28/02/2007

A PROPÓSITO DE ALBERTO JOÃO

Entre Janeiro e Outubro do ano passado – em apenas nove mesinhos bem contados – deixaram de descontar para a Segurança Social mais de cem mil indivíduos, pois o número de inscritos, como pessoas singulares, com remuneração declarada e contribuições pagas era, em Janeiro de 2006, de 3.526.180, e, em Outubro, era só de 3.418.701. Feitas as devidas contas, apuramos 107.479 contribuintes a menos.

Morreram e reformaram-se mais de 107 mil portugueses? Alguns, certamente, terão morrido. Outros, também, ter-se-ão reformado. No conjunto, não terão chegado a 10 mil. A resposta talvez esteja aqui ao lado, em Espanha, pois esta redução coincide com um aumento sem precedentes dos trabalhadores portugueses inscritos na Segurança Social espanhola, dado que nos últimos 12 meses, foi de 35% a taxa de crescimento dos trabalhadores portugueses inscritos em Espanha. Em Janeiro deste ano, estavam registados 72.349, enquanto em Janeiro de 2006 o total era apenas de 53.538.

Se outros dados não tivéssemos para avaliar o estrondoso fracasso das políticas levadas a cabo pelo governo de Sócrates, este, por si próprio, fala, de forma eloquente, do beco sem saída onde a gentalha socialista está a encurralar Portugal e os portugueses. Muito por alto, menos 100 mil trabalhadores a descontar representa, se todos só ganhassem o salário mínimo, um rombo superior a dois milhões de contos mensais nos cofres da nossa Segurança Social.

Face à crise económica persistente – com o consequente desemprego (ou a ameaça constante de desemprego) – milhares de portugueses, tal como acontecia nos anos negros do fascismo, rumam a outros países para fugirem à fome e à insegurança. Muitos destes novos emigrantes, face ao excelente comportamento da economia espanhola (a Espanha aumentou o Produto Interno Bruto em 3,9% em 2006, e Portugal ficou-se por uns miseráveis 1,3%), decidiram passar a fronteira e encontrar trabalho no outro lado.

Pergunto o que mais será preciso para que os portugueses percebam que o rei Sócrates vai nu e leva, alegremente, o país a caminho da vala comum.

Outro assunto que está aí a dar que falar, é o recorrente Alberto João Jardim. Aliás, um dos nossos ouvintes referiu-se a ele quando, há oito dias, nos ligou para aqui. Não fosse isso e alguns dados que me apareceram na Net, e não traria o senhor da Madeira às Provocações de hoje. A verdade, é que Alberto João cria anticorpos. É grosseiro, boçal, roça, muitas vezes, a ordinarice. Tudo bem. Mas diz e faz muitas coisas que eu (já que só por mim posso falar) assinaria por baixo. Uma delas, é que, tal como eu, despreza os políticos bem engravatados, perfumados, de falinhas mansas e discursos retocados, politicamente correctos, mas que tratam o país e os portugueses muito pior do que ele trata a Madeira e os madeirenses.

Os recentes debates verificados e a luta partidária a propósito da reacção de Jardim face à nova Lei das Finanças Regionais, acabaram por cair, à falta de melhores argumentos, no seu apoio descarado a um jornal madeirense que mais não é do que a voz do dono – a voz dele, Alberto João, é claro.

Não duvido, nem um segundo, da veracidade dessas denúncias, mas espanto-me com a hipocrisia das críticas. Onde é que está o político, desde primeiros-ministros até ao mais desenxabido e obscuro presidente de câmara, que não tenha – ou faça por ter – a comunicação social pela arreata? De actuais governantes, por exemplo, sei das pressões que exerceram – e exercem – sobre jornalistas, chefes de redacção, direcções e proprietários de órgãos de comunicação social, não só para calarem ou menorizarem certos factos, mas também para destacarem aqueles que ao governo interessam. Ouvi – e ainda oiço – confidências arrepiantes sobre a permanente pressão a que estão sujeitos os jornalistas, divididos entre o dever de noticiar e opinar e a necessidade de conservarem os seus postos de trabalho. Eu próprio, enquanto dirigi um pequeníssimo jornal, aprendi o que custa fazer jornalismo sério sem pagar o «atrevimento» com as mais ignóbeis perseguições e ameaças, algumas delas ainda hoje em vigor. E nenhuma delas veio do senhor da Madeira.

Por isso, aqueles que falam – e bem – desse aspecto de Alberto João, deveriam acrescentar que isso é o pão-nosso de cada dia em todas as latitudes e momentos desta democracia de faz-de-conta.

Mas também podiam acrescentar que a Madeira de hoje está, a nível de acessibilidades, nos antípodas do que era aqui há uns anos, onde se demorava uma hora para se chegar do aeroporto ao Funchal, ou um dia para se ir do Curral das Freiras a Porto Moniz, coisas que hoje se fazem em poucos minutos.

Deviam dizer, por ser verdade, que o sistema de Saúde, na Madeira, ao contrário do que acontece no Continente, aumenta e melhora a sua rede, em vez de encerrar pontos de atendimento. E que a rede escolar, o acompanhamento na primeira infância e o apoio domiciliário aos idosos são realidades sociais indesmentíveis e, muito provavelmente, a principal causa do apoio de que Jardim goza no interior da Madeira.

A política, como eu a entendo, faz-se com verdade, e outra verdade é que, enquanto no país, a classe política, na sua quase totalidade, engordou a mamar nas tetas da democracia, Alberto João vive na mesma casa onde vivia há trinta anos e tem o mesmo carro particular há mais de dez anos, não lhe sendo conhecidos – apesar da pequenez do meio – sinais exteriores de riqueza. Por cá, pelo Continente, a política é um emprego que dá grandes proveitos directos e indirectos, e até qualquer autarca borra-botas, ao fim de uns anitos, constrói vivendas, compra quintarolas com belíssimas piscinas e vai de férias para as estâncias de turismo que estiverem na moda. Um reles caixa bancário (sem ofensa para os caixas bancários) à custa da política, chegou a ministro e, corrido do cargo por indecente e má figura, subiu a administrador da instituição onde, sem a política, nunca passaria da cepa torta. Apetece perguntar: já chegámos à Madeira? Ou não será mais correcto perguntar: já chegámos ao Continente?

Dizem que o desenvolvimento da Madeira se faz à custa dos impostos dos continentais, e que os cortes que a região vai sofrer resultam da necessidade de tornar mais equitativo o desenvolvimento do todo nacional. Mas o que não dizem, porque estão sujeitos à bota censória socratiana, é que esse pretenso critério de solidariedade nacional não é praticado no rectângulo continental, onde as disparidades entre o litoral e o interior são verdadeiramente ignóbeis – e muito mais gritantes do que entre o Continente e a Madeira.

Perguntem a qualquer figurão das Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto se quer perder investimento para que se possa desenvolver o interior, onde se vive – ou sobrevive – no limiar da pobreza? Far-nos-á um manguito! Então, aquilo que é válido para a Madeira, já não é para o litoral do Continente?

Afinal, e feitas as contas com os números da verdade, só podemos chegar a uma grande – e principal – conclusão: a grande questão não reside na necessidade de equilibrar o desenvolvimento nas diversas regiões do país, mas no singelo facto de, na Madeira, não ser o PS a vencer as eleições regionais. Ou seja, o grande problema é o poder não ser cor-de-rosa. Felizmente para os madeirenses, acrescento eu.

Confesso que não admiro Alberto João Jardim. Mas confesso também que, na sua luta contra um poder político que pontapeia, só num ano, mais de cem mil portugueses para o estrangeiro, tem – embora só conjunturalmente – a minha compreensão.

É que eu acho, antes de mais, que é preciso exorcizar este país de Sócrates e de toda a súcia de trampolineiros que lhe fazem companhia. Ao pé deles (ao pé deles, disse eu), Alberto João, apesar de toda a sua incontinência verbal e poses de Ferrabrás, é um anjinho papudo…


Crónica de: João Carlos Pereira
Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 28/02/2007.
(Não deixe de ouvir em 98.7 Mhz e participar pelos telefones 212277046 ou 212277047 todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00).

21/02/2007

O CANCRO ALASTRA

Portugal padece de cancro. Se ainda tem cura, é difícil dizê-lo neste momento. Portugal sofre de cancro, que é como quem diz: sofre de PS. A doença agravou-se de há dois anos para cá, altura em que Sócrates conseguiu uma confortável maioria absoluta e, assim, pôde dar início ao mais devastador ataque que os portugueses algumas vezes sofreram nos últimos anos, tempos da ditadura aqui incluídos.

Dir-me-ão que estou esquecido da repressão física e psicológica, das prisões, da censura, da «apagada e vil tristeza» em que o país esteve mergulhado durante 48 anos. Garanto-vos que não estou esquecido de nada disso. Mas não me lembro de sofrer, como nestes tempos de carcinoma socialista, de uma tão grande insegurança, de uma tão grande sangria, de um ataque tão feroz às nossas condições de vida, de uma tão desumanizada arremetida contra os nossos direitos básicos. Não estou esquecido de nada daquilo que foi a ditadura, mas também me lembro de ser possível, nesses tempos sombrios, organizarmos as nossas vidas de modo a sabermos que o dia de amanhã não seria pior do que o dia de hoje. Exactamente o contrário do que acontece nos dias que correm.

E se aqui trago a ditadura como termo de comparação, não é – espero que ninguém se lembre de pensar em tal, mas nunca se sabe… – por dela ter saudades ou para, implicitamente a louvar, mas para a atirar à cara dos actuais governantes, uma vez que são, objectivamente, carniceiros maiores e mais inumanos do que os velhos ditadores.

Dos muito exemplos que poderia utilizar para ilustrar as minhas palavras, socorro-me de três, por serem aqueles que estão na actualidade: a Saúde, o desemprego e o nosso miserável Produto Interno Bruto (PIB) per capita.

No que respeita ao PIB per capita, Portugal ocupa o 18.º lugar a nível europeu (com 74,8%), abaixo de todos os 15 membros mais antigos e tendo já sido ultrapassado por três dos membros mais recentes: Chipre, Eslovénia e República Checa. E o quarto destes novos Estados-membros, Malta, está prestes a ultrapassar Portugal, com um PIB de 74,4%, e sempre a subir.

Desde há alguns anos que Portugal é o mais pobre dos 15 Estados-membros mais antigos da União Europeia, mas em 2004 foi mesmo ultrapassado por três dos dez Estados que aderiram a 1 de Maio desse mesmo ano. O Chipre tem um PIB de 91,4%, a Eslovénia tem 83,3% e a República Checa tem 75,2%.

Se nos virarmos, agora, para as questões de Saúde, oiçamos o que diz um valenciano: «Nós não sabemos ainda se é possível, mas se as mulheres do Alentejo podem ter filhos em Badajoz, nós também devemos poder ir às Urgências de Tui», concluindo que sente «um grande desgosto em ser português». É que a vila de Valença está a cinco minutos das Urgências básicas de Tui (do outro lado da ponte – e da fronteira) e a 20 minutos das Urgências polivalentes dos dois grandes hospitais de Vigo. Do lado português, com o novo mapa previsto pelo Governo, ficam a 15 minutos das Urgências básicas de Monção e a uma hora das Urgências polivalentes do Hospital Central de Braga.

Por outras palavras: ao fim de dois anos de socialismo absoluto, o acesso à Saúde piorou – e ameaça piorar ainda mais. Dizem os valencianos, como poderiam dizer todos os portugueses que vivem perto da fronteira: «Isto é uma coisa incrível, aqui ao lado há tudo e, no nosso pais, nada. Em minha casa, só se a lei o impedir, se não, vamos todos passar a ir ao médico a Espanha». E eu acrescento: ao médico, ao supermercado, atestar o carro, comprar bilhas de gás, e por aí fora. Até comprar casa, vejam bem.

Em Vila do Conde, em Chaves, como noutras regiões do país, as populações sofrem e resistem. E se a luta das populações já não conduz a prisões políticas, não deixa de conduzir a detenções, identificações e ao respectivo julgamento. E se, desde sempre, tempos de ditadura incluídos, os governos tentavam aumentar a rede de serviços de saúde, o PS faz o contrário. Não prende (se não prender…), não mata, mas reprime igualmente os portugueses, negando-lhes o acesso a cuidados médicos essenciais, o que pode, em muitos casos, ser uma maneira mais limpa de matar. Aliás, o desinvestimento que o governo socialista está a fazer na Saúde (como em todas as áreas) não pode deixar de estar directamente relacionado com as mortes frequentes que se estão a verificar nos hospitais, por deficiente atendimento, ou por falta de meios de socorro capazes de, em tempo útil, conduzirem doentes e acidentados aos serviços de urgência.

Se a Saúde é o que se vê – e está para ver – o desemprego não lhe fica atrás. Como todos nos lembramos, um dos argumentos que este governo mais tem utilizado na sua campanha de propaganda para convencer os portugueses de que se estaria a verificar a retoma económica, é precisamente que o desemprego estaria a diminuir de forma continuada.

É mentira. De facto, acabou o INE de publicar os dados do desemprego referentes ao 4.º Trimestre de 2006, mostrando eles que essa afirmação não passa de uma patacoada sem qualquer sustentação real. A política económica centrada na obsessão do défice está a levar não só ao aumento do desemprego como também à destruição líquida de emprego.

Na verdade, de acordo com o INE, no final de 2006 o número oficial de desempregados atingiu 458.600 portugueses. Isto corresponde a uma taxa oficial de desemprego de 8,2% (quando o governo Sócrates tomou posse o número oficial de desempregados era de 389.700 – menos 70 mil desempregados – e a taxa oficial era de 7,1%). Mas se somarmos ao número oficial de desempregados todos aqueles que estão no desemprego mas que não são incluídos no mesmo, que constam também das estatísticas divulgadas pelo INE (os chamados Inactivos Disponíveis e o Sub-emprego Visível), ou seja, aquilo a que se chama o desemprego corrigido, o número total já atingia 612.300 portugueses, o que correspondia a uma taxa de desemprego corrigida de 10,9% - quase 11%.

Por outro lado, verificou-se no 4.º Trimestre de 2006 uma destruição líquida de emprego, pois o número de postos de trabalhadores no nosso País diminuiu, entre o 3.º Trimestre/2006 e o 4.º Trimestre/2006, de 5.187.300 para 5.142.800, ou seja, menos 44.500 postos de trabalho. Assim fruto das políticas socialistas, ocorreu uma destruição líquida de emprego, ou seja, o número de postos de trabalho no fim do 4.º Trimestre de 2006 era inferior ao número de postos de trabalho existentes no fim do 3.º Trimestre de 2006. Para cumprir a sua promessa de conseguir mais 150 mil postos de trabalho, numa legislatura de 4 anos, Sócrates tem agora, em apenas dois anos, de conseguir criar 199.500 novos postos de trabalhos.

Por outro lado – e como revelam os dados do INE sobre a duração do desemprego em Portugal – o desemprego de longa duração (12 meses e mais), que está associado a uma crescente exclusão social, continua a aumentar no nosso país. Assim, entre o 4.º Trimestre de 2004 e o 4.º Trimestre de 2006, o desemprego oficial total aumentou 17,3%, mas o desemprego de longa duração, cresceu 28,9%. E esse aumento tem sido contínuo. Em consequência, no 4.º Trimestre de 2004, o desemprego de longa duração representava 46,9% do desemprego total e, no 4.º Trimestre de 2006, já correspondia a 51,6% do desemprego oficial total. Ah! grande PS! Ah! grande Sócrates!

O cancro que afecta a nossa democracia – o cancro PS – alastra. Na realidade, tudo o que nos aconteceu de mal depois do 25 de Abril tem a chancela do PS. Ou foi o PS que fez, ou foi o PS que deixou fazer. Salários em atraso, recibos verdes e trabalho precário, pior Educação, pior Saúde, mais corrupção, mais insegurança, mais bandalheira, pior Justiça, mais desigualdades sociais, famílias endividadas, acumulação de fortunas à custa da sangria dos extractos sociais mais baixos (a chamada classe média foi um ar que lhe deu), o definhamento da agricultura, das pescas e do sector produtivo, o aumento das actividades especulativas, a venda do país ao desbarato, tudo aí está com a assinatura do Partido Socialista.

É mentira?


Crónica de: João Carlos Pereira
Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 21/02/2007.
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14/02/2007

VITÓRIA DE PIRRO

Para quem não conhece as origens da expressão “Vitória de Pirro”, ou seja, uma vitória inútil, ou que pode, até, conduzir a uma derrota, aqui deixo a explicação:

Pirro II foi rei do Epiro. Desembarcou em Itália e venceu os romanos em Heracleia, em 280 a.C., mas com tais perdas, que a quem o felicitou pela vitória respondeu que «com outra assim, estou perdido». Como esteve. De facto, conquistou a Sicília, mas foi derrotado pelos romanos em 275 a.C..

Posta esta explicação, vamos lá às provocações.

Pronto! De súbito, o país festeja, feliz e emocionado, a sua entrada no futuro. Venceu o Sim. Resolveu-se o maior, o grande, o verdadeiramente dramático problema nacional. De tal modo grande e dramático, que foi o único capaz de juntar, do mesmo lado, personalidades e forças políticas e sociais que desde sempre se antagonizaram. Mas, finalmente, somos um país moderno. No dia 11 de Fevereiro de 2007 (data que ficará, indelevelmente, marcada nos anais da história pátria) demos o salto civilizacional que faltava para nos cumprirmos como país digno, moderno e desenvolvido.

Nos próximos anos, abúlicos e cordatos, assistiremos, do sofá da nossa habitual indolência, ao decorrer da vida colectiva. Não teremos, tão próximo, outra mobilização social como esta, apesar da sua fraca expressão nas urnas. Isso não interessa. Nenhum outro problema nacional, seja ele qual for, voltará a pôr do mesmo lado Valentim Loureiro, Edite Estrela, Rui Rio, Odete Santos, Maria de Belém, Jorge Coelho, Correia de Campos, José Sócrates, Francisco Louçã, António Vitorino e Jerónimo de Sousa, entre outros. Não admira! Nenhum outro problema nacional (se houver algum, coisa de que já se duvida…) terá a dimensão que tinha o problema do aborto.

Agora, o país espreguiça-se, satisfeito, na ressaca do grande feito. Aliás, o investimento estrangeiro vai subir em flecha, pois as clínicas espanholas, especializadas nas humaníssimas e supercivilizadas técnicas abortivas, já estão aí a bater à porta para o grande negócio. Para além do investimento externo tão necessário à nossa economia, há a vantagem das tais madames, das tais senhoras de posses, que os preclaros defensores do Sim acusavam de poderem ir abortar a Espanha, agora terem o aborto quase ao domicílio. Sempre se poupa na viagem. Enfim, e com o aborto “a la carte”, não se prevê, nesta área, o problema de futuras deslocalizações, como acontece nos têxteis, metalo-mecânica, no calçado ou nas cablagens.

Em breve, teremos estas clínicas a subscrever convenções com o Estado português, para garantir a realização dos abortos que os serviços públicos não fizerem, e para aí não teremos restrições orçamentais, como acontece, por exemplo, com as hemodiálises. Compreende-se. Se alguém é insuficiente renal, olhe… que não fosse, tivesse cuidado. Ou pensa que ter os rins destruídos é tão grave como uma gravidez não desejada?

Maria José Morgado, por seu lado, pode agora dedicar-se em pleno ao Apito Dourado, pois já não terá de se preocupar com as "slotmachines" dos desmanchos, nem com os seus lucros fabulosos, já que tudo é legal. Legalíssimo. A Justiça pode respirar, enfim tranquila.

Nos hospitais, continuam as listas de espera, sejam elas para consultas de especialidades, sejam para operações, mas isso compreende-se, não há a urgência de atender as pessoas até às dez semanas. Esperem meses, anos, morram até, se não aguentarem a espera, mas o aborto tem prioridade sobre tudo o resto. Despachem-se para Badajoz as grávidas que não querem abortar; os cegos que vão, por sua conta e risco, recuperar a vista à Ucrânia; façam-se subscrições públicas para pacientes das mais diversas doenças e incapacidades se irem tratar a Cuba; recuse-se a vacina gratuita contra o cancro do colo do útero, que, anualmente, afecta cerca de mil mulheres, e mata mais de 300 em cada ano que passa, porque as prioridades, meus amigos, essas foram bem definidas em 11 de Fevereiro e nas semanas que o antecederam: o aborto está primeiro. É uma questão de saúde pública. O resto, é nada. Ou quase nada.

Porque se fosse muito – se fosse algo de dramático ou realmente importante – aí teríamos, como tivemos agora, Valentim Loureiro, Edite Estrela, Rui Rio, Odete Santos, Maria de Belém, Jorge Coelho, Correia de Campos, José Sócrates, Francisco Louçã, António Vitorino e Jerónimo de Sousa, todos juntos – e do mesmo lado da barricada – a lutar por essas causas.

Aproveitando o remanso, esta lassidão que se acentua depois das grandes batalhas e das grandes vitórias (mesmo que de Pirro sejam), o Governo prepara-se para pôr os portugueses a pagar aquilo que já pagaram. Trata-se de uma nova taxa, a ser paga na factura de electricidade, para recolha e tratamento dos lixos domésticos e industriais. Que eu saiba, as câmaras são financiadas, desde sempre, com os nossos impostos – deste os tempos da monarquia, sem esquecer os quarenta e oito anos de ditadura – para fazerem esse serviço. Afinal, para que é que servem – e são financiadas – as câmaras? Se não é para manterem as ruas limpas, os jardins tratados, o lixo recolhido e depositado nos locais adequados, os esgotos a funcionar e a população abastecida de água, é para quê que têm receitas próprias e recebem verbas do Poder Central?

Também por estes dias, assim como quem não quer a coisa, voltou a falar-se num imposto para a Saúde. O Governo veio dizer que isso é apenas uma proposta incluída num estudo que mandou fazer, mas que não há nenhuma decisão nesse sentido. O que não quer dizer que não venha a haver – e que talvez até se justifique, para financiar as despesas suplementares que milhares de abortos anuais irão provocar no orçamento da Saúde, não é verdade? Afinal, não foi isso que, maioritariamente, os portugueses decidiram? Então os meus amigos nunca ouviram falar no défice?

Mas para além disto, destes pequenos detalhes, o país está bem e recomenda-se. Nada que justifique novas agitações, novas campanhas, novas alianças (implícitas ou explícitas), mais comícios, mais arruadas, mais protestos, mais esclarecimentos, mais mesas redondas, mais artigos de opinião, mais debates, mais chinfrim, mais esbracejar.

Venham mas é de lá mais impostos, mais taxas e tarifas, mais desemprego, mais trabalho precário, mais escolas encerradas, mais – e maiores – listas de espera, mais urgências e maternidades fechadas, mais mortos por falta de assistência, mais salários em atraso, mais medicamentos não comparticipados, ou com comparticipações mais baixas, mais mortes escusadas (se a Saúde fosse uma prioridade, como foi o aborto), enfim, mais do mesmo, porque nada disso é grave, nada disso é indigno, nada disso é desumano, nada disso merece ser atacado com urgência. Já!

Porque se merecesse, meus amigos, era disso que tínhamos estado a tratar nos últimos tempos, e não do que estivemos.

E contra estes factos – julgo eu – não há argumentos…


Crónica de: João Carlos Pereira
Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 14/02/2007.
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07/02/2007

O FETO E A VERRUGA

Em primeiro lugar, quero felicitar-me e felicitar todos os que me ouvem (ou lêem) neste preciso momento. Porquê? Porque estamos vivos. E se estamos vivos, é porque nascemos. E, se nascemos, é porque as nossas mães, quando estavam grávidas de nós, não quiseram interromper a vida que já éramos dentro delas. Agradeçamos, por isso, às nossas mães, ou à sua memória, o facto de nos terem dado à luz. E agradeçamos ainda mais àquelas que (como a minha, por exemplo) poucas ou nenhumas condições tinham para nos trazer ao mundo, mas que optaram pela vida, em vez de terem optado, egoística e cobardemente, por nos levarem a uma assassina qualquer de vão de escada, para ali sermos trucidados, e assim se livrarem de nós.

Essas mulheres, aquelas que nos pariram, foram mulheres de esquerda, porque de esquerda são a Vida, a Luta, a Esperança e a Coragem. De esquerda não são, seguramente, o comodismo, o facilitismo, o egoísmo, a irresponsabilidade, a cobardia e a insensibilidade perante o gesto obsceno de destroçar uma vida indefesa. É bom, por isso, que ninguém se esqueça que todos nós fomos, um dia, um feto de dez semanas, onde aquilo que hoje somos já estava, nessa altura, perfeitamente constituído e completamente definido. Um ser com identidade própria.

Por isso, quando no dia 11 for deitar o meu voto, como louvor à minha mãe e a todas as mães sofridas e corajosas de todo o mundo, votarei NÃO em plena consciência e, também, com a convicção de que estou a defender valores de uma moral superior (que é a superioridade moral dos homens verdadeiramente de esquerda), obedecendo às únicas leis que respeito e a que me subordino: as leis da natureza.

Porém, e para que não fiquem dúvidas a ninguém – e a ninguém se dê oportunidade de tirar conclusões tipo cassete ou «chapa cinco», à moda daquele idiota que governa os Estados Unidos, e que costuma dizer que quem não estiver com a América, está contra ela – quero deixar bem claro que não penso desta forma por razões de natureza religiosa, dado que não professo qualquer religião, nem por alinhamentos ideológicos ou partidários, mas por profundas convicções pessoais, porque a minha consciência e a minha visão da vida e do mundo a isso me conduzem. Bem andaria a nossa democracia se todos fizessem o mesmo.

Já aqui o disse uma vez, mas é preciso repeti-lo hoje. Pelo Sim, estão pessoas de todos os quadrantes políticos, muitas delas tidas pela esquerda como gente da direita pura e dura, como Rui Rio, José Sócrates e quase todo o bando de pardais cor-de-rosa que tem destroçado o país e atirado milhões de portugueses para as ruas da amargura. Pelo Sim estão, também – e aos montões – anticomunistas de primeira água, mas parece que, nesta vertigem referendária, tal convivência é tida como saudável, natural e nada incomodativa. E, quanto a mim, muito bem, não fosse dar-se o caso de não se ter igual critério quando alguém de esquerda defende o voto Não. Aí, caem logo o Carmo e a Trindade, e o facto de se votar igual a certas figuras de direita é tido, estúpida e sectariamente, como uma conversão ideológica.

Haja um pouco de decoro – caso não seja, apenas, falta de inteligência – e aceite-se que não estamos a falar, neste referendo, de modelos de sociedade nem de questões ideológicas fundamentais. De facto – e por muito que isto se esconda – a questão do aborto não é, nem de perto, nem de longe, a grande questão nacional. Se há problemas graves neste país – e infinitamente mais graves e trágicos – são eles os que afectam os mais de dois milhões de portugueses que vivem na miséria, número este que todos os dias sobe. É o desemprego, essa chaga social que leva o desespero e a fome a centenas de milhares de famílias. É uma política infame que veda ou dificulta o acesso à Saúde, cada vez mais distante e mais cara, retirando a milhões de portugueses o direito a uma vida saudável ou, em muitos casos, à simples sobrevivência.

Ou já nos esquecemos das taxas moderadoras, cada vez mais – e mais caras – ou das comparticipações a baixarem, ou das as vacinas que podiam salvar do cancro mais de um milhar de mulheres em cada ano, mas que só estão ao alcance das mais ricas? Não é isto mais infame e grave do que o aborto clandestino, pois uma mulher contrai cancro sem querer e sem qualquer tipo de culpa, o que não é o caso de um aborto? Não é isso bem mais dramático e atentatório da dignidade da mulher e dos seus direitos?

Não é igualmente infame uma política que obriga uma grávida a ter de ir parir a Badajoz, ou um cego a ter de ir recuperar a visão à Ucrânia? Não é uma indignidade, acima de qualquer outra, centenas de milhares de pensionistas sobreviverem com reformas miseráveis, deixando, em muitos casos, de aviar os medicamentos de que necessitam, ou vendo-se obrigados a aviá-los a bochechos? Não morrem, verdadeiramente assassinados, muitos portugueses vítimas desta política?

Já nos esquecemos, também, dos salários em atraso, outra fonte de miséria e de dramas terríveis?

Mas será tudo isto menos grave, menos infame, menos indigno e menos problemático do que a questão do aborto clandestino? Dir-me-ão que não. Mas se não, então porque não vejo as forças que agora se agruparam em torno do Sim, igualmente activas – e igualmente aguerridas e igualmente vigorosas – no combate às chagas que acabei de enunciar? Não serão, afinal, muitas dessas chagas que conduzem ao aborto? E se não posso pedir isso a todas essas forças, porque muitas delas são as responsáveis pelas misérias que referi, algumas há a quem devo perguntar porque não se põe em todas as lutas a mesma intensidade que se está a pôr na luta pela liberalização do aborto?

Por outro lado, considero extremamente desonesta muita da argumentação utilizada, como desonesta é a própria pergunta do referendo. Sob a capa de despenalizar a mulher que aborta até às dez semanas, abre-se a porta, no caso de o Sim ganhar, ao aborto sem qualquer condicionante. A pedido. Isto, por muito que custe aos defensores do Sim ouvir dizê-lo, é a liberalização pura e simples do aborto. Ou seja, o aborto ao nível do preservativo, da pílula ou do aparelho intra-uterino. E, está claro, pago pelo Estado. Para a campanha do Sim, a questão do aborto começa e acaba na mulher. Não há o outro autor da concepção – o homem – não há feto nem vida humana dentro do útero.

Por isso, os defensores do Sim nem querem ouvir falar do feto. É o seu calcanhar de Aquiles. Que chatice haver feto, não é? Que aborrecimento, haver quem mostre «aquilo» desmembrado, a pasta de sangue onde ainda se vislumbra o crânio, ou os olhos, enfim, o pequeno ser humano em miniatura completamente destroçado, o ser a quem, por bondade da lei, passou a ser normal – normalíssimo – interromper a vida.

É verdade. Vão aos arames, sentem-se incomodados, desconversam, descontrolam-se quando se lhes toca no pequeno ser. Que bom seria se, em vez de um feto, fosse uma verruga. Porém, não é uma verruga. É vida. Negam, dizem que não é vida, ou – por especial condescendência – que não se pode dizer se é vida, ou não. Mas se o feto com menos de dez semanas não é vida humana, o que será então? Um feijão frade?

Ná. Não vão por aí. Modernaços, não lhes chega a modernidade ao ponto de falarem de ecografias de fetos com sete, oito, dez semanas, apesar de as ecografias, que hoje se vulgarizaram, entre outros meios de observação do que se passa no ventre materno, mostrarem como a tal «verruga» – que eles gostariam que fosse – não é mera parte do corpo da mãe, nem um defeito, mas é já um ser com vida própria, onde bate um coração, e com movimentos autónomos da vontade da progenitora.

Fica claro, assim, que há duas ordens de razão para o meu voto NÃO:

A primeira, porque, em consciência, me repugna transformar o acto abortivo numa prática comum, como se eliminar uma vida fosse algo tão simples e normal como retirar um quisto ou desencravar uma unha. Ou ainda mais simples e banal do que isso.

A segunda, porque a campanha do Sim não me pareceu séria nem frontal. Fugiu como o diabo da cruz de aspectos que não podem ser ignorados – ou que só podem ser ignorados por quem se sente incomodado com a verdade.
E se alguns defensores do Não foram – e são – hipócritas, a campanha do Sim não se ficou atrás.

Afinal, meus amigos – e doa a quem doer – um feto não é uma verruga.


Crónica de: João Carlos Pereira
Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 07/02/2007.
(Não deixe de ouvir em 98.7 Mhz e participar pelos telefones 212277046 ou 212277047 todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00).

02/02/2007

A INTERRUPÇÃO DO AVÔ

Tudo começou com uma gripe. Aos 83 anos, ainda dava os seus passeiozitos e lia o jornal. Mas a gripe foi, como soe dizer-se, do caixão à cova. Bem. Para sermos rigorosos, não meteu logo caixão, nem cova, mas uma ida ao centro de saúde (a arder em febre, pelas cinco e meia da manhã, para conseguir a senhazinha mágica que lhe garantisse consulta, caso o médico não faltasse).

Às duas da tarde, lá foi visto pelo senhor doutor, que disse: «Isto está feio, senhor Francisco. Se calhar, vamos precisar de um rx ao tórax e de umas análises. Para não andar a perder tempo, vou mandá-lo para o hospital, está bem?». E franziu o sobrolho para o filho, a quem murmurou, à saída: «Anda por ali uma pneumoniazita. Vamos ver no que dá…».

No hospital, apesar de ir com a papelada passada pelo centro de saúde, esperou até às sete da tarde, enquanto o filho arrepelava os cabelos, a pensar no trabalho e no dia perdido. Ainda por cima, estava na firma há dois meses, a prazo – e foi o que se arranjou, depois do emprego anterior ter ido à vida, quando a fábrica se mudou para a Eslovénia.

Era mesmo uma pneumonia. Só depois é que veio o AVC, porque um mal nunca vem só. Teve alta ao fim de quinze dias, completamente paralisado do lado direito, a boca à banda, e sem dizer coisa com coisa. Teve alta, que é como quem diz: «Pronto, pode ir morrer para casa sossegadinho, que aqui não há mais nada a fazer. Depois, os doentes com AVC saem muito caros ao Estado, e os hospitais bem geridos não podem dar-se ao luxo de ter aqui doentes nas suas condições».

Mas o senhor Francisco era de boa cepa. Mesmo feito num trapo, recusava-se a morrer. Comidinha, só caldos muito bem ralados, e dados à boca. Necessidades, só na fralda, e várias vezes ao dia. Medicamentos, aos montões, e cada vez mais pesados na bolsa. A única coisa que se mantinha como estava quando lhe deu a macacoa, era a reforma, de exactamente 243 euros e 82 cêntimos, ou seja de pouco mais de 48 contos.

Ao fim de uns dias, a nora, desesperada, disse para marido: «A reforma do teu pai não dá para nada. Nem para os remédios, nem para as fraldas, nem para a comida. Não dá para nada. Tu ganhas uma miséria, eu estou desempregada, com o subsídio de desemprego a chegar ao fim, temos dois filhos a estudar, não sei como vai ser».

O marido olhou para o tecto e disse: «Pois… Se a gente o metesse num lar…». E ela: «Num lar?! Estás doido, ou quê?! Mesmo que o aceitassem, levavam, pelo menos, o dobro da pensão dele. Onde é que íamos buscar o dinheiro?». Ele fez que sim com a cabeça, e desabafou: «Logo havia de acontecer isto, numa altura tão má…».

Passaram-se os dias, as semanas, e o senhor Francisco, com o corpo numa lastimosa chaga, deixou-se de tudo, menos de respirar. O filho ou a nora, a horas certas, faziam-no engolir o caldinho e os medicamentos, não sem antes colocarem um espelho à frente da boca do enfermo, para ver se já não embaciava, ou de lhe encostarem o ouvido ao peito, na esperança de perceberem se o coração, finalmente, resolvera parar. Mas nada. Era aquele respirar difícil, mas teimosamente persistente, e o tic-tac constante do coração impiedoso, incapaz de perceber os incómodos que estava a causar.

Um dia, o Sandrinho perguntou: «Ó pai, o avô Francisco está morto, ou vivo?». O pai, incomodado, respondeu que o avô Francisco estava vivo, claro, mas pôs-se a pensar, com os seus botões, que, a bem dizer, estava mais morto do que vivo. Na verdade, aquilo já não era vida, não era nada.

À noite, no sossego da cama, contou à mulher a pergunta que o filho lhe fizera, acrescentando que seria uma bênção para todos se a morte levasse o velhote. «Era bom para ele, e era bom para nós, que já não podemos aguentar isto muito mais tempo», respondeu a mulher.

Nessa noite, ambos deram voltas à cabeça, procurando soluções para o problema. De manhã, o filho do senhor Francisco agarrou num alfinete e picou, levemente, os braços e as pernas do pai. Num um gemido, nem um movimento reflexo. Encostou a cabeça ao peito do velhote, e lá estava o coração, no seu ritmo incansável, como um relógio antigo: tic-tac, tic-tac, tic-tac, tic-tac… Voltou a picar, e nada, nem a mais pequena reacção.

Foi chamar a mulher, segredou-lhe qualquer coisa ao ouvido, ela fez que sim com a cabeça, e disse. «Se achas que é a solução…». Entraram no quarto do velhote e, dez minutos depois, estavam a ligar para a agência funerária. Estavam destroçados, mas sabiam que tinham tomado a solução correcta.

Quando os filhos acordaram, notaram logo que havia qualquer coisa no ar, pois o pai tinha os olhos vermelhos e a mãe choramingava pelos cantos. Correram ao quarto do avô e notaram que estava muito branco e frio.

- O avô morreu? – perguntaram, alarmados.

- Não – respondeu o pai. – Foi só interrompido.


Crónica de: João Carlos Pereira
Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 31/01/2007.
(Não deixe de ouvir em 98.7 Mhz e participar pelos telefones 212277046 ou 212277047 todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00).

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