31/05/2008

REFLEXÕES XXXVI

A POLÍTICA CÍNICA DO IMPÉRIO

Não seria honesto que eu guardasse silêncio depois do discurso de Obama, na tarde de 23 de Maio, perante a Fundação Cubano-Americana, criada por Ronald Reagan. Escutei-o, assim como o fiz com o de McCain e o de Bush. Não guardo rancor à sua pessoa, porque não foi responsável pelos crimes cometidos contra Cuba e contra a humanidade. Se o defendesse, faria um enorme favor aos seus adversários. Por isso, não temo em criticá-lo e de expor com franqueza os meus pontos de vista sobre as suas palavras.

O que afirmou?

"No decurso da minha vida houve injustiça e repressão em Cuba, e nunca, durante a minha vida, o povo conheceu a verdadeira liberdade; nunca, durante duas gerações, o povo de Cuba experimentou uma democracia… Não temos visto eleições durante 50 anos… Nós não vamos suportar essas injustiças, todos nós, juntos, vamos conseguir a liberdade de Cuba," disse aos anexionistas e prosseguiu: "Essa é a minha palavra. Esse é o meu compromisso. …É hora de que o dinheiro estadunidense faça com que o povo cubano seja menos dependente do regime de Castro. Vou manter o embargo…"

O conteúdo das palavras deste forte candidato à presidência dos Estados Unidos, isenta-me da necessidade de explicar o porquê desta reflexão.

O próprio José Hernández, um dos dirigentes da Fundação Cubano-Americana, que Obama elogia no seu discurso, era o proprietário do fuzil automático calibre 50, com mira telescópica e raios infravermelhos apreendido por acaso com outras armas mortíferas, durante a sua transportação pelo mar rumo à Venezuela, onde a Fundação planejou assassinar quem está escrevendo isto, numa reunião internacional, realizada em Margarita, estado venezuelano de Nueva Esparta.

O grupo de Pepe Hernández desejava voltar ao pacto com Clinton, que o clã de Mas Canosa traiu, dando, mediante a fraude, a vitória a Bush em 2000 porque tinha prometido assassinar Castro, assunto que todos aceitaram com vontade. São conluios políticos próprios do sistema decadente e contraditório dos Estados Unidos.

O discurso do candidato Obama pode converter-se numa fórmula de fome para a nação, as remessas como esmolas, e as visitas a Cuba como propaganda para o consumismo e o modo de vida insustentável que o sustenta.

Como vai encarar o gravíssimo problema da crise alimentar? Os grãos devem ser distribuídos entre os seres humanos, os animais domésticos e os peixes, que ano após ano são cada vez mais pequenos e mais escassos nos mares excessivameente explorados pelos grandes navios de pesca de arrastão, que nenhum organismo internacional foi capaz de deter. Não é fácil produzir carne a partir do gás e do petróleo. O próprio Obama superestima as possibilidades da tecnologia no combate à mudança climática, embora esteja mais ciente que Bush dos riscos e do escasso tempo disponível. Poderia consultar Gore, que também é democrata e deixou de ser candidato, porque sabe muito bem ao ritmo acelerado que aumenta o aquecimento. O seu mais próximo adversário político, embora não candidato, Bill Clinton, perito em leis extraterritoriais como a Helms-Burton e a Torricelli, pode prestar assessoria num tema como o bloqueio, que prometeu pôr fim a ele e nunca o cumpriu.

Como foi que se expressou no seu discurso de Miami o que, sem dúvida, do ponto de vista social e humano, é o mais avançado candidato à presidência nos Estados Unidos? "Durante 200 anos" ― disse ― "os Estados Unidos esclareceram que não vamos suportar a intervenção no nosso hemisfério, contudo, devemos reparar que existe uma intervenção importante, a fome, as doenças, o desespero. Do Haiti ao Peru podemos fazer melhor as coisas e devemos fazê-lo, não podemos aceitar a globalização dos estômagos vazios…" Magnífica definição da globalização imperialista: a dos estômagos vazios! Devemos agradecer-lhe isso; mas há 200 anos, Bolívar lutou pela unidade da América Latina e há mais de 100 anos, Martí entregou a sua vida combatendo contra a anexação de Cuba aos Estados Unidos. Então, qual a diferença entre o proclamado por Monroe e o que, dois séculos depois, proclama e reivindica Obama no seu discurso?

"Teremos um enviado especial da Casa Branca, como o fez Bill Clinton" ― expressou quase ao concluir ― "…Vamos ampliar o Corpo de Paz e vamos pedir a mais jovens que façam com que os nossos vínculos com as pessoas sejam mais fortes e, talvez, mais importantes. Podemos forjar o futuro, e não deixar que o futuro nos forje." É uma bela frase, porque admite a idéia, ou pelo menos o temor, de que a história faz os personagens e não o contrário.

Os actuais Estados Unidos não têm nada a ver com a declaração de princípios de Filadélfia, formulada pelas 13 colónias que se revoltaram contra o colonialismo inglês. Hoje constituem um império gigantesco, que não passava naquele momento pela mente dos seus fundadores. Porém, nada mudou para os indígenas e os escravos. Os primeiros foram exterminados à medida que a nação se estendia; os segundos continuaram a ser objecto de leilões nos mercados ― homens, mulheres e crianças ― durante quase um século, apesar de "todos os homens nascerem livres e iguais", como afirma a declaração. As condições objectivas no planeta foram favoráveis para o desenvolvimento desse sistema.

Obama no seu discurso conferiu à Revolução Cubana um carácter antidemocrático e carente de respeito à liberdade e aos direitos humanos. É exactamente o argumento que, quase sem excepção, empregaram as administrações dos Estados Unidos para justificarem os seus crimes contra a nossa pátria. O bloqueio, de per si, é um genocídio. Não desejo que as crianças norte-americanas sejam educadas sob essa vergonha.

A revolução armada no nosso país talvez não tivesse sido necessária sem a intervenção militar, a Emenda Platt e o colonialismo económico que ela trouxe à ilha.

A Revolução foi produto da dominação imperial. Não nos podem acusar de tê-la imposto. As mudanças verdadeiras puderam e deveram surgir nos Estados Unidos. Os seus próprios operários, há mais de um século, lançaram a reivindicação de oito horas, filha da productividade do trabalho.

A primeira coisa que os líderes da Revolução Cubana aprenderam com Martí foi acreditar e agir em nome de uma organização fundada para levar a cabo uma revolução. Sempre dispusemos de faculdades prévias e, já institucionalizada, fomos eleitos com a participação de mais de 90% dos eleitores, como é costume em Cuba, e não a ridícula participação que muitas vezes, como nos Estados Unidos, não atinge 50% dos eleitores. Nenhum outro país pequeno e bloqueado como o nosso teria sido capaz de resistir tanto tempo, com base na ambição, na vaidade, no engano ou nos abusos de autoridade, a um poder como o do seu vizinho. Afirmá-lo constitui um insulto à inteligência do nosso heróico povo.

Não duvido da aguda inteligência de Obama, da sua capacidade para polemizar e do seu espírito de trabalho. Domina as técnicas da comunicação e está acima dos seus adversários na disputa eleitoral. Observo, com simpatia, a sua esposa e as suas filhas, que o acompanham e animam todas as terças-feiras; sem dúvida, é um quadro humano agradável. Contudo, sou obrigado a fazer algumas perguntas delicadas, ainda que não pretenda respostas, apenas confirmá-las.

1º — É correcto que o presidente dos Estados Unidos ordene o assassinato de qualquer pessoa no mundo, seja qual for o pretexto?

2º — É ético que o presidente dos Estados Unidos ordene torturar outros seres humanos?

3º — É o terrorismo de Estado um instrumento que deve utilizar um país tão poderoso como os Estados Unidos para que exista paz no planeta?

4º — É boa e honorável uma Lei de Ajuste que é aplicada como punição a um só país, Cuba, para o desestabilizar, embora custe a vida a crianças e mães inocentes? Se for boa, por que não é aplicado o direito automático de residência aos haitianos, dominicanos e demais cidadãos de países do Caribe, e se faz a mesma coisa com os mexicanos, centro-americanos e sul-americanos, que morrem como moscas no muro da fronteira mexicana ou nas águas do Atlântico e do Pacífico?

5º — Podem os Estados Unidos prescindir dos imigrantes, que cultivam vegetais, frutas, amêndoas e outras delícias para os norte-americanos? Quem vai varrer as suas ruas, prestar serviços domésticos e fazer os trabalhos piores e menos remunerados?

6º — São justas as batidas policiais contra os indocumentados, que atingem, inclusive, crianças nascidas nos Estados Unidos?

7º — É moral e justificável o roubo de cérebros e a contínua extracção das melhores inteligências científicas e intelectuais dos países pobres?

8º — O senhor afirma, como lembrei no início desta reflexão, que o seu país advertiu, há tempo, as potências europeias que não admitiria intervenções no hemisfério, e ao mesmo tempo enfatiza a exigência desse direito, reclamando também o de intervir em qualquer parte do mundo com o apoio de centenas de bases militares, forças navais, aéreas e espaciais distribuídas no planeta. Pergunto-lhe, é essa a forma em que os Estados Unidos exprimem o seu respeito pela liberdade, democracia e direitos humanos?

9º — É justo atacar de surpresa e preventivamente sessenta ou mais obscuros cantos do mundo, como os chama Bush, seja qual for o pretexto?

10º — É honorável e sensato investir milhões de dólares no complexo militar industrial para produzir armas que podem liquidar várias vezes a vida na Terra?

O senhor deveria saber, antes de julgar o nosso país, que Cuba, com os seus programas de educação, saúde, desporto, cultura e ciências, aplicados não só no seu próprio território, mas também em outros países pobres do mundo, e com o sangue derramado em solidariedade a outros povos, apesar do bloqueio económico e financeiro e das agressões do seu poderoso país, é uma prova de que se pode fazer muita coisa com muito pouco. Nem à nossa melhor aliada, a URSS, foi permitido traçar o nosso destino.

Para cooperar com outros países, os Estados Unidos só podem enviar profissionais ligados à disciplina militar. Não pode fazê-lo de outro jeito, porque carece de número suficiente de pessoal disposto a sacrificar-se por outros e a oferecer apoio significativo a um país com dificuldades, apesar de em Cuba termos conhecido e terem conosco cooperado excelentes médicos norte-americanos. Eles não são os culpados porque a sociedade não os educa em massa nesse espírito.

A cooperação do nosso país nunca é sujeitada a requisitos ideológicos. Oferecemo-la aos Estados Unidos quando o furacão Katrina bateu duramente a cidade de Nova Orleans. A nossa brigada médica internacionalista leva o nome glorioso de Henry Reeve, um jovem nascido nesse país que lutou e morreu pela soberania de Cuba na primeira guerra da nossa independência.

A nossa Revolução pode convocar dezenas de milhares de médicos e técnicos de saúde. Pode convocar, também em massa, professores e cidadãos dispostos a irem a qualquer canto do mundo, para qualquer nobre propósito. Não para usurpar direitos nem conquistar matérias-primas.

Nas pessoas de boa vontade e disposição há infinitos recursos que não se guardam nem cabem nas arcas de um banco, nem emanam da política cínica de um império.


Fidel Castro Ruz
25 de Maio de 2008

28/05/2008

CRÓNICA DE UM PAÍS AGONIZANTE

Passo os olhos pelas notícias. Vou lendo:

«Consumo das famílias é o mais baixo desde 2003. Um em cada dez portugueses vive com menos de dez euros por dia. Este é um dos dados de um relatório do Eurostat, sobre a situação social nos Estado membros, que afirma também que Portugal é líder europeu nas desigualdades sociais. Segundo o Relatório sobre a Situação Social na União Europeia em 2007, Portugal é o único país da Europa a 25 cuja diferença entre os mais ricos e os mais pobres ultrapassa os Estados Unidos».

«Portugal distingue-se como sendo o país onde a repartição é mais desigual».

Continuo a ler:

«Dez por cento da população portuguesa vive com menos de 10 euros por dia. Na União Europeia a média não ultrapassa os cinco por cento. O relatório destaca como principais geradores de pobreza a relação entre os baixos salários e as baixas qualificações. Em Portugal, 90% dos pobres tem no máximo o terceiro ano do ensino básico».

«Pobreza agrava-se em Portugal»

«Entre 1995 e 2000 (consulado socialista de Guterres, recordo eu) mais de metade das famílias portuguesas (52,4%) estiveram muito vulneráveis à pobreza, durante um espaço de um ano, e a grande parte desses pobres tinha como principal fonte de rendimento o seu ordenado».

«A pobreza atinge sobretudo crianças e reformados. Apesar do fenómeno estar nas cidades, são as zonas rurais que continuam mais vulneráveis».

«Mesmo entre a população não pobre, o estudo revela que quase 20 por cento dos portugueses confrontam-se com a falta de dinheiro para chegar ao fim do mês. Por isso, o coordenador do estudo afirma que é necessário aumentar os ordenados e democratizar as empresas».

«Segundo o estudo, 61% dos pobres não tem condições para manter a casa quente, 12% não tem banheira ou chuveiro e 10% nem sequer tem casa de banho».

Fico a pensar: se isto era assim em 2000, como será agora, que o actual governo do Partido Socialista agravou – e continua a agravar selvaticamente – as condições de vida dos portugueses?

Volto às notícias.

«A crise instalou-se em definitivo. As famílias estão sem dinheiro para pagar os empréstimos, o consumo privado está em queda e a actividade económica abrandou para os níveis de 2006. Os números são do Banco de Portugal. O crédito de cobrança duvidosa, no segmento do consumo, disparou 44 por cento, para 590 milhões de euros, de Março de 2007 para o mesmo mês deste ano. De Fevereiro para Março o valor dos empréstimos que correm o risco de não ser pagos subiu 21 milhões de euros, a uma média 724 mil euros por dia».

«No segmento da habitação, o total do crédito malparado calotes totalizou 1,36 mil milhões de euros em Março último (crescimento de 13,5 por cento em relação ao mesmo mês de 2007)».

«Apesar do rácio de incumprimento das empresas face à banca ter-se mantido em 1,7% do total atribuído, o seu valor absoluto cresceu 15,2%. Ou seja, no final de Março, o malparado das empresas atingiu os 1,8 mil milhões de euros, o que representa o valor mais alto desde Fevereiro de 2004».

Hipnotizado, continuo a minha leitura:

«O consumo das famílias caiu em Abril, pelo nono mês consecutivo, atingindo o valor mais baixo em cinco anos (Agosto de 2003), com a economia a apresentar sinais de contínua deterioração, de acordo com os indicadores ontem divulgados pelo Banco de Portugal».

«Em relação a Abril do ano passado, o nível do consumo das famílias foi 0,2% mais baixo. E, a avaliar pelo andamento das vendas de cimento, do comércio a retalho, produção da indústria transformadora e a situação financeira das famílias, a actividade económica abrandou, registando o pior valor dos últimos dois anos (Abril 2006)».

Entretanto, chega ao meu e-mail a seguinte informação:

«Em 6 dias um médico espanhol operou tanto como 5 médicos portugueses num ano – e por metade do preço cobrado na privada. Um oftalmologista espanhol realizou 234 cirurgias a doentes com cataratas, no Hospital Nossa Senhora do Rosário, no Barreiro, num processo que está a "indignar" a Ordem dos Médicos. Os preços praticados são altamente concorrenciais, tendo sido esta a solução encontrada pelo hospital para combater a lista de espera. O paciente mais antigo já aguardava desde Janeiro de 2007, tendo ultrapassado o prazo limite de espera de uma cirurgia. No ano passado chegaram a existir 616 novas propostas cirúrgicas em espera naquela unidade de saúde. Os sete especialistas do serviço realizaram apenas 359 operações em 2007 (cerca de 50 por médico, num ano). No final do ano passado, a lista de espera era de 384, e foi entretanto reduzida a 50 com a intervenção do médico espanhol. A passagem pelo Barreiro durante o mês de Março - onde garante regressar nos próximos dois anos, embora o hospital não confirme – foi a segunda experiência em Portugal do oftalmologista José António Lillo Bravo, detentor de duas clínicas na Estremadura espanhola – em Dom Benito (Badajoz) e Mérida. Entre 2000 e 2003 já havia realizado 1.500 operações no Hospital de Santa Luzia, em Elvas, indiferente às "críticas" de que diz ter sido alvo dos colegas portugueses. "Eu percebo a preocupação deles e sei porque há listas de espera tão grandes em Portugal. É que por cada operação no privado cobram cerca de dois mil euros", disse ao DN o oftalmologista espanhol, inscrito na Ordem dos Médicos portuguesa, que cobrou 900 euros por cada operação realizada no Barreiro. As 234 cirurgias realizadas no Barreiro, por um total de 210 mil euros, foi o limite possível sem haver necessidade de abrir concurso público internacional, sendo que o médico fez deslocar a sua equipa e ainda o microscópio e o facoemulsificador. O hospital disponibilizou somente um enfermeiro para prestar apoio».

Também na internet anda a circular um texto, em constante actualização, intitulado A anedota em que se transformou o país de Sócrates. Eis algumas passagens:

- Uma adolescente de 16 anos pode fazer livremente um aborto, mas pode vir a ser impedida de colocar um piercing.

- Um professor é agredido por um aluno, mas nada pode fazer, porque a sua progressão na carreira depende da nota que dá ao seu aluno.

- Perante o professor sovado pelo aluno, o Governo atribui a culpa a causas sociais.

- Um jovem de 18 anos recebe €200 do Estado para não trabalhar; um idoso recebe de reforma €236, depois de toda uma vida do trabalho.

- Um marido oferece um anel à mulher e tem de declarar a doação ao fisco.

- O mesmo fisco penhora indevidamente o salário de um trabalhador… e demora 3 anos a corrigir o erro.

- O IVA de um preservativo é de 5%. O IVA de uma cadeirinha de automóvel, obrigatória para quem tem filhos até aos 12 anos, assim como o das fraldas descartáveis, é de 21%.

- Se um presidente de um clube de futebol falar com o árbitro para favorecer a sua equipa, esta desce de divisão. Se lhe der dinheiro, são-lhe subtraídos 6 pontos – se não lhe fizerem falta.

- Um clube inscreve mal um jogador, e são-lhe retirados 6 pontos; um clube suborna um árbitro, e… são lhe retirados 6 pontos.

- Um polícia agride um marginal, e diz-se que usou de força excessiva (se o marginal for de outra raça, até é acusado de racismo). Um bando de marginais mata um ou mais polícias, e… bem, é porque não estão inseridos na sociedade.

- Militares que combateram em África a mando do governo da época, tendo ficado definitivamente estropiados e psicologicamente afectados, não vêem reconhecido nenhum direito; entretanto, o Governo paga fortunas para manter tropas no estrangeiro, a fazer as guerras de Bush. E o primeiro-ministro diz que estão a defender a honra do país.

- No exame final de 12.º ano, se és apanhado a copiar, chumbas o ano. O primeiro-ministro fez o exame de inglês técnico em casa, mandou por fax, e é engenheiro…

- Numa empreitada pública, os trabalhadores são quase todos imigrantes ilegais, que recebem abaixo do salário mínimo, e ninguém fiscaliza…

- Num café, o proprietário vê o seu estabelecimento ser encerrado só porque não tinha uma placa a dizer que é proibido fumar.

- Nas prisões, são distribuídas gratuitamente seringas por causa do HIV. Como entra droga nas prisões?

- Começas a descontar em Janeiro o IRS e só vais receber o excesso em Agosto do ano que vem. Não pagas às finanças a tempo e horas; passado um dia, já estás a pagar juros.

- Um jovem de 14 anos que mata um adulto, não tem idade para ir a tribunal. Um jovem de 15 anos leva uma bofetada do pai, por ter roubado dinheiro para a droga, e é violência doméstica.

- Se o teu filho não tem cabeça para a escola e, com 14 anos, o pões a trabalhar contigo num ofício respeitável, é exploração do trabalho infantil. Se és artista ou político, e o teu filho ou sobrinho, com 7 anos, participa em gravações de telenovelas, várias horas por dia, é uma criança cheia de talento, que sai aos seus…

- Na defesa do ambiente, a Junta de Freguesia da Ericeira reciclava óleos de cozinha para fazer Biodiesel para os seus carros. Poupava combustível, não poluía a atmosfera e evitava que os óleos fossem contaminar o meio ambiente. O governa multou-a, porque não pagou imposto sobre produtos petrolíferos.

- Uma família, a quem uma casa ruiu ou ardeu, e não tem dinheiro para comprar outra, terá de viver conforme puder, porque o Estado fecha-se em copas. Presidiários, que violaram e mataram idosos, estão seis numa sela de quatro, e sem wc privado. Não estão a viver condignamente, e as associações que zelam pelos direitos humanos fazem queixa ao Tribunal Europeu.

- Fechas a tua varanda e estás a fazer uma obra ilegal; constrói-se um bairro de lata… e ninguém vê.

- O primeiro-ministro diz que o Serviço Nacional de Saúde, com as medidas tomadas, está mais prático e eficiente. Mas não há registo de alguém ter visto, ministro, esposa ou enteados nos Centros de Saúde ou urgências hospitalares.

E pronto, meus amigos! Reconheço que nunca tive tão pouco trabalho para fazer uma crónica. Na verdade, ela nem foi feita por mim, mas pelo senhor «engenheiro» Sócrates. É dele – e do seu Partido Socialista – a responsabilidade de tudo o que foi dito.

A propósito: quanto terão aumentado os combustíveis nestes últimos minutos?


Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 28/05/2008.
(Não deixe de ouvir em 98.7 Mhz e participar pelos telefones 212277046 ou 212277047 todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00).

26/05/2008

REFLEXÕES XXXV

AS IDEIAS IMORTAIS DE MARTI

HÁ apenas uns dias, uma pessoa amiga enviou-me o texto de uma declaração da Gallup, famosa firma de sondagens dos Estados Unidos. Comecei a ler o material com natural desconfiança pela informação mentirosa e hipócrita que usualmente empregam contra a nossa pátria.

Era uma sondagem sobre educação, na qual era incluída Cuba, que soe ser ignorada. Analisava-se a situação em quatro regiões do mundo: Ásia, Europa, África e América Latina. Nalguns aspectos, eram incluídos vários países do Caribe.

Primeira pergunta: As crianças do seu país são tratadas com dignidade e respeito?

Resposta positiva: Ásia 73%; Europa 67%; África 60%; América Latina 41%. Se são incluídos os países caribenhos, a Gallup expressa que, no Haiti, apenas 13% das pessoas responderam afirmativamente a essa pergunta.

Segunda pergunta: As crianças do seu país têm a oportunidade de aprender e crescer a cada dia?

Na Ásia 75% responderam sim; na Europa 74%; na África 60%; na América Latina 56%. Muitos países da região ficaram abaixo de 50%.

Terceira pergunta: É a educação deste país acessível para qualquer pessoa que queira estudar independentemente da sua situação económica?

As respostas mostram que em muitas nações da América Latina existe uma situação dolorosa, e melhores respostas no Caribe anglófono.

Não desejo ofender nenhum desses países que mencionei, mas não faria sentido escrever estas linhas sem assinalar o lugar ocupado por Cuba — que tanto é caluniada — na sondagem. Ficou no primeiro lugar entre todos os países do mundo.

À primeira pergunta, 93% dos entrevistados pela Gallup respondeu sim; à segunda, 96%, e à terceira 98%. Como é sabido, o cubano costuma responder a qualquer pergunta com toda a franqueza.

Outro ponto que chama especialmente a atenção é que a Venezuela, 70% e 80%, respectivamente, respondeu sim à primeira e segunda perguntas. Trata-se de um país que implementa um grande programa de educação erradicando o analfabetismo e promovendo o estudo em todos os níveis, cujo processo começou há poucos anos. Por isso, ocupou a segunda colocação na região. À terceira pergunta respondeu sim 82%, razão pela qual ocupou o terceiro lugar na América Latina e no Caribe, superada por Trinidad e Tobago, que ocupou o segundo com 86%.
Em importantes países da América Latina, como a Argentina, México, Brasil e Chile, responderam sim à pergunta 57%, 56%, 52% e 43%, respectivamente, dos entrevistados. Tiveram melhores resultados que estes a República Dominicana, Panamá, Uruguai, Belize e Bolívia, com 76%, 73%, 70%, 66% e 65%. Entre os piores lugares encontram-se o Paraguai e o Haiti, com 17%.

Cuba coopera gratuitamente com esses dois e com muitos outros países irmãos do hemisfério, tanto na educação como na saúde, pondo especial ênfase na formação de pessoal médico. Assim, Cuba cumpre modestamente o seu dever martiano: "Pátria é humanidade", como afirmou o nosso Herói Nacional.

Em 19 de maio, completou-se o 113.º aniversário de sua morte, em Dos Ríos, em 1895. Como é sabido, a intervenção militar dos Estados Unidos frustrou a independência da nossa pátria. Inúmeros patriotas morreram na luta ao longo de quase 30 anos.
A poderosa potência do Norte sempre foi hostil à nossa luta, pois havia muito tempo que lhe dera o destino manifesto de fazer parte de seu território em plena expansão.
Na hora, a decadência do império espanhol, onde nunca se punha o Sol, facilitou o golpe à nova potência imperial para lhe arrebatar Cuba, Porto Rico, Filipinas e Guam. Procurou pretextos, utilizou o engano e a mentira, reconheceu que, de facto e de direito, o povo cubano era livre e independente, com o qual procurava o apoio dos seus aguerridos combatentes para apoiar a guerra dos interventores.
Naquela luta final, os espanhóis demonstraram a habitual valentia dos seus soldados e a burrice do seu governo. A esquadra de Cervera foi inteiramente aniquilada à saída da Baía de Santiago de Cuba pelos couraçados norte-americanos, como já explicámos noutras ocasiões, quase sem poder disparar um canhonaço. A grande fraude veio depois, quando já desarmado o povo, impuseram a Cuba a Emenda Platt e acordos económicos leoninos; o país, destruído e sangrado, passou a ser inexoravelmente uma propriedade dos Estados Unidos.

É essa a verdadeira história.

O que vem acontecendo nos últimos tempos? Enlouquecem diante da firme resistência do nosso povo e o seu avanço modesto rumo a um mundo mais justo, apesar da desintegração do bloco socialista e da URSS.

A Rádio Martí, a Tevê Martí e outras formas sofisticadas de agressão mediática são insultos ao nome do nosso Herói Nacional, com que tentam humilhar o povo cubano e destruir a sua resistência.

Um dilúvio de discursos e mentiras é dirigido contra Cuba. Fala McCain, candidato de Bush à presidência do império; fala o próprio Bush. Contra quem? Contra Martí. Em nome de quem? De Martí.

Referem-se a torturas atrozes, algo que jamais tem acontecido no nosso país, e até a pessoa menos informada dos cubanos sabe disso. E quem falam de torturas? McCain, o candidato, e George W. Bush, o presidente.

O que declara o candidato?

"Gostaria de agradecer aos meus dois caros amigos do Congresso, Lincoln e Mario Díaz-Balart, que são fiéis defensores da liberdade do povo de Cuba. São homens de honra e de integridade. Eu respeito-os e admiro-os muitíssimo. São os melhores membros do Congresso com que pude trabalhar e que conheci…"
"Meus amigos, hoje, dia da independência de Cuba, temos a oportunidade de celebrar o legado cultural e as raízes mais arreigadas do povo cubano…"
"Os lutadores da liberdade que conseguiram a independência de Cuba há mais de cem anos, nem imaginavam que os seus descendentes travariam uma luta pela liberdade e democracia um século mais tarde…"
"Um dia, Cuba será um aliado importante para conseguir a democracia no nosso hemisfério…"
"A tirania não se manterá até ao fim dos tempos e, como presidente, não esperarei passivamente o dia em que o povo cubano possa desfrutar da alegria da liberdade e da democracia. Não esperarei…"
"A minha administração obrigará o regime de Cuba a libertar todos os presos políticos, sem condições, e a planejar umas eleições sob supervisão internacional…"
"O embargo deve manter-se, até surgirem esses elementos cruciais da democracia e da social-democracia."
"Há que impedir que a Venezuela e a Bolívia sigam o exemplo de Cuba."

McCain, no seu livro “A fé de meus pais”, confessou que estava entre os cinco últimos alunos do seu curso em West Point. Está demonstrando isso. No fim da sua prisão foi débil, e também o reconhece. Lançou um sem-número de bombas contra o povo vietnamita. Quantas vidas e quanto dinheiro custou aquela aventura? O ouro valia então US$35 e delapidaram nessa guerra US$500 bilhões. As consequências ainda estão a ser pagas. A onça troy vale hoje mil dólares e são novamente delapidados centenas de bilhões em cada ano nas guerras. Novos e complexos problemas se acumulam. Onde estão as soluções?

O que disse o presidente George W. Bush?

"Há 113 anos, Cuba perdeu José Martí, o seu grande poeta e patriota, e há 106 anos, Cuba conseguiu a sua independência, pela qual Martí entregou a sua vida... Martí e as suas palavras provaram serem mais certas do que nós podíamos ter imaginado…"
"O regime não tem feito sequer mudanças cosméticas. Os dissidentes continuam sendo perseguidos, surrados, encarcerados…"
"O mundo tem os olhos postos no regime cubano. Se realmente abrir ou implementar aberturas sobre a informação, se respeitar as liberdades políticas, os direitos humanos, então, poderá dizer que realmente começou uma mudança nesse país… Não vamos permitir que nos decepcionem e nos mintam, e também não o permitirá o povo cubano. Enquanto o regime se isolar, o povo cubano continuará agindo com dignidade, com honra, com valor…"
"Este é o primeiro dia de solidariedade ao povo cubano, e os Estados Unidos devem lembrar esses dias, celebrá-los, até a liberdade chegar a Cuba.
"Devemos apoiar Cuba, até se converter numa nação democrática, pacífica.
"Nós envidamos esforços para promover a liberdade e a democracia em Cuba, incluindo a abertura da informação, o acesso à informação através da Rádio "Martí".
"Também queremos licenciar organizações não-governamentais e outras instituições caridosas para que o povo cubano tenha acesso aos celulares e à internet…"
"Através destas medidas, os Estados Unido ajudam o povo cubano. Contudo, sabemos que a vida não mudará radicalmente para os cubanos até mudar a sua forma de governo. Para aqueles que têm sofrido durante décadas, talvez essas mudanças pareçam impossíveis, mas, na verdade, são inevitáveis…"
"Chegará o dia em que todos os prisioneiros políticos serão libertados, e isso levar-nos-á a outro grande dia: que Cuba possa eleger os seus próprios líderes por meio de votação em eleições livres e justas.
"Cento e treze anos depois da morte de José Martí, um novo poeta e patriota expressa a esperança do povo cubano. Willy Chirino vai cantar uma canção que está nos corações e nos lábios do povo cubano: Nosso dia vem chegando."

Do cerco de fome e bloqueio que dura decénios, nem fala.

Martí era um pensador profundo e anti-imperialista vertical. Ninguém como ele na sua época conhecia com tanta precisão as funestas consequências dos acordos monetários que os Estados Unidos tentavam impor aos países latino-americanos, que foram a matriz dos de livre comércio, que hoje, em condições mais desiguais que nunca, ressuscitaram.

"Quem fala em união económica, fala em união política. O povo que compra, comanda. O povo que vende, serve. É preciso equilibrar o comércio, para garantir a liberdade… O povo que quiser ser livre, terá que ser livre em negócios."

São princípios proclamados por Martí.

Na época, pagava-se com prata ou ouro. Hoje paga-se com papéis.

Numa carta inconclusa ao seu amigo Manuel Mercado, na véspera de sua morte, sublinhou:

"…Já estou todos os dias em perigo de dar a minha vida pelo meu país e pelo meu dever — visto que o entendo e tenho ânimos com que realizá-lo — de impedir a tempo com a independência de Cuba que os Estados Unidos se estendam pelas Antilhas e caiam, com essa grande força, sobre as nossas terras da América. Quanto fiz até hoje, e farei, é para isso. Em silêncio teve que ser e indirectamente, porque há coisas que para consegui-las hão-de fazer-se às ocultas, e de se proclamarem o que são, provocariam dificuldades demasiado violentas para alcançar sobre elas o fim."

Não importa as vezes que se repitam estas íntimas e reveladoras palavras maravilhosamente expostas.

Com essas frases lapidares na mente lançou-se ao ataque, horas depois, por sua própria conta, contra a coluna espanhola. Ninguém o teria podido reter. Cavalgando na primeira linha, recebeu três tiros mortais no seu avanço impetuoso.

Em 26 de julho de 2004, quando Bush fazia quase três anos que já estava bombardeando, torturando e matando na sua absurda guerra antiterrorista, no meio da invasão ao Iraque, analisei a sua esquisita personalidade, partindo do estudo do interessante livro “Bush no divã”, do dr. Justin A. Frank, que contém um dos mais reveladores e fundamentados estudos da personalidade de George W. Bush:

"A confabulação é um fenómeno comum entre os consumidores de álcool, como o é a perseverança que se evidencia na tendência de Bush a repetir palavras e frases chaves, como se a repetição o ajudasse a permanecer calmo e a manter a atenção."
"…Se, além disso, assumirmos que os dias de alcoolismo de George W. Bush ficaram atrás, ainda resta a interrogação do dano permanente que pode ter causado antes de deixá-lo, além do considerável impacto na sua personalidade que podemos rastejar até à sua abstinência sem tratamento. Todo o estudo psicológico ou psicanalítico integral do presidente Bush terá que explorar quanto mudou o cérebro e as suas funções em mais de 20 anos de alcoolismo."

Nenhum dos dois oradores de 20 e 21 de Maio menciona sequer os Cinco heróis antiterroristas cubanos, cuja informação permitiu descobrir os planos de Posada Carriles e impedir a explosão de aviões em pleno vôo com visitantes estrangeiros, inclusive norte-americanos, para golpear o turismo. Pressionaram e subornaram a presidente do Panamá e ajudaram a libertá-lo. Santiago Álvarez levou-o ilegalmente à Flórida. Logo após denunciei-o publicamente. Tudo foi comprovado. Depois foi confiscado um enorme arsenal de armas ao próprio Santiago Álvarez.

Desejam a impunidade dos terroristas e dos mercenários. Quão longe estão de conhecer Cuba e o seu povo!

As grosseiras mentiras de McCain e de Bush constituem o único caminho para não obter absolutamente nada do povo heróico que tem sabido resistir ao poder do império durante quase meio século.

Desejamos confirmá-lo perante a história: as ideias imortais anegadas com o sangue de Martí jamais serão traídas!


Fidel Castro Ruz
22 de Maio de 2008

25/05/2008

SÓCRATES CUMPRE!

Ao contrário daquilo que as oposições ao actual governo andam por aí a propalar, afinal o tal “engenhero” está a cumprir uma das suas promessas eleitorais, sobre a criação de 150.000 novos postos de trabalho.

Graças ao seu forte empenhamento pessoal baseado numa esquerda moderna, tem vindo com a sua política a incentivar as empresas estrangeiras, principalmente as espanholas, a contratarem trabalhadores portugueses que na sua terra não encontram colocação e têm de emigrar para poderem sustentar a família.

Começa a ser dramática esta situação e muitas vidas se têm perdido, tal como aconteceu mais uma vez esta semana, em que três trabalhadores portugueses morreram e dois ficaram gravemente feridos num acidente de viação perto de Lugo, na Galiza, quando a furgoneta em que viajavam para virem passar o fim de semana a casa, embateu frontalmente contra um camião de transporte de madeira.

Para o tal “engenhero” e seus ajudantes, o que conta são as estatísticas e não me admiro nada que daqui a algum tempo venham dizer que o número de desempregados diminuiu 150.000, pelo que, logo, foram criados esses postos de trabalho.

Nem sequer têm um pingo de vergonha e não lhes pesa a consciência (se é que a têm) para reconhecerem que indirectamente são os autores morais por estas mortes e pelo desespero destas famílias, assobiando para o lado como se nada fosse com eles.

Sócrates está realmente a cumprir a promessa, apenas com a pequena nuance de que os postos de trabalho são fora do país. Ele nunca disse que seriam em Portugal.

E no meio de tudo isto o que faz o senhor Silva? Nada, absolutamente nada, porque ele como Presidente da República diz sempre que não se deve pronunciar sobre matérias que dizem respeito ao governo.

Mais valia ter em Belém um manequim da Rua dos Fanqueiros, que sempre ficava mais barato ao país.


Celino Cunha Vieira

21/05/2008

QUANDO OS REIS VÃO NUS

O facto, só por si, não tem um significado por aí além, pois ninguém é perfeito, nem o senhor Pinto de Sousa, também conhecido por «engenheiro» José Sócrates. Por isso, ter sido apanhado em transgressão, violando a chamada Lei do Tabaco, que em boa hora criou – alguma coisa de meritório, enfim, saiu da sua cartola – bem podia ser levado à conta dos pecados menores, se bem que, para quem tanto apregoa o rigor, o bom carácter e outras virtudes que tais, tenha sido algo verdadeiramente muito feio.

Não que me espante, pois a ideia que tenho do sujeito que governa o país permite-me pensar que o acto transgressor não destoa no quadro da personalidade do dito cujo. Para mim, Sócrates está nos antípodas da imagem que tenta vender ao país, ou seja, é um rei que vai nuzinho de todo. Coisa que, segundo as sondagens, parece estar a ser constatada por um número cada vez maior de portugueses.

Fumou, então, o seu cigarro, às escondidas (mas não o suficiente) e o gesto chegou à opinião pública. Que não sabia que estava a violar uma lei; que pedia perdão pelo facto; que ia – vejam lá bem! – deixar de fumar. E riu-se.

Se violar a lei – que seria o primeiro a não poder ignorar – já tinha sido mau, a emenda foi pior do que o soneto.

Não sabia? Depois da algazarra que toda que a lei suscitou? Bom… quando na rua já lhe chamavam mentiroso, o que lhe chamarão agora? Reles trampolineiro? Aldrabãozeco de trazer por casa?

Pede perdão? Então, quando se transgride uma lei basta pedir perdão? Se assim é, pois que se fechem todos os tribunais, esquadras da PSP e postos da GNR, tarefa que o Governo, aliás, parece já ter encetado. Pague mas é lá a multa e deixe-se de tretas, que é o que acontece a quem prevarica, conheça ou não as leis. Olhe! A sua ASAE explica-lhe como é.

Deixa de fumar? Ó senhor «engenheiro» Sócrates! Mas o senhor fumava? Eu pensava que era um grande atleta, capaz de correr meias maratonas (ou por lá perto) e não dispensar umas corridinhas em calções, nem que fosse na Rússia, em plena Praça Vermelha. Afinal, era só para a rapaziada pensar que estava a ser governada por um tipo bestial e sem vícios de qualquer natureza. Olha quem…

Faça-me um favor – e ao país: não deixe de fumar, pode ser? Fume muito, muitos maços por dia e, se possível, vários cigarros de cada vez. Aos três e aos quatro. Fume, satisfaça o vício, encha-se de nicotina e alcatrão, intoxique-se, envenene-se sem remédio. Se o fizer, estará a prestar, de facto – e pela primeira vez – um verdadeiro serviço a Portugal e aos portugueses.

A sério: de tudo isto, o que fica, então, não será a transgressão em si mesma, coisa que se resolvia com a multa, e pronto. Isto é: coisa que se resolvia com dignidade. Mas não: o que fica é o retrato do carácter defeituoso de Sócrates, capaz de recorrer à mentira grosseira (fartinho de saber que não podia fumar onde fumou estava ele…) para salvar a pele e, ainda por cima, não ter o senso do ridículo suficiente para ter evitado aquela de ir deixar de fumar. Como disse – e bem – Marcelo Rebelo de Sousa na RTP, afinal Sócrates não terá deixado de fumar pela única razão válida para o efeito, ou seja, porque o fumo faz mal à saúde, mas porque foi apanhado em falso. E isto, meus amigos, é estupidez chapada.

Mas deitemos esta beata fora e vamos a outras – às verdadeiras – malfeitorias do «engenheiro». Um dos boys de estimação do PS, o doutor Vítor Constâncio, promoveu, por mérito, um quadro do Banco de Portugal que está de licença sem vencimento (leia-se: a amanhar a vidinha noutro lado) há para aí uns oito anos. É a política do regabofe para a aristocracia reinante, a par da política de contenção para a plebe. Haja dinheiro para a boyada, que o resto logo se vê.

Entretanto, as idas a Cuba de centenas de portugueses, para serem operados às cataratas, estão a pôr os nervos em franja a certos sectores da nossa distinta sociedade. Pula o senhor Bastonário da Ordem dos Médicos. Uiva o senhor que diz representar os médicos oftalmologistas. Grasnam alguns senhores deputados nos seus poleiros na Assembleia da República. Murmura qualquer coisa incompreensível a balbuciante ministra da Saúde.
Parece que agora todos têm, afinal, solução para os milhares de portugueses que esperam por uma primeira consulta ou por uma operação que lhes devolva uma visão capaz – ou impeça a cegueira.

Mas onde andavam, nas últimas décadas, estas aves raras, estas hienas de jardim, estas rãzinhas de pântano? Se já havia soluções, porque não as aplicaram em tempo oportuno? Na ânsia de lutarem pelos seus privilégios – uns – ou esconderem a sua insensibilidade e incompetência – outros – não percebem suas excelências que apenas estão a demonstrar ao país que o que sempre os animou não foram os interesses reais da população, mas outros desígnios nada confessáveis. Estão cegos de raiva, é o que é.

Depois disto, só os cegos de espírito é que não viram que interesses se movem à nossa volta, mesmo em áreas tão sensíveis como a Saúde e, dentro dela, numa das mais sensíveis e dramáticas vertentes: manter a luz dos olhos. E se já sabíamos que esta gente não tem alma, isso agora ficou provado. Ou por outra: também vimos estes reizinhos na sua repugnante nudez.

Mas ao mesmo tempo que o país se deixava cegar no meio da baforada de fumo que o senhor «engenheiro» expeliu, os combustíveis voltaram a aumentar. Agora, aumentam todos os dias – ou quase. Atrás disso, tudo aumentará. As petrolíferas, que também vêem aumentar fabulosamente os seus lucros, não sofrem nada com os aumentos. Pelo contrário: só arrecadam. O governo, idem, idem, aspas, aspas. Depois, note-se que o senhor presidente da Galp acompanhou o senhor «engenheiro» na sua viagem à Venezuela. São ovos do mesmo cesto. E, curiosamente, ficámos a saber, pela boca desse cavalheiro que administra a Galp, que a culpa da subida de preços – disse ele – é do «Mercado».

Assim sendo, daqui proponho que acabemos com essa coisa das eleições e dos governos, das constituições e dos parlamentos. O «Mercado» é que decide da nossa vida, e está tudo dito. Ora, como o Mercado é assim uma espécie de ser divino, que todos sabem que existe, mas ninguém viu, então está bem. Siga o baile, e haja muita fé… no tal Mercado.

Mas cá para mim, um dia descobriremos que, disfarçados atrás do Mercado, também andam uma data de reizinhos a comer à grande e à francesa. Todos nus, também. Como veremos, no dia em que os agarrarmos pelas goelas.

Mas, para isso, é preciso ter testículos, que é coisa que vai faltando ao bom povo português…


Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 21/05/2008.
(Não deixe de ouvir em 98.7 Mhz e participar pelos telefones 212277046 ou 212277047 todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00).

20/05/2008

REFLEXÕES XXXIV

DOIS LOBOS FAMINTOS E UM CHAPEUZINHO VERMELHO

Uma ideia essencial dava voltas na minha cabeça desde o tempo em que era socialista utópico. Partia do nada com as simples noções do bem e do mal que incute a sociedade em que cada qual nasce, cheio de instintos e carente de valores que os pais, especialmente as mães, começam a semear em qualquer sociedade e época.

Como não tive preceptor político, a sorte e o acaso foram componentes inseparáveis da minha vida. Adquiri uma ideologia por minha própria conta desde o instante em que tive a possibilidade real de observar e meditar nos anos de infância, adolescência e de jovem estudante. A educação converteu-se para mim no instrumento por excelência de uma mudança na época em que tive que viver, da qual dependeria a própria sobrevivência de nossa frágil espécie.

Depois de uma longa experiência, o que penso hoje sobre o delicado tema é absolutamente coerente com esta ideia. Não preciso pedir desculpas, como preferem alguns, por falar a verdade, apesar de ser dura.

Há mais de dois mil anos, Demóstenes, famoso orador grego, defendeu com veemência nas praças públicas uma sociedade, onde 85% das pessoas eram escravas ou cidadãos que careciam de igualdade e de direitos como algo natural. Os filósofos concordavam com esse ponto de vista. Daí surgiu a palavra democracia. Não se podia exigir mais deles no seu tempo. Actualmente, que se dispõe de um enorme caudal de conhecimentos, as forças produtivas multiplicaram-se inúmeras vezes e as mensagens, através da mídia, são elaboram para milhões de pessoas; a imensa maioria, farta da política tradicional, não quer ouvir falar dela. Os homens públicos carecem de confiança quando os povos mais precisam dela diante dos perigos que pairam sobre eles.

Quando da desintegração da URSS, Francis Fukuyama, cidadão norte-americano de origem japonesa, nascido e educado nos Estados Unidos e diplomado numa universidade desse mesmo país, escreveu o livro “O fim da história e o último homem”, o qual, com certeza, muitos conhecem, e foi muito promovido pelos dirigentes do império. Tinha-se convertido num falcão do neoconservadorismo e promotor do pensamento único.

Segundo ele, apenas ficaria uma classe, a classe média norte-americana; os demais, penso eu, seríamos condenados a sermos mendigos. Fukuyama foi partidário decidido da guerra contra o Iraque, assim como o vice-presidente Cheney e seu selecto grupo. Para ele, a história acaba no que Marx via como "o fim da pré-história".

Na cerimônia inaugural da Cúpula América Latina e Caribe - União Europeia realizada no Peru, na passada semana, falou-se em inglês, alemão e outras línguas europeias, sem as televisões traduzirem para o espanhol ou o português trechos essenciais dos discursos, como se no México, Brasil, Peru, Equador e outros, os indígenas, negros, mestiços e brancos ― mais de 550 milhões de pessoas, na sua imensa maioria pobres ― falassem inglês, alemão ou outro idioma estrangeiro.

Contudo, menciona-se agora com louvor a grande reunião de Lima e a sua declaração final. Ali, entre outras questões, insinuou-se que as armas que adquire um país ameaçado de genocídio pelo império, como foi Cuba há muitos anos e actualmente é a Venezuela, não se diferenciam eticamente das empregadas pelas forças repressivas para reprimir o povo e defender os interesses da oligarquia, aliada a esse mesmo império. Não se pode converter a nação numa mercadoria a mais, nem comprometer o presente e o futuro das novas gerações.

A 4ª Frota norte-americana, com certeza, não é mencionada nos discursos televisionados daquela reunião como força intervencionista e ameaçadora. Um dos países latino-americanos ali representados acaba de fazer manobras combinadas com um porta-aviões dos Estados Unidos do tipo Nimitz, dotado com todo o tipo de armas de extermínio em massa.

Nesse país, há uns anos, as forças repressivas fizeram desaparecer, torturaram e assasinaram dezenas de milhares de pessoas. Os filhos das vítimas foram expropriados pelos defensores das propriedades dos grandes ricos. Os seus principais líderes militares cooperaram com o império nas suas guerras sujas. Confiavam nessa aliança. Por que cair de novo na mesma armadilha? Apesar de ser fácil inferir o país aludido, não desejo mencioná-lo para não magoar uma nação irmã.

A Europa, que nessa reunião foi quem falou mais alto, é a mesma que apoiou a guerra contra a Sérvia, a conquista do petróleo do Iraque pelos Estados Unidos, os conflitos religiosos no Oriente Próximo e Médio, os cárceres e pousos secretos, e os planos de torturas horríveis e assassinatos projectados por Bush.

Essa Europa participa com os Estados Unidos nas leis extraterritoriais que, violando a soberania de seus próprios territórios, incrementam o bloqueio contra Cuba, obstaculizando o fornecimento de tecnologias, de componentes e, inclusive, de medicamentos ao nosso país. Os seus meios publicitários associam-se ao poder mediático do império.

O que eu disse na primeira reunião da América Latina com a Europa, efectuada há nove anos no Rio de Janeiro, mantém toda a sua vigência. Nada mudou desde então, excepto as condições objectivas, que tornam mais insustentável a atroz exploração capitalista.

O anfitrião da reunião quase exasperou os europeus, quando, no encerramento, mencionou alguns pontos expostos por Cuba:

1. Cancelar a dívida da América Latina e do Caribe.

2. Investir a cada ano nos países do Terceiro Mundo 10% do que gastam nas actividades militares.

3. Pôr fim aos enormes subsídios à agricultura, que concorrem com a produção agrícola dos nossos países.

4. Destinar à América Latina e ao Caribe a quantia correspondente ao compromisso de 0,7% do PIB.

Pelos rostos e os olhares, observei que os líderes europeus engasgaram durante uns segundos. Mas, por que se afligirem? Em Espanha seria ainda mais fácil proferir discursos vibrantes e maravilhosas declarações finais. Tinha-se trabalhado muito. Vinha o banquete. Não havia crise alimentar na mesa. Sobejavam as proteínas e os licores. Faltava apenas Bush, que trabalhava, incansavelmente, pela paz no Oriente Médio, como é habitual nele. Estava dispensado. Viva o mercado!

O espírito dominante nos ricos representantes da Europa era a superioridade étnica e política. Todos tinham pensamento capitalista e consumista burguês, e falaram ou aplaudiram em nome deste. Muitos levaram consigo os empresários que são a base e o sustentáculo dos "seus sistemas democráticos, garantes da liberdade e dos direitos humanos". É preciso ser especialista na física das nuvens para comprendê-los.

Actualmente, os Estados Unidos e a Europa concorrrem entre eles e um com o outro pelo petróleo, pelas matérias-primas essenciais e pelos mercados, ao qual agora se acrescenta o pretexto do combate ao terrorismo e ao crime organizado que eles mesmos criaram com as vorazes e insaciáveis sociedades de consumo.

Dois lobos famintos disfarçados de vovozinhas boas, e um Chapeuzinho Vermelho.


Fidel Castro Ruz
18 de Maio de 2008

14/05/2008

FUMAR MATA

Um dos grandes temas do dia é o do cigarrinho ou cigarrinhos que o Sócrates fumou durante o voo da TAP que o levou à Venezuela, como se o homem não pudesse ter vícios – e este se calhar até nem é o pior – transgredindo as regras que ele próprio fez aprovar.

Como se diz que FUMAR MATA, tenhamos esperança que os cigarros cumpram nele cabal e rapidamente a sua função, para que nos possamos ver livres de tão nefasta personagem, já que o senhor “engenhero” não nos condenou a morrer pelo tabaco, mas sim pelo desespero e pela fome.

Num país que em pleno mês de Maio assiste ao 15.º aumento dos combustíveis desde Janeiro sem qualquer justificação aceitável, é irrelevante que o chefe do conselho se drogue e polua o avião em que viaja, na medida em que no dia a dia somos confrontados com a subida do custo de vida e isso é que é importante combater.


Celino Cunha Vieira

07/05/2008

A SERRA LEOA DA EUROPA

Não sendo possível identificar, em termos absolutos, qual o país mais pobre do mundo, tem-se como certo que a Serra Leoa é um deles. Também o podem ser o Lesoto, o Sudão ou o Bangladesh, enfim, pobreza é o que mais há. Se formos a ver bem, até nos países ditos ricos, e onde se apregoam aos quatro ventos a prática e a defesa dos direitos humanos, existem pessoas na mais absoluta miséria e onde, literalmente, se morre à fome ou por falta de assistência médica. Ainda há pouco tempo estavam identificados, só nos EUA, mais de quarenta milhões de pessoas a viver abaixo do limite oficial de pobreza, ou seja, na miséria absoluta. É obra. Quarenta milhões de pessoas são quatro vezes a população de Portugal.

Não sei o que faz Bush para combater esta situação, entretido que anda a pilhar e a matar o que pode por esse mundo fora, mas penso que as grandes preocupações da administração norte-americana não vão, seguramente, para as suas misérias internas, facto que ficou bem claro e evidente quando o furacão Katrina assolou Nova Orleães. De resto, basta vermos, distraidamente, qualquer filme ou série made in USA, para percebermos como vivem franjas enormes da população norte-americana e – o que é mais chocante – para percebermos como a miséria absoluta, no país mais poderoso do mundo, é algo de absolutamente corriqueiro e banal. Faz parte do sistema. Do cenário.

Mas já estou a divagar, porque não é sobre as misérias alheias que pretendo falar, mas sobre as internas – as nossas, as dos portugueses – que são muitas. Talvez alguns ouvintes – ou leitores – achem excessivo chamar a Portugal a Serra Leoa da Europa. Confesso que não pretendo utilizar o exagero como ferramenta ideológica. Porém, como tudo é relativo, havendo dúvidas sobre se a Serra Leoa é – ou não – o país mais pobre de África e do mundo, não as haverá sobre se Portugal é, realmente, o país mais pobre, injusto e desigual da Europa. Dizem-no os dados oficiais. E que, se doutra maneira fosse governado, certamente o não seria.

Pior: Portugal não só é o país mais pobre, injusto e desigual da Europa, como é aquele onde, todos os dias, essa pobreza, essa injustiça e essa desigualdade aumentam e se acentuam. E se eu sou um crítico do capitalismo e das suas aberrações e defeitos congénitos, dos quais a sua natureza desumana, predadora e violenta é a principal característica, não posso deixar de reconhecer que países capitalistas onde, apesar de tudo – e, principalmente, devido à consciência cívica dos seus povos – existem algumas preocupações sociais.

Em Portugal, principalmente devido à nossa natureza conformista e abúlica, onde laivos acentuados de falta de ética e dessa tal consciência cívica são a nota dominante (acabamos por aceitar a imoralidade e a injustiça como coisas normais, pois acreditamos – e concedemos – que, no meio dessa devassidão, quem tiver olho é rei) os sobas no poder estão como peixe na água.

Assim, a pobreza e a miséria são, por cá, a coisa mais natural do mundo. O enriquecimento à custa dessa mesma pobreza, ou conseguido vertiginosamente por métodos inconfessáveis, não só é coisa aceitável, como algo que, sem rebuço, quase ninguém desdenharia de conseguir. Padrões de exigência e valores morais são coisas dos tolos e para tolos. Quem se amanha, por caminhos mais ou menos ínvios, é que tem mérito. São os espertos, aqueles que sabem subir na vida. Os que servem de exemplo. E assim se explica que Portugal se afunde, pois os governantes sentem-se à vontade para perseguir os seus desígnios mais secretos – e os seus desígnios mais secretos não passam, afinal, de cumprir as regras do jogo impostas e desejadas pelo poder económico, tanto mais sôfrego e imoral quanto, por sua vez, mais imoral e conformista for o povo. E é este o nosso verdadeiro e triste fado.

E assim sendo, arrastamo-nos na cauda da cauda da Europa (sim, já somos a cauda da própria cauda, ou o seu último, insignificante e abjecto pelo), de tal modo que cinco milhões de compatriotas nossos são forçados a viver fora do país.

Dir-me-ão que sempre fomos um país de emigrantes. Respondo eu que começámos a sê-lo – e em força – durante os anos da ditadura. Era o que nos restava: fugir, desandar, procurar noutros horizontes a côdea de pão e a brisa de liberdade que aqui nos faltava. E assim voltou a ser agora, com o fenómeno emigratório a subir 52,3% nos últimos anos, especialmente desde o consulado de António Guterres, fenómeno que a facção socialista agora no poder, comandada por um descabelado egocêntrico chamado José Sócrates Pinto de Sousa, tratou de fazer acentuar.

Mas voltemos à fome, cuja existência não pode ser um simples fait divers, algo que preenche os noticiários, como se dum surto de gripe se tratasse. Um responsável da Caritas disse, num desses noticiários, que a fome já está a afectar, de forma surda, uma importante franja da classe média. E é verdade. A fome alastra neste país entregue ao «engenheiro» e ao seu séquito socialista (salvo seja…) como mancha de óleo em pano fino.

E se alguém duvida, basta que atente no que sucedeu este fim-de-semana, onde a mediática operação de mendicidade pública realizada pelo Banco Alimentar Contra a Fome, mais do que resolver qualquer problema social (e, muito menos, a fome), serviu bem para mostrar como ela, a fome, existe e se espalha incontrolavelmente em Portugal. As toneladas de alimentos que, num clima de felicidade foram recolhidas, não podem ser a grande notícia. A grande notícia – escandalosa, tristíssima, revoltante e vergonhosa – é que milhões de pessoas, em Portugal, precisam destas iniciativas. E que estas toneladas de alimento não acabam com o fome nem com a miséria reinantes – e em ascensão permanente. Dizendo doutro modo: não podemos encarar a fome como um fenómeno natural e aceitável, nem podemos acreditar que a esmola seja uma solução ou, sequer, um paliativo. Porque não é.

Mas, em Portugal, a fome existe. E ela própria é, na sua escandalosa realidade, a mais esclarecedora e inegável condenação das políticas que sofremos. E quando, após mais de dois anos de governação, um governo não conseguiu reduzir o número de esfomeados existentes, mas antes os viu aumentar, como é inegável e evidente – e se governar para todos fosse o seu desígnio – só lhe restaria, como única saída, a imediata demissão. Mas, como sabemos, nunca foi – e muito menos é agora – para os mais desfavorecidos que o PS governa.

E porque a fome continua, apesar das mediáticas operações de mendicidade, que aliviam mais as costas dos governantes do que a barriga dos esfomeados, eu digo e repito:

Sim. Somos a Serra Leoa da Europa.

E, pelo que vejo, merecemos sê-lo…


Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 07/05/2008.
(Não deixe de ouvir em 98.7 Mhz e participar pelos telefones 212277046 ou 212277047 todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00).

1997, 2007 © Guia do Seixal

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