28/09/2005

O triunfo (mais um) dos porcos…

A resposta de Álvaro Cunhal a quem, certa vez lhe perguntou «o que falhou no socialismo?», sendo a mais breve alguma vez dada, é, contudo, a mais completa e rigorosa: «O factor humano», respondeu, sem a mínima hesitação, o grande dirigente comunista. A isto nada há a acrescentar, a não ser considerar que, apuradas as causas de um fracasso, na próxima vez que se virar uma página da História, e o socialismo se impuser como solução para os problemas da humanidade – incluindo a sobrevivência da espécie e a sobrevivência do próprio planeta – os homens e mulheres a quem for confiada a missão de servir o seu povo, deverão ter presente que o exercício do poder é, por natureza, corruptor. Como todos os dias por aí verificamos.
Olhando à nossa volta, quer em termos locais, quer em termos nacionais, vê-se como é frequente os políticos dos diferentes quadrantes equivalerem-se nas práticas e no exercício do poder, apesar dos confrontos verbais e pseudo-ideológicos. E se isso é normal – e até compreensível – no campo vulgarmente designado como «centro-direita» (onde, no mesmo saco, se amanham socialistas, social-democratas, democrata-cristãos e outras forças neo-liberais ou, mesmo, de cariz fascista), já é perfeitamente intolerável quando estamos em presença de quem se reivindica da esquerda – mais precisamente: comunista.
Se, no caso da direita, a governação autocrática, autoritária, arrogante e musculada se mistura com o mais infame amanhanço, e cobre uma orientação política desumana, já que é determinada pelos sacrossantos interesses do poder económico, ao serviço do qual estão – e sujeitam as populações a estar – já no caso da esquerda devem prevalecer a mais absoluta honestidade, o diálogo, a participação, a transparência e, fundamentalmente, a adopção de políticas que privilegiem os interesses da maioria da população, a começar pelos seus extractos mais desfavorecidos.
Se, para a direita (PS incluído), a corrupção, o peculato e a gestão dolosa são instrumentos da governação e atributos do poder, a tal ponto que o poder judiciário raramente se atreve a tocar-lhes – ou, se o faz, nada de especial acaba por acontecer – para a esquerda isso significa o suicídio político, porque são práticas incompatíveis com os seus princípios. Não será por acaso que um truculento dirigente socialista é conhecido como o “Senhor 5 Por Cento”, dada a taxa que se diz ele aplicar aos empreiteiros a quem são adjudicadas obras públicas quando o PS está no governo, ou em autarquias dominadas pelo Partido Socialista. Apesar disso, continua por aí a falar grosso, embora em péssimo português. Como não será por acaso que no processo da pedofilia nem todos os implicados tiveram o mesmo tratamento…
Mas se para a gente do centro-direita é considerado como normal e, até, saudável, que os políticos que servem esta política possam daí tirar enormes vantagens pessoais, quer as que as leis, por eles moldadas, lhes conferem (sob o pretexto verdadeiramente ignóbil de que se trata de dignificar a função), quer as que, sub-repticiamente conseguem, já para a esquerda a sério tais vantagens equivalem à negação da sua ideologia e do seu projecto e ao descrédito e à desonra dos seus intérpretes. E o pior, é que esse descrédito e a essa desonra são logo multiplicados e facturados à força política a que dizem pertencer.
É evidente que tudo isto vem a propósito de Fátima Felgueiras, talvez o exemplo mais escabroso da pouca-vergonha que vem contaminando a sociedade portuguesa. Fátima Felgueiras, Isaltino, Valentim ou Ferreira Torres, tal como disse Marcelo Rebelo de Sousa no passado Domingo, deveriam, em nome da decência e dos valores republicanos e da própria democracia, ter-se afastado da vida pública até estarem totalmente esclarecidas as dúvidas, suspeitas ou acusações que as suas condutas, enquanto detentores de cargos públicos, suscitaram. Mas Portugal transformou-se num país de caciques, de «chicos-espertos», de oportunistas, de ladrões intocáveis, porque, desta ou daquela maneira, todos têm a cobertura, directa ou encapotada, do poder político e dos seus nichos nos vários partidos. E quando essa cobertura falha, uma outra há que não é menos eficaz: é que eles conhecem os podres uns dos outros e, se as coisas caminharem para extremos perigosos, há sempre o risco de alguém dar com a língua nos dentes e arrastar na enxurrada mais meia dúzia de nomes sonantes, sejam ou não do mesmo partido. Se me deixas afundar, afundas-te comigo…
Perante este espectáculo da mais absoluta dissolução de valores, este exemplo vivo da degradação moral e cívica que se abateu sobre o país, o povo português (ou grande parte dele) não só não está a dar a resposta que seria necessária à sua/nossa sobrevivência colectiva – que seria condenar no tribunal da opinião pública esta gentalha – como até estará, com o seu apoio expresso ou facilmente adivinhado, a entrar neste festim de corruptos e ladrões. Já há quem diga que os portugueses adoptaram a célebre divisa «já que não os podes vencer, junta-te a eles», impotentes que se sentem para obrigar os poderosos, instalados no poder políticos e no poder económico, a transformarem-se em gente séria. Sentir-se-ão, assim, desobrigados de cumprir a suas obrigações e legitimados para infringir tudo aquilo que lhes convier. Pois se o exemplo vem de cima…
Depois, há convicção que estes que agora estão a contas com justiça são apenas uma pequena ponta do icebergue, aqueles que só por mero azar foram apanhados nas malhas da lei. O que estes fizeram não é mais nem menos do que fazem quase todos, pensa o povo – e parte dele até se revê nessas práticas, pois, como as coisas estão, só os tolos não se amanham.
A isto chegámos!
Depois, há um outro factor que contribui para que chapinhemos neste lodaçal. Tomemos como exemplo os processos da pedofilia e da corrupção ligada ao futebol, vulgo “Apito Dourado”. Se os presumíveis pedófilos, corruptos ou corruptores são de outro partido ou do clube rival, que a Justiça seja cega, surda e muda. Só se pede – e deseja – que tenha a mão pesada na altura de desferir a espadeirada. Se, no entanto, os alegados malandros são do nosso partido ou do nosso clube, é claro que tudo não passa de uma cabala indecente. E, mesmo que acreditemos que houve ali porcaria da grossa, até somos capazes de ver a coisa com olhos de uma indecente tolerância. É uma vergonha, é uma tristeza, mas é assim mesmo.
Afinal, onde estão a moral e a honra e a vergonha, onde estão os tais valores democráticos e republicanos – como agora todos dizem à boca cheia – se o próprio Presidente da República não se impede de assumir o papel de bombeiro do Governo, sempre que este se vê em apuros com a contestação às suas políticas? Foi antes com os militares, foi agora com os juízes e magistrados do Ministério Público, chamados a Belém numa tentativa clara de travar as suas lutas e proteger o executivo do camarada Sócrates. Alguém deixou de pensar em frete partidário? E não é isto um claro exemplo de ausência de valores e de respeito até por si próprio?
Mas continua tudo em aberto. Até na actual conjuntura mundial, a loucura e a imbecilidade bushiana, que são utilizadas pelas transnacionais da mesma maneira que os monopólios alemães utilizaram Hitler, têm servido para consciencializar e a agrupar um número cada vez mais vasto de seres humanos em todo o mundo. As sociedades humanas têm mecanismos de defesa que, na hora própria, são accionados para a sua auto-protecção. A prova disso é que nenhum império foi eterno.
Por outro lado, o destino do Homem inclui a sua constante superação. Por muito que vivamos sujeitos a um poder ideológico que tem como principal objectivo condicionar as nossas consciências e os nossos comportamentos – a nossa liberdade – sujeitando-nos, subtilmente, às premissas que convêm ao poder por enquanto dominante, são incontroláveis os ventos da liberdade e as faúlhas da razão. Ambos alimentam a fogueira da esperança. Afinal, o «factor humano» também pode ter sinal positivo. Não estamos condenados a ser lixo. Por isso, não estamos condenados a ser governados por ladrões e corruptos.
Assim, e apesar de todos os dias, pelos mais diversos meios – mas onde os meios audiovisuais adquirem uma extraordinária importância – tentarem convencer-nos de que vivemos no melhor dos mundos possível (apesar da corrupção e tudo o mais), e que tudo é feito em nosso proveito e em obediência à nossa vontade (através da arma/armadilha do voto), nada é imutável. Sofremos, sem dúvida, processos de manipulação mais eficazes do que os que resultavam dos cárceres das ditaduras, ou dos seus bastões e pelotões de fuzilamento, mas que servem, igualmente, os mesmos fins: sujeitar milhões de seres humanos aos desígnios de uns quantos. Vencemos os outros. Venceremos estes.
Pela minha parte, ninguém levará o meu voto se não corresponder aos padrões que o lema «Trabalho, Honestidade, Competência» contém.
Seja ele de que partido for!

Crónica de João Carlos Pereira - Lida aos microfones da Rádio Baía em 28/09/2005

21/09/2005

As gamelas e os grunhidos

Estamos a menos de um mês das eleições autárquicas, e já alguns milhares de figurões, afectos aos diversos partidos e partidelhos, andam por aí na roda-viva da caça ao voto do cidadão/eleitor/pagador. Todos nos prometem um futuro melhor, todos dizem que são capazes de fazer mais do que os outros. Uns, os que estão no desemprego (ou seja: sem tacho), declaram que eles serão a aposta certa para a mudança necessária, enquanto os outros, os que já estão no poder, (ou seja: os que já estão aviados) dizem que a opção certa é a da continuidade. Uns e outros, claro está, só querem a felicidade do povo…

Como quadro de fundo, os partidos políticos, padrinhos e mandantes desta cada vez mais fastidiosa liturgia eleitoral, baralharam em devido tempo as cartas e, num passe de mágica em que são férteis os artistas deste jogo, tiraram os reis, valetes e damas que tinham reservado para o efeito. Os aparelhos partidários sabem o que lhes convém. As bases, se são chamadas a discutir nomes – ou a propô-los – confrontam-se com o caldinho já feito ou muito bem preparado, e depois é só apelar às fidelidades partidárias, à disciplina, ao espírito de grupo, e lá vão todos, cantando e rindo, encontrar maneira de se ganhar as eleições. É a acefalia no seu esplendor.

Se lermos os programas de acção que por aí são distribuídos por esta altura, e se os compararmos com os de anteriores eleições, fartamo-nos de rir. Na maior parte dos casos, são cópias mal disfarçadas uns dos outros, de onde se retiraram uma ou duas obras que, finalmente, se fizeram, se mantêm as que já têm barbas, e se acrescentam mais duas ou três para encher espaço e adoçar a boca ao eleitor. Depois, é o arraial de cartazes e folhetos, os carros de som, os comícios e sessões de propaganda, o porta a porta, as arruadas, enfim, o carnaval do costume. Conversa e mais conversa.

Depois das eleições, festejam os que votaram em quem venceu, resmungam raivinhas e desculpas parvas os que perderam, e, a partir daí, já se sabe: para os primeiros, aconteça o que acontecer, mesmo que seja o contrário do prometido e o mandato se revele desastroso, estará sempre tudo bem; para os segundos, mesmo que os vencedores consigam realizar um excelente trabalho, tudo será péssimo. Será, sempre, o bota abaixo, porque o que interessa não é o que interessa ao povo, mas, simplesmente, conseguir o poder e dele beneficiar à fartazana.

Ao fim e ao cabo, quase todos se confundem nos actos e nas palavras, nos processos e nos objectivos, nos tiques e nos truques, no discurso obtuso, oco e bacoco. Quase todos olham para o povo da mesma maneira – daquela maneira que na Idade Média a nobreza usava para olhar a plebe – e quase todos vêem agora, nos queridos cidadãos do período eleitoral, nada mais do que uma chusma de sujeitos inconvenientes, que pensam que Roma e Pavia se fizeram num dia e que, se calhar, querem que o autarca vá roubar para lhes dar este mundo e outro. O candidato, que, na campanha, atravessava a rua para cumprimentar a senhora idosa ou dar um beijinho ao menino – depois de se certificar que o fotógrafo apanhava a cena – é agora o senhor presidente ou o senhor vereador, e só recebe com dia e hora marcada. Na campanha, conhecia toda a gente, amava toda a população, a todos apertava a mão, a todos sorria afável e prazenteiro. Agora, não conhece ninguém, só fala grosso e em pose, usa gravata da moda e telemóvel de última geração, e utiliza, na maioria dos casos, o poder para gozo próprio, tanto material como espiritual. Já não exerce um cargo em prol da população; ele é o cargo. Ele é o poder, ele é o objectivo da sua função. Incha, transforma-se, enfarpela-se, e fica luzidio que nem foca bem tratada. Os outros, são os pagadores-utilizadores, os chatos, os ignorantes, os mal-intencionados, os invejosos. E gosta de lembrar de vez em quando, caso alguém se atreva a questioná-lo, republicanamente, de igual para igual: «Eu sou o presidente da câmara, ouviu?»

É claro que os partidos querem dos seus autarcas alguma coisa em troca da oportunidade que lhes deram de serem alguém na vida. Em muitos casos, não será só um bom trabalho que dignifique o autarca e o respectivo partido. São os empregos, são os fundos, são as facilidades aqui e acolá, são uns contactos com certas pessoas da comunidade, cuja actividade depende muito da autarquia, são tantas, tantas coisas… E de bom grado se prestam muitos autarcas a estes jogos, porque, ao fazê-lo, fazem os partidos seus reféns e, a partir daí, já sabem que não lhes falha a próxima candidatura, por muito incompetente, desajeitado ou coisa ainda pior que tenha sido no desempenho do cargo.

Há dias, o socialista Almeida Santos, afirmou que Cavaco Silva lhe fazia lembrar Salazar, por se dizer afastado dos partidos. Almeida Santos parece que não sabe algumas coisas que todos nós sabemos. Faz-se de parvo, para vender o traste velho que o PS teve de ir buscar ao baú das antiguidades para ser o seu candidato à Presidência da República. Cavaco não está à margem dos partidos (de alguns partidos) nem do sistema partidário. Finge que está, para dar um ar de independência e fabricar uma pose de estadista iluminado, pairando sobre um país à espera do seu caudilho. Ele só odeia um partido, como Salazar também odiava, mas aí nenhum deles é diferente de Soares ou Louçã. E Salazar não gostava dos partidos, em geral, porque era um ditador e, como tal, não queria discussões acerca da sua visão da sociedade e do mundo. Mas, tal como eu – e como você – amigo ouvinte, ele também sabia (porque de parvo não tinha nada…) que as máquinas partidárias são, na sua quase totalidade, um coito de oportunistas que fazem da política uma carreira, um modo de vida, e onde os principais proventos – e proveitos – nem são os das chorudas remunerações que para si próprios estabelecem, mas o que escorre por fora e das mais diversas fontes. Os partidos, tal como se apresentam nesta democracia, são máquinas de fazer empregos, de construir casulos dos mais variados – e grandes – interesses, alavancas de negócios onde a coisa pública é a moeda corrente, o que se multiplica por milhões sempre que um deles consegue trepar ao poder, seja central, seja local, se o município for de peso. Os partidos são fábricas de corruptos, de sanguessugas do erário público, e que não visam, na sua esmagadora maioria, o bem das populações, mas apenas a opulência pessoal e da tribo.

E é esta – e não outra – a razão dos nossos males, a raiz da nossa tragédia, a explicação do nosso atraso. Os partidos que vão ao poder não querem saber de nós – ou só querem na justa medida em que somos a caixa forte onde se abastecem.

A política e democracia, como as coisas são, hoje em dia, alimentam milhares de parasitas bem falantes, que se revezam nos variados estofos do poder, dos mais elevados aos mais insignificantes, e para os quais o seu bem-estar pessoal e os interesses da seita a que pertencem prevalecem sobre os interesses do povo e do país. Os partidos fabricam candidatos como quem fabrica cuecas ou peúgas, e espalham-nos ao desbarato pelo país fora, como quem deita milho aos pardais. Na sua maioria, ninguém os conhecia antes de lhe ver a fronha no cartaz ou no folheto, nada dizem e em nada se relacionam com as populações locais, pois não passam de pára-quedistas de ocasião, como Alberto Antunes em Almada, João Soares em Sintra, um tal Menezes no Seixal, ou Assis no Porto. São autarcas de aviário, cuja função é caçar votos, lugares e – principalmente – muitos fundos para eles e para os respectivos partidos.

Recordo os meus queridos ouvintes que generalizei, mas não absolutizei. Há, felizmente, excepções. Pena é que não seja a regra. Mas quando alguém com as responsabilidades que tem um presidente da República, vem dar lições de ética republicana ao país, mas consente, sem um simples tugido, que o seu partido distribua indecentemente por Varas, Gomes, Martins ou Vitorinos, grossas fatias do nosso dinheiro, é escusado falarmos de um futuro melhor.

O país está a saque. A República caiu no seu pior chiqueiro depois do 25 de Abril. Grunhindo, a classe política discute a posse das gamelas. E a nós, que lhas enchemos, ainda é pedido que escolhamos os comilões que se seguem.

Crónica de João Carlos Pereira - Lida aos microfones da Rádio Baía em 21/09/2005

14/09/2005

O Passeio dos Pategos

Antes de ir ao tema principal da crónica de hoje, quero dar-vos aqui uma grande notícia. O crime compensa! Nem mais. Depois de ter cortado 80 por cento nas verbas para o reforço dos diques que, se estivessem em condições, teriam evitado a tragédia de Nova Orleães e de outras zonas do sudeste dos EUA, são agora empresas ligadas a altas individualidades do governo norte-americano – e de outros organismos oficiais – que já estão no terreno a proceder à recuperação e reconstrução das vastas áreas afectadas. De facto, pelo menos duas empresas do construtor de lobies, Joe Allbaugh, antigo chefe de campanha de George Bush, e ex-director da FEMA (que é a Agência federal incumbida de gerir recursos em caso de situações de emergência, para além de prever e propor soluções que impeçam ou atenuem os efeitos das catástrofes) «já foram escolhidas para iniciar trabalhos relacionados com a reconstrução ao longo da fustigada região do Golfo do México. Uma delas é a Shaw Group Inc. e a outra a Kellogg Brown and Root, subsidiária da Halliburton Co. Recorde-se que o vice-presidente norte-americano, Dick Cheney, presidiu a esta empresa que também chamou a si chorudos contratos governamentais no Iraque». Isto li eu no Correio da Manhã, que acrescenta:
«Já a Becht National Inc. foi seleccionada pela FEMA para fornecer casas pré-fabricadas para as dezenas de milhar de pessoas desalojadas pelo ‘Katrina’. Além disso, muitas das empresas que procuram agora garantir contratos na sequência do ‘Katrina’, são as mesmas que já receberam milhares de milhões de dólares referentes a trabalhos no Iraque. Só a Halliburton ganhou mais de nove mil milhões de dólares com contratos em território iraquiano». São milhões que estão em jogo, assegura o jornal, pois «Allbaugh, muito próximo do actual director da FEMA, Michael Brown, foi dispensado pela Halliburton tendo seguido imediatamente para ‘conselheiro’ dos republicanos. Meses depois, a Halliburton contratou outro alto responsável nomeado por Bush, Kirk Van Tine. Este passou a trabalhar para a Halliburton seis meses depois de se demitir do cargo de subsecretário dos Transportes, que ocupou entre Dezembro de 2003 e Dezembro de 2004».
Diga-se ainda que as duas empresas que já asseguraram contratos para a reconstrução de Nova Orleães, estão praticamente em todos os ‘negócios’ envolvendo a administração Bush. Na sexta-feira, a Kellog Brown & Root recebeu 29,8 milhões de dólares do Pentágono para contratos destinados à reconstrução de bases da Marinha no Louisiana e no Mississippi, enquanto a Shaw Group Inc. arrecadou 100 milhões após um contrato com a FEMA.
É este fartar vilanagem, bem ao estilo de governação norte-americana, que serve de exemplo aos nossos governos, especialmente quando são do Partido Socialista, pois aí os vemos no mais desenfreado regabofe ao nível dos favores e do toma-lá-dá-cá, de que os recentes casos de Armando Vara e Fernando Gomes não passam de meras pontinhas do icebergue. Para até o socialista João Cravinho dizer que essas nomeações foram tiros no pé do PS, veja-se ao que chegámos! E quando chegarmos à Ota e ao TGV, o melhor é o Orçamento de Estado ir metendo já as barbas de molho… Soube agora mesmo que o PS quer pôr o socialista Oliveira Martins a presidir ao Tribunal de Contas, óptima maneira de nunca mais ter problemas ao nível das contas do Estado. Fartar vilanagem já é pouco para caracterizar o escândalo da governação socialista.
Então vamos lá, agora, ao passeio dos pategos, que não é tão fora destes assuntos como parece. Aqui há dias, as mais altas individualidades deste país, acompanhadas de outras menos altas individualidades locais e regionais, foram todas para Tróia assistir, babadinhas do mais puro gozo, à implosão de duas torres. Com o Grande Merceeiro, Belmiro de Azevedo, a fazer as honras da casa, lá foram Sócrates e demais ministralhada (desculpem-me o neologismo, mas é a palavra que me soa melhor para definir este bando de figurões) observar mais uma acção comprovativa de que Portugal é um país moderno. Implodir duas torres de meia altura, é coisa corriqueira em qualquer país mais ou menos civilizado, onde só junta meia dúzia de curiosos sem mais que fazer. Por cá, pára o Governo para que o senhor engenheiro (o Sócrates) finja que acciona o dínamo, e o outro engenheiro (o Belmiro), finja que é um patriota todo modernaço.
No fundo, o que todos ali estiveram a fazer, não foi tanto aquilo que parecia (Ó patego, olha a implosão!) mas uma bem concertada operação de propaganda do governo e do multimilionário que vai ganhar mais umas coroas com um empreendimento que as magníficas condições naturais da zona valorizam extraordinariamente. Falou Belmiro do seu amor à pátria, que só por ela de dispõe a arriscar as suas ricas massinhas. Falou Sócrates de sinais de recuperação económica, sem dizer que o indicador que tanto o fez esganiçar-se de gozo, resultou de os portugueses terem comprado, no segundo trimestre deste ano, umas coisinhas a mais, antes que o IVA subisse. Como aquilo que compraram a mais nesse trimestre, vão de certeza comprar a menos no seguinte, espera-lhe pela pancada…
Afinal, o que vai nascer em Tróia, e que tanto entusiasmou os dois engenheiros e as respectivas cortes, é um empreendimento de luxo para estrangeiros e portugueses endinheirados, com casino à mistura. Mas fechem-se as fábricas de norte a sul; deixe-se a agricultura arder e o interior do país desertificar-se até ficar um esqueleto ressequido; deixe-se as pescas afogarem-se num mar de interesses de países estrangeiros – que, depois, nos obrigam a comprar aquilo que eles pescam. Dê-se cabo da actividade produtiva e faça-se de Portugal uma república de casinos, hotéis e resorts, seja lá isso o que for, nem interessa, porque, de certeza, não é coisa que o português comum (para aí nove milhões e tal) possa cheirar. Vê de longe… e já goza. Abra-se – porque não? – uma rede de bordéis de luxo, que matéria prima não há-de faltar, nacional ou importada, e inventem-se novos jogos para fazer feliz o bom do Zé Povinho. Raspadinha, loto um e loto dois, totobola, joker, euromilhões, lotaria popular e clássica já é pouco! E entregue-se ao loby homossexual a programação do horário nobre de todos os canais televisivos. Invista-se, já agora, no turismo sexual para todos os gostos, com a pedofilia à cabeça, que, segundo parece, especialistas não faltam por aí.
Slogan, já tenho: Portugal! A Tailândia do Velho Mundo!
E é aqui que entra a ética republicana de que falou sua excelência, o Presidente da República, quando foi pedir respeito pelos funcionários públicos. A coisa é assim: o governo tira direitos aos funcionários públicos. Tira-lhes dinheiro, tira-lhes saúde, tira-lhes anos de vida, tira-lhes segurança, enfim, tira-lhes tudo o que lhes puder tirar. Em troca, a Presidência da República sugere ao governo que distribua por cada funcionário público quatro quilos e meio de respeito, faltando saber se isso inclui duas palmadinhas nas costas. Por outro lado, os cargos públicos, especialmente os que derivam de eleição, como os que enchem a AR, Belém, os ministérios, São Bento, Câmaras e Juntas, devem ser exercidos sem que daí resultem aproveitamentos pessoais e apego ao poder. É assim a ética republicana, descobriu sua excelência, notoriamente inspirado no lírico Manuel Alegre.
Consta que na Caixa Geral de Depósitos e na Galp, Armando Vara e Fernando Gomes deram graças a Deus por, afinal, isto não ser uma república, mas uma monarquia feudal, e Mário Soares o seu monarca. A menos que a ética republicana não se aplique aos socialistas. Sampaio não esclareceu este detalhe…
Mas a semana não acabou sem outro mimo. Ludgero Marques, o patrão da Associação Industrial Portuguesa, com a força toda que o PS de Sócrates lhe está a dar, não gaguejou ao afirmar que os médicos, os professores e todos os funcionários públicos deviam trabalhar mais e, se necessário, fazer horas extraordinárias de borla. É só assim, garantiu o homem, que se pode salva o país.
E porque não trabalhar de sol a sol, sem férias, sem direito a baixa, sem sábados e domingos? E de borla, totalmente de borla. As empresas davam umas roupitas e uma buchazita, maior ou menor, conforme a dimensão de cada família, e pronto! Afinal, não era assim que acontecia há séculos? Não era assim que, ainda em meados do século passado, a administração colonial portuguesa fazia em África?
O Passeio dos Pategos, disse eu, referindo-me ao cortejo pindérico e ridículo que Belmiro e Sócrates organizaram em Tróia. Enganei-me: o passeio dos pategos é Portugal inteiro: e lá andamos nós, de cá para lá, entre o pátio do PSD e o beco do PS. Ou vice-versa...

Crónica de João Carlos Pereira - Lida aos microfones da Rádio Baía em 14/09/2005

07/09/2005

O pior furacão

Dizia uma mulher: «que Nossa Senhora me perdoe, mas isto até parece castigo de Deus pelo mal que eles andam a fazer por esse mundo fora». Obra de Deus ou do Diabo, para quem neles acredita, simples ironia do destino, a que a Mãe Natureza deu uma mãozinha indecifrável, fosse lá pelo que fosse, a verdade é que os estados norte-americanos da Florida, Alabama, Mississípi e Luisiana foram duramente atingidos por um fenómeno natural violentíssimo. Provou-se, se necessidade disso houvesse, que ainda ninguém pode mais do que podem as forças naturais. Furacão, tornado, sismo, tsunami, vulcão, seca, dilúvios, nada os pode impedir, nem aos seus inevitáveis estragos. Conseguem os homens, no máximo, prevê-los e, em consequência, precaver-se, para que os danos sejam menos terríveis e fatais. Podem, por isso, os países ricos e mais desenvolvidos proteger-se mais facilmente das catástrofes naturais, prevenindo-se, acautelando-se e socorrendo, depois, mais depressa e mais eficazmente.

Por tudo isto, é demasiado óbvio para mim que o furacão Katrina, fez o que é normal um furacão da sua amplitude fazer, mas que as autoridades norte-americanas não fizeram o que seria exigível que fizessem – nem antes, nem durante, nem depois. E é a explicação desta monstruosa abstenção que todos devemos procurar, pois suspeito que ela trará resposta que nos ajudem a compreender a alma de um sistema económico, político e social – capitalismo, de seu nome – que estabeleceu, para sua sobrevivência, uma escala de valores onde o ser humano não tem lugar no pódio.

Sabemos que a administração Bush estava alertada para a possibilidade efectiva de um furacão desta violência (grau 5) atingir aquela região do Golfo do México e ter consequências devastadoras, caso os diques que protegem Nova Orleans não fossem devidamente reforçados. Em vez de o fazer, Bush decidiu diminuir as verbas para esse fim, seguramente porque a guerra de pilhagem no Iraque e no Afeganistão, bem como as centenas de bases militares que há espalhadas pelo mundo, consumindo centenas de milhões de dólares por dia, o impede de proteger (se acaso quisesse, do que duvido) dentro das fronteiras norte-americanas, o seu próprio povo. Por outro lado, sabendo com vários dias de antecedência que o Katrina se aproximava, as autoridades limitaram-se a exclamar um «Salve-se quem puder!», e daí lavaram as mãos. Salvaram-se os que puderam comprar uma passagem aérea, ou tinham viatura, gasolina, cartão de crédito e local de refúgio. Ficou a maioria, que não tinha como sair, nem para onde ir, nem como sobreviver fora da sua terra.

Espantamo-nos hoje com a imagem de uma América que muitos desconhecem – ou fingem desconhecer – uma América de deserdados, de gente abandonada no quintal das traseiras, entregues à sua sorte, resquícios de uma época de esclavagismo e racismo atávicos, que, na verdade, nunca acabou. A América dos milhões de pobres de carne e osso – que não os sofisticados e estilizados pobres de faz-de-conta da ficção cinematográfica – mas os pobres que esgravatam na miséria, os deserdados de um sistema desumano, muitos deles já retratados pelo Nobel da Literatura, Jonh Steinbeck, na sua obra maior, Vinhas da Ira. Milhões de pobres, brancos e negros (mais negros do que brancos, valha a verdade), que não são a preocupação central de um governo que fala em direitos humanos, em liberdade, em justiça, em democracia e que, destes valores – e à sua custa – quer todos os dias dar lições ao mundo. Especialmente ao mundo onde há recursos naturais a que pretende deitar mão.
Lembro-me que Cuba evacuou 660.000 pessoas quando, há pouco tempo, foi assolada pelo furacão Dennis, de grau 4, que em Julho varreu a ilha, e apenas morreram dez pessoas. Mas Cuba investe na prevenção e, acima de tudo, investe na solidariedade e na justiça social, apesar da falta de recursos que o criminoso bloqueio norte-americano há várias décadas provoca. Em Cuba, todos se preocupam com todos, seja qual for a sua cor. Para além disso, há um sistema a sério de protecção civil e as organizações sociais e de saúde estão ao serviço de toda a comunidade. As infra-estruturas de saúde funcionam, os níveis de literacia ajudam a agir correctamente e, na verdade, as organizações populares e governamentais completam-se em todas as emergências. É esta uma das diferenças entre um sistema político firmado na solidariedade, e outro, o norte-americano, assente na desumanidade e no desprezo pelo ser humano. Aliás, recordo-me de ter visto na televisão o próprio Fidel de Castro a participar activamente nas operações de prevenção e na organização da defesa das populações face à intempérie, enquanto que agora, como todos sabemos, Bush gozava mais um dos seus muitos e constantes períodos de férias no seu rancho texano.
Espantam-se os ingénuos (e fingem-se espantados os cínicos) com o facto de a ajuda às populações ter demorado quase uma semana. Que a tragédia assumiu uma dimensão não prevista, dizem os engraxadores do costume. Que Bush e a sua administração não se aperceberam logo dessa dimensão, acrescentam. Mas não vimos todos, logo no dia a seguir, milhares de pessoas a lutarem desesperadamente por sobreviver, com 80% de Nova Orleans mergulhada numa sopa venenosa, onde as águas dos esgotos e os resíduos tóxicos das fábricas se misturavam com as águas do mar e do rio?

Não vimos, logo no dia a seguir, cadáveres espalhados por todo o lado, gente agonizante, crianças desidratadas, pessoas desesperando por água, comida e medicamentos? Não vimos todos, nos dias seguintes, a tragédia agravar-se, de tal modo que até a CNN deu voz à onda de protestos que várias individualidades fizeram, face à incompreensível ausência de socorro?

Claro que vimos. Todos vimos. É que, independentemente das lentes ideológicas que cada um de nós usa, as televisões estavam lá, em directo, desde o primeiro minuto. Mostraram, em tempo real, o que se estava a passar. Nós vimos. Então, se as televisões chegaram lá – e lá estiveram desde o início – porque não estiveram os socorros, com água, com medicamentos, com comida, com roupas, com meios de salvamento suficientes e eficazes?

A resposta tem duas partes. A primeira, é que a maioria das vítimas do furacão era pobre e, acima de tudo, era negra. A maioria das vítimas era composta por cidadãos de segunda ou terceira categoria, já que os brancos pobres que vimos, tais como os seus compatriotas negros, não fazem parte das preocupações da administração norte-americana. Tivesse a catástrofe sido em Miami ou Los Angeles, por exemplo, e aí a resposta seria, seguramente, muito diferente. A outra parte da resposta é que os recursos humanos e materiais que poderiam rapidamente acudir às populações, estão a ser usados no Iraque e noutros locais, para dizimar outros seres humanos com o furacão das bombas e das balas.
Na verdade, vimos como é possível, no país considerado o mais rico e avançado do planeta, haver grandes partes do seu território que não passam do exemplo mais acabado do que é o terceiro mundo. Vi imagens que, se não soubesse de onde eram, caros ouvintes, me fariam supor estar a ver cenas do Haiti ou da Serra Leoa. E foi possível perceber, também, que entrar em lojas para conseguir alimentos, roupa ou medicamentos, pode ter dois nomes diferentes. Se for um negro, é pilhagem; se for um branco, é um acto de desespero para sobreviver.
Procurem na Internet o que as nossas televisões e jornais escondem, e ficarão a saber que num campo de refugiados, milhares de pessoas, das quais cerca de 90% eram pobres ou de raça negra, foram deixadas horas a fio sob um sol abrasador, no meio de lama e lixo, vigiadas por soldados armados até aos dentes, e depois embarcadas sem qualquer explicação em autocarros com destino a um ponto aleatório. Sem direito a perguntar para onde iam, e muito menos a escolher, dentro dos vários destinos possíveis, aquele que mais lhes conviesse. Em suma, milhares de pessoas a serem tratadas como gado. Eu não consigo imaginar este plano de evacuação, se, em vez de se tratar de gente pobre ou de cor negra, se tratasse de brancos de extractos sociais mais elevados.
«Como foi possível? O que falhou? Porquê, senhor Bush, porquê?», questionava uma das sobrevivente de Nova Orleans ao homem que quer governar o mundo, mas que não sabe governar o seu país. A resposta não é apenas a de Bush ter cortado 80% nos fundos destinados a reforçar os diques. Nem é a da inoperância, que não ocorreu somente no plano da resposta, pois ela começou logo na prevenção, continuou na avaliação e culminou na desorganização.

A resposta certa, caros ouvintes, está na verdadeira natureza do sistema político, económico e social que impera nos EUA – e que se pretende impor a todo o mundo. Ele é o pior furacão de todos. Ameaça a humanidade inteira com ventos de desumanidade e injustiça.

O que falhou? Nada. A resposta ao furacão, foi o capitalismo no seu melhor!

Crónica de João Carlos Pereira - Lida aos microfones da Rádio Baía em 07/09/2005

05/09/2005

Furacão Katrina

- É duro, é muito duro !
Foi esta a expressão que ouvi, vinda de um pobre cidadão anónimo de Nova Orleães que vagueava sobre os escombros daquilo que outrora fora uma cidade de um dos países considerados mais ricos e evoluídos do mundo, onde os estragos do último furacão foram muito mais devastadores do que o atentado do 11 de Setembro, falando-se em mais de 10.000 mortos e milhões de desalojados, como se a própria natureza estivesse ao serviço de conspiradores e terroristas.

Goste-se ou não da (des)governação americana – e eu não gosto – não podemos ficar indiferentes aos dramas de uma população que ficou sem os seus bens e, bem mais grave, em muitos casos, sem os seus familiares mais próximos.

O senhor todo poderoso que os (des)governa vem agora pedir apoio e ajuda, mas não pára a máquina de guerra que tem espalhada por todo o mundo. Não desiste das ingerências e não aproveita os vastos recursos financeiros que gasta diariamente com os conflitos que criou e que não lhe dizem respeito, sob a capa da democracia e dos direitos humanos que não aplica no seu próprio país

Parece que o Congresso norte-americano tinha aprovado há cerca de 4 anos uma verba destinada ao reforço e reparação dos diques da cidade de Nova Orleães e que, por interferência do senhor Bush, esses fundos foram desviados no seu todo ou em parte para financiar as operações no Iraque. A ser verdade, a responsabilidade da catástrofe não pode ser somente assacada às forças da natureza, mas também e principalmente ao paranóico que os (des)governa, ao cometer um acto criminoso contra a humanidade, devendo por isso responder em Tribunal Internacional.

Mas se Bush deve ser considerado um assassino por estes motivos, também o deve ser por não querer assinar o tratado internacional de redução da emissão de gases para a atmosfera e por se recusar a cumprir o acordo mundial de combate às alterações climáticas que originam estes fenómenos, pondo em risco não só americanos como também outras Nações e outros Povos.

Sendo eles os maiores poluidores que até se dão ao luxo de comprar quotas para poderem conspurcar à vontade o Planeta, aparecem agora outros Países, a Comunidade Europeia e a Nato a quererem ajudar com petróleo, quando, devido à vergonhosa política americana o preço do crude chegou onde chegou, afectando toda a economia mundial.

Hoje o mundo pode constatar as fragilidades daquele sistema e a forma como trata os mais desprotegidos de uma sociedade fria, calculista e desumanizada, destituída de valores e de referências porque não têm história nem Pátria, mas apenas um conjunto de interesses vindos desde a época em que os seus antepassados emigraram para explorarem as terras que não lhes pertenciam e os escravos que compraram aos mercadores de negros africanos.

No turbilhão de notícias a que temos assistido, alguém disse que tudo aquilo mais se parece com um barco de negreiros em que se amontoavam miseravelmente os escravos no convés, entregues à sua sorte e a todo o tipo de doenças.

Hoje o mundo pode ver como é fácil falar em liberdade, quando vemos cenas lamentáveis de autêntica miséria humana – e não é só de agora com o furacão – num país que se diz de liberdade, quando não existe ninguém no mundo que tendo fome, possa ser livre.

Mas não há ninguém que lhes diga para pararem com a indústria da guerra e que utilizem esse dinheiro para o aplicarem internamente ?

Olhando um pouco para trás na história recente, principalmente a do último século, passamos pela criação e extinção da União das Repúblicas Socialistas, cujo sistema era tão criticado pelo ocidente pela falta de liberdade e ingerência em países e povos que queriam voltar a ser independentes. O estranho é que ninguém se questione em relação à União dos Estados Americanos que foram criados pela força, sem que o próprio povo tivesse oportunidade de se pronunciar, até porque nessa altura nem sequer tinham direito ao voto; eram simples índios ou escravos, ou seja, não tinham personalidade jurídica, sendo tratados pior que os animais.

Porque será que os defensores da extinção da URSS não se levantam agora a pedir a extinção dos EEUU ?

Que vantagem têm aqueles estados para estarem unidos, se nas dificuldades não têm qualquer apoio do poder central a não ser de lamúrias e lamentações, quando eles necessitam de imediato é de água, de alimentos, de medicamentos, de alojamentos, etc, ?

Porque esperam para exigirem a independência de quem os abandonou ?

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