vida.

Neste primeiro aniversário da primeira proclamação, compartilho com o povo a satisfação de observar que o prometido ajusta-se à inalterável realidade: Raúl, o Partido, o Governo, a Assembléia Nacional, a Juventude Comunista e as organizações de massas e sociais, encabeçadas pelos trabalhadores, marcham adiante guiados pelo princípio inviolável da unidade.

Com a mesma convicção, continuamos a batalhar sem tréguas para conseguir libertar da cruel e desapiedada prisão os Cinco Heróis que ofereciam informação sobre os planos terroristas anticubanos dos Estados Unidos.

A luta deve ser implacável, contra as nossas próprias deficiências e contra o inimigo insolente que tenta apoderar-se de Cuba.

Este ponto obriga-me a insistir em algo que jamais deverão esquecer os dirigentes da Revolução: é dever sagrado reforçar sem tréguas a nossa capacidade e preparação defensiva, preservando o princípio de cobrar aos invasores em quaisquer das circunstancias um preço impagável.

Ninguém pense que o império, que leva em si próprio os genes da sua própria destruição, negociará com Cuba. Mesmo que em muitas ocasiões digamos ao povo dos Estados Unidos que a nossa luta não é contra ele — algo muito correcto —, ele não está em condições de frear o espírito apocalíptico do seu governo nem a suja e maníaca idéia daquilo que chamam “uma Cuba democrática”, como se aqui cada dirigente se postulasse e elegesse a si próprio, sem passar pelo rigoroso filtro da esmagadora maioria de um povo educado e culto que o apoie.

Em reflexão anterior mencionei nomes históricos: Martí, Maceo, Agramonte, Céspedes. Para lembrar para sempre a interminável lista dos caídos em combate ou daqueles que lutaram e se sacrificaram em favor da Pátria, Raúl acendeu a chama que arderá eternamente, por ocasião dos 50 anos da morte de Frank País, o jovem herói de 22 anos cujo exemplo comoveu a todos.

A vida sem ideias não vale nada. Não existe felicidade maior que a de lutar por elas.


Fidel Castro Ruz
31 de Julho de 2007

01/08/2007

O GRANDE URINOL

O primeiro-ministro está feliz. O ministro da Saúde ainda mais. Ambos descobriram que os portugueses que se queiram curar ou, até, sobreviverem a uma doença grave, vão tratar-se a Espanha. Um exemplo é o que li há dias sobre transplantes pulmonares. Dizia o texto que o desinteresse e a desorganização foram as causas da morte do programa de transplantação pulmonar em Portugal. Uma média anual de dois transplantes desde que foi lançado, em 2001 – quando o país precisa de 15 a 20 transplantes pulmonares anuais – e uma taxa de sucesso a longo prazo considerada "má", fazem os doentes optarem por tentar a sorte, e consegui-la, em Espanha. Para onde até já seguem, aliás, os pulmões recusados pela única unidade portuguesa que os poderia aceitar, no Hospital de Santa Marta.

Se o panorama é por todos assumido como negro, há quem tenha esperanças que as coisas melhorem. Diz José Fragata, director do Serviço de Cirúrgica Cardiotoráxica do HSM, que se está a tentar relançar o programa e, dentro de alguns meses, ninguém terá de ir a Espanha. Pois…

Para além das opiniões médicas, mais ou menos de carácter técnico, o que importa salientar é que este exemplo é apenas mais um da política criminosa que, sob a batuta do governo dito socialista, com Sócrates como maestro e o ministro Correia de Campos como desalmado solista, o povo português está a sofrer. Enchem a boca com modernidade e outros palavrões da moda, mas deixam os portugueses morrer como morrem os tordos na época da caça.

A verdade – nua e crua – é que para se receber um transplante pulmonar, muitos portugueses seguem para a Corunha, na Galiza, onde se instalam com armas e bagagens. E descansam numa taxa de sucesso que a equipa que os recebe calcula em 60% de sobrevida aos cinco anos e 50% aos dez anos. Por cá, morre-se sob a insensibilidade e incompetência socialista, porque até os pulmões doados e compatíveis com alguns doentes, ou são desperdiçados ou são enviados para Espanha. Por isso, Sócrates e os seus sinistros ministros – especialmente o da Saúde - andam tão felizes.

Entretanto, e continuando muito feliz e contente consigo próprio, coisa própria dos néscios ou de qualquer vendedor de banha-da-cobra, o primeiro-ministro (que certo dia se disse engenheiro) foi para o Algarve apresentar projectos que, segundo ele, são a prova provada de que a nossa economia e o país, em geral, vão no bom caminho. Cantou, na sua voz de falsete, festivas aleluias e deu hossanas aos senhores capitalistas.

De facto, duas semanas depois de o ministro da Economia ter apresentado, em Faro, oito dos dez novos investimentos turísticos privados aprovados para o Algarve, no âmbito dos designados Projectos de Interesse Nacional, foi agora a vez de Sócrates, no campo de golfe de Palmares (se calhar, queriam que fosse numa fábrica, não?), ali na zona da Meia Praia, em Lagos, dar gritinhos de contente ao falar da coisa e fazer dela a sua nova bandeira, metendo, pelo meio, rasgados elogios aos empresários.

Ao ouvir tanta música a sair da boca dum homem que, depois de se fazer passar por engenheiro anda a fazer-se passar por socialista (ou vice-versa), cheguei a pensar, descuidado como sou, que os tais projectos estavam relacionados com a abertura de novos complexos industriais, a reactivação das nossas pescas e a reanimação da agricultura. Isto é: pensei que Portugal estaria a voltar-se para a produção industrial e – ao mesmo tempo – a tomar as medidas necessárias para pôr os nossos campos a produzirem os produtos de que necessitamos para matar a fome a tanta gente, pelo que teríamos mais leite, mais carne, mais batatas, mais legumes, mais cereais, e mais frutos. E, no que às pescas respeita, estaria a renascer das cinzas a nossa frota pesqueira, para que, tudo somado, deixemos de comer tantos produtos importados. Para não sermos tão dependentes sob o ponte de vista económico. Enganei-me.

De que constam, então, estes novos e maravilhosos empreendimentos? Eu conto. São projectos no Algarve, cujo investimento global ultrapassa 1,4 mil milhões de euros, e constarão de resorts e hotéis de quatro e cinco estrelas, além de um autódromo preparado para a Fórmula 1. Diz-se que vão permitir um total de 5.100 postos de trabalho (mais um pulinho e estamos nos tais 150 mil prometidos há dois anos…). O Algarve passará a ter, em 2010, um total de 23 unidades hoteleiras de cinco estrelas, mais do dobro das existentes em 2005. Mas já em 2007 haverá 14 infra-estruturas daquele tipo a funcionar na região e integrados noutros projectos.

Se bem percebi, a alegria de Sócrates baseia-se no facto de o Algarve ir ter um autódromo, mais uma mão-cheia de hotéis para ricos, mais uns campos para golfe e equipamentos do género. É, então, para isto que caminhamos! Para vender sol e praia, meter meia dúzia de rapazinhos e rapariguinhas a servir os senhores abastados que vêm beber uns copos, trincar uns mariscos e dar umas braçadas ou umas tacadas – e pronto, já está. E, na volta, alguns deles desenrascarem umas criancinhas para umas brincadeiras sexuais, coisa que já não é novidade em certos meios que nós conhecemos.

A Sócrates ainda sobrou tempo para valorizar o "espírito empreendedor, a iniciativa e o risco" empresarial dos investidores, lembrando que "ninguém investe tanto dinheiro num país em que não tenha confiança". E aproveitou para fazer um auto-elogio: "nenhum político desiste da confiança, desde ao nível mais local até ao nacional. Mesmo nos momentos mais difíceis, nunca perdi a confiança nem no país nem nos portugueses e sempre soube que iríamos resolver os nossos problemas como está hoje mais claro do que há dois anos".

Porém, há uma outra realidade que este truão ignora – e da qual nem quer ouvir falar. Com uma frequência assustadora, empresas produtivas encerram as suas portas, despedindo trabalhadores aos milhares. Conforme dizem as estatísticas nacionais e estrangeiras, Portugal é o país mais desigual da Europa, onde o fosso entre os ricos e os pobres aumenta sem cessar. Fecham-se escolas, maternidades, urgências, SAPs, tribunais, golpeiam-se as reformas, e até uma mulher que ganhe 20 euros por semana a lavar as escadas do prédio onde habita, deixa de ser considerada desempregada, perdendo, por isso o mísero subsídio de desemprego.

Endividadas, milhares de famílias, lutam pela sobrevivência a tudo recorrendo para que a fome não morda os filhos nem se vejam, de um dia para o outro, a dormir debaixo da ponte.

Mas enquanto as fábricas fecham, os campos se desertificam e a frota pesqueira apodrece encalhada – e se paga para arrancar a vinha a mando do interesse estrangeiro – sua excelência, o suposto engenheiro, vai para o Algarve e fala em hotéis de luxo e equipamentos para ricaços, como se aí estivesse a salvação do país. Talvez o sonho do homem seja transformar Portugal numa qualquer República Dominicana, numa Malásia, numa Ilhas Fiji, sei lá… Um paraíso para pedófilos, para a indústria do sexo, para a proliferação de casinos, para o negócio da carne humana.

O que vale, é que vamos entrar em período de férias. Deixemos ir o fulano, entretido com as suas ridículas masturbações à volta de mirabolantes sucessos governativos, que, no regresso, cá estaremos, cada vez mais definhados, mais vendidos ao estrangeiro, menos senhores do nosso destino, mais pobres e empenhados. Mas, pelo menos, durante umas semanas, somos capazes de nos esquecermos que esta gente existe.

Entretanto, Portugal cumpre o seu destino de país periférico, óptimo, por isso, para se transformar num grande e imenso urinol da União Europeia. E de quem mais quiser aproveitar o sol, o mar, a areia e outros «recursos naturais»…


Crónica de: João Carlos Pereira
Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 01/08/2007.
(Não deixe de ouvir em 98.7 Mhz e participar pelos telefones 212277046 ou 212277047 todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00).

REFLEXÕES XVIII

APESAR DE TUDO

Você acha que só desfruta dos Jogos Pan-americanos? Analise bem, veja que você em qualquer idade corre, salta, lança pesos, dardos, discos e martelos, voa por cima dos obstáculos e das pistas, troca bastões, encesta, rema, dá ippons, aplica uma chave ao seu rival, segue estratégias, deita água por cima depois de correr durante duas horas e até deixa de receber o oxigênio do qual precisam os seus pulmões. Que belo espetáculo oferecem os atletas!

Porém você não só desfruta; você participa, ainda mais quando competem atletas do seu país. No nosso caso, são poucos os eventos dos quais não participam uma equipa ou um atleta cubano.

Por outro lado, Julho e Agosto são meses de intensa actividade comemorativa. Coincidem com o período mais caloroso e húmido do ano. A isto soma-se uma palavra mágica: férias! Juntam-se nos seus lares milhões de crianças, adolescentes e jovens. Todas as idades estão influenciadas pela obsessiva necessidade de relaxar na época tensa em que vivemos.

É a vez das mães, sobretudo das avós. Com quanto amor e tenacidade tomam conta dos filhos dos seus filhos e até dos filhos dos seus netos. Ano após ano são as heroínas da maratona.

As datas comemorativas careceriam de sentido sem os avanços atingidos pela nossa Revolução, que são a soma de exemplos e dos esforços realizados durante muito tempo. Cuba é um país quase único no que respeita aos serviços gratuitos na educação, na saúde e na prática desportiva.

Homenagem especial para o companheiro que exatamente faz hoje 50 anos que entregou a sua vida combatendo a tirania: o jovem herói de 22 anos, Frank País.

Aqueles que lutaram por estes ideais conduziram-nos aos níveis actuais de justiça social, incluindo o pleno emprego para homens e mulheres do nosso país.

O sucesso mais importante da Revolução é a capacidade de resistir a quase meio século de bloqueio e privações de todo tipo. Não exclui a limitação na variedade e qualidade dos alimentos e as futuras ameaças de preços inacessíveis pela exigência imperialista de utilizar parte importante desta escassa e vital matéria-prima na produção de combustível.

Os Jogos Pan-americanos chegaram ao seu termo e eu ficarei com saudades deles.

Cuba conquistou o primeiro lugar no atletismo, com 12 medalhas de ouro, e o segundo por países nos XV Jogos Pan-americanos com 59 medalhas de ouro no total, depois dos Estados Unidos, que ganharam 97; isto é, 1,64 medalhas de ouro em cada uma das ganhas pelo nosso país. Mas os Estados Unidos têm 26 vezes mais habitantes do que Cuba. Segundo cálculos conservadores, eles conseguiram uma em cada 3,09 milhões de habitantes; nós, uma em cada 195 mil habitantes.

As combativas notas do Hino Nacional de Cuba foram escutadas em 59 ocasiões.

Apesar de tudo!


Fidel Castro Ruz
30 de Julho de 2007

1997, 2007 © Guia do Seixal

Visões do Seixal Blog Directório Informações Quem Somos Índice