29/06/2007

REFLEXÕES X

UMA RESPOSTA DIGNA

Os factos acontecem com um ritmo incrível. Às vezes acontecem vários em simultaneidade. A gente está com vontade, ou melhor ainda, sente a necessidade de comentar algum deles pela sua importância intrínseca e o seu valor como exemplo.

Não falo hoje do que aconteceu em Genebra, que foi considerado um merecido triunfo revolucionário dos países do Terceiro Mundo. Falarei da resposta de Cuba ao Conselho das Relações Exteriores da União Europeia, publicada na primeira página do jornal Granma, na sexta-feira passada, 22 de junho.

São palavras dignas da nossa Revolução e da sua alta direção política. Um por um, foram tratados e esclarecidos os pontos que deviam receber imediata resposta. Enumero-os e reitero:

“Com Cuba, só será possível um diálogo entre soberanos e iguais, sem condicionamentos nem ameaças pendentes. Se a União Europeia desejar um diálogo com Cuba, deverá eliminar definitivamente essas sanções, que desde então, foram inaplicáveis e insustentáveis.”

“As ‘Conclusões’ também não mencionam a chamada ‘Posição Comum’, acordada às pressas pelos Ministros de Finanças da EU em 1996, sob a pressão de Aznar e a partir de um rascunho escrito no Departamento de Estado norte-americano.”

“Depois de tantos erros e fracassos, a única conclusão óbvia à qual poderia chegar a União Europeia é que a chamada ‘Posição Comum’ deve desaparecer, porque não houve nem há razão alguma para que exista e porque impede manter um relacionamento normal, mutuamente respeitoso e de interesse comum com o nosso país.”

“Um grupo de influentes nações europeias realizou esforços para mudar esta ridícula situação. Outros, como a República Checa, consagraram-se como peões norte-americanos no mapa europeu. As ‘Conclusões do Conselho’ imiscuem-se de maneira caluniosa em assuntos estritamente internos cubanos, emitem juízos e anunciam actos hipócritas de ingerência que Cuba considera ofensivos, inaceitáveis e condena energicamente.”

“Cuba é um país independente e soberano e a União Europeia engana-se se acha que pode tratá-lo de outra maneira, como igual”.

“A União Europeia mostrou uma persistente e humilhante subordinação aos Estados Unidos que a incapacita para manter posições baseadas nos interesses europeus e torná-la cúmplice, embora diga o contrário, do criminoso e inumano bloqueio que esse país aplica contra o povo cubano, e do qual as ‘Conclusões’ não se atrevem a dizer nem uma só palavra”.

“Na Cimeira realizada em abril com os Estados Unidos, a União Europeia subordinou-se para questionar Cuba e aceitou uma menção que reconhece a legitimidade do ‘Plano Bush’. São bem conhecidos os seus conciliábulos com mensageiros do império, inclusive com o espúrio interventor nomeado pelos Estados Unidos para Cuba.”

“A União Europeia é vergonhosamente hipócrita quando se dirige, injustamente, a Cuba, mas não diz nada a respeito das torturas norte-americanas na ilegal Base Naval de Guantanamo, que usurpa território cubano, e em Abu Ghraib, onde são aplicadas inclusive a cidadãos europeus”.

“Cala impudicamente os sequestros de pessoas realizados pelos serviços especiais estadunidenses em terceiros países e ofereceu o seu território para colaborar com os voos secretos da CIA e para instalar cárceres ilegais. Também não disse nada a respeito das dezenas de pessoas desaparecidas nessas circunstâncias nem das centenas de milhares de civis assassinados no Iraque.”

“Cabe à União Europeia rectificar os erros cometidos com Cuba”.

Ainda com o risco de fazer com que a reflexão seja extensa, desejo acrescentar alguns elementos de juízo. A União Europeia foi conduzida por Washington a um beco sem saída honorável. A guerra fria concluiu com a vitória do consumismo real do capitalismo desenvolvido perante a ânsia de consumo que o mesmo criou em amplas massas do campo socialista e da própria União Soviética. Perderam a batalha de ideias. Ao povo russo, eixo central da Revolução de Outubro, tiraram-lhe compromissos importantes, que por sua vez, estavam acompanhados por acordos e garantias para a sua segurança e soberania: A Europa foi libertada de mais de 400 mísseis SS-20, como os qualificava a NATO, que eram móveis, com três ogivas nucleares cada um, e apontavam para todos os cantos da Europa onde havia bases militares norte-americanas e forças da NATO. Na sua embriaguez triunfalista, a agressiva aliança tinha acolhido no seu seio muitas antigas repúblicas socialistas europeias, algumas das quais, na procura de vantagens económicas, converteram o resto da Europa em reféns da sua política exterior, servindo incondicionalmente os interesses estratégicos dos Estados Unidos.

Quaisquer dos membros da União Europeia pode bloquear uma decisão. Esse sistema não funciona politicamente e faz com que diminua na prática a soberania de todos. A União Europeia está agora pior do que o antigo campo socialista. Já o vaidoso Blair, o construtor de submarinos sofisticados, amigo de Bush, é anunciado como possível candidato futuro à presidência da União. Os cabogramas anunciam que hoje foi designado Enviado Especial para o Oriente Médio, onde tanto contribuiu para a desastrosa guerra desatada pelos Estados Unidos.

No tema energético vê-se os governos europeus mendigar combustível nas poucas regiões onde o império ainda não se tem apoderado dele pela força, da mesma forma que compra com papéis qualquer empresa europeia.

O euro é, contudo, uma moeda sólida; ainda mais do que o dólar, que se desvaloriza constantemente. Embora este seja defendido pelos possuidores de bónus e bilhetes ianques, o império corre o risco de um descalabro de dramáticas consequências económicas.

Por outro lado, a Europa seria uma das áreas mais afectadas pelo aquecimento climático. As suas famosas e modernas instalações portuárias ficariam por baixo de água.

Hoje propõe com desesperação tratados de livre comércio com a América Latina, piores do que os de Washington, procurando matérias-primas e biodiesel. Já se escutam críticas sobre o tema. Porém o dinheiro europeu não é da comunidade, é das multinacionais e em qualquer momento marchará rumo aos países com mão de obra barata, procurando maior rentabilidade.

Com a sua altiva e digna resposta, Cuba pôs ênfase no fundamental.

Os próprios europeus compreenderão algum dia a que absurda situação os levou o imperialismo e que um país do Caribe lhes disse as verdades necessárias. O cavalo desbocado do consumismo não pode continuar essa louca carreira porque é insustentável.

A última reunião da União europeia sobre o futuro tratado comunitário foi mais uma prova da desmoralização reinante. A agencia AFP publicou no passado domingo 24 de junho que “O chefe do governo italiano, Romano Prodi, expressou a sua ‘amargura’ pela cimeira realizada em Bruxelas na qual participaram os líderes da União Europeia, aos quais acusou de terem dado o ‘espectáculo’ de uma Europa ‘sem emoção’, numa entrevista ao jornal La Republica deste domingo”.

“’Como pró-europeu, sinto amargura pelo espectáculo que assisti’, disse Prodi, ex-presidente da Comissão Europeia.

“’O empenho de alguns governos por negar qualquer aspecto emocional da Europa doe-me’, acrescentou, referindo-se à Polónia, à República Checa, à Holanda e à Grã-Bretanha.

“’São os mesmos governos que impõem à Europa estar longe dos cidadãos’, considerou.

“’Porém como fazemos para implicar os cidadãos sem sentimentos (...) que podemos fazer para que se sintam orgulhosos de serem europeus se lhes são negados os símbolos como a bandeira e o hino’, perguntou-se”.

“Tony Blair leva a cabo uma batalha contra a Carta dos Direitos Fundamentais’, disse.”

“Criticou o presidente polaco Lech Kaczynski, que lhe disse que não podia estar de acordo com as suas posições porque a Itália e a Polónia ‘são povos muito diferentes’.

“’Jamais os euro-cépticos se manifestaram ‘de forma tão explícita e programática’ como na última cimeira, concluiu Prodi.”

Na reunião do G-8 Bush atirou um balde de água gelada contra os europeus.

Nesta época decisiva não importa o número de inimigos, que serão cada vez menos, mas sim “o número de estrelas na frente”.


Fidel Castro Ruz
27 de Junho de 2007

27/06/2007

SANTIAGO DO CHILE E LISBOA

- Da farda bruta, ao distinto Armani

O governo socialista está prestes a atingir os seus objectivos: colocar a corda na garganta a cerca de nove milhões de portugueses, enquanto os restantes, essencialmente os detentores do poder económico e os barões da classe política – e seus afilhados – terão o país inteiramente para si.

Para nós, povo comum, a sangria está em curso. Emprego precário – e é se houver – ordenados incapazes de fazer face ao custo de vida, dificuldades cada vez maiores no acesso ao ensino (só acessível às elites), reformas cada vez piores e mais tardias, o acesso a cuidados médicos e de saúde progressivamente dificultado, agravamento de impostos, criação de novos mecanismo de extorsão, a nível central e local, como sejam a criação de novas taxas e o agravamento de outras.

Agora, uma chamada Comissão para a Sustentabilidade do Financiamento do Serviço Nacional de Saúde, por encomenda do Governo, vem propor que as despesas com a Saúde deixem de ser dedutíveis no IRS. Se assim for, milhões de portugueses vão trabalhar para, exclusivamente, pagarem impostos e reduzirem o seu dia-a-dia ao nível da pura sobrevivência.

Cinicamente, incute-se na população a ideia de que o Serviço Nacional de Saúde está a caminho da rotura, porque as receitas não cobrem as despesas. Esquecem-se os facínoras que tal apregoam, que o SNS não é uma clínica privada, cuja finalidade é ganhar dinheiro à custa dos que podem pagar uma assistência de melhor qualidade. O SNS é pago por todos os portugueses, através dos seus impostos, e que o Orçamento Geral do Estado, cujas receitas saem dos bolsos de todos nós, deveria dotá-lo com as verbas necessárias a satisfazer, gratuitamente, as necessidades de toda a população, o que só não acontece porque o governo prefere gastar dinheiro noutras coisas.

A hipocrisia do Governo e da referida Comissão vai ao ponto de comparar Portugal com outros países, onde, para além dos ordenados serem incomparavelmente maiores, os respectivos SNS têm uma capacidade que não tem o SNS português – e cada vez tem menos. Por isso mesmo, o facto de as despesas de saúde serem dedutíveis no IRS resulta do facto de sermos obrigados a recorrermos a serviços exteriores ao SNS, aliviando-o de milhares de consultas e outros actos médicos.

Por outro lado, ao pagarmos taxas moderadoras – ou, como eles querem que se diga agora, taxas de utilização – é bom que fique claro que estamos a pagar aquilo que já pagámos com os nossos impostos, e que só não chega porque o Governo, como já afirmei antes, não dota o OGE com as verbas adequadas à realidade nacional. Aos gastar onde não deve, falta-lhe onde não podia faltar.

Fica claro, assim, que a matriz genética deste governo é, essencialmente exterminadora. Extermina tudo o que seja benéfico para a generalidade dos portugueses. Reduz as reformas e aumenta o tempo de trabalho. Extermina o direito à saúde, tornando-a cara, e eliminando Urgências, Serviços de Atendimento Permanente e Maternidades. Extermina escolas e consulados. Extermina, em suma, o direito dos portugueses a uma vida sadia, feliz e digna.

No outro pólo, no entanto, no pólo dos senhores ricos e dos seus ricos governantes e da sua imensa corte de assessores, adjuntos, gestores, administradores, presidentes, comentadores, analistas, propagandistas, e colaboradores, directores regionais de tudo e mais alguma coisa, a vida é diferente. A administração pública (central e local) está repleta de grandes e pequenos parasitas, abrigados sob as capas dos vários partidos, bandos de ociosos sugadores do erário público, construindo meticulosamente a reformazinha que lhes garantirá um amanhã sem os pavores que hoje atormentam milhões de portugueses.

Aí não faltam ordenados repolhudos, ajudas de custo generosas, reformas várias e em qualquer idade (bastando uns curtos meses para a elas se ter direito), seguros de vida, de saúde e de acidentes pessoais, o saltitar constante de um cadeirão para outro, prémios de resultados, mesmo que os resultados sejam negativos, automóvel às ordens, cartões de crédito com belos plafonds, enfim, a ordem é pilhar depressa e bem. É aí, também, que prolifera a corrupção com a sua cascata de bons negócios e as devidas gratificações.

E quando alguém fala em classes sociais, mesmo que aponte os casos que eu acabei de apontar, logo os tenores da governança (e os seus títeres dos andares inferiores da pirâmide), soltam um pungente dó de peito, gritando, «Aqui d’el Rei!, classes sociais não existem, o que se passa é que tais benesses são indispensáveis à dignificação das funções». E eu, ingénuo, a pensar que a dignidade da função tinha apenas a ver com a maneira como era exercida, e não com a maneira como era remunerada.

Mas Sócrates, o Exterminador Implacável, não pode ter tudo. Muito menos gente feliz nas ruínas. Pode tentar calar as vozes dissonantes, mandar perseguir opositores, ameaçar autores de blogs, iludir e tentar segurar aqueles que acreditaram um dia nele. Podem os seus lacaios obrigar uma professora a trabalhar até á morte, ou levantar processos a quem ouse desabafar contra a camarilha governante.

Mas a fome está aí, insidiosa, alastrando como mancha de óleo. A mentira não enche barrigas, não paga a prestação da casa, nem os livros dos filhos, nem a conta na farmácia. Nem a batata ou o papo-seco. E a retórica, de tantas vezes utilizada, enjoa. Enoja.

A regressão social e económica que vivemos assemelha-se, em muito, à regressão que os chilenos sofreram após o golpe de Pinochet. A diferença é que no Chile foi à bruta. Aqui – porque eles também aprendem com os seus erros – está a ser silenciosa, delicodoce, cor-de-rosa. Não veste farda nem bombardeia o povo. Veste Armani, mas produz decretos tão assassinos como as bombas de Pinochet.

Portugal vive, hoje em dia, sob a mais violenta e sofisticada das ditaduras. A ditadura justificada por um voto que, descuidado – ou desencantado – lhe escancarou as portas.

Santiago do Chile, Setembro de 1973; Lisboa, Junho de 2007. O mesmo drama. As mesmas vítimas.

Chegou a hora de fazermos qualquer coisa. Não sei exactamente o quê, mas que é preciso fazer qualquer coisa, disso não tenho a menor dúvida.


Crónica de: João Carlos Pereira
Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 27/06/2007.
(Não deixe de ouvir em 98.7 Mhz e participar pelos telefones 212277046 ou 212277047 todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00).

26/06/2007

REFLEXÕES IX

MAIS UM ARGUMENTO PARA O MANIFESTO

Porque eu disse um dia numa reflexão que Bush autorizou ou ordenou a minha morte?

Esta frase pode parecer ambígua e imprecisa. Talvez fosse mais exacto, embora seja mais confuso ainda dizer que a autorizou e a ordenou. Eu explico.

O tema da denúncia em relação ao seu plano de me assassinar vem desde antes que lhe arrebatara a vitória mediante fraude ao outro candidato.

Numa data tão cedo como no dia 5 de agosto de 2000 eu fiz a denúncia na cidade de Pinar del Rio, perante uma grande massa de combativos cidadãos que lá estavam concentrados por ocasião da tradicional comemoração do 26 de julho, que nesse ano correspondeu por méritos àquela província, a Villa Clara e à Cidade de Havana.

Na verdade, é um mistério indicar os responsáveis das centenas de atentados contra a minha vida. Todas as formas directas ou indirectas para causar a minha morte foram utilizadas. Ford, após a renúncia moralmente forçada de Nixon, decretou a proibição de utilizar empregados do governo para cometer assassinatos.

Tenho a certeza de que Carter, pelas suas convicções éticas de índole religiosa, jamais teria dado a ordem de fazê-lo contra mim. Foi o único Presidente dos Estados Unidos que teve um gesto amistoso com Cuba em vários temas importantes, entre eles a criação da Repartição de Interesses em Cuba.

Não me consta que Clinton o houvesse ordenado, portanto, não posso imputar-lhe semelhante ordem. Foi, sem dúvidas, respeitoso da legalidade e actuou com sentido político quando aceitou a decisão judiciária de enviar o menino sequestrado ao pai e aos seus familiares mais próximos, que contava com o apoio da esmagadora maioria do povo norte-americano.

No entanto, é um facto real que durante o seu governo Posada Carriles contratou mercenários centro-americanos para colocar bombas nos hotéis e noutros centros de recreio de cidades tais como Havana e Varadero visando golpear a economia da Cuba bloqueada e no período especial. O terrorista não reparou em declarar que o jovem italiano que morreu estava “no lugar errado e no momento errado”, frase que o Bush repetiu em data recente como se fora um verso poético. O dinheiro e até os materiais electrónicos para a confecção de tais bombas provinham da Fundação Nacional Cubano Americana (FNCA), que distribuía os numerosos fundos que tinha, fazendo descarado “lobby” no Congresso norte-americano com membros de um e de outro partido.

Nos finais de 1997 celebrar-se-ia na Ilha de Margarita, na Venezuela, a VII Cúpula Ibero-americana de Chefes de Estado e de Governo à que obrigatoriamente eu deveria assistir.

A 27 de outubro desse ano, uma embarcação chamada "La Esperanza" navegava rumo à Ilha Margarita. Ao navegar muito próximo das costas de Porto Rico foi interceptada, por um patrulheiro do Serviço da Polícia Marítima e da Alfândega dessa ilha ocupada, ao suspeitar que podia transportar drogas. Nela viajavam quatro terroristas de origem cubana que levavam 7 caixas de munições, dois fuzis de assalto Barrett semi-automáticos com mira telescópica de raios infra-vermelhos que podiam disparar com precisão a uma distância de mais de mil metros contra carros blindados ou aviões em pleno vôo ou quase ao decolar ou aterrando.

Os fuzis semi-automáticos eram propriedade de Francisco José Hernández, Presidente da Fundação Nacional Cubano Americana. O iate “La Esperanza”, propriedade registrada de José Antonio Llamas, um dos directores da mesma organização contra-revolucionária. Este último declarou recentemente que a FNCA tinha adquirido um helicóptero de carga, dez aviões ultraleves propulsados por controle remoto, sete embarcações e abundante material explosivo com o objectivo marcado de realizar acções terroristas contra Cuba. Além disso, a Fundação contava com outro iate, o “MIdnigtht Express” que, segundo Llamas transportaria o Chairman – chefe de chefes – Mas Canosa à ilha, para se declarar Presidente depois de assassinado Fidel Castro e derrubado o seu Governo.

Os oficiais norte-americanos em Porto Rico não tiveram outro remédio que pôr a disposição dos tribunais os quatro tripulantes. Armou-se um grande escândalo. Na Venezuela, Posada Carriles, responsável da execução do plano era esperado de um momento para o outro.

Isto podia ser ignorado pelas autoridades norte-americanas criadoras e fornecedoras de fundos e milhonários negócios para a Fundação?.

Os réus fora exonerados em dezembro de 1999 por um júri complacente, por “falta de provas”. Essa causa manipulada foi dirigida por Héctor Pesquera, o oficial corrupto do FBI que depois foi recompensado com a chefia dessa agência em Miami e peça principal na detenção dos Cinco lutadores antiterroristas cubanos na Flórida.

A famosa máfia cubano-americana preparava-se para as eleições presidenciais de novembro de 2000. Tanto um partido quanto o outro disputavam o apoio da mesma, porque o estado da Flórida podia decidir o triunfo. Os seus chefes de estirpe batistiana eram principalmente peritos em fraudes

No discurso que mencionei anteriormente exprimi textualmente entre outas coisas:

“Agora acaba de concluir a chamada Convenção Republicana, nada menos que em Filadélfia, que foi a sede da famosa Declaração de Independência de 1776. Na verdade, aqueles donos de escravos que se revoltaram contra o colonialismo britânico, não aboliram o oprobioso sistema esclavagista que ainda se manteve durante quase um século”.

"A Convenção Republicana, que acaba de se reunir em Filadélfia, sob a direção de seu ilustre candidato, quebrando acordos internacionais de grande transcendência, a primeira coisa que fez foi anunciar o propósito de levar a cabo um aumento considerável do orçamento das Forças Armadas para pesquisas militares, o seu desenvolvimento, e a construção de um escudo antimísseis que envolva toda a nação, com uma rede de radares que poderia detectar mísseis inimigos que se dirijam para o território dos Estados Unidos e derrubá-los em pleno vôo”.

“Os que opinam assim não são capazes de compreender que essa política conduziria a uma rejeição internacional total, incluída a da Europa, e atrairia como um imã a todos os ameaçados por uma estratégia que os deixaria desarmados perante os Estados Unidos. Logo seria desatada uma nova, perigosa e muito custosa corrida aos armamentos e nada poderia impedir a proliferação nuclear e de outras armas de destruição massiva”

Estas coisas, que me aventurei a preveni-las sete anos antes da visita de Bush à capital da Albânia, foram as que me motivaram a uma reflexão.

Logo prossegui:

“Os autores do projecto sabem bem que algo mais da metade dos norte-americanos, ainda confundidos e não suficientemente informados sobre o complexo problema, acreditam que tal solução é a que mais convém aos interesses de segurança e paz do país. O candidato republicano com essa posição extrema oposta a qualquer proposta mais sensata e razoável por parte de seu oponente, seria apresentado perante os eleitores como o homem forte, previsor e duro que os Estados Unidos necessitam frente a todo o perigo imaginário ou real. Essas são as novidades com que eles obsequiaram todos os habitantes do planeta desde Filadélfia”.

Na altura estava muito longe de presenciar a ocupação do Afeganistão e os planos para começar uma guerra contra o Iraque.

Continuei denunciando naquele discurso o programa de Bush para a América Latina:

“O que é que oferece em particular para a América Latina e o Caribe o brilhante programa? Há uma frase que resume tudo: "O próximo século estadunidense deve incluir a toda América Latina". Essas simples sentença não significa outra coisa do que a proclamação do direito de posse sobre a América Latina e o Caribe.”

“Logo a seguir se acrescenta: "Em coordenação com o Congresso (o Presidente) trabalhará com democracias chaves da região, e sobre tudo, o México."

“Chama a atenção a frase "e sobre tudo o México", país ao qual lhe arrebataram já a metade de seu território numa guerra expansionista e injustificável. É evidente a clara ideia de implementar primeiro a anexação económica e a subordinação política total desse país aos Estados Unidos, e fazer o mesmo posteriormente com o resto dos países da nossa região, impondo-lhes um Tratado de Livre Comércio fundamentalmente favorável aos interesses norte-americanos, do qual não fugiria nem um ilhéu do Caribe. É claro: livre circulação de capitais e mercadorias, nunca de pessoas!”

“Como bem se pode supor, no leonino programa de Filadélfia, segundo as notícias, a Cuba coube-lhe uma parte substancial do item sobre a América Latina: "Nossas relações econômicas e políticas mudarão quando o regime cubano libertar a todos os prisioneiros políticos, legalize os protestos pacíficos, permita a oposição política, a livre expressão e se comprometa a fazer eleições democráticas." Para os autores deste demagógico engenho, liberdade e democracia é o que se pratica num sistema caduco e corrupto em que só o dinheiro decide e elege, e no qual um candidato à presidência chega a sê-lo, de forma relampejante, como herdeiro de um trono vazio.”

“Outra notícia informa: "O programa, para além do apoio activo aos inimigos da Revolução, inclui a transmissão de programas informativos desde os Estados Unidos para esse país do Caribe". Isto é, propõem-se continuar com as imundíces que difundem as estações subversivas contra Cuba desde o território dos Estados Unidos; continuará o ultraje de seguir usando nas emissões oficiais do governo dos Estados Unidos o nome glorioso e sagrado para o nosso povo de José Martí. “

“Em conferência de imprensa, legisladores estadunidenses de origem cubana berraram eufóricos: "Esta é uma linguagem sem precedentes. Nunca antes o Partido Republicano tinha feito um compromisso tão amplo".

“Como cúmulo da montanha de lixo contida na plataforma republicana, afirma-se finalmente: "Os republicanos julgam que os Estados Unidos devem aderir aos princípios estabelecidos pela Lei de Ajuste Cubano de 1966, a qual reconhece os direitos dos refugiados cubanos que fogem da tirania comunista."

“Do prestígio da política imperial não restará nem pó. Denunciaremos e demoliremos sistematicamente, uma por uma, a sua hipocrisia e as suas mentiras. Resulta evidente que não têm idéia nem sequer do tipo de povo que se tem forjado nestes quarenta anos de Revolução.”

“A nossa mensagem chegará a todos os cantos da Terra, e a nossa luta será um exemplo. O mundo, cada vez mais e mais ingovernável, lutará até que o hegemonismo e o avassalamento dos povos sejam totalmente insustentáveis.”

“Nenhum dos chefes do império que resulte eleito deve ignorar que Cuba exige o completo cessar da Lei assassina de Ajuste Cubano e das criminosas legislações que levam os tristemente célebres nomes de Torricelli e Helms-Burton, do bloqueio genocida e da guerra económica; que os seus autores, promotores e executores são réus do delito de genocídio definido e sancionado pelos tratados internacionais assinados pelos Estados Unidos e Cuba.”

“Não devem esquecer que, ainda sem se ter estabelecido demandas de indemnização por prejuízo moral, que podem ser avultadas, o governo dos Estados Unidos já deve mais de 300 biliões de dólares ao povo cubano por danos humanos ocasionados com sua invasão mercenária de Playa Girón, a sua guerra suja e muitos outros crimes.”

“Também não devem fazer-se ilusões sobre a posição de Cuba no caso de que um dia as relações dos Estados Unidos com o nosso país chegassem a ser tão normais como as que hoje existem com outros países socialistas como a China e o Vietname. Não guardaremos silêncio perante nenhum crime, agressão ou injustiça que sejam cometidos contra os povos. A nossa batalha de ideias não cessará enquanto exista o sistema imperialista, hegemónico e unipolar, convertido em açoite para a humanidade e ameaça mortal para a sobrevivência da nossa espécie.”

“É crescente o número de milhões de norte-americanos que tomam consciência dos horrores da ordem económica e política imposta ao mundo.”

“A Revolução Cubana não só confia na integridade moral e na cultura patriótica e revolucionária do seu povo e no instinto de conservação do género humano, ameaçado na sua própria sobrevivência; acredita e confia também no idealismo tradicional do povo norte-americano, ao qual só podem conduzir a guerras injustas e agressões bochornosas na base de grosseiros enganos. Quando a demagogia e a mentira tenham sido derrotadas, o mundo terá nos próprios cidadãos dos Estados Unidos excelentes aliados, como aconteceu aquando daquela repugnante guerra que lhe custou a vida a milhões de vietnamitas e a mais de 50 mil jovens norte-americanos, ou como acaba de acontecer com o seu nobre apoio a um menino e a uma família cubana, vítimas de um brutal crime por parte de um bando de malfeitores que, tendo-se acolhido à hospitalidade desse país, arrastados pelo ódio e a frustração, terminaram pisoteando e queimando a bandeira dos Estados Unidos.”

“As mudanças na política do governo dos Estados Unidos com respeito a Cuba têm que ser unilaterais, porque o bloqueio e a guerra económica contra Cuba por parte dos que dirigem esse país são unilaterais.”

“Desde aqui, desde esta província, onde o Titã de Bronze culminou em Mantua sua colossal façanha da invasão que iniciara nos Mangos de Baragúa, lhes respodemos: Néscios! Não compreendem que Cuba é inexpugnável, que a sua Revolução é indestrutivel, que o seu povo não se renderá nem se submeterá jamais? Não percebem que as raízes do nosso patriotismo e do nosso internacionalismo estão tão enraizadas nas nossas mentes e nos nossos corações como as imponentes montanhas pinarenhas de rocha ígnea o estão nas entranhas vulcánicas desta parte de uma ilha que se chama Cuba, rodeada hoje pela auréola de ter resistido imbatível quase 42 anos de bloqueio e agressão por parte da potência mais poderosa que tenha existido jamais?”

“Nos defende a força do nosso prestígio e o nosso exemplo, o aço indestrutível da justiça da nossa causa, o fogo inapagável da nossa verdade e da nossa moral, a dupla e inexpugnável trincheira de pedra e de ideias que temos construído.”

“Por isso, senhor Bush, se você chegar a se tornar chefe do que já não é nem pode chamar-se república senão império, com espírito de sincero adversário lhe sugiro que reconsidere, que ponha de parte a euforia e as vanglórias da sua Convenção e não corra o risco de tornar-se no décimo Presidente que continua o seu caminho contemplando com amargura estéril uma Revolução em Cuba que não se submete nem se rende nem pode ser destruída.”

“Sei muito bem o que você em momentos de irreflexão tem dito aos seus íntimos e indiscretos amiguinhos da máfia cubano-americana: que você poderá resolver o problema de Cuba facilmente, em clara referência, aos métodos da época sinistra na qual a Agência Central de Inteligência era utilizada diretamente nos planos de assassinatos contra os dirigentes do nosso país. Por discordar dessa concepção, tão estreita do papel dos indivíduos na história, exorto-lhe a não esquecer que por cada um dos chefes revolucionários que você decidisse eliminar por essa via, em Cuba há milhões de homens e mulheres capazes de ocupar os seus lugares, e todos juntos são muitos mais dos que você possa eliminar e os que o seu imenso poder político, económico e militar possa vencer”.

Acho que esta longa reflexão é mais um argumento dos que já expus no Manifesto para o povo de Cuba.


Fidel Castro Ruz
24 de Junho de 2007

22/06/2007

REFLEXÕES VIII

AS LUTAS DE VILMA

Morreu Vilma. Apesar de esperada, a notícia não deixou de me comover. Por puro respeito ao seu delicado estado de saúde, jamais mencionei o seu nome nas minhas reflexões.

O exemplo de Vilma é hoje, mais do que nunca, necessário. Dedicou toda a sua vida a lutar em favor da mulher, quando em Cuba a maioria delas era discriminada como ser humano, mesmo como no resto do mundo, com honrosas exceções revolucionárias.

Nem sempre foi assim no decurso da evolução histórica da nossa espécie, que a levou a desempenhar o papel social que lhe correspondia como oficina natural onde se forja a vida.

No nosso país a mulher emergia de uma das mais horríveis formas de sociedade, a de uma neo-colônia ianque sob a égide do imperialismo e do seu sistema, no qual tudo aquilo que o ser humano é capaz de criar foi convertido em mercadoria.

Desde o surgimento na história antiga daquilo a que se chamou exploração do homem pelo homem, as mães, os meninos e as meninas dos necessitados suportaram a maior carga.

As mulheres cubanas trabalhavam nos serviços domésticos, ou em lojas de luxo e bares burgueses, onde, além disso, eram selecionadas pelo seu corpo e a sua figura. As fábricas ofereciam-lhes os trabalhos mais simples, repetitivos e pior remunerados.

Na educação e na saúde, serviços que eram oferecidos em pequena escala, a sua imprescindível cooperação era realizada por professoras e enfermeiras as quais apenas recebiam um nível de instrução médio. A nação, com 1256,2 quilómetros de extensão, só tinha um centro de ensino superior que se encontrava na capital, e mais para a frente, algumas faculdades em centros universitários em mais duas províncias. Como norma só podiam estudar nelas jovens procedentes de famílias com melhores rendimentos. Em muitas actividades nem sequer era concebida a presença da mulher.

Fui testemunha durante quase meio século das lutas de Vilma. Não me esqueço dela participando das reuniões do Movimento 26 de Julho na Sierra Maestra. Foi enviada finalmente pela direção do movimento a uma importante missão na Segunda Frente Oriental. Vilma não se importava com o perigo.

Com o triunfo da Revolução, começa a sua incessante batalha em favor das mulheres e das crianças cubanas, que fez com que fundasse e dirigisse a Federação das Mulheres Cubanas. Não houve tribuna nacional ou internacional na qual não participasse apesar do longo caminho que houvesse que percorrer, em defesa de sua pátria agredida e das nobres e justas idéias da Revolução.

A sua voz doce, firme e oportuna, sempre foi escutada com grande respeito nas reuniões do Partido, do Estado e das organizações de massas.

Hoje as mulheres cubanas constituem 66% da força técnica do país, e participam maioritariamente de quase todas as carreiras universitárias. Antes, a mulher apenas figurava nas atividades científicas, visto que não havia ciência nem cientistas, salvo exceções. Nesse campo também hoje são maioria.

Os deveres revolucionários e o seu imenso trabalho jamais lhe impediram cumprir as suas responsabilidades como companheira leal e mãe de numerosos filhos.

Morreu Vilma! Viva Vilma!


Fidel Castro Ruz
20 de junho de 2007

REFLEXÕES VII

JAMAIS TERÃO CUBA

Imagino que ninguém diga que arremeto gratuitamente contra Buhs. Compreenderão, sem dúvidas, as minhas razões para criticar duramente a sua política.

Robert Woodward é um jornalista e escritor norte-americano que ganhou fama pela série de artigos publicados no Washington Post subscritos por ele e por Carl Bernstein, que provocaram finalmente a investigação e a renuncia de Nixon. É autor e co-autor de dez best-sellers. Com a sua temível esferográfica consegue que o entrevistado faça algumas revelações. No seu livro “Estado de Negación”, assevera que em 18 de junho de 2003, três meses após iniciada a guerra do Iraque, saindo do seu gabinete na Casa Branca depois de uma importante reunião, Bush deu umas palmadinhas no ombro de Jay Garner, e diz-lhe:

— “Oi, Jay, queres fazer o do Irão?

— “Senhor, os rapazes e eu já falámos a respeito desse tema e queremos esperar para quando corresponda a Cuba. Achamos que o rum e os charutos são ainda melhores. As mulheres são ainda mais belas.”

Bush respondeu: “Tê-lo-ás. Terás Cuba.”

Bush foi traído pelo subconsciente. Isso era o que pensava desde que declarou o que deviam esperar dezenas de escuros cantos onde Cuba ocupa um lugar especial.

Garner, um general de três estrelas aposentado recentemente ao qual tinha nomeado Chefe do Gabinete de Planificação para o Pós-guerra no Iraque, criado por uma Direcção Presidencial de Segurança Nacional secreta, era considerado por Bush um homem excepcional para levar a cabo a sua estratégia bélica. Designado para o cargo em 20 de janeiro de 2003, foi substituído em 11 de maio desse mesmo ano a pedido de Rumsfeld. Não teve a coragem para explicar a Bush as suas fortes discrepâncias sobre a estratégia desenvolvida no Iraque. Pensava noutra com idêntico propósito. Nas últimas semanas milhares de fuzileiros navais e um grupo de porta-aviões norte-americanos, com as suas forças navais de apoio, manobram no Golfo Pérsico a poucas milhas do território iraniano, à espera de ordens.

Em breve farão 50 anos de cruel bloqueio ao nosso povo; milhares dos seus filhos morreram e ficaram mutilados, produto da guerra suja contra Cuba, único país no mundo ao qual aplicam uma Lei de Ajuste que premia a migração ilegal, outra causa a mais da morte de cidadãos cubanos, incluídas mulheres e crianças; há mais de 15 anos perdeu os seus principais mercados e fontes de fornecimento de alimentos, energia, maquinarias, matérias-primas, financiamentos a longo prazo e interesse baixo.

Primeiro, o derrube do campo socialista e quase de imediato da URSS, despedaçada até à última porção. O império incrementou e internacionalizou o bloqueio; as proteínas e as colorias, bastante bem distribuídas apesar das nossas deficiências, foram aproximadamente reduzidas em 40%; apareceram doenças como a neurite óptica e outras; a escassez de medicamentos, também bloqueados, generalizou-se: apenas podiam entrar como obra caritativa, tudo isso para nos desmoralizar; os mesmos, pela sua vez, tornavam-se fonte de compra-venda e de negócios ilícitos.

Veio inevitavelmente o período especial, que foi a soma de todas as consequências da agressão e das medidas desesperadas que nos obrigou a tomar, potenciando o conjunto de acções nocivas pelo colossal aparelho publicitário do império. Todos ficavam à espera, uns com tristeza, outros com júbilo oligárquico, do derrube da Revolução cubana.

O acesso às divisas convertíveis fez muito dano, em maior ou menor volume, à consciência social, devido às desigualdades e debilidades ideológicas que criou.

No decurso de toda a sua vida, a Revolução instruiu o povo, formou centenas de milhares de professores, médicos, cientistas, intelectuais, artistas, informáticos e outros profissionais universitários e pós-graduados em dezenas de carreiras. Essa riqueza entesourada permitiu reduzir a mortalidade infantil a mínimos inimagináveis num país do Terceiro Mundo e elevar a esperança de vida e a média de conhecimento da população a níveis do nono grau.

A Revolução Bolivariana da Venezuela, ao oferecer a Cuba petróleo com facilidades de pagamento quando o preço dele subia vertiginosamente, significou um alivio importante e abriu as novas possibilidades, visto que o nosso país começava a produzir a sua própria energia em cifras crescentes.

Desde anos anteriores, o império, preocupado pelos seus interesses nesse país, já tinha planejado arrasar aquela revolução, o que tentou fazer em abril de 2002 e tentará todas as vezes que puder, para o qual os revolucionários bolivarianos se preparam.

Entretanto, Bush incrementou os seus planos de ocupar Cuba, até o cúmulo de proclamar leis e um governo interventor para instalar uma administração imperial directa.

Partindo dos privilégios concedidos aos Estados Unidos em Bretton Woods e da estafa de Nixon ao eliminar o padrão-ouro que punha limite à emissão de notas, o império comprou e pagou com papéis dezenas de milhões de milhões de dólares, cifras de mais de doze algarismos. Com isso tem mantido a sua insustentável economia. Grande parte das reservas mundiais em divisas é constituída por títulos do Tesouro e notas norte-americanas. Por isso, muitos não desejam uma crise do dólar como a de 1929, que converteu em água os papéis. O valor em ouro de um dólar hoje é, pelo menos, dezoito vezes menor que o que tinha nos anos de Nixon. O mesmo acontece com o valor das reservas nessa moeda.

Esses papéis têm mantido seu escasso valor actual sobre a base de que com eles podem ser adquiridas fabulosas quantidades de armas modernas, cada vez mais caras, que nada produzem. Os Estados Unidos exportam mais armas do que o resto do mundo. Com esses mesmos papéis o império desenvolveu os mais sofisticados e mortíferos sistemas de armas de destruição em massa, com as quais sustenta a sua tirania mundial.

Esse poder permite-lhe impor a ideia de converter os alimentos em combustíveis e fazer em pedaços qualquer iniciativa e compromisso para evitar o aquecimento global, que se acelera visivelmente.

Fome e sede, furacões mais violentos e invasões do mar sofrearão “gregos e troianos”, como fruto da política imperial. O respiro para a humanidade, que oferecesse uma esperança à sobrevivência da espécie, está numa drástica poupança de energia, pelo qual não se preocupa em absoluto a sociedade consumista dos países ricos.

Cuba continuará desenvolvendo e aperfeiçoando a capacidade combativa de seu povo, incluindo a nossa modesta, mas porém activa e eficiente indústria de armas defensivas, que multiplica a capacidade de enfrentar o invasor em qualquer lugar que se encontrar, possua as armas que possua. Continuaremos adquirindo o material necessário e as bocas de fogo pertinentes, embora não cresça o famoso Produto Interno Bruto do capitalismo, que tantas coisas inclui, como o valor das privatizações, as drogas, os serviços sexuais, a publicidade, e tantas exclui, como os serviços de educação e saúde gratuitos para todos os cidadãos.

O nível de vida pode aumentar de um ano para o outro se crescerem os conhecimentos, a auto-estima e a dignidade de um povo. Basta com que o esbanjamento diminua, para que a economia cresça. Apesar de tudo, iremos crescendo o necessário e o possível.

“A liberdade custa muito caro e temos ou de nos resignarmos a viver sem ela ou de nos decidirmos a pagar o seu preço”, disse Martí.

“Quem tentar apoderar-se de Cuba só poderá juntar o pó de seu solo alagado de sangue, se não perecer na luta”, proclamou Maceo.

Não somos os primeiros revolucionários em pensar desta maneira! Também não seremos os últimos!

Um homem pode ser comprado, um povo, jamais.

Durante muitos anos pude sobreviver, por azar, à máquina de matar do império. Em breve fará um ano da minha doença e, quando me encontrava entre a vida e a morte, na Proclamação de 31 de julho de 2006 expressei: “Não tenho a menor dúvida de que o nosso povo e a nossa Revolução lutarão até à última gota de sangue”.

Você também não tenha a menor dúvida, senhor Bush!

Garanto-lhe que jamais terão Cuba!


Fidel Castro Ruz
17 de Junho de 2007

20/06/2007

E NINGUÉM FOI PRESO

A história que eu vou contar não é ficção. É uma história que se passou em Portugal, nos nossos dias. É a história de um grande crime, com vários crimes menores pelo meio. É, em suma, uma história de terror.

No dia 5 de Março de 1998, escrevia eu no jornal Outra Banda: «O fim da Siderurgia Nacional, como empresa estratégica ao serviço dos interesses nacionais, está praticamente consumado. O processo arrastou-se ao longo de vários anos, mas caminha agora para um fim inexorável e muito bem definido: colocar um instrumento necessário ao desenvolvimento nacional e ao bem-estar dos portugueses nas mãos de quem, a nível europeu, quer, pode e manda na indústria siderúrgica».

Mas para que se compreenda melhor todo o processo, é preciso dizer que Portugal nunca produziu mais do que 60% das suas necessidades em produtos siderúrgicos. Conscientes desse défice, que obrigava o país a importar os restantes 40%, o que o colocava numa perigosa e caríssima dependência do estrangeiro, nos finais da década de 70, início da década de 80, o Estado entendeu – e bem – executar um plano de desenvolvimento da Siderurgia Nacional. Investiram-se, então, já em meados da década de 80, 70 milhões de contos nesse plano, o que incluiu trabalhos de terraplanagens e compra de equipamentos, entre eles um novo alto-forno, que ficou acondicionado nos terrenos da empresa. Convém dizer que, na época, trabalhavam na Siderurgia Nacional, entre as instalações de Aldeia de Paio Pires e da Maia, cerca de 6.500 pessoas.

Porém, por essa altura, iniciaram-se as conversações para a adesão de Portugal à CEE, que impuseram, entre outras obrigações, a necessidade de reduzir a nossa produção de produtos siderúrgicos, pois a Comunidade era, como parece que ainda é, excedentária nessa matéria. Ora, se isso era verdade em relação à Comunidade, não o era em relação a Portugal, que precisava de produzir mais para satisfazer o seu consumo interno. Parece lógico que, a haver redução de quotas, deveriam ser os países que produziam acima das suas necessidades a fazê-lo, e nunca Portugal. Por incompetência, cobardia ou outra razão qualquer ainda mais censurável (e seria bom que, um dia, os dossiers fossem divulgados para conhecermos os nomes e as caras desses vendilhões da pátria), a verdade é que fomos forçados a sacrificar o interesse nacional para comprarmos os produtos siderúrgicos produzidos no estrangeiro.

Para além dos 70 milhões de contos assim deitados à rua – apenas o alto-forno, que entretanto apodrecia nos caixotes expostos ao tempo, permitiu algum retorno, pois foi vendido para um país asiático – também se comprometeram as hipóteses de garantir, no futuro, o nível de emprego e a estabilidade social de milhares de trabalhadores e suas famílias.

Se o que acabámos de relatar é mau, o que estava para vir não seria melhor.

Mentindo aos portugueses, o governo de Cavaco Silva acabou aquilo que a governação de Mário Soares havia começado. Estou a falar do desmembramento e venda da Siderurgia Nacional a empresas estrangeiras, o que, ao contrário do que afirmaram, em coro, PS e PSD, não foi uma imposição, nem uma consequência da integração na CEE. Aliás, depois desta venda, passámos a ser o único país da então CEE que não tinha uma indústria siderúrgica própria.

Mas se o desmantelamento e venda da SN foram um autêntico crime de lesa-pátria, as peripécias da venda atingiram as raias do autêntico escândalo, próprio de uma qualquer – e autêntica – república das bananas.

Depois de dividir a SN em três empresas (SN-Serviços, SN-Empresa de Produtos Longos e SN-Empresa de Produtos Planos), o Governo decidiu manter na pose do Estado apenas a SN-Serviços, abrindo à privatização as outras duas. Em 18 de Setembro de 1995, é decidida a privatização da SN-Empresa de Produtos Longos, de Aldeia de Paio Pires e da Maia, a qual é adquirida por 3,750 milhões de contos, pelo grupo constituído pela Metalúrgica Galaica, SA e a Herisider Holand, B.V., uma empresa do Grupo Riva, considerado como os patrões do aço a nível europeu. E os compradores terão feito, sem a menor dúvida, o maior e melhor negócio do século passado, digno de figurar no Guiness.

De facto, por apenas 3,750 milhões de contos, a nova empresa ficou proprietária de todas as instalações e equipamentos das fábricas da Maia e de Aldeia de Paio Pires, das respectivas linhas de produção, correspondendo tudo a uma área de 83 hectares. Mas, para além disso, ficou a deter, também, 5 milhões de contos em stocks (isto é, produtos já fabricados, que, só eles, valiam mais do que o preço pago por tudo) e, como cereja em cima do bolo, de 9 milhões de contos em créditos, ou seja, valores a receber por vendas feitas antes de terem comprado as fábricas. Contudo, o Estado português, que abriu mão dos seus créditos, assumiu, pelo contrário, todos os débitos existentes à altura da venda.

Resumindo: A RIVA comprou por menos de 4 milhões de contos aquilo que valia, no mínimo, 14 milhões de contos. Sendo assim, não espanta sabermos que, tempos depois, cedeu a sua posição aos seus parceiros espanhóis por um valor que rondou os 20 milhões de contos.

Foi de tal ordem o escândalo, que o Eng. Silva Carneiro, na altura deste mirabolante negócio presidente do conselho de administração da SN, foi despedido sem justa causa, mas o inquérito que Augusto Mateus, secretário de Estado de Guterres, em finais de 1995, na altura prometeu, perdeu-se nas inúmeras gavetas do poder político.

A partir daqui, sucederam-se os despedimentos de milhares de trabalhadores. E como nota final, também ela explicativa da subserviência do Estado português aos interesses económicos – e dos muitos negócios subterrâneos que se adivinham no meio desta trapalhada toda – enquanto o alto-forno funcionou, a SN-Serviços, a única que se manteve nas mãos do Estado português, fornecia à SN-Longos as matérias primas (bilhetes, produzidos a partir da gusa líquida, via alto-forno, e energia). Porém, com a substituição no alto-forno por um forno eléctrico, enganam-se os que pensam que o novo forno ficou nas mãos nacionais. Nada disso. Agora, toda a produção passou para as mãos privadas, que são, como sabemos, estrangeiras. Portugal perdeu totalmente o controlo sobre uma área estratégica fundamental para o seu desenvolvimento, que é a produção de produtos siderúrgicos.

E aqui vos deixei os traços principais de um crime – de vários crimes – em consequência dos quais o país saiu altamente lesado. Mas de onde, para além dos grandes interesses económicos estrangeiros, alguém deve ter ficado muito bem na vida.

Mas a verdade é que ninguém foi preso.


Crónica de: João Carlos Pereira
Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 20/06/2007.
(Não deixe de ouvir em 98.7 Mhz e participar pelos telefones 212277046 ou 212277047 todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00).

15/06/2007

REFLEXÕES VI

NECESSITADO DE CARINHO

Certamente, o único lugar onde Bush recebeu carinho foi na Albânia e tanto assim que achou frio o recebimento que lhe ofereceram na Bulgária, onde era esperado por vários milhares de pessoas com bandeirinhas norte-americanas.

O apoio de Bush ao ingresso imediato da Albânia na NATO e a sua decisão de exigir a independência da província de Kosovo, fizeram com que não poucos albaneses endoidecessem.

Notícias da imprensa escrita e de outros meios, informam que vários deles, perguntados por separado, responderam:

"Bush é um símbolo da democracia. Os Estados Unidos, um protector da liberdade dos povos."

Milhares de soldados e policiais albaneses desarmados, porque assim o exigiram as autoridades ianques, formaram duas fileiras de mais de 20 quilómetros do aeroporto até a capital.

O embaraçoso problema da independência de uma parte da Sérvia é muito controverso na Europa, como antecedente que pode ser acompanhado em vários países por mais outras regiões que dentro das actuais fronteiras exigem soberania.

Foi assim que a Albânia passou da extrema esquerda para a extrema direita.

Viver para ver! E ver para crer!

A Sérvia recebe não só um duro golpe político, mas também económico. O Kosovo possui 70% das reservas energéticas da Sérvia. Entre 1928 e 1999, ano da guerra da NATO contra a Sérvia, a província aportou 78% do zinco e da prata. Calcula-se que dispõe ainda de 82% das suas possíveis reservas destes metais. Também ali se encontram as maiores reservas de bauxite, níquel e cobalto.

A Sérvia perde fábricas, terrenos e propriedades. Apenas fica com o dever de pagar a dívida externa que tem pelos investimentos que se realizaram no Kosovo antes de 1998.

Neste momento acabo de receber um cabograma da AFP que me obriga a escrever mais algumas linhas.

Diz textualmente:

"A Rússia acusa o ocidente de discutir em segredo sobre a independência de Kosovo.

"Na quarta-feira a Rússia censurou os países ocidentais pelo facto de terem trabalhado às escondidas e de maneira ‘unilateral’ para preparar a independência de Kosovo, segundo um comunicado difundido pelo Ministério das Relações Exteriores russo.

"As ‘discussões’ secretas dão para entender que se prepara unilateralmente o terreno para a independência de Kosovo’, salientou o porta-voz do Ministério, Mijail Kamynin, fazendo referência à reunião que as potencias ocidentais realizaram na terça-feira em Paris, para a qual não foi convidado o governo de Moscovo.

"Essa atitude, continuou, é ‘inadmissível’ e, além disso ‘a Rússia não foi convidada para a reunião, o que não tem nada a ver com as declarações no sentido de procurar soluções de compromisso’, acrescentou."


Fidel Castro Ruz
13 de Junho de 2007

13/06/2007

BUZINAR, É PRECISO!

Uma professora portuguesa, chamada Manuela Estanqueiro, foi praticamente obrigada a dar aulas até cair para o lado. Morta. Sofria de leucemia há cerca de um ano, mas a ADSE, na sua desvairada ânsia de levar à letra as orientações governamentais, recusou a sua aposentação. Uma aposentação que lhe servisse de lenitivo para o seu sofrimento e amenizasse os últimos dias de vida.

A isto chegámos! O episódio de Manuela Estanqueiro nada mais é do que o reflexo da brutalidade das políticas em curso. Da sua natureza de classe. Da sua indizível desumanidade. A vida humana, para Sócrates e restantes acólitos – os que o acompanham no governo e os milhares de boys e girls colocados, a granel, por toda a máquina administrativa do aparelho do Estado – dizia eu que a vida humana, para Sócrates e seus acólitos, foi reduzida à sua expressão mais simples, ou seja, não passa de um mero detalhe ao serviço da redução do défice.

Inebriada pela miragem de deter o poder absoluto, a chusma socialista pensa e age ao mesmo nível da máquina repressiva e opressora dos tempos da ditadura. Os incontáveis boys e girls esfalfam-se e atropelam-se na sua sofreguidão de mostrar ao «chefe» que merecem o jobezinho. Apuram-se no exercício do seu santo ofício, para que o senhor «engenheiro» saiba que perceberam como ele quer que o país funcione. Conheci gente desta – sem tirar nem pôr – antes do 25 de Abril. Era feita da mesma massa a maioria dos chefes de repartição, dos directores-gerais, dos responsáveis disto e daquilo, gente da máxima confiança do regime, sem esquecer esse sinistro exército transversal de bufos, informadores e pides.

Também hoje estas verrugas sociais estão espalhadas por todo o lado. Na DERN, por exemplo (denunciando e perseguindo colegas que não são da cor), na ADSE, no movimento sindical (furando lutas), nas autarquias, nas escolas, nos centros de saúde, em todas as repartições públicas, enfim.

Mas há uma coisa contra a qual eles não podem lutar. É que hoje, como então, esta gentalha já vive à margem da gente comum. É olhada com desconfiança e desprezo. Calamo-nos – ou mudamos de conversa – se por acaso algum deles se junta ao grupo. Já não são parte da comunidade, mas algo a ela estranho e, bem pior do que isso, algo que lhe é nocivo. Numa palavra: repugnam.

Enquanto isto, o governo afadiga-se em novos ataques aos portugueses. E afunda-se em trapalhadas capazes da fazer o bom do Santana Lopes corar de inveja. Agora, prepara caminho para que as despesas de saúde deixem de ser abatidas no IRS. No caso da Ota, depois das ridículas afirmações do paleolítico cavalheiro que parece mandar nas obras públicas (aeroporto na Margem Sul, jamais, disse ele), afinal, Alcochete passa a ser uma possibilidade. Veremos é se não passa tudo de uma montagem para português ver. Seja como for, este recuo deve ter doído a Sócrates e a Lino como aguarrás em cu de mula.

Por falar em Margem Sul, convém que aqui se diga que estamos vivos e somos gente. Aliás, estamo-nos até nas tintas para o facto de Lino, O Paleolítico, não querer pedir desculpas por aquilo que disse. Aliás, não seria só o senhor ministro a dever-nos desculpas e explicações. Há muitos anos que sucessivos governos olham para esta Outra Banda – e tratam esta Outra Banda – como se aqui habitassem seres menores, portugueses de segunda – ou terceira – categoria.

Os Governos não investem na Península de Setúbal – ou investem pouco e mal. Grandes empresas [Lisnave, Setenave, Sorefame, Siderurgia (ainda não será hoje que falo do seu desmantelamento e morte), Parry & Son, Mundet, Wicander, Alcoa, etc, etc] foram friamente assassinadas ou reduzidas a quase nada, com o aval ou a passividade de sucessivos governantes. O desemprego e o emprego precário atingem as mais elevadas taxas do país. Aos milhares, somos forçados a procurar trabalho noutros lados, especialmente na Margem Norte.

Na Arrábida, ex-libris do nosso turismo – uma das meia belas paisagens do mundo, ninho e viveiro de espécies únicas da fauna e da flora mundiais – o Governo permite que a cimenteira e as pedreiras vão cumprindo o seu sinistro trabalho de corrosão e ruína. Até a co-incineração ameaça envenenar para sempre a Serra-Mãe. Na Costa de Caparica, o mar galga a terra e vai destruindo o que resta de um magnífico areal.

Se precisamos de ir à capital do país, seja para trabalhar, estudar, consultar um médico ou, simplesmente, numa mera acção de cultura ou lazer, pagamos aquilo que mais ninguém paga em Portugal: uma portagem que é, na prática, um imposto territorial, exclusivo da Margem Sul, porque, contrariamente ao que acontece em todo o país, aqui não temos alternativas gratuitas. Atente-se nisto:

- Ninguém paga para atravessar o Douro

- Ninguém paga para atravessar o Mondego

- Ninguém paga para atravessar o Túnel da Gardunha

- Ninguém paga para atravessar o Guadiana e ir passear a Espanha

- Quem entra em Lisboa vindo de Este, do Oeste ou do Norte de Lisboa tem vias alternativas gratuitas, como acontece em todo o lado onde há portagens.

E da MARGEM SUL? Aqui, ou pagamos… ou pagamos.

Será por sermos menos portugueses? Parece que sim. Então, é chegada a altura de voltarmos a mostrar a nossa indignação, de exigir sermos tratados, também em termos de acessibilidades, como os cidadãos do resto do país.

Uma das maneiras de o fazermos será, por exemplo, aderirmos ao Buzinão que está previsto para sexta-feira, dia 15, nas portagens da Ponte 25 de Abril, à hora do costume, ou seja, a partir das 7:30.

Ao fazê-lo estaremos a dizer NÃO à discriminação política e social a que temos estado sujeitos. E, também a dizer NÃO ao imposto territorial, exclusivo da Margem Sul, mais conhecido por portagem.

Buzinar é preciso!

E gritar, reclamar, lutar, resistir. Na Ponte e em toda a parte. Sem medo, sem hesitações, sem cerimónias.

Antes que nos façam a todos aquilo que fizeram àquela portuguesa que foi obrigada a trabalhar até morrer.


Crónica de: João Carlos Pereira
Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 13/06/2007.
(Não deixe de ouvir em 98.7 Mhz e participar pelos telefones 212277046 ou 212277047 todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00).

12/06/2007

REFLEXÕES V

O TIRANO VISITA TIRANA

Já sabemos que esta curiosa visita de Bush à capital da Albânia se realizou. Ali se pronunciou vivamente pela independência do Kosovo, sem qualquer respeito pelos interesses da Sérvia, da Rússia e de vários países da Europa, sensíveis ao destino da província que foi cenário da última guerra da NATO. À Sérvia prometeu que receberia ajuda económica se aprovasse a independência do Kosovo, onde nasceu a cultura daquele país.

Bush está ansioso de carinho. Desfrutou a seu gosto o recebimento sem protestos na Bulgária. Falou com soldados desse país que participaram nas guerras do Iraque e Afeganistão. Tratou de os convencer a derramar mais “sangue generoso nessas pacíficas guerras”.

Quando os líderes do país se queixaram da não inclusão da Bulgária no projecto de protecção contra ataques nucleares, de imediato declarou: “terão os meios necessários para se defenderem dos mísseis de médio alcance”.

De dois a cinco mil soldados de Bush, rodarão constantemente pelas três bases militares implantadas pelo império na Bulgária.

Tudo isto como se vivêssemos no mais feliz dos mundos!


Fidel Castro Ruz
11 de Junho de 2007

10/06/2007

DIA DE PORTUGAL ?

Com mais ou menos desfile, com mais ou menos discurso, com mais ou menos medalha, mais um Dia de Portugal foi comemorado oficialmente pelas altas – e sempre as mesmas – figuras do Estado Novo do século XXI.
O povo, essa espécie com que se deve construir uma Nação, apenas serve para trabalhar, pagar impostos e morrer o mais rapidamente possível para o equilíbrio da segurança social.
Que orgulho neste país pode ter quem está no desemprego, quem recebe uma reforma de miséria ou quem não tem assistência na doença ?
Porque das comemorações fazia parte a homenagem a Sebastião da Gama, nada melhor que transcrever o poema que ele escreveu há mais de 50 anos.


MEU PAÍS DESGRAÇADO

Meu país desgraçado!...
E no entanto há Sol a cada canto
e não há Mar tão lindo noutro lado.
Nem há Céu mais alegre do que o nosso,
nem pássaros, nem águas ...

Meu país desgraçado!...
Por que fatal engano?
Que malévolos crimes
teus direitos de berço violaram?

Meu Povo
de cabeça pendida, mãos caídas,
de olhos sem fé
— busca, dentro de ti, fora de ti, aonde
a causa da miséria se te esconde.

E em nome dos direitos
que te deram a terra, o Sol, o Mar,
fere-a sem dó
com o lume do teu antigo olhar.

Alevanta-te, Povo!
Ah!, visses tu, nos olhos das mulheres,
a calada censura
que te reclama filhos mais robustos!

Povo anêmico e triste,
meu Pedro Sem sem forças, sem haveres!
— olha a censura muda das mulheres!
Vai-te de novo ao Mar!
Reganha tuas barcas, tuas forças
e o direito de amar e fecundar
as que só por Amor te não desprezam

“Sebastião da Gama”

08/06/2007

REFLEXÕES IV

AS MENTIRAS E OS EMBUSTES DE BUSH

Não gosto da ideia de parecer uma pessoa vingativa e desejosa de acossar o adversário. Eu tinha-me prometido esperar um pouco para ver como se desenvolviam as contradições entre Bush e os seus aliados europeus sobre o tema vital da mudança do clima. Mas, George W. Bush excedeu-se quando fez uma declaração que conhecemos através de uma notícia da AP na passada sexta-feira. O Presidente dos Estados Unidos afirmou que chegará ao Vaticano "com a mente aberta e com muita vontade de escutar o Papa" e asseverou que "compartilha com ele os valores do respeito à vida, à dignidade do homem e à liberdade".

"A história demonstrou que as democracias não declaram guerras e, portanto, a melhor maneira para reforçar a paz é promover a liberdade", acrescentou.

"Será a primeira visita do presidente norte-americano a Bento XVI. A sua última viagem a Itália foi em Abril de 2005 para o funeral do Papa João Paulo II", indicou a agência.

Numa reflexão eu disse que não seria, o primeiro nem o último a quem Bush ordenou - ou autorizou os seus agentes - assassinar. Ao conhecer a sua inusitada declaração, penso que se Bush nalguma ocasião leu um livro de história, estaria consciente de que lá, na mesmíssima Roma, nasceu um império que nutriu o vocabulário da linguagem política durante quase dois mil anos, e nasceu também o Estado do Vaticano com o decorrer do tempo, depois que Constantino promulgou o Edito de Milão a favor dos adeptos da religião cristã, no começo do século IV de nossa era.

Contam os historiadores que o César Nero, que ordenou o incêndio da capital do império, exclamava satisfeito no meio da tragédia: "Que grande poeta perece!"

Se os historiadores tivessem razão! Se Bush for poeta! Se os habitantes do planeta apenas fossem os daquela época! Se não existissem as armas nucleares, químicas, biológicas e outras de destruição em massa, embora se tratasse de um facto triste, incluída a morte do poeta, quem se alarmaria pelo incêndio do que hoje seria apenas uma grande aldeia?

É evidente que Roma ainda não está incluída nos 60 ou mais escuros cantos do planeta que as forças militares dos Estados Unidos devem estar prontas para atacar de maneira preventiva e de surpresa, como Bush proclamou em West Point no primeiro de Junho de 2002.

Bush tenta agora embaucar o Papa Bento XVI. A guerra do Iraque não existe, não custa um centavo, nem uma gota de sangue, nem morreram centenas de milhares de pessoas inocentes numa desavergonhada troca de vidas por petróleo e gás, imposta pelas armas a um povo do Terceiro Mundo. Também não existem os riscos de uma outra guerra contra o Irão, incluídos possíveis golpes nucleares tácticos para impor a mesma receita infame. Estamos todos obrigados a acreditar que a Rússia não se sente ameaçada por uma possível chuva de projecteis nucleares exterminadores e exactos, que provoquem uma nova e cada vez mais perigosa corrida aos armamentos.

Seguindo o curso tórpido das suas grosseiras mentiras, podemos perguntar-nos: por que Bush pôs em liberdade um terrorista famoso e confesso como Posada Carriles, no mesmo dia em que se comemorava o 45.º aniversário da derrota imperialista na Baia dos Porcos? Mas, pior ainda, porque continua a manter encarcerados os 5 heróis cubanos que informavam a sua pátria sobre os planos terroristas? É proibido pensar que Bush ignorava quem financiou os incontáveis planos de assassinato contra Castro!

Bush foi visto fazendo estranhas e alienadas caretas enquanto falava em actos oficiais perante senadores e representantes dos Estados Unidos, gabando-se dos inimigos que eliminou, em virtude de ordens pessoais. Criou centros oficiais de tortura em Abu Ghraib e na base naval de Guantánamo; os seus agentes, actuando ilegalmente, sequestravam pessoas em numerosos países onde os aviões da CIA, em viagens secretas, voavam com ou sem licença das autoridades correspondentes. A informação devia obter-se mediante bem estudadas torturas físicas.

Como é que pensou que o Papa Bento XVI estaria de acordo com ele, no que diz respeito aos valores do respeito à vida, à dignidade do homem e à liberdade?

O que é que diz o dicionário?

Embuste: mentira disfarçada com artifício.

Embaucar: enganar, alucinar, aproveitando-se da candura do enganado.

Prometi fazer reflexões breves e cumpro a minha palavra.


Fidel Castro Ruz
7 de Junho de 2007.

06/06/2007

HAVIA UM PAÍS CHAMADO PORTUGAL

Apanhei este texto na internet: «O Norte de Portugal e a Galiza estão a viver dois ciclos completamente diferentes. Enquanto na região norte se vive um ciclo de recessão e de estagnação económica, a Galiza vive um ciclo importante de crescimento».

Segundo fiquei a saber, um relatório sobre a conjuntura económica, divulgado pela Junta da Galiza, mostra um cenário de franca expansão económica, com uma taxa de crescimento do PIB a atingir 4,1%, verificando-se ainda que o sector da indústria é o que apresenta maior dinamismo, com a produção industrial a registar uma sensível recuperação, atingindo o nível mais alto de sempre. Ainda assim, continuou a ser o sector dos serviços o que mais contribuiu para a subida do PIB na Galiza, cuja taxa média de crescimento, de 2001 a 2005, rondou os 3,3%.

Outro sinal da prosperidade galega é o facto de a taxa de desemprego ter caído pela primeira vez no último quarto de século, contrariamente ao que sucede em Portugal e, com muita incidência, na região Norte.

Separado geograficamente da Galiza por um rio que facilmente se atravessa, o Norte de Portugal, definhando sem remédio ou panaceia, está, apesar da proximidade, nos antípodas daquela região espanhola. À indústria florescente dos galegos e à sua saúde económica e social, respondemos nós com o fecho ou a fuga das empresas, com o desemprego em subida alucinada, com o fecho de escolas, maternidades e serviços de saúde, com despovoamento do território, com uma emigração galopante e com os baixos salários a reflectirem-se no poder de aquisição das populações que ainda restam. O Norte de Portugal agoniza num catre miserável – como, aliás, o resto do país.

Ora, se todos sabemos que as diferenças entre a Galiza e o Norte de Portugal não são geográficas, climatéricas, demográficas ou antropológicas – pois entre portugueses e galegos são mais as características comuns do que as dissemelhanças – só nos resta concluir que a explicação para o progresso na Galiza e a recessão em Portugal só pode estar nas políticas implementadas pelos respectivos governos, o que não é nenhuma novidade, como, de resto, aqui estamos fartinhos de afirmar.

Não deixa de ser quase anedótico que, perante esta realidade indiscutível, tenha sido precisamente em Braga – isto é: bem no coração do depauperado norte do país e a um pulinho da risonha Galiza – que Cavaco Silva tenha resolvido chamar a atenção dos portugueses para – e cito: «se pensar seriamente sobre as políticas de natalidade, de protecção das crianças, de valorização dos jovens e de qualificação dos activos». Tudo porque, advertiu Cavaco Silva, se avizinha um «cenário de envelhecimento e de recessão demográfica, fenómeno que, até pela sua dimensão estrutural, não encontra precedentes na nossa história».

Ao falar em políticas de natalidade e de protecção das crianças, Cavaco Silva terá querido dizer, lá na dele, que pelo facto de, nas últimas décadas, as taxas de natalidade terem vindo a baixar drasticamente em Portugal, é fundamental que os portugueses invertam esta realidade. Isto é, que passem a ser mais reprodutivos, dando ao país os filhos que ele precisa para que possa rejuvenescer-se e promover um equilíbrio inter-geracional necessário à nossa sobrevivência colectiva.

Ao discorrer sobre estas coisas, Cavaco Silva deveria ter meditado – e, se possível, meditado em voz alta – sobre as razões que levam os portugueses a evitar ter filhos. Não será, certamente, porque os homens deixaram de ser viris e as mulheres de ser férteis. Não será, certamente, porque o natural e normalíssimo desejo de procriar tenha sido substituído por outros desejos menos naturais ou, até, contrariando as leis naturais. Cavaco deve saber que a taxa de natalidade tem vindo a baixar – e que essa tendência se tem acentuado nas últimas décadas e, em especial, nos últimos anos – porque os portugueses deixaram de ter condições para suportarem as consequências da procriação.

Cavaco devia saber que os baixos salários, a precariedade de emprego, as taxas galopantes do crédito à habitação, a perda do poder de compra, a insegurança quanto ao futuro, a degradação do ensino e da saúde são, entre outros, factores que fazem um casal responsável pensar várias vezes antes de se aventurar a trazer um filho a este miserável país.

Aliás, quantos jovens, com as políticas hoje em dia em vigor em Portugal, se podem aventurar sequer a constituir família, sem o risco muito real de terem a vida completamente do avesso daí a poucos meses?

Cavaco deveria ter dito, porque deve sabê-lo, que o envelhecimento demográfico resulta da falta de esperança e de perspectivas de um povo, e representa, por si mesmo, um dos mais contundentes libelos acusatórios contra as políticas económicas e sociais a que esse povo está sujeito. Resulta, também, da desumanização instilada pelo poder dominante a nível planetário, cuja principal consequência é a desvalorização da vida, a vulgarização da violência e a negação da estabilidade e da paz.

É neste contexto que um pouco por toda a Europa e EUA as taxas de natalidade têm vindo a cair, atingindo em Portugal, como acontece com tudo o que é negativo, valores verdadeiramente alarmantes.

Portugal envelhece. Definha. Agoniza.

E um dia, quando as mais variadas comunidades imigrantes se encontrarem disseminadas por este velho recanto da Península Ibérica, constituindo extractos distintos e prevalecentes, alguém contará uma história que começará assim:

«Havia um país chamado Portugal. Um dia, o seu povo, nos primeiros anos do século XXI, elegeu, com maioria absoluta, um indivíduo sinistro, chamado José Sócrates, que se fazia passar por engenheiro civil…»


Crónica de: João Carlos Pereira
Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 06/06/2007.
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