01/04/2009

OS TESTÍCULOS DO DOUTOR MARINHO E OUTRAS MIUDEZAS

O doutor Marinho Pinto, bastonário da Ordem dos Advogados, habituou o país à sua frontalidade. Andam por aí as suas frases mais célebres, onde põe em causa a Justiça e podres diversos desta democracia pindérica e alvar. Não me custa dizer que subscreveria a maioria dessas tiradas, embora outras delas, pelo seu conteúdo, me cheirassem a qualquer coisa que não batia certo. Ou seja: parecia-me haver por ali um excesso de deslumbramento consigo próprio, que o levava a ser mais papista que o Papa. Um certo contestar gratuito, cheio de ideias peregrinas, um afinar extremista por causas duvidosas. Mas, enfim, de um modo geral, agradava-me aquilo que o senhor dizia, por ser uma pedrada no charco. Até se comentava, por aí, que o homem os tinha no sítio.

Claro que esse arrojo haveria de lhe arranjar alguns problemas. E foi o que aconteceu. Guerra no galinheiro – isto é: na Ordem – ameaças de processos judiciais, contestação generalizada ao nível dos poderes, e por aí fora. Talvez por isso, durante algum tempo arrecadou a voz. Estranhei, mas pensei que tivesse esgotado os temas. Acontece, algumas vezes, a quem tem muita pressa em dizer tudo e uma ainda maior dificuldade em estar calado.

Agora, reapareceu o doutor Marinho Pinto com uma assombrosa afirmação: a carta anónima que envolveu Sócrates no escabroso processo Freeport, não era, afinal, anónima, mas resultado de um conluio entre o denunciante a alguém dentro da Polícia Judiciária. Ou seja: foi combinada a maneira de fazer a denúncia. E embora isto não tenha sido dito, resultaria daqui que, assim sendo, tudo não passava realmente de uma cabala e, portanto, os milhões do Freeport nunca existiram. Nem o tio de Sócrates; nem o primo de Sócrates; nem a Smith & Pedro; nem os escritórios de advogados; nem a polícia inglesa e todos os dados de que dispõe. E nem outras coisas que adiante veremos.

Ao ouvir isto, lembrei-me de Valentim Loureiro e de Pinto da Costa, que nunca contestaram o teor das escutas telefónicas, mas sim a maneira como teriam sido feitas. Queriam eles dizer, lá na deles, que, tendo dito o que disseram, afinal nada tinham dito, porque não foram escutados conforme a lei exigiria. E digo isto com o devido respeito, porque comparar o doutor Marinho Pinto às duas figuras que citei, pode parecer desprestigiante para o senhor bastonário. E é também com o devido respeito que confesso ter sentido uma pancada no estômago quando soube das suas declarações, tendo sido logo assaltado por uma ideia – certamente malévola – que traduzo assim: Pronto! Lá apertaram os testículos ao homem!

Realmente, ninguém ignora as inúmeras pressões que Sócrates e o PS estão a exercer sobre tudo e todos para que o Freeport e demais trapalhadas em que o «engenheiro» que a UNI licenciou a um domingo está metido, sejam rapidamente abafados. Não me custa crer que Marinho Pinto, notoriamente egocêntrico e – ainda mais notoriamente – ambicioso, tenha sido informado, por qualquer Augusto Santos Silva, sobre a necessidade de sair em defesa de quem o pode livrar de aborrecimentos e, principalmente, lhe pode abrir as portas de uma actividade política almejada. Daí – digo eu – o incompreensível artigo sobre a forma da denúncia, como se isso fosse o cerne de toda a questão e não, como até o mais lerdo dos indivíduos deduz, o dinheirinho que escorreu de Inglaterra para Portugal e ao bolso de quem foi parar. Pareceu-me, por isso, que houve ali frete encomendado. Ou que, se o não foi, aconteceu coisa ainda pior, do tipo uma lambidela sabuja ao poder reinante.

Tudo isto, é claro, me vem à cabeça, pois não tem ela – a minha cabeça – outra explicação para que um reputado causídico, de repente, pareça ter perdido o siso e, olhando para a floresta, se ponha a falar de palitos. Se não entonteceu, então anda ali mãozinha cor-de-rosa. Mas desculpem-me todos – e, principalmente, o doutor Marinho – se estou enganado. Limitei-me a dizer o que penso.

Estávamos nós – que é como quem diz: eu – nesta meditação deprimente, quando salta de lá a Manuela Moura Guedes mais o vídeo onde Sócrates é rotulado de corrupto. Com todas as letras. Aí, meus amigos, só não saltei como salto quando o meu clube marca um golo, porque já sabia – e já aqui o afirmei sem rodeios – que Sócrates está a ser cozinhado em fogo lento. Como, aliás, merece.

De resto, parece claro que já ninguém duvida que Sócrates está a dar as últimas. Segundo gente ligada ao próprio PS, há algum tempo que a sua sucessão está a ser preparada. O que está em causa, neste momento, já não é a permanência do «engenheiro» à frente do PS e do governo, mas a sua saída airosa e com poucos custos políticos. Coisa difícil de conseguir, não só pela natureza dos vários escândalos que têm Sócrates como actor principal, mas porque a luta pela sucessão está acesa entre as várias facções no partido. Porque nem só de Socretinos vive o PS.

E convém aqui recordar o que já aqui disse há umas semanas atrás, quando referi que grande parte do que vem a público tem origem dentro do próprio Partido Socialista. Pois… é isso mesmo, a luta surda pelo poder, onde António Costa (excelentemente retratado no papel de Judas, numa paródia à Última Ceia, que por aí anda a circular, e onde Sócrates faz de Cristo) está a ter um papel relevante.

É claro que a última palavra competirá à Justiça. E essa, a Justiça, vive dias difíceis, especialmente desde que o PS chegou ao poder. A D. Cândida Almeida, senhora socialista de fortes laços e abraços a Mário Soares e a Almeida Santos, e que lidera a investigação do caso Freeport, declarou, entre outras coisas surpreendentes, que não sabe do famoso vídeo, onde Sócrates é claramente incriminado, nem quer saber. Quase que me apetece dizer: pudera!

Ao mesmo tempo, notícias inquietantes dizem-nos que os magistrados ligados ao caso Freeport estão a ser pressionados e coagidos a não fazer o que lhes compete fazer, sofrendo, até, ameaças às suas carreiras. É-lhes claramente sugerido que arquivem o processo. Pergunta que logo se impõe: será o arquivamento a única maneira de salvar Sócrates desta gigantesca enrascada? Pelos vistos…

No fim desta história, veremos, então, quem tem testículos e não os deixa apertar, ou quem, em seu lugar, apenas tem miudezas facilmente (de)capáveis.

Estranha – ou talvez não – é a posição dos partidos da oposição, muito cautelosos e cheios de palavras pias e outras delicadezas politicamente correctas. E, das duas, uma: ou já estão fartos de saber que, daqui para diante, a Sócrates só resta escorregar para o abismo; ou preferem não deitar mais achas para a fogueira, não vá ainda alguém mais sair chamuscado.

Ou – quem sabe? – as duas coisas ao mesmo tempo.


Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 01/04/2009.
(Não deixe de ouvir em 98.7 Mhz e participar pelos telefones 212277046 ou 212277047 todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00).

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Caros Amigos

Estou aflito.

Jornais, rádio, televisão (todos eles controlados por gente insuspeita de pertencer a tenebrosas forças de esquerda, totalitárias e etc e tal), só falam de uma coisa - ou, principalmente, de uma coisa: o Caso Freeport.

Todos os dias, um dado novo. Hoje, foi o ministro Alberto Costa, personagem que, em Macau, passou por um aviltante processo de demissão, dado que se prestou ao que, agora, se garante que terá prestado. Puta velha, portanto.

Depois, é o caso de corrupção na Câmara da Amadora (socialista, claro), que mete a mamã de Sócrates e uma dama, de apelido Vara (socialista, ora bem) que já havia estado metida no processo Freeport. Se querem fazer uma ponte Chelas-Barreiro, bem podiam aproveitar esta: Amadora-Alcochete. É toda ela cor-de-rosa. Linda!

Quanto a mim, nenhuma dúvida tenho sobre o que se passou. Só se fosse cego, surdo e, ainda por cima, burro que nem um portão de quinta. Louro, para rematar. Ou, então, um socretino dos quatro costados.

No fundo, dou por mim a pensar se haverá alguém sério no PS.

Só se for o Melancia... Ou, então, o Abílio Curto. Talvez a Fátima Felgueiras, não acham? Ou o Armando Vara. Ou o Jorge Coelho, mais conhecido pelo Senhor Cinco por Cento. Ou o José Morais, o tal professor que passou Sócrates a várias disciplinas, por atacado, e que Sócrates nunca conheceu. Ou o próprio Zezito, também conhecido por Sócrates.

E de pedófilos, nem quero falar...

SOCORRO!

4/4/09 6:54 da tarde  
Anonymous ABSTENÇÃO NÃO said...

AVISO AOS CIDADÃOS ELEITORES


As alterações introduzidas ao Recenseamento Eleitoral pela Lei n.º 47/2008, de 27 de Agosto, promoveram diversas medidas de simplificação, com destaque para a inscrição automática de eleitores no recenseamento. Assim:

Os cidadãos portadores de Cartão de Cidadão ficam automaticamente inscritos na freguesia correspondente à morada que tenham indicado no pedido do referido cartão.
Os cidadãos detentores de Bilhete de Identidade válido que nunca se tinham inscrito no recenseamento eleitoral foram automaticamente inscritos na freguesia da residência indicada no Bilhete de Identidade.
Os jovens de 17 anos foram igualmente inscritos, podendo votar se, à data do acto eleitoral, já perfizeram 18 anos.
Verifique o seu número de eleitor/a, bem como a freguesia onde vota.

Pode utilizar um dos seguintes meios:

consulte via Internet www.recenseamento.mai.gov.pt
envie um SMS para 3838
informe-se na respectiva Junta de Freguesia.


Divulgue esta informação, vamos combater a abstenção.

7/4/09 10:21 da manhã  

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