28/07/2007

REFLEXÕES XVII

A REPUGNANTE COMPRA E VENDA DE ATLETAS

Qual tem sido o pior problema dos países pobres do ponto de vista tecnológico e económico? O roubo de cérebros.

Qual, do ponto de vista patriótico e educativo? O roubo de talentos.

Órgãos locais de imprensa de países pobres e pessoas sadias interessadas no desporto começam a perguntar-se porque lhes roubam os seus talentos desportivos, depois dos sacrifícios e das despesas que investem em formá-los.

Cuba, cujos resultados e esforços no desporto amador ninguém pode negar, sofre mais do que qualquer outro país as mordeduras das piranhas. Veja-se como se comportam os fixadores de tarifas perante a denúncia cubana. Quando falei da máfia alemã e dos milhões de dólares de que dispunha para subornar atletas cubanos, logo se sentiram atingidos e declararam: “não, não, nós não somos nenhuma máfia”.

Contaram em pormenores como funciona o vergonhoso negócio da compra e venda de pugilistas. As suas palavras, entre aspas, foram as seguintes na ordem em que chegaram às minhas mãos:


“Hamburgo, 24 de Julho (DPA) – Os responsáveis da Arena Box Promotions, uma das empresas alemãs que captam pugilistas amadores no estrangeiro para os tornar profissionais, defenderam-se hoje perante as críticas do presidente cubano, Fidel Castro.”

“Müller-Michaelis soube pela DPA das acusações de Castro, que confirmou num artigo hoje difundido pela imprensa cubana das deserções de Guillermo Rigondeaux, bi-campeão mundial e olímpico, e de Erislandy Lara, campeão mundial, que faziam parte da delegação do seu país nos Pan-americanos do Rio de Janeiro”.

“’Na Alemanha existe uma máfia que se dedica a selecionar, comprar e promover pugilistas cubanos nas competições desportivas internacionais,' afirmou o líder cubano. ‘Usa métodos psicológicos refinados e muitos milhões de dólares,’ acrescentou".

“Hamburgo, 25 de Julho (DPA) – Os dois boxistas cubanos que desertaram durante os atuais Jogos Pan-americanos do Rio de Janeiro, Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara, utilizaram mediadores para entrarem em contacto com a promotora alemã Arena Box Promotions, segundo declarou a um jornal berlinense o turco-alemão Ahmet Öner, chefe da promotora.

“Nas suas declarações sucintas ao jornal, Öner diz que foram os lutadores de boxe, que se afastaram da delegação do seu país, que iniciaram a busca de contactos com a sua empresa e não ao contrário, como se insinuou nalguns meios cubanos.

“Por causa disso, Öner, que não se encontra na Alemanha, mas de férias nalgum lugar do sul da Europa, disse que decidiu enviar emissários à América do Sul para tentar entrar em contacto com Rigondeaux e Lara, sem dar mais detalhes.

“As declarações de Öner foram confirmadas hoje em Hamburgo pelo porta-voz da Arena, Malthe Müller-Michaelis, que reiterou que a iniciativa partiu dos ‘desertores’ cubanos, segundo disse à agência DPA.”

“Trata-se neste caso de Odlanier Solís, Yuriolquis Gamboa e Yan Barthelemy, que neste momento não se encontram na Alemanha, mas de férias fora do país.”

“Por outro lado, Peter Danckert, presidente da Comissão de Dsportos do Bundestag (Câmara Baixa) do Parlamento alemão, declinou fazer declarações a respeito dos boxeadores cubanos fugidos.

“Isso que o façam os peritos na matéria,’ disse perante um requerimento da agência DPA em Berlim.”

“Hamburgo, 26 de Julho (DPA) – Os dois pugilistas cubanos que ‘desertaram’ dos Jogos Pan-americanos 2007 no Rio, Guillermo Rigondeaux e Erislandy Lara, encontram-se na Turquia, onde esperam a concessão da licença de estada na Alemanha, segundo afirma hoje o diário ‘Morgenpost’.

“Temos contratado Rigondeaux e Lara,’ confirmou ao jornal o chefe da promotora hamburguesa ARENA, o turco Ahmet Öner.

“Fidel está naturalmente zangado, mas não tem motivos para ficar admirado. Os seus boxistas não querem continuar a ser amadores toda a vida, mas sim ganhar dinheiro,’ cita o jornal a Öner.

“Fidel deseja ocultar ao mundo os seus formidáveis lutadores. Eu mostro-os ao mundo,’ sublinhou o jovem promotor de 34 anos.

“Rigondeaux, de 26 anos, possui uma classe extraordinária. O duplo campeão olímpico do peso-galo ganhou 142 combates consecutivos entre 1999 e 2003”.

“Apesar do aborrecimento de Castro contra a 'máfia alemã', Öner disse ao 'Morgenpost' que deseja fazer negócios com o presidente cubano. 'Vou-lhe propor em breve a organização duma velada de boxe em Havana".

“Hamburgo, 26 de Julho (DPA) – Os lutadores de boxe cubanos Guillermo Rigondeaux, duplo campeão olímpico do peso-galo e Erislandy Lara, campeão do mundo do peso welter, assinaram contratos com a promotora alemã Arena Box Promotions após ‘desertar’ durante os Jogos Pan-americanos do Rio de Janeiro.

“As especulações chegaram ao seu fim. Rigondeaux e Lara têm assinado contratos por cinco anos com Arena,’ diz hoje um comunicado difundido pelo grupo hamburguês do empresário turco-alemão, Ahmet Öner.

“Os dois pugilistas viajarão dentro em breve para a Alemanha. Öner declinou revelar o lugar onde Rigondeaux e Lara se encontravam neste momento, ‘por motivos compreensíveis’, segundo diz o comunicado da Arena, mas adiantou que se estavam a fazer os trâmites correspondentes para conseguir o visto e a residência na Alemanha”.

“Hamburgo, 26 de Julho (AP) – Os dois pugilistas cubanos que desertaram durante os Jogos Pan-americanos do Rio de Janeiro assinaram na quinta-feira contratos por cinco anos com uma cadeia de televisão por cabo.

“O peso-galo Guillermo Rigondeaux, bi-campeão olímpico e mundial de boxe amador, e o peso welter Erislandy Lara, campeão mundial amador, assinaram com a empresa Arena TV.

“Arena TV é a companhia com quem tinham assinado outros três pugilistas cubanos de primeira linha que desertaram em Dezembro.

“'Agora as melhores promessas do boxe profissional mundial lutam ao serviço da Arena,' declarou o diretor da empresa, Ahmet Öner.”

“Rigondeaux e Lara não se apresentaram às suas lutas de domingo no Rio e desde então não se têm notícias deles.

“Desde os Jogos Olímpicos de 2004, o boxe cubano perdeu várias das suas figuras principais, que agora lutam como profissionais nos Estados Unidos da América e na Europa.”

“Arena quer ganhar presença no mundo das transmissões desportivas e estima que os cubanos representam um grande investimento.”

“Rio de Janeiro, 26 de Julho (EFE). - O empresário alemão Ahmet Öner, promotor de quatro lutadores cubanos de boxe, já refugiados na Alemanha, admitiu em declarações a um jornal brasileiro que organizou a fuga dos dois lutadores cubanos de boxe que desertaram durante os Jogos Pan-americanos do Rio de Janeiro.

“'Fui eu quem organizou tudo,' afirmou o proprietário da empresa Arena Box Promotions em declarações publicadas hoje no jornal Folha de São Paulo e admitiu ter pago por volta de meio milhão de dólares pela operação.

“Rigondeaux, de 26 anos, é bicampeão olímpico e mundial do peso-galo, era uma das principais figuras de Cuba nos Pan-americanos do Rio de Janeiro e considerado como medalha segura para o seu país.
“A fuga dos dois pugilistas foi descoberta quando se ausentaram esta semana da seção de pesagem a que tinham de submeter-se para disputarem os combates pelas suas respectivas categorias, em que eram favoritos à medalha de ouro.

“'Um grupo aqui na Alemanha com contactos na América do Sul trouxe-me em Dezembro os atletas Barthelemy, Gamboa e Solís. Paguei um bom dinheiro. Eles acabaram trazendo-me também Rigondeaux e Lara,' afirmou o representante dos pugilistas.

“'Tomei muito bem conta de Solís, Gamboa e Barthelemy, que são amigos de Rigondeaux e de Lara. Acho que isso ajudou, ' acrescentou o empresário ao referir-se a que a amizade entre os pugilistas influiu para que os outros dois campeões olímpicos também optassem por desertar para começarem as carreiras como profissionais na Alemanha.”

“O promotor alemão disse que a operação de Dezembro passado para organizar a deserção dos três pugilistas e da sua deslocação até à Alemanha lhe custou 1,5 milhões de dólares aproximadamente.”

“'Os cinco serão campeões mundiais (de boxe profissional). Hoje sou o promotor europeu mais jovem no boxe. Com eles serei o maior,' asseverou.

“Hamburgo, 26 de Julho (DPA) - [...] A fuga já estava prevista há uns meses, por ocasião de um torneio em Ancara. Mas nessa oportunidade os cubanos participaram com um time B, sem Rigondeaux, que era o que mais interessava a Öner.

“Posteriormente, quando os cubanos decidiram não participar no torneio de Halle em Alemanha, onde se disputa a tradicional 'Chemie Pokal’, Öner começou a suspeitar que os cubanos tivessem recebido informação de que algum pugilista pensava em desertar. A cidade de Halle e a ‘Chemie Pokal’ foram o cenário, há mais de uma década, da deserção do peso pesado cubano Juan Carlos Gómez.” (Um quarto boxista comprado com antecedência).

“'Por isso concentrámo-nos no Rio e nos Pan-americanos, onde conseguimos finalmente o nosso objetivo, ’ disse.”

“‘Agora estamos a tratar das questões burocráticas com os rapazes, e quando arranjarmos todos os documentos viajaremos para a Alemanha, onde lhes vamos dar as boas-vindas no contexto adequado,‘ indicou”. Os dois cubanos assinarão um contrato por cinco anos.

“'Para os outros cubanos tudo isto durou três meses. Acho que com estes dois rapazes demoraremos metade; isto é, um mês e meio.’“


Vejam a maneira como se gabam da malfeitoria cometida contra o nosso país. Conhecia-se perfeitamente que no boxe Cuba obteria quase todas as medalhas de ouro. Tinha que ser golpeada, e não apenas compraram dois dos atletas que tinham ouro garantido, mas golpearam também a excelente moral dos outros atletas que seguiram defendendo com valor as suas medalhas de ouro. Até nos juízes influiu o golpe baixo.

Com todo o dinheiro do mundo jamais teriam comprado homens como Stevenson, Savón ou o falecido Roberto Balado, que tão formosa tradição legaram à glória do boxe cubano.

Apesar de tudo, já temos 44 medalhas de ouro.


Fidel Castro Ruz
27 de Julho de 2007

25/07/2007

PORTUGAL – UMA DESGRAÇA COMPLETA

Não sei para que lado me hei-de virar. São tantos os temas dignos de aqui serem tratados, dando, cada um deles, para mais de uma crónica, que optei por abordá-los a todos, em prejuízo de abordar cada um deles com a devida profundidade. Deixá-lo! Depois de tudo espremido, afinal o que se verifica é que o país é um autêntico caos económico e social, não passando de puras atoardas do primeiro-ministro (que afinal já não é engenheiro) e do seu camarada do Banco de Portugal, Vítor Constâncio, as patacoadas sobre os «decimais» animadores da nossa economia.

Estive ontem num “call-center”, que é um daqueles sítios onde as pessoas nos telefonam para divulgar produtos, fazer inquéritos de opinião, sondagens, etc. Fiquei a saber que não têm ordenado fixo, recebendo entre 1 e 2 euros por cada inquérito completo que consigam realizar. São pagos a recibo verde (o que quer dizer que 20% do que receberem vai logo para o Fisco). Por outras palavras: podem passar dias inteiros sem receber um euro, pois, como sabemos, cada vez se reage pior a este tipo de chamadas. Entretanto, os desgraçados, gastam dinheiro em transportes e refeições só para estarem umas horas ao telefone a ouvir negas e, nalguns casos, insultos. É para a generalização deste tipo de relações de trabalho que o Governo e o grande patronato apontam, percebendo muito bem que estão a apontar para qualquer coisa parecida com o trabalho escravo.

Por estas e por outras, o país envelhece. No ano passado, registaram-se cerca de 4.300 nascimentos a menos do que no ano anterior. Quem é que quer dar ao mundo filhos num país sem futuro, sem esperança, sem condições dignas de vida? Para mostrar que está atento ao problema, a ave canora que ocupa o poleiro de primeiro-ministro, esganiçou-se e veio anunciar uma série de medidas que, no dizer da criatura, vão incentivar os portugueses a fazer mais portuguesinhos. Maior tempo para as mães acompanharem os recém-nascidos, uns aumentos nos abonos de família, que poderá começar ainda nos últimos 6 meses da gravidez e duplicar ou triplicar o seu valor à medida que outros filhos se acrescentem ao anterior. Esquecem-se de dizer que uma trabalhadora contratada a prazo, caso engravide, vai para o olho da rua, porque ninguém lhe renova o contrato.

No fundo, estamos a falar de pensos rápidos para tratar de fracturas expostas. Os portugueses não querem ter filhos porque não têm emprego certo e bem remunerado e porque não acreditam que o país lhes vá proporcionar um futuro melhor. Não é um abono de família maior que lhes vai resolver esse problema. Os portugueses não podem ter filhos porque não têm condições económicas nem sociais para os sustentarem e criarem e, principalmente, para lhes garantirem um futuro digno. Os portugueses não querem ter filhos porque, mesmo sem eles, podem ver-se lançados na mais profunda miséria ou na simples indigência. Além disso, até o próprio acto de casar e constituir família, com a precariedade de emprego que por aí vai – e mais virá se a flexisegurança for um facto – e com a constante corrosão dos salários, a que se devem juntar os custos com uma vulgar habitação, até essas decisões, em Portugal, se não forem um suicídio, para lá caminham.

Aliás, veja-se o caso do crédito mal-parado, que nos empréstimos concedidos pela banca aos particulares portugueses bateu um novo recorde. Em Maio, os calotes das famílias à banca chegaram aos 2,235 mil milhões de euros, revelou o boletim estatístico do Banco de Portugal. Entre Abril e Maio deste ano, o volume de crédito mal-parado aumentou em 50 milhões de euros, o que significa uma média diária de acréscimo de 1,6 milhões de euros. A percentagem do crédito de cobrança duvidosa já representa 1,86 do total dos empréstimos concedidos pela banca aos particulares. A subida de juros, decidida pela União Europeia, está a ter consequências devastadoras nos orçamentos das famílias endividadas. Com a corda na garganta, sem poderem pagar, hoje, aquilo que meses atrás estava perfeitamente dentro dos seus orçamentos – e juntando a isto a facilidade com que hoje se perde o emprego – como é que o governo e o presidente da República querem que os portugueses tragam filhos a este inferno?

Falando de ter filhos, é bom que se saiba o que está a acontecer no Hospital Garcia de Orta. Segundo sei, existe um braço de ferro entre a administração e os médicos, porque as horas extraordinárias não estão a ser pagas. O quadro de pessoal está deficitário, o que se reflecte, também, na área da obstetrícia. Porque saíram muitos médicos e existem outros que, como têm mais de 50 anos, não trabalham entre as 20 e as 8 da manhã, há dias em que não há pessoal para manter o serviço operacional, dependendo dos turnos, pois as equipas são constituídas por um obstetra e dois internistas. Ora, porque os abortos não podem esperar, as parturientes da zona de influência do HGO só dão á luz neste hospital se o parto estiver eminente, caso contrário são encaminhadas para outras unidades hospitalares, como o Amadora-Sintra, para o Barreiro e até para mais longe.

Sinal de que o país está de rastos – e que talvez a ideia de formar um outro país, chamado Ibéria, como Saramago sugeriu, não seja tão utópica quanto isso – está o facto de o número de trabalhadores portugueses em Espanha ter outra vez aumentado, estando quase nos 80 mil. Contudo, o número total de portugueses a viver em Espanha é significativamente mais elevado, estimado por alguns responsáveis em próximo de 100 mil, já que o valor oficial de perto de 80 mil apenas representa os trabalhadores registados na Segurança Social, sem contabilizar os seus familiares.

Por tudo isto, depois dos húngaros, os portugueses são os cidadãos da UE «menos satisfeitos com a sua vida em geral» e, inclusive, 60% considera que a situação económica e o emprego vão piorar «nos próximos 12 meses», de acordo com o eurobarómetro, divulgado pela Comissão Europeia. Desde 2001 que o pessimismo em Portugal está a aumentar. Mas agora os portugueses assumem-se como os cidadãos mais pessimistas da Europa a 25. A tal ponto, que apenas 51% dos cidadãos afirma que a sua «vida em geral» vai melhorar nos próximos cinco anos. «O que revela algum realismo» admite a nota que acompanha o eurobarómetro, «em resultado do clima de crise prolongada» que se vive em Portugal».

O que mais «aflige» os portugueses? «Desemprego», «situação económica» e «inflação», responde o inquérito elaborado pela Comissão, vindo logo a seguir o «sistema de saúde» e o «crime». O desemprego é a preocupação central de 64% dos portugueses. Cerca de 30% dos portugueses afirmam que a União Europeia é a principal causa do desemprego. E, para o futuro, receiam a transferência de empregos para outros países. «Isto coloca Portugal entre os países que mais identificam a União com o aumento do desemprego», afirma o relatório.

Para os portugueses, a estabilidade económica não é associada com a UE, a tal ponto que, pela primeira vez em dez anos, o número de nacionais que declaram como «positivo» pertencer à EU, desceu abaixo dos 50%. É que, diz o relatório, ao avaliarem a sua situação económica e financeira, «consideram que a UE teve um papel negativo. Por isso, em relação ao futuro da União, dizem os cidadãos nacionais - principalmente os residentes em áreas urbanas -, deverá centrar-se na luta contra o desemprego, a pobreza e a exclusão».

E se juntarmos a tudo isto o que se está a passar com os professores obrigados a exercer a sua profissão mesmo afectados por doenças graves e altamente incapacitantes (e de cujos novos casos todos os dias temos conhecimento) tivemos aqui, em meia dúzia de palavras, um retrato real – mas devastador – do país de Sócrates e do PS.

Rematando: nas mãos de Sócrates e do Partido Socialista (salvo seja…), Portugal transformou-se num autêntico país negreiro.

Por isso, sem medo de bufos e de esbirros, de polícias e processos judiciais, de represálias físicas ou cobardes ameaças anónimas, acho que chegou o momento de darmos as mãos, juntarmos as nossas forças e corrermos, o mais depressa possível, com esta gente do poder.

De uma vez para sempre.


Crónica de: João Carlos Pereira
Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 25/07/2007.
(Não deixe de ouvir em 98.7 Mhz e participar pelos telefones 212277046 ou 212277047 todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00).

REFLEXÕES XVI

O BRASIL SUBSTITUI OS ESTADOS UNIDOS ?

Há dias falei a respeito do roubo de cérebros, que é algo repugnante.

Pouco depois apareceu um bom atacante da equipa cubana de andebol vestindo o uniforme de uma equipa profissional de São Paulo.

A traição por dinheiro é uma das armas predilectas dos Estados Unidos para destruir a resistência de Cuba.

O atleta cursava os estudos superiores e se formaria na Licenciatura em Educação Física e Desportos, um trabalho digno. As suas receitas eram modestas, mas a sua preparação profissional era altamente apreciada; seja qual for o desporto e a sua especialidade, ou mesmo se são capazes de atrair muito público e publicidade comercial, ou não atraem nenhum, são úteis para o desenvolvimento humano.

Aqueles que solicitaram asilo brasileiro fizeram-no quando os Estados Unidos declararam há muito pouco que não cumprirão as quotas exactas dos acordos migratórios que subscreveram com o nosso país. Basta assinalar que dos quase duzentos atletas e treinadores que participaram na primeira semana das competições dos Pan-americanos, faltaram um jogador de andebol e um treinador de ginástica.

Não vou dizer por isso que a equipa de andebol de Cuba era melhor do que a excelente equipa do Brasil e os seus formidáveis atletas, contudo a delegação cubana recebeu um golpe moral baixo nos Jogos Pan-americanos com essas solicitações de asilo político. Puseram a equipe cubana fora de combate antes que começasse a luta pela medalha de ouro.

No passado domingo, 22 de Julho, ao meio-dia, recebemos a triste notícia de que dois dos mais relevantes atletas de boxe, Guillermo Rigondeaux Ortiz e Erislandy Lara Santoya, não se apresentaram à pesagem. Simplesmente receberam nocaute com um golpe directo no queixo, fracturado com notas norte-americanas. Não fez falta nenhuma a contagem de protecção.

Observando os primeiros combates no Rio exclamei que os nossos pugilistas lutavam com tanta elegância e domínio técnico que convertiam em arte o seu rude desporto.

Na Alemanha existe uma máfia que se dedica a seleccionar, comprar e promover pugilistas cubanos nas competições desportivas internacionais. Usa métodos psicológicos refinados e muitos milhões de dólares.

Apenas três horas depois, a vitória da cubana Mariela González Torres na Maratona, um clássico do desporto Olímpico, que fez com que percorresse mais de 40 quilómetros, compensou com acréscimo a traição e inscreve com letras de ouro a sua façanha na história desportiva da sua pátria.

O povo de Cuba deve honrar o exemplo heróico de Mariela, nascida na oriental província de Granma, cujas taxas de mortalidade infantil e materna foram, em 2006, de 4,4 em cada mil nascidos vivos e 11 em cada 100 mil partos, melhores que as dos Estados Unidos. No seu município, Rio Cauto, com 47.918 habitantes, a taxa foi de zero em ambas as situações.

Depois de tudo, Cuba dispõe de milhares de bons treinadores e técnicos que trabalham no estrangeiro com atletas que não poucas vezes ganham medalhas de ouro competindo contra os nossos. Algo mais: existe uma Escola Internacional de Professores de Educação Física e Desportos onde cursam estudos superiores mais de 1.300 jovens do Terceiro Mundo. Há uns dias graduaram-se 247. Não cultivamos o chauvinismo nem o espírito de superioridade. Apoiamo-nos na ciência e nos conhecimentos e sobre essas bases lutamos para criar os valores éticos de uma mente sadia num corpo sadio.

Não existe nenhuma justificação para solicitar asilo político. Não se importam que o Brasil não seja o seu mercado definitivo. Há países ricos do primeiro mundo que pagam ainda mais. As autoridades brasileiras declararam que os desertores deverão provar a necessidade real de asilo. É impossível demonstrar o contrário. De antemão conhece-se o seu destino final como atletas mercenários numa sociedade de consumo. Acho que ofenderam o Brasil utilizando os Pan-americanos como pretexto para se autopromoverem. De qualquer modo consideramos úteis as declarações das autoridades.

Desejamos que o Brasil, país irmão da América Latina e do Terceiro Mundo, obtenha a honra de ser sede de uma próxima Olimpíada.


Fidel Castro Ruz
23 de Julho de 2007

19/07/2007

REFLEXÕES XV

O ROUBO DE CÉREBROS

Nas minhas últimas reflexões, “Bush, a Saúde e a Educação”, dedicadas às crianças, fiz algumas referências ao tema e coloquei um exemplo. Nesta, dirigida à primeira graduação da Universidade das Ciências Informáticas (UCI), abordarei de uma maneira mais profunda o embaraçoso assunto.

Eles foram os pioneiros, dos quais tanto aprendi sobre a inteligência e os valores dos nossos jovens quando são cultivados com esmero. Também muito aprendi com o excelente corpo de professores, grande parte dos quais estudou na Cidade Universitária “José Antonio Echevarría” (CUJAE).

Da mesma forma não posso esquecer-me do exemplo dos trabalhadores sociais que com a sua capacidade de organização e o seu espírito de sacrifício enriqueceram os meus conhecimentos e a minha experiência, nem dos milhares de educadores que se graduaram há pouco, os quais cumpriram o propósito de elevar a um professor em cada 15 alunos à sétima, oitava e nona classe do Ensino Secundário. Todos iniciaram os seus estudos universitários quase simultaneamente, com o surgimento das idéias que foram aplicadas na batalha em favor da devolução à sua família e à sua pátria de um menino de seis anos seqüestrado, pelo qual estávamos dispostos a dar tudo.

Daqui a dois dias a UCI graduará 1.334 engenheiros nas Ciências Informáticas de todo o país, que ganharam a bolsa pela sua conduta exemplar e pelos seus conhecimentos. Deles, 1.134 foram distribuídos pelos ministérios que oferecem importantes serviços ao nosso povo e por organismos responsabilizados por recursos económicos fundamentais. Ficou uma reserva centralizada de 200 jovens muito bem escolhidos, que crescerá ano após ano. O seu destino será múltiplo. Esta reserva é integrada por graduados de todas as províncias do país e serão alojados na própria UCI. 56% são rapazes e 44%, raparigas.

A UCI abre as suas portas a jovens dos 169 municípios de Cuba. As suas bases não estão sustentadas no modelo de exclusão e competência entre os seres humanos que preconizam os países capitalistas desenvolvidos.

A realidade do mundo parece ter sido desenhada para semear o egoísmo, o individualismo e a falta de humanidade no homem.

Um cabograma da agência Reuters publicado em 3 de Maio de 2006, intitulado “A fuga de cérebros africanos deixa o continente sem pessoal qualificado e obstaculiza o desenvolvimento”, afirma que na África “se calculam em 20 mil os profissionais que emigram em cada ano para fixar residência no Ocidente”, deixando o continente “sem os médicos, enfermeiros, professores e engenheiros que necessita para acabar com um ciclo de pobreza e de subdesenvolvimento”.

A Reuters acrescenta: “A Organização Mundial de Saúde assevera que a África subsaariana carrega com 24% do peso mundial de doenças, incluindo a Sida, a Malária e a Tuberculose. Para enfrentar esse desafio apenas conta com 3% dos trabalhadores qualificados do mundo.”

No Maláwi, “apenas estão cobertos 5% dos postos para médicos e 65% das vagas para enfermeiras. Nesse país de 10 milhões de habitantes, um médico atende 50 mil pessoas”.

A agência, citando textualmente um relatório do Banco Mundial, expressa: “Estagnada devido aos conflitos internos, a pobreza e as doenças, muitas delas curáveis, mas sem nenhum atendimento médico, grande parte da África não está em condições de competir com os países ricos que prometem melhores salários, melhores condições de trabalho e estabilidade política”.

“A fuga de cérebros é um golpe duplo para as economias débeis que não só perdem os seus melhores recursos humanos e o dinheiro na sua instrução, mas também depois devem pagar aproximadamente US$ 5,6 bilhões ao ano para dar emprego aos expatriados.”

A frase “fuga de cérebros” surgiu nos anos 60, quando os Estados Unidos se apropriaram dos médicos do Reino Unido. Nesse caso o despojo teve lugar entre dois países desenvolvidos, um que emergiu da segunda guerra mundial em 1944 com 80% do ouro em barras e o outro golpeado fortemente e despojado do seu império naquela guerra.

Um relatório do Banco Mundial intitulado “Migração internacional, remessas e fuga de cérebros” divulgado em Outubro de 2005, ofereceu os seguintes dados:

Nos últimos 40 anos, mais de 1.200.000 profissionais da região da América Latina e do Caribe imigraram para os Estados Unidos, o Canadá e o Reino Unido. Durante 40 anos, da América Latina emigrou uma média de 70 cientistas por dia.

Dos 150 milhões de pessoas que no mundo participam nas atividades científicas e tecnológicas, 90% concentram-se nos países das sete nações mais industrializadas.

Vários países, sobretudo os pequenos da África, do Caribe e da América Central, perderam através da migração mais de 30 por cento da sua população com nível superior de instrução.

O Caribe insular, onde o idioma de quase todos os países é o inglês, possui a maior cifra de fuga de cérebros do mundo. Nalguns deles, oito em cada 10 graduados universitários abandonaram as suas nações.

Mais de 70% dos programadores de software da companhia estadunidense Microsoft Corporation procedem da Índia e da América Latina.

Menção especial merecem os intensos movimentos migratórios que tiveram origem, a partir da desaparição do campo socialista, da Europa do Leste e da União Soviética para a Europa Ocidental e a América do Norte.

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) salienta que o número de cientistas e de engenheiros que abandonam os seus países de origem e viajam para nações industrializadas, equivale quase a um terço do número daqueles que ficam nos seus países de origem, o que provoca uma diminuição importante do capital humano indispensável.

A análise da OIT faz ênfase em que a migração de estudantes é um fenômeno precursor da fuga de cérebros. A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) afirmou que no início do actual milénio pouco mais de “1,5 milhões de estudantes estrangeiros cursavam estudos superiores nos estados membros, e que deles mais da metade procediam de países alheios à OCDE. Desse total quase meio milhão estava nos Estados Unidos, um quarto de milhão no Reino Unido e por volta de 200 mil na Alemanha”.

Entre 1960 e 1990, os Estados Unidos e o Canadá aceitaram mais de um milhão de imigrantes profissionais e técnicos de países do Terceiro Mundo.

As cifras apenas esboçam a tragédia.

Nos últimos anos a promoção desta emigração converteu-se numa política oficial do Estado em vários países do Norte, com incentivos e procedimentos desenhados especialmente para esse fim:

A “Acta para a Competitividade Americana no Século 21” — aprovada pelo Congresso dos Estados Unidos em 2000 — incrementou os vistos para trabalho temporário, conhecidos como H-1B, de 65 mil a 115 mil no ano fiscal de 2000, e depois até 195 mil para os anos 2001, 2002 e 2003. O objetivo deste incremento foi promover a entrada nos Estados Unidos de imigrantes altamente qualificados que pudessem ocupar postos de trabalho no setor da alta tecnologia. Embora esta cifra diminuísse em 65 mil no ano fiscal de 2005, o rio de profissionais para esse país mantém-se inalterável.

Medidas similares foram promulgadas pelo Reino Unido, Alemanha, Canadá e Austrália. Este último país desde 1990 priorizou a imigração de trabalhadores altamente qualificados, designadamente em sectores como o bancário, a segurança e a chamada economia do conhecimento.

Em quase todos o critério de seleção baseia-se na alta qualificação, o idioma, a idade, a experiência de trabalho e os resultados profissionais. O programa do Reino Unido outorga pontos extras para os médicos.

Esse contínuo saque de cérebros nos países do Sul desarticula e debilita os programas de formação de capital humano, um recurso necessário para acabar com o subdesenvolvimento. Não se trata só das transferências de capitais, mas também da importação da massa cinzenta, cortando pela raiz a inteligência e o futuro dos povos.

Entre 1959 e o ano de 2004 graduaram-se em Cuba 805.903 profissionais, incluindo médicos. A injusta política dos Estados Unidos contra o nosso país tem-nos privado de 5,16% dos profissionais graduados pela Revolução.

Contudo, nem sequer para a elite de trabalhadores imigrantes as condições de emprego e de ordenado são iguais às dos nacionais norte-americanos. A fim de evitar o complicado processo que impõe a legislação trabalhista e os custos do tramite de imigração, os Estados Unidos chegaram ao cúmulo de criar um navio-fábrica de software que mantém escravos altamente qualificados encalhados em águas internacionais, numa variante de “maquila” para a produção de todo o tipo de aparelhos digitais. O projeto “SeaCode” consiste em manter um navio ancorado a mais de três milhas da costa da Califórnia (águas internacionais) com 600 informáticos da Índia a bordo, que trabalham 12 horas diárias sem parar, durante quatro meses no mar.

As tendências à privatização do conhecimento e à internacionalização da investigação científica em empresas subordinadas ao grande capital criaram uma espécie de “Apartheid científico” para a grande maioria da humanidade.

O grupo integrado pelos Estados Unidos, o Japão e a Alemanha tem um por cento da população mundial similar ao da América Latina, mas o investimento em investigação-desenvolvimento é de 52,9 por cento perante o 1,3 por cento. A fenda econômica de hoje antecipa até onde pode chegar a de amanhã, se estas tendências não são revertidas.

Semelhante futuro já foi instalado entre nós. A chamada nova economia movimenta enormes fluxos de capital em cada ano. Segundo informa o “Digital Planet 2006”, da Aliança Mundial da Tecnologia da Informação e dos Serviços (WITSA), o mercado global para as Tecnologias da Informação e a Comunicações (TIC) atingiu três milhões de milhões de dólares norte-americanos em 2006.

Cada vez são mais as pessoas conectadas à Internet — em julho de 2007 totalizavam quase 1,4 biliões de utilizadores — contudo, em boa parte dos países incluídos muitos desenvolvidos, os cidadãos que não têm acesso a esse serviço continuam a ser a maioria. A fenda digital traduz-se em diferenças dramáticas onde uma parte da humanidade afortunada, dispõe de mais informação do que aquela que jamais teve qualquer outra geração.

Para termos uma ideia do que isso significa, basta comparar apenas duas realidades: enquanto nos Estados Unidos tem acesso à Rede algo mais de 70 por cento da população, em toda a África apenas o fazem 3 por cento. Os fornecedores de serviços da Internet encontram-se em países de altas receitas, onde apenas vivem 16 por cento da população mundial.

Urge enfrentar a situação de indigência em que o nosso grupo de países se encontra neste palco das redes globais de informação, Internet e todos os meios modernos de transmissão de informação e imagens.

Não pode ser chamada nem medianamente de humana uma sociedade onde os seres humanos só valham pelos cifrões e constitua uma prática o roubo de cérebros dos países do Sul, e se perpetue o poder econômico e o desfrute das novas tecnologias numas poucas mãos. Resolver este dilema é tão transcendente para o destino da humanidade como enfrentar a crise da mudança climática no planeta, problemas que estão absolutamente ligados.

Para concluir, acrescento:

Aquele que tiver um computador dispõe de todos os conhecimentos publicados. Pertence-lhe também a privilegiada memória da máquina.

As ideias nascem dos conhecimentos e dos valores éticos. Uma parte importante do problema ficaria resolvido tecnologicamente, a outra temos que cultivá-la sem descanso ou pelo contrário impor-se-ão os instintos mais primários.

A tarefa que os graduados da UCI têm de agora em diante é grandiosa. Acho que poderão cumpri-la, e a cumprirão.


Fidel Castro Ruz
18 de Julho de 2007

18/07/2007

A REDUÇÃO DO DÉFICE, OU A REDUÇÃO DA VIDA?

A redução do défice corresponde à redução da nossa saúde, da nossa educação, da nossa segurança social, do nosso futuro. Da nossa dignidade. Para o senhor Sinistro das Finanças, não há vida para além do Défice.

Com a devida vénia ao jornalista António Ribeiro Ferreira, pessoa que anda muito longe de mim em termos ideológicos, vou ler-vos, integralmente, a crónica que este colaborador do Correio da Manhã escreveu na edição do dia 16 deste mês. São, então, palavras dele:

« Com o patrocínio de Sócrates, este sítio está, dia após dia, a voltar ao tempo em que falar de liberdade era sinónimo de subversão.
Em tempos que já lá vão, neste sítio cada vez mais mal frequentado, havia uma censura cega e muito burra, que zelava não só pelos bons costumes como pela paz podre do cemitério. Era linear, sem grandes enredos intelectuais e elaboradas justificações ideológicas. Era assim, ponto final. Uma das normas dos coronéis lateiros da saudosa censura era evitar, a todo o custo, que o povo soubesse antecipadamente os passos do senhor presidente do Conselho .
A palavra «vai» era rigorosamente cortada pelos lápis azuis. As razões para essa medida com grande sentido de Estado eram várias. Mas as mais óbvias tinham a ver com a segurança de tão alta figura, sempre preocupada com comunistas, anarquistas e outras almas perdidas no tenebroso mundo da subversão, e com o natural desprezo que a dita sentia pelo povo do sítio .
O senhor presidente do Conselho só admitia olhar para a turba à distância, longe de odores e dizeres desagradáveis, que ordeiramente era conduzida em comboios e camionetas para manifestações organizadas pelo partido único, em momentos festivos ou de combate às forças negras do reviralho, domésticas ou internacionais.
Na sua infinita sabedoria, o povo deste sítio logo apelidou Sua Excelência de senhor Esteves. Nesses tempos que já lá vão, essa graçola marota não era castigada pelos esbirros da PIDE e os bufos do regime sabiam perfeitamente que nem sequer valia a pena denunciar quem a dizia em cafés, repartições públicas, autocarros, eléctricos, baptizados, casamentos, funerais ou simples festas de família. Era uma graçola, ponto final.
O senhor presidente do Conselho, ele próprio, sorria superiormente quando estas e outras anedotas lhe eram contadas com todo o respeito pelas figuras que tinham a seu cargo essa espinhosa missão. Os tempos mudaram, as gaivotas da democracia deram à costa há mais de 33 anos e eis que voltam, inesperadamente, não só os esbirros, como os censores e o próprio senhor Esteves.
O presidente do Conselho José Sócrates entra pelos fundos da Casa da Música no Porto, para fugir à turba, e inaugura uma ponte sobre o Tejo com o povo ao longe, rigorosamente vigiado. Os esbirros de serviço suspendem, despedem e ameaçam quem ouse dizer graçolas inocentes .
E os velhos coronéis lateiros foram substituídos pelos doutores e doutoras da Entidade Reguladora da Comunicação Social e da Comissão da Carteira dos Jornalistas. Com o alto patrocínio do senhor presidente do Conselho e dos acólitos socialistas este sítio está, dia após dia, a voltar ao tempo em que falar de liberdade era sinónimo de subversão ».

Isto foi escrito, como disse, pelo jornalista António Ribeiro Ferreira, pessoa que está muito longe de ser considerada de esquerda. Apesar disso – ou por isso mesmo – quero aplaudir o texto e pedir-lhe autorização para assinar por baixo.

O senhor Esteves (que dantes era António de nome e Salazar de apelido, e hoje foi baptizado como José e gosta de ser tratado por Sócrates, embora os apelidos sejam uns prosaicos Pinto de Sousa), então o senhor Esteves dos nossos dias que se cuide, mais a sua corte de esbirros e bufos «socialistas», porque este voltar ao passado não traz só coisas más. Também vai trazendo, aqui e além, umas ténues teias de cumplicidades e alianças, um certo reagrupar de forças e resistências, de tal forma que, um dia destes, quando menos esperarmos, as coisas deixarão de ser como são. Aliás, já Camões sabia que todo o mundo é composto de mudança…

Falemos, agora, das eleições em Lisboa. António Costa é o novo presidente da Câmara, mas a grande vencedora das eleições autárquicas intercalares foi a abstenção, que bateu o valor recorde de 62,61 por cento.

Ao falar da grande vitória, os socialistas escondem que foram muito menos os lisboetas que votaram no PS vitorioso de António Costa, do que no PS derrotado de Manuel Maria Carrilho, em 2005, já que no domingo votaram no PS 57.907 cidadãos, e, em 2005, votaram em Carrilho 75.022. Isto é: o PS, em dois anos, perdeu, em Lisboa, mais de 17 mil votantes.

Para um partido que todos os dias arrota postas de pescada sobre as excelências da sua governação, e cujas sondagens não deixam de lhe conferir uma vantagem confortável, não deixa de ser significativo que, nas urnas, perante uma oposição dividida – e concorrendo com um dos seus pesos mais pesados (meus senhores, aquela barriga esférica e opada não engana: a política engorda mesmo…) tenha alcançado tão mísero resultado. Afinal, dos eleitores inscritos, só 11 % votaram em António Costa.

Mas o fenómeno da abstenção, que afectou seguramente todas as candidaturas, é o que mais significado tem. Pouco a pouco, o povo vai dizendo, com os seus votos em branco e com a sua ausência das urnas, que não acredita nesta política e nestes políticos. Que está farto. Que já sabe que o seu voto não resolve nada, e só os «adeptos dos clubes» - isto é: os indefectíveis dos partidos – se dão ao trabalho de ir ao jogo puxar pelo clube de cada um. Mesmo que, depois, nada ganhem com isso.

O que muita gente ainda não percebeu – e os que perceberam não disseram – é o que significa Teixeira dos Santos ter vindo dizer, com ar de festa, que o défice talvez fique abaixo dos 3%. E o homem falou disto como se o governo estivesse a realizar um feito magnífico, a que correspondesse uma benfeitoria para os milhões de portugueses que vivem e sofrem no país onde tiveram a infelicidade de nascer.

É que à redução do défice corresponde a redução de escolas, a redução de vários serviços de saúde, a redução da protecção na doença e no desemprego, a redução das reformas, vendo-se cada vez mais gente obrigada a trabalhar até morrer, como todos os dias vamos sabendo de mais casos. A redução do défice corresponde à redução da nossa vida, à redução da nossa esperança numa vida digna, à redução da nossa liberdade. A redução do défice corresponde à redução de mais leite para as nossas crianças, pois o seu preço é superior à média europeia, embora sejamos obrigados a reduzir a produção para cumprir as imposições dos países ricos da UE.

Daqui dou um salto para as afirmações de Saramago, segundo as quais Portugal pode estar a caminho de ser uma província de um novo país, chamado Ibéria. É claro que saíram disparadas reacções de sinal contrário. Aplausos e apupos. No fundo, esqueceram-se os mais patriotas que Portugal já não é um país independente há muitos anos, desde que aderiu a uma União Económica que o obrigou a abrir mão da sua siderurgia, que o impede de pescar o que precisa, que o obriga a arrancar vinha e olival, a produzir menos leite (embora hajam crianças que nem o cheiram), que está impedido, em suma, de produzir tudo aquilo que podia e devia para que não houvesse tanta fome por aí. Por imposição da UE, nem uma simples fava ou um singelo brinde podemos ter no bolo-rei. É claro que para esses patriotas, Portugal não foi vendido ao estrangeiro por Soares e Cavaco, nem a nossa independência económica se perdeu a troco de betão e subsídios para jipes e coutadas.

Na verdade, Saramago apenas teorizou a partir de uma realidade económica, social e geográfica, numa perspectiva de evolução política onde cada povo mantivesse a sua língua, a sua cultura e a sua autonomia.

O que eu não sei é se a outra parte da Ibéria, aquela que não fala português, estaria interessada em juntar-se a este bocado de terra e a este magote de gente, que de tão frouxa e decadente, trinta e três anos depois de se ter libertado de uma ditadura, já se deixou enredar, pacificamente, nas teias de uma outra ainda mais trituradora, feroz e descarada. Onde as vidas humanas não valem por si, mas por aquilo que dizem as contas de um fulano sinistro, chamado Teixeira dos Santos.

E um certo «socialista», que já foi presidente da República e, enquanto tal, lembrou ao governo de então (que não era PS) que havia mais vida para além do défice, anda agora muito entretido a ganhar uns milhares para fingir que combate a tuberculose no mundo, devendo achar, nos dias que correm, que, sendo o Governo «socialista», haverá sempre mais défice para justificar o sacrifício de mais vidas.

E depois, dizem que a taxa de abstenção é muito alta. E vai piorar, meus amigos, vai piorar.


Crónica de: João Carlos Pereira
Lida nas "Provocações" da Rádio Baía em 18/07/2007.
(Não deixe de ouvir em 98.7 Mhz e participar pelos telefones 212277046 ou 212277047 todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00).

17/07/2007

REFLEXÕES XIV

BUSH, A SAÚDE E A EDUCAÇÃO

Não farei referência à saúde e à educação de Bush, mas à dos seus vizinhos. O acto não foi improvisado. A agência AP conta como iniciou as suas palavras: “Neste país temos corações grandes”, disse em espanhol perante uns 250 representantes de grupos privados e religiosos, fundações e ONGs que foram a Washington com os gastos pagos pelo seu governo. Deles, procediam dos Estados Unidos aproximadamente 100.

A reunião, chamada Conferência da Casa Branca sobre as Américas, faz parte das ideias que Bush desenhou no começo da visita por cinco países latino-americanos no início de Março, sobre o que o seu governo esperava da região no pouco tempo que lhe resta no cargo.

Bush convocou a conferência para falar de diversos temas, nomeadamente educação e saúde. “Para nós é importante ter uma vizinhança saudável e educada”, disse nas declarações improvisadas durante uma conversa com seis dos presentes, Guatemala, Estados Unidos, Brasil, Haiti e México, que partilharam a sua mesa à maneira de colóquio.

Afirmou coisas inacreditáveis, tais como “o trabalho árduo que estamos a realizar na vizinhança”.

Falaram: Bush, o Secretário do Tesouro, o Sub-secretário de Estado para Assuntos do Hemisfério Ocidental e a Sub-secretária de Estado para Assuntos Públicos. Junto deles, presidiram os grupos de trabalho nos quais se baseou a reunião, vários membros do gabinete. Todos falaram até pelos cotovelos.

Mencionaram que Bush criou no Panamá um centro que capacitou mais de 100 doutores de seis países de América Central. Referiram-se, com grande ênfase, ao “Comfort”, um dos maiores navios-hospitais do mundo, que acaba de aportar no porto do Panamá, depois de ter visitado a Guatemala.

Bush dedicou 55 minutos do seu tempo a essa actividade, que teve a sua sede num hotel da cidade de Arlington, Virgínia, na periferia de Washington.

Sem hesitar, Condolezza, Secretária de Estado, juntou-se ao coro para falar de Cuba.

Segundo outra agência de notícias, quando o nosso Conselho de Estado, cumprindo as normas constitucionais, acabava de convocar as eleições, ela declarou que “Os Estados Unidos esperam que os próprios cubanos decidam sobre o seu futuro”, e acrescentou: “Washington não tolerará a transição de um ditador para outro”.

No seu discurso inicial, Bush afirmou conceitos realmente insólitos para o chefe de um império global planetário, bem consciente do seu poder e do seu papel pessoal, registados pormenorizadamente pela agência espanhola de imprensa EFE: “O Presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, instou hoje os governos da América Latina a serem honestos, transparentes e abertos.” […] “O mandatário afirmou que as sociedades abertas e transparentes são as que levam a um futuro esperançoso.”

“Esperamos que os governos sejam honestos e transparentes. Rejeitamos a noção de que esteja tudo bem e que haja corrupção no seio de um governo…”

“Beneficia-nos ajudar um vizinho que o precisar. Renova a nossa alma e eleva o nosso espírito colectivo. Acho que a quem muito lhe é dado, muito lhe é exigido, e a nós, como país, foi-nos dado muito, pelo que acho que somos obrigados a ajudar as pessoas”, insistiu.

Bush está ciente de que mente e que os seus embustes são difíceis de engolir, mas não se importa com isso. Confia em que, se for repetido mil vezes, muitos terminarão a acreditar nele. Porquê tanto ardil? O que o aborrece essencialmente? Desde quando surgiu o vaivém?

Bush descobre que o sistema económico e político do seu império não pode concorrer em serviços vitais, como a saúde e a educação, com a Cuba agredida e bloqueada durante quase 50 anos. Todo o mundo sabe que a especialidade dos Estados Unidos em matéria de educação é o roubo de cérebros. A Organização Internacional do Trabalho assinala que “47 por cento das pessoas nascidas no estrangeiro que completam um Doutoramento nos Estados Unidos, ficam nesse país”.

Outro exemplo de pilhagem: “Há mais médicos etíopes em Chicago do que em toda a Etiópia”.

Em Cuba, onde a saúde não é mercadoria, podem fazer-se coisas que Bush não é capaz de imaginar.

Os países do Terceiro Mundo não dispõem de recursos para criarem centros de investigação científica, e Cuba, no entanto, tem-os criado apesar que os seus próprios profissionais eram muitas das vezes exortados e incentivados para desertarem.

O nosso método de alfabetização “Eu posso, sim", está hoje gratuitamente ao serviço de todos os países latino-americanos, aos quais, se desejarem aplicar o programa, serão apoiados na adaptação às suas características próprias com a produção dos materiais impressos e de vídeo correspondentes.

Países como a Bolívia aplicam-no em castelhano, quetchua e aimará. Somente os que ali aprenderam a ler e escrever em apenas um ano, são mais do que os alfabetizados pelo império em toda a América Latina, se existir algum. Não falo de outros países como a Venezuela, que fez verdadeiras proezas educacionais num brevíssimo espaço de tempo.

“Eu posso, sim” beneficia outras sociedades fora do hemisfério ocidental. Basta assinalar que na Nova Zelândia é utilizado na alfabetização da população Maorí.

Em lugar dum estabelecimento de treino para profissionais médicos na América Central, por onde já passaram ao redor de 100 – o que nos alegra – o nosso país tem hoje dezenas de milhares de bolseiros da América Latina e do Caribe, que durante seis anos se formam gratuitamente como médicos em Cuba. Não se excluem, é claro, os jovens norte-americanos, os quais levam muito a sério os seus estudos.

Cooperamos com a Venezuela na formação de mais de 20 000 jovens, que estudam Medicina e assistem às consultas nos bairros pobres, atendidos por especialistas cubanos para se familiarizarem com a sua futura e difícil tarefa.

O “Comfort”, com mais de 800 pessoas a bordo, entre pessoal médico e a tripulação, não poderá atender um grande número de cidadãos. Resulta impossível realizar programas médicos por episódios. A reabilitação, por exemplo, em muitos dos casos precisa de meses de trabalho. Os serviços que oferece Cuba ao seu povo numa policlínica ou num hospital habilitado são permanentes, e os pacientes podem ser atendidos a qualquer hora do dia ou da noite. Temos formado os reabilitadores necessários.

As operações da vista também precisam de uma especial habilidade. No nosso país os hospitais oftalmológicos operam à vista mais de 50.000 cubanos por ano e atendem 27 tipos de doenças. Não existe lista de espera no transplante de córnea, que requer uma organização especial. Façam uma pesquisa activa nos Estados Unidos e poder-se-á ver quantas pessoas precisam serem operadas realmente entre os habitantes do país, que por não serem nunca examinados por um oftalmologista atribuíam as suas limitações a outras causas e correm o risco de ficarem cegos ou seriamente afectados da vista. Comprovarão que são milhões de pessoas.

Não incluo no número mencionado as centenas de milhares de latino-americanos e caribenhos que são operados, uma parte em Cuba, e a maior parte deles nos seus respectivos países, por oftalmologistas cubanos. Só na Bolívia somam mais de 100.000 por ano. Neste caso participam, junto dos nossos especialistas, médicos bolivianos formados na Escola Latino-americana de Medicina (ELAM).

Veremos como o “Comfort” resolve a situação no Haiti, prestando serviços de saúde durante uma semana, onde em 123 comunas de 134 no total com que conta o país, tem médicos cubanos e formados da ELAM, ou estudantes haitianos do último do curso, para combaterem a SIDA e outras doenças tropicais.

O problema é que os Estados Unidos não podem fazer o que faz Cuba. No entanto, pressiona brutalmente firmas produtoras de excelentes equipamentos médicos fornecidos ao nosso país, para impedirem que reponham determinados programas computorizados ou alguma peça sobressalente que têm patente dos Estados Unidos. Posso citar casos concretos e o nome das firmas. É nojento, embora tenhamos soluções que nos tornam menos vulneráveis nesse terreno.

Há menos de 6 meses, Bush ainda não tinha inventado a ideia de universalizar a produção de combustível a partir de alimentos dentro e fora dos Estados Unidos. Os que conhecem o valor das gorduras e dos alimentos proteicos na alimentação humana sabem das consequências que tem para grávidas, crianças, adolescentes, adultos e idosos a carência dos mesmos. O peso da sua escassez recairá nos países menos desenvolvidos, isto é, na maior parte da humanidade. Para ninguém será uma surpresa a elevação dos preços dos alimentos básicos e da instabilidade social que trará consigo. Ontem, sexta-feira 13, o petróleo subiu a 79,18 dólares o barril. Outra consequência da dança dos papéis e da guerra no Iraque.

Há apenas 48 horas o Secretário de Segurança dos Estados Unidos, Michael Chertoff, declarou que “tinha a sensação visceral de que poderia acontecer um atentado na temporada estival” nesse país. Uma coisa semelhante expressou a Secretária de Estado e posteriormente o próprio Presidente dos Estados Unidos. Mas ao mesmo tempo que informavam dos riscos potenciais, envidavam esforços por tranquilizar a opinião pública.

O governo dos Estados Unidos que tudo vê e tudo escuta, com ou sem autorização legal. Dispõe, aliás, de numerosos órgãos de inteligência e contra-inteligência com inúmeros meios económicos destinados à espionagem. Pode obter a informação de segurança que precisar sem sequestrar, torturar ou assassinar em cárceres secretos. Todo o mundo sabe dos verdadeiros propósitos económicos que perseguem com o uso mundial da violência e da força. Qualquer ataque contra a sua população o pode evitar, salvo que prevaleça a necessidade imperial do estrondo para prosseguir e justificar a brutal guerra que decretou contra a cultura, a religião, a economia e a independência de outros povos.

Devo concluir.

Amanhã, domingo, é o Dia das Crianças. Nelas penso quando escrevo esta reflexão. A elas a dedico.


Fidel Castro Ruz
14 de Julho de 2007

15/07/2007

LISBOA jÁ VOTOU

É certo que votou pouco, mas votou e já se sabe quem é o novo presidente da principal autarquia do país.

O ex-ministro socialista pode agora confraternizar com os seus apoiantes, principalmente com aqueles que, coitados, sem saberem ao que vinham quando os meteram nos autocarros em Cabeceiras de Basto, em Mirandela e certamente noutros pontos do país, foram até ao Altis na mira do croquete e da coxa de frango.

Isto até nos faz lembrar as manifestações também expontâneas de apoio ao Presidente do Conselho António de Oliveira Salazar, organizadas pelos Presidentes de Câmara e Governadores Civis do Estado Novo.

Felizmente que os resultados não deram uma maioria absoluta ao Sr. Costa, porque com os exemplos e a experiência que obteve quando estava no governo, iríamos ter uma capital gerida de forma ditatorial, tal como o faz o seu camarada pseudo-engenheiro em todo o país.

Vamos ver agora quem se deixa vender por qualquer tipo de queijo flamengo, tal como aconteceu no passado.

11/07/2007

A GRANDE VAIA

- ou crónica de uma noite de Verão.

Os cerca de 40 mil espectadores que vaiaram intensamente o primeiro-ministro Sócrates, até há pouco também conhecido por «engenheiro», título que, soube-se agora de fonte segura, não pode utilizar sem que esteja a mentir (ou a brincar), dizia eu que esses cerca de 40 mil espectadores podem ser responsabilizados criminalmente por manifesta falta de respeito a uma das mais altas figuras da hierarquia do Estado.

Segundo conseguimos apurar, José Sócrates já pediu ao ministro da Administração Interna que mande visionar as cassetes gravadas pelas diversas câmaras de segurança instaladas no Estádio da Luz, no sentido de identificar os subversivos prevaricadores. Segundo parece, só Cavaco Silva, sentado a seu lado – e na altura do nefasto acontecimento a ajeitar a aba do seu impecável casaco – estará livre de qualquer suspeita. Ainda assim, há testemunhas que dizem ter detectado em Cavaco Silva um meio sorriso misterioso, embora se diga que poderia ser apenas um dos muitos esgares em que o senhor Presidente da República é pródigo.

Sócrates também já contactou os responsáveis da Liga de Clubes de Futebol Profissional e a Federação Portuguesa de Futebol, tendo em vista serem encontrados os mecanismos que possam justificar a interdição do Estádio da Luz por vários jogos, alegando-se, para o efeito, o comportamento incorrecto do público.

Por outro lado, o Ministério da Educação encarregou a directora da Direcção Regional de Educação do Norte, a virtuosa D. Margarida Moreira – recentemente nomeada Coordenadora-Chefe da Nacional Bufaria – no sentido de tentar apurar se o professor Charrua teria estado presente no Estádio da Luz, como chefe de claque, já que muitos dos insultos dirigidos ao senhor primeiro-ministro correspondem aos que, alegadamente, o dito professor teria proferido entre um grupo de amigos (amigos… salvo seja).

Outras das orientações de Sócrates dizem respeito aos autores de apupos, vaias e insultos que sejam identificados como funcionários públicos, para os quais se prevê, para além da responsabilização criminal, a imediata suspensão e a abertura de inquérito por falta de lealdade e notória postura antipatriótica.

Finalmente, Sócrates deseja que o Sport Lisboa e Benfica, como proprietário do estádio – e palco já reincidente neste lamentáveis comportamentos, uma vez que Durão Barroso ali mereceu igual tratamento – seja severamente punido, devendo descer de divisão e ficar proibido de equipar de vermelho, tido como cor subversiva – já Salazar, certa vez, se lembrara disso – e mesmo cor-de-rosa, por ser a rosa a flor do PS.

Mas se a vaia ao primeiro-ministro já foi um transtorno grande para José Sócrates, amachucando-lhe o ego até ao nível do papel higiénico depois de usado, outra vaia pode trazer ao governo sérios problemas diplomáticos. É que a Estátua da Liberdade, uma das candidatas a nova maravilha da humanidade, mereceu outra enorme vaia quando surgiu nos ecrãs do Estádio. Segundo consta, o embaixador norte-americano em Lisboa já pediu explicações ao Governo português, sugerindo mesmo que, a repetirem-se manifestações anti norte-americanas desta natureza, o país seria incluído no terrífico Eixo do Mal, o que equivale a dizer que Portugal seria considerado um estado potencialmente terrorista e passível de ser preventivamente bombardeado a qualquer momento. Convidado a comentar esta ameaça, o ministro dos Negócios estrangeiros, Luís Amado, desvalorizou a questão, dizendo que essa possibilidade não existia, tanto mais que Portugal não era um país produtor de petróleo. Só de calhaus.

Bem, meus amigos, depois deste devaneio próprio de uma noite de Verão, convém que vos diga, já mais a sério que, de facto, a grande maravilha dessa noite de novas maravilhas, foi a estrondosa, espontânea, genuína e pura vaia, saída com força e convicção da alma de dezenas de milhares de portugueses, fartinhos que estão de ser humilhados por um governo que não merece o mínimo de respeito nem o mínimo de credibilidade.

AINDA O ABORTO

Entretanto, todos percebemos que continua a saga do aborto (e que me desculpem os defensores da dignidade da mulher através do acto abortivo), mas é assunto que todos os dias aparece na comunicação social, por isso não vejo razão para fugir a ele.

Por um lado, porque inúmeros médicos (honras lhes sejam feitas) se recusam a praticar aquilo que, na verdade não é um acto médico – ou seja, um acto destinado a curar uma doença ou a salvar uma vida. De facto, um aborto por razões que nada tenham a ver com a saúde da mãe ou do filho, não passa de um acto expedito de eliminar uma vida que ameaça chatear a progenitora, algo que não encaixa na ética médica nem nas competências dos serviços de saúde, sejam públicos, sejam privados. Matar, não é a função dos médicos nem dos hospitais. Quando muito, o aborto encaixaria num serviço qualquer que se criasse exclusivamente para exterminar fetos, tipo matadouro municipal ou estatal, ou coisa parecida. Algo que tivesse a ver com o negócio da morte – e não com a dádiva da vida.

Por outro lado, porque já se viu que cada aborto vai custar ao SNS (isto é: a todos nós) um verdadeiro balúrdio, tanto fazendo que seja praticado no serviço público, como através das clínicas privadas convencionadas. Segundo a tabela em vigor, uma interrupção custa ao Estado entre 830 e 1.074 euros. (Na tabela de 2004 do Sistema de Gestão dos Utentes Inscritos para Cirurgia, uma interrupção voluntária da gravidez cirúrgica justificada pela saúde da mãe ou problemas graves com o feto, rondava os 590 euros). Ora, sendo agora a eliminação do feto não só legal, como gratuita (até de taxa moderadora está isenta), não admira que os diversos hospitais já digam que não vão ter capacidade para a chuva de abortos que aí vem, tendo que os reencaminhar para os privados.

De facto, se com as dificuldades antes existentes era o que era, agora, meus amigos, o aborto, como mais um método de contracepção puro e simples – e gratuito – vai disparar em flecha. Não se percebe – eu não percebo – que com a facilidade e diversidade de meios contraceptivos ao dispor das pessoas, possam ser assim tantas as gravidezes acidentais. Com o que vamos vendo e ouvindo – e com o que todos sabíamos, mas alguns fingiam não saber – aí está a prática abortiva como uma saída natural e comum para uma gravidez acidental ou, a partir de certa altura, não desejada – à mercê das venetas do momento – em vez de uma situação excepcional e justificada por indubitáveis razões de saúde.

Enfim, o que eu sei, isso sim, é que é mais um golpe nas contas do SNS, e que vai ser pago por todos nós. E – muito pior do que isso – vai dificultar e encarecer ainda mais o acesso aos serviços de saúde a quem está verdadeiramente doente. Pegando no exemplo da semana passada, é verdadeiramente escandaloso que um canceroso espere meses por uma cirurgia, que um doente cardíaco, renal ou hepático pague taxas moderadoras, que a vacina contra o cancro do colo do útero nem sequer seja comparticipada, que uma consulta de qualquer especialidade demore meses e meses, mas que uma mulher saudável, que não teve os devidos cuidados nas suas relações sexuais – ou, de súbito – mudou de ideias em relação à sua gravidez, ocupe o lugar e os recursos dos verdadeiros doentes.

Enfim, não é apenas Sócrates que merece uma grande vaia.


Crónica de: João Carlos Pereira
Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 11/07/2007.
(Não deixe de ouvir em 98.7 Mhz e participar pelos telefones 212277046 ou 212277047 todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00).

10/07/2007

REFLEXÕES XIII

OS FUNDAMENTOS DA MÁQUINA DE MATAR

Aqueles que constituiram a nação norte-americana, jamais imaginaram que aquilo que estavam proclamando nessa altura levava consigo, mesmo como qualquer outra sociedade histórica, os germens da sua própria transformação.

Na atractiva Declaração de Independência de 1776, que na quarta-feira passada fez 231 anos, afirmava-se algo que de uma maneira ou de outra cativou muitos de nós: "Mantemos como verdades evidentes que todos os homens nascem iguais; que a todos o Criador confere certos direitos inalienáveis entre eles a vida, a liberdade e a consecução da felicidade; que para garantir estes direitos são instituídos entre os homens, governos cujos justos poderes derivam do consentimento dos governados; que sempre que uma forma de governo tenda a destruir estes objectivos, o povo tem direito a reformá-la ou aboli-la, e instituir um novo governo que seja fundado sob esses princípios e organize os seus poderes na melhor forma que segundo a sua opinião garanta melhor a sua segurança e a sua felicidade."

Era o fruto da influência dos melhores pensadores e filósofos de uma Europa abatida pelo feudalismo, pelos privilégios da aristocracia e pelas monarquias absolutas.

Jean-Jacque Rousseau afirmou no seu famoso Contrato Social: "O mais forte jamais será suficientemente forte para ser o amo, se não transforma a força em direito e a obediência em dever." [...] "A força é um poder físico; não vejo que moralidade possa derivar dos seus efeitos. Ceder à força é um acto de necessidade, não de vontade." [...] "Renunciar à liberdade é renunciar à qualidade do homem, aos direitos da Humanidade, inclusive aos seus deveres. Não há recompensa possível para aquele que renuncie a tudo."

Nas 13 colónias independizadas, existiam adicionalmente formas de escravidão tão atrozes como nos tempos antigos. Homens e mulheres eram vendidos em leilão público. A emergente nação surgia com religião e cultura próprias. Os impostos sobre o chá foram a faísca que desatou a rebelião.

Naquelas infinitas terras os escravos mantiveram a sua condição durante mais de 100 anos, e depois de dois séculos, os seus descendentes sofrem as mesmas sequelas. Existiam comunidades indígenas que eram os legítimos povoadores naturais, florestas, água, lagos, rebanhos de milhões de bisontes, espécies naturais de animais e plantas, abundantes e variados alimentos. Não se conheciam os hidrocarbonetos nem os enormes esbanjamentos energéticos da sociedade actual. A mesma declaração de princípios, se tivesse sido proclamada nos países que abrange o Deserto do Saara, não criaria um paraíso de imigrantes europeus. Hoje apenas referiríamos os imigrantes pobres, que aos milhões atravessam ou tentam atravessar as fronteiras dos Estados Unidos todos os anos, em busca de trabalho e não têm direito nem à paternidade dos seus filhos se nascem em território norte-americano.

A Declaração de Filadélfia é redigida numa época em que só existiam pequenas tipografias e as cartas demoravam meses a chegare de um país para o outro. Podiam ser contados um a um os poucos que sabiam ler e escrever. Actualmente a imagem, a palavra e as ideias chegam em fracções de segundo de um canto ao outro do planeta globalizado. Criam-se reflexos condicionados nas mentes. Não se pode falar do direito ao uso, mas sim ao abuso da livre expressão e da alienação em massa. Ao mesmo tempo, com um pequeno equipamento electrónico qualquer pessoa, em época de paz, pode fazer com que cheguem ao mundo as suas ideias e não precisam da autorização de nenhuma Constituição. As verdades não precisam da publicidade comercial. Ninguém poderia estar em desacordo com a Declaração de Filadélfia e com o Contrato Social de Jean-Jacques Rousseau. Em ambos os documentos sustenta-se o direito a lutar contra a tirania mundial estabelecida.

Podemos ignorar as guerras de saqueio e as carnificinas impostas aos povos pobres, que constituem três quartas partes do planeta? Não! São próprias do mundo actual e de um sistema que não pode sustentar-se de outra forma. A um custo político, económico e cientifico enorme, a espécie humana é conduzida até à beira do abismo.

O meu objectivo não é reiterar conceitos mencionados noutras reflexões. Partindo de factos simples, o meu propósito é demonstrar o imenso grau de hipocrisia e a ausência total de ética que caracterizam as acções, caóticas por natureza, do governo dos Estados Unidos.

Em "A máquina de matar", publicado na semana passada, eu disse que soubemos da tentativa de me envenenar através de um funcionário do governo cubano que tinha acesso ao meu escritório, foi conhecido num dos últimos documentos revelados pela CIA. Era uma pessoa sobre a qual devia ter procurado informação, pois não possuía os elementos de juízo necessários. De facto escusei-me a falar disso para não ferir os sentimentos de algum descendente, caso a pessoa mencionada tivesse sido ou não culpada. Depois continuei analisando outros temas importantes das revelações da CIA.

Nos primeiros tempos da Revolução eu visitava quase todos os dias o recém criado Instituto Nacional da Reforma Agrária, que ocupava o prédio onde se encontra hoje o Ministério das Forças Armadas Revolucionárias. Ainda não se podia contar com o Palácio da Revolução, onde se encontrava nessa altura o Palácio da Justiça. A sua construção foi um suculento negócio do regime derrotado. O principal ganho consistia no aumento do valor das terras, das quais foram desalojados milhares de pessoas às quais eu, como advogado recém formado, defendi gratuitamente durante meses antes do golpe de estado de Batista. O mesmo acontecia com outras edificações luxuosas que em muitos dos casos estavam em obras.

Dos escritórios do INRA escutei, no dia 4 de Março de 1960, a estrondosa explosão do navio La Coubre e observei a escura coluna de fumaça que emergia do porto de Havana. Veio rápido à minha mente a ideia do navio carregado de granadas antitanques e anti-pessoais que podiam ser lançadas por fuzis FAL adquiridos na Bélgica, país nada suspeito de comunismo. Imediatamente desci para me dirigir a esse lugar. Durante o trajecto, produto do ruído e do vibrar do trânsito, não percebi a segunda explosão. Mais de 100 pessoas morreram e dezenas delas ficaram mutiladas. No funeral das vítimas nasceu, espontaneamente, o grito de PÁTRIA OU MORTE.

Sabe-se que tudo foi programado minuciosamente desde o porto de embarque pela Agência Central de Inteligência. O navio tinha transitado pelos portos de Le Havre, Hamburgo e Amberes. Neste último, da Bélgica, carregaram-se as granadas. Nas explosões do navio morreram também vários tripulantes franceses.

Porque, em nome da liberdade de informação, não se revela um só documento que nos diga como a CIA há quase já meio século fez com que estourasse o vapor "La Coubre" e se interrompesse o fornecimento de armas belgas, que a própria agência admitiu que em 14 de Junho de 1960 era uma preocupação muito importante dos Estados Unidos?

Quais as minhas ocupações nos dias febris que precederam o ataque pela Baía dos Porcos?

A primeira grande limpeza realizada no Escambray teve lugar durante os últimos meses de 1960 e no começo de 1961. Nela participaram mais de 50 mil homens, quase todos provenientes das antigas províncias de Havana e de Las Villas.

Um rio de armas chegava em navios da URSS que não estouravam quando chegavam aos portos. Foi inútil tentar comprá-las de outra procedência e desta maneira evitar os pretextos que os Estados Unidos utilizaram para agredir a Guatemala, o que custou a esse país no decurso do tempo, mais de cem mil vidas entre mortos e desaparecidos.

Na Checoslováquia adquirimos armas ligeiras e um número de antiaéreas de 20 milímetros e canhão duplo. Os tanques com canhões de 85 milímetros, artilharia blindada de 100, canhões antitanque de 75, morteiros, obuses e canhões de grosso calibre, até os de 122 milímetros, e antiaéreas ligeiras e pesadas, vinham directamente da URSS.

Pelo menos um ano tínhamos tido necessidade para a formação do pessoal, de forma a utilizar aquelas armas através dos métodos tradicionais. Foi levada a cabo em poucas semanas. A essa tarefa fundamental dedicávamos praticamente cem por cento do nosso tempo durante dois anos após o triunfo da Revolução.

Conhecíamos da eminência do ataque, mas não quando nem como seria levado a cabo. Todos os possíveis pontos de acesso estavam defendidos ou vigiados. Os chefes, em seu lugar: Raul no Oriente, Almeida no centro e o Che em Pinar del Rio. O meu posto de comando estava na capital: uma antiga casa burguesa adaptada para isso na margem direita mais alta do rio Almendares, próximo ao ponto onde desemboca para o mar.

Já tinha amanhecido, era o dia 15 de Abril, e desde as primeiras horas da madrugada ali estava eu recebendo notícias da província de Oriente, de onde chegou procedente do Sul dos Estados Unidos, um navio comandando por Nino Diaz, com um grupo de contra-revolucionários a bordo vestidos com uniforme de cor verde-oliva similar ao das nossas tropas, para desembarcar pela zona de Baracoa. Faziam-no como manobra de engano a respeito do lugar exacto da direção principal, para criar a maior confusão possível. O navio estava já na mira dos canhões antitanques, à espera do desembarque, que finalmente não aconteceu.

Também informavam que no dia 14 à noite tinha explodido, em voo de exploração sobre a zona do possível desembarque, um dos nossos três aviões a jacto, de treino, mas capazes de combater, sem dúvida produto de uma acção ianque vinda da base naval de Guantánamo ou de qualquer outro ponto do mar ou do ar. Não havia radares para determinar com exactidão o que tinha acontecido. Foi assim que morreu o valioso piloto revolucionário Orestes Acosta.

Do posto de comando mencionado correspondeu-me ver os B-26 que voavam quase rasantes sobre o lugar e, poucos segundos depois, escutar os primeiros foguetes lançados de surpresa contra os nossos jovens artilheiros, que em grande número treinavam na base aérea de Ciudad Libertad. A resposta daqueles valentes foi quase instantânea.

Não tenho por outra parte, nenhuma dúvida de que Juan Orta foi o traidor. Os dados pertinentes sobre a sua vida e conduta estão onde devem estar: nos arquivos do Departamento da Segurança do Estado, que nasceu por esses anos sob o fogo do inimigo. Os homens de maior consciência política foram responsabilizados por essa actividade.

Orta recebeu os comprimidos envenenados que propôs Giancana e Santos Trafficante a Maheu. A conversa deste último com Roselli, que desempenharia o papel de contacto com o crime organizado, teve lugar em 14 de Setembro de 1960, meses antes de ser eleito e da tomada de posse de Kennedy.

O traidor Orta não tinha méritos especiais. Mantive correspondência com ele quando procurávamos o apoio de emigrantes e exilados nos Estados Unidos. Era reconhecido pela sua aparente preparação e a sua atitude solícita. Para isso tinha especial habilidade. Depois do triunfo da Revolução, num importante período teve com frequência acesso a mim. Partindo das possibilidades que tinha nessa altura, acharam que podia introduzir o veneno num refrigerante ou num sumo de laranja.

Tinha recebido dinheiro do crime organizado por supostamente ter ajudado a reabrir as casas de jogo. Nada teve a ver com essas medidas. Fomos nós os que decidimos isso. A ordem inconsulta e não colegiada de Urrutia de as fechar criava o caos e promovia os protestos de milhares de trabalhadores do sector turístico e comercial, quando o desemprego era muito alto.

Transcorrido algum tempo, as casas de jogo foram fechadas definitivamente pela Revolução.

Quando lhe entregam o veneno, contrário ao que acontecia nos primeiros tempos, eram muito poucas as possibilidades de que Orta coincidisse comigo. Eu estava completamente ocupado nas actividades referidas anteriormente.

Sem dizer uma palavra a ninguém a respeito dos planos inimigos, em 13 de Abril de 1961, dois dias antes do ataque às nossas bases aéreas, Orta asilou-se na embaixada da Venezuela, que Rômulo Betancourt pôs ao serviço incondicional de Washington. Aos inúmeros contra-revolucionários asilados ali não lhe foi concedida autorização de saída até que diminuíram as brutais agressões armadas dos Estados Unidos contra Cuba.

Já tínhamos lidado no México com a traição de Rafael del Pino Siero, que depois de desertar quando apenas restavam quatro dias para a nossa saída rumo a Cuba, data que ele ignorava, vendeu a Batista por 30 mil dólares, importantes segredos relacionados com uma parte das armas e com a embarcação que nos transportaria até Cuba. Com refinada astúcia dividiu a informação para ganhar confiança e garantir o cumprimento de cada parte. Primeiro receberia alguns milhares de dólares pela entrega dos depósitos das armas que conhecia. Uma semana depois entregaria o mais importante: a embarcação que nos levaria para Cuba e o lugar de embarque. Todos podíamos ser capturados junto com o resto das armas, mas antes deviam entregar-lhe a totalidade do dinheiro. Certamente recebeu assessoria de algum especialista ianque.

Apesar de sua traição, saímos do México no iate "Granma" na data marcada. Algumas pessoas que nos apoiavam achavam que Pino jamais trairia, que a sua deserção se devia ao seu descontentamento pela disciplina e ao treino que lhe exigi. Não direi como soube da operação feita entre ele e Batista, mas recebi a informação precisa e adoptámos as medidas pertinentes para proteger o pessoal e as armas durante o trajecto para Tuxpan, ponto de partida. Aquela valiosa informação não custou nem um tostão.

Quando finalizou a última ofensiva da tirania na Sierra Maestra, tivemos que lidar igualmente com truques temerários de Evaristo Venéreo, um agente do regime que, disfarçado de revolucionário, tentou infiltrar-se desde o México.

Era o enlace com a policia secreta daquele país, órgão muito repressivo ao qual ofereceu assessoria no interrogatório de Cândido González, ao qual colocaram nesse momento uma venda nos olhos. Foi um dos poucos companheiros que conduziu o automóvel onde eu me movimentava, militante heróico assassinado depois do desembarque.

Evaristo regressou depois a Cuba. Tinha o encargo de assassinar-me enquanto as nossas forças avançavam para Santiago de Cuba, Holguin, Las Villas e o Ocidente do nosso país. Soubemos disso detalhadamente quando foram ocupados os arquivos do Serviço da Inteligência Militar. Está documentado.

Tenho sobrevivido a inúmeros planos de assassinato. Só o acaso e o hábito de observar cuidadosamente cada detalhe nos permitiu sobreviver aos ardis de Eutimio Guerra, nos dias iniciais e mais dramáticos da Sierra Maestra, a todos os que depois foram conhecidos como chefes da Revolução triunfante (Camilo, Che, Raul, Almeida, Guillermo) tivéssemos morrido, possivelmente quando quase conseguiram exterminar-nos com um ridículo cerco ao nosso desprevenido acampamento, guiados pelo traidor. No breve encontro que teve lugar, tivemos uma perda muito lamentável, a de um operário açucareiro negro, maravilhoso e activo combatente, Julio Zenón Acosta, quem se adiantou uns passos e tombou ao meu lado. Outros sobreviveram ao mortal perigo, e tombaram combatendo posteriormente, como Ciro Frías, excelente companheiro e possível chefe, em Imías, na Segunda Frente; Ciro Redondo, que combatia tenazmente o inimigo com forças da coluna do Che, em Marverde, e Julito Díaz que, disparando sem cessar a sua metralhadora calibre 30, morreu muito perto do nosso posto de comando no ataque a El Uvero.

Estávamos emboscados num lugar bem escolhido, à espera do inimigo, porque conhecíamos os movimentos que ia fazer nesse dia. Descuidamos a nossa atenção por uns minutos quando chegaram dois homens do grupo, que enviámos como exploradores horas antes de tomar a decisão de nos movimentar, os quais regressaram sem informação alguma.

Eutimio guiava o inimigo com guayabera branca, o único que se via na floresta do Alto de Espinosa, onde estávamos à espera. Batista tinha preparada a notícia da eliminação do grupo, que era segura, citando-o à imprensa. Por excesso de confiança, subestimámos realmente o inimigo, que se apoiava nas debilidades humanas. Nesse momento éramos por volta de 22 homens bem curtidos e escolhidos. Ramiro, com uma perna lesionada, recuperava-se longe de nós.

De grande golpe, devido ao movimento que fizemos num último momento, livrámo-nos nesse dia da coluna de mais de 300 soldados que avançavam em fila indiana pelo escarpado e florestado cenário.

Como funcionou aquela máquina perante a Revolução em Cuba?

Pouco tempo após ter triunfado a Revolução, em Abril de 1959, visitei os Estados Unidos convidado pelo Clube de Imprensa de Washington. Nixon dignou-se receber-me no seu escritório particular. Depois afirmou que eu era um ignorante em matéria de economia.

Eu estava tão ciente dessa ignorância, que me matriculei em três cursos universitários para obter uma bolsa que me permitisse estudar Economia em Harvard. Já tinha vencido todas as disciplinas e completado o curso de Direito, Direito Diplomático e Ciências Sociais. Apenas restavam por concluir: História das Doutrinas Sociais e História das Doutrinas Políticas. Tinha-as estudado minuciosamente. Nesse ano nenhum outro aluno fez tanto esforço. Estava livre o caminho, mas os acontecimentos precipitavam-se em Cuba e compreendi que não era o momento de receber uma bolsa e também de estudar Economia.

Fui a Harvard de visita no fim 1948. De regresso a Nova York, adquiri uma edição de El Capital em inglês para estudar a obra insigne de Marx e também, aprofundar no domínio desse idioma. Não era um militante clandestino do Partido Comunista como Nixon, que com o seu olhar pícaro e esquadrinhador, pensou. Sim, posso assegurar, e descobri-o na Universidade, que fui primeiro comunista utópico e depois um socialista radical em virtude das minhas próprias análises e estudos, e disposto a lutar com estratégia e táctica adequadas.

O único que me preocupava, da minha conversa com Nixon, era a repugnância ao explicar com franqueza o meu pensamento a um vice-presidente, e possível futuro Presidente dos Estados Unidos, especialistas em concepções económicas e métodos imperiais de governo, nos quais havia tempo em que eu não acreditava.

Qual a essência daquela reunião que durou horas segundo conta o autor do memorando revelado e que faz referência a ela? Apenas tenho a lembrança do acontecido. Desse memorando seleccionei os parágrafos que segundo a minha opinião explicam melhor as ideias de Nixon.

"Castro estava particularmente preocupado se tinha irritado o senador Smathers pelos comentários que fez sobre ele. No começo da conversa garanti-lhe que ‘Meet the Press’ era um dos programas mais difíceis no qual um funcionário público podia participar e que ele o fez extremamente bem — tendo em conta nomeadamente o facto de que teve a coragem de falar inglês sem utilizar um tradutor."

"Também era evidente que no concernente à sua visita aos Estados Unidos, o seu interesse fundamental ‘não era conseguir uma mudança na quota açucareira nem obter um empréstimo do governo, mas sim ganhar o apoio da opinião pública estadunidense para a sua política’.

"Foi a sua quase subordinação escrava à opinião maioritária prevalecente — isto é, a voz da plebe — mais do que a sua ingénua atitude para com o comunismo e a sua óbvia falta de compreensão dos mais elementares princípios económicos, o que mais me preocupou ao avaliar que classe de líder seria no futuro. Essa é a razão pela qual passei todo o tempo que pude tentando insistir em que se bem ele tinha o grande dom da liderança, a responsabilidade do líder era não acompanhar sempre a opinião pública, e sim ajudar a encaminhá-la pela via correcta, não dar ao povo o que acha que quer num momento de tensão emocional, porém lograr que o povo queira o que deve ter."

"Quando me correspondeu falar, tentei insistir no fato de que embora nós acreditássemos no governo da maioria, inclusive que a maioria pode ser tirânica e que há certos direitos individuais que a maioria jamais deveria ter o poder de destruir.

"Francamente acho que não causei muito efeito nele, mas escutou-me e parecia receptivo. Tentei colocar-lhe a ideia basicamente em termos de como o seu lugar na história estaria determinado pela valentia e pela habilidade de estadista que demonstrasse nestes momentos. Insisti em que o mais fácil seria acompanhar a plebe, mas fazer o correcto finalmente seria melhor para o povo e, logicamente, melhor para ele também. Como já disse, foi incrivelmente ingénuo em relação à ameaça comunista e parecia não ter medo de que os comunistas finalmente pudessem obter o poder em Cuba."

"Nas nossas conversas sobre o comunismo, tentei novamente expor-lhe os argumentos à luz de seu próprio interesse e assinalar que a revolução que ele tinha dirigido, poderia tornar-se sua contra o povo cubano a não ser que mantivesse controlada a situação e estivesse certo de que os comunistas não alcançariam as posições de poder e influência. A respeito disso, acho que não adiantei muito."

"Insisti o máximo possível na necessidade de que delegasse responsabilidades, contudo, mais uma vez acho que não consegui que me entendesse.”

"Era evidente que enquanto falava de questões como a liberdade de palavra, de imprensa e de religião, a sua preocupação fundamental era desenvolver programas para o progresso económico. Repetiu mais de uma vez que um homem que trabalhava nos canaviais apenas três meses e passava fome no resto do ano, queria um trabalho, qualquer coisa para comer, uma casa e algo de roupa."

"Salientou que era uma grande tolice que os Estados Unidos entregassem armas a Cuba ou a qualquer outro país do Caribe. Acrescentou: ‘todo o mundo sabe que os nossos países não vão poder participar na defesa deste hemisfério se estala uma guerra mundial. As armas que obtêm os governos neste hemisfério apenas são utilizadas para reprimir o povo, mesmo como fez Batista para tentar acabar com a Revolução. Seria ainda melhor que o dinheiro que vocês entregam aos países da América Latina para armas fosse destinado a investimentos de capital.’ Devo reconhecer que nos seus argumentos apenas encontrei motivos para discordar.

"Tivemos uma longa conversa sobre as vias que Cuba poderia utilizar para obter o capital de investimento necessário para o seu desenvolvimento económico. Insistiu em que aquilo que essencialmente Cuba necessitava e ele queria, não era capital privado, e sim o capital do governo."

Eu referia-me ao capital do governo de Cuba.

O próprio Nixon reconhece que jamais solicitei recursos ao governo dos Estados Unidos. Ele ficou um pouco atrapalhado e assevera:

"... que o capital do governo estava limitado devido às muitas exigências e aos problemas orçamentais com os quais nos estávamos deparando."

Fica evidenciado que consegui explicar-lhe porque logo assinala no seu memorando:

"... que todos os países da América e do mundo pugnavam por ter capital e que o dinheiro não iria parar a um país sobre o qual existissem consideráveis dúvidas de que nele se aplicariam políticas discriminatórias às empresas privadas."

“Acho que, mais outra vez, neste ponto, não adiantei nada”

"Tentei com muito cuidado sugerir a Castro que Muñoz Marin tinha feito um trabalho destacado em Porto Rico no que se referia à atracção do capital privado e de uma maneira geral, no aumento do nível de vida do seu povo, e que Castro muito bem podia enviar a Porto Rico um dos seus principais assessores económicos para ter uma conversa com Muñoz Marin. Esta sugestão não o entusiasmou muito e expressou que o povo cubano era ‘muito nacionalista’ e suspeitaria de qualquer programa iniciado num país considerado ‘colónia’ dos Estados Unidos."

"Considero que a verdadeira razão da sua atitude é simplesmente que não concordava com a firme posição de Muñoz como advogado defensor da empresa privada e não queria conselhos que pudessem desviá-lo do seu objectivo de encaminhar Cuba para uma economia socialista."

"Nos Estados Unidos não se deveria falar tanto sobre os temores do que poderiam fazer os comunistas em Cuba ou nalgum outro país da América Latina, da Ásia ou da África."

"Também tentei colocar no contexto a nossa atitude para com o comunismo ao expressar que o comunismo era algo mais do que um simples conceito e que os seus agentes eram perigosamente eficazes para tomar o poder e estabelecer ditaduras."

"É bom salientar que não fez nenhuma pergunta relacionada com a quota açucareira e nem sequer mencionou especificamente a ajuda económica."

"A minha opinião dele como homem, é de alguma maneira ambivalente. Do que podemos estar certos é de que possui essas qualidades indefiníveis que o convertem num líder de homens.
Apesar do que pensemos a respeito dele, vai ser um grande factor no desenvolvimento de Cuba e quase certo nos assuntos da América Latina em geral. "Parece sincero, mas ou é incrivelmente ingénuo a respeito do comunismo ou está sob a tutela comunista."

"Agora bem, como tem o dom da liderança, ao qual me referi, o único que poderíamos fazer é, pelo menos, tentar orientá-lo pelo caminho correcto."

Desta maneira finaliza o seu memorando confidencial enviado à Casa Branca.

Quando Nixon começava a falar, não havia quem o interrompesse. Tinha o costume de fazer sermões aos presidentes latino-americanos. Não levava anotações daquilo que pensava dizer, também não tomava nota do que dizia. Respondia a perguntas que não lhe eram feitas. Incluía temas a partir só das opiniões que tinha a respeito do seu interlocutor. Nenhum aluno do ensino primário espera receber tantas aulas juntas sobre democracia, anticomunismo e outras matérias na arte de governar. Era fã do capitalismo desenvolvido e do seu domínio do mundo por direito natural. Idealizava o sistema. Não concebia outra coisa, nem existia a mínima possibilidade de se poder comunicar com ele.

A matança começou com o governo de Eisenhower e Nixon. Não há forma de explicar por que Kissinger exclamou textualmente que "correria o sangue se soubéssemos, por exemplo, que Robert Kennedy, Procurador Geral, dirigiu pessoalmente o assassinato de Fidel Castro". O sangue já tinha sido derramada antes. O que fizeram as outras administrações, salvo raras excepções, foi continuar a mesma política.

Num memorando datado de 11 de Dezembro de 1959, o chefe da Divisão do hemisfério Ocidental da CIA J-C. King disse textualmente: "Analisar minuciosamente a possibilidade de eliminar Fidel Castro [...] Muitas pessoas bem informadas acham que a desaparição de Fidel apressaria grandemente a caída do governo..."

Como foi reconhecido pela CIA e pelo Comitê Senatorial Church em 1975, os planos de assassinato surgiram em 1960, quando o propósito de destruir a Revolução cubana ficou registrado no programa presidencial de Março desse ano. O memorando redigido por J. C. King em 11 de Dezembro de 1959 foi enviado ao Diretor Geral da Agência, Allen Dulles, com uma nota que solicitava expressamente que fossem aprovadas essas e outras medidas. Todas foram aceites e aprovadas com agrado, e de maneira especial a proposta de assassinato, como aparece reflectido na seguinte nota ao documento, assinada por Allen Dulles e datada um dia depois, 12 de Dezembro: "Aprovada a recomendação que aparece no parágrafo 3"

Num projecto de livro com análise detalhada dos documentos revelados, feito por Pedro Alvarez-Tabío, Director do Escritório de Assuntos Históricos do Conselho de Estado, informa-se que "até 1993 os órgãos da Segurança do estado tinham descoberto e neutralizado um total de 627 conspirações contra a vida do Comandante-em-chefe Fidel Castro. Esta cifra inclui tanto os planos que chegaram a alguma fase de execução concreta como aqueles que foram neutralizados numa etapa primária, bem como outras tentativas que por diferentes vias e razões foram reveladas publicamente nos próprios Estados Unidos. Não inclui uma quantidade de casos que não puderam ser verificados por apenas dispor da informação testemunhal de alguns dos participantes, nem logicamente, os planos posteriores a 1993."

Anteriormente pudemos conhecer, através do relatório do coronel Jack Hawkins, chefe paramilitar da CIA durante os preparativos da invasão pela Baia dos Porcos, que "o Estado Maior paramilitar estudou a possibilidade de organizar um grupo de assalto de maior envergadura que a pequena força de contingência planeada anteriormente."

"Pensou-se que esta força desembarcaria em Cuba depois de realizada uma efectiva actividade de resistência, incluindo forças de guerrilhas activas. É bom salientar que durante este período as forças guerrilheiras operavam com sucesso no Escambray. Pensava-se que o desembarque da força de assalto, após uma actividade de resistência generalizada, estimularia um levantamento geral e proliferariam as deserções entre as forças armadas de Castro o que contribuiria consideravelmente para o seu derrube."

"O conceito para o emprego da força num assalto anfíbio/aerotransportado foi tema de análise em reuniões do Grupo Especial durante os meses de Novembro e Dezembro de 1960. Se bem que o grupo não adoptou uma decisão definitiva a respeito do emprego dessa força também não se opôs a que continuassem a desenvolver-se para o seu possível uso. O presidente Eisenhower teve conhecimento dessa ideia no fim de Novembro desse ano através de representantes da CIA. O Presidente manifestou o seu desejo de que continuassem energicamente todas as actividades que já realizavam os departamentos pertinentes."

Que informou Hawkins sobre os resultados do programa de operações encobertas contra Cuba de Setembro de 1960 até Abril de 1961?

O seguinte:

"a. Introdução dos Agentes para-militares.
Setenta agentes paramilitares treinados, incluídos dezanove operadores de rádio, foram introduzidos no país objecto. Dezassete operadores de rádio conseguiram estabelecer circuitos de comunicação com os escritórios centrais da CIA, embora alguns fossem capturados mais tarde ou perdessem os seus equipamentos."

"b. Operações de Fornecimento Aéreo.
Estas operações não tiveram sucesso. Das 27 tentativas apenas quatro alcançaram os resultados desejados. Os pilotos cubanos demonstraram rapidamente que não tinham as capacidades necessárias para este tipo de operação. O Grupo Especial negou a autorização de contratar pilotos estadunidenses para estas missões, embora fosse autorizada a contratação de pilotos para um uso eventual."

"c. Operações de Fornecimento Marítimo.
Estas operações alcançaram um sucesso considerável. As embarcações que prestavam serviço de Miami até Cuba entregaram mais de 40 toneladas de armas, explosivos e equipamentos militares, e infiltraram e desactivaram um grande número de soldados. Algumas das armas entregues foram utilizadas para apetrechar parcialmente 400 guerrilheiros que operaram durante algum tempo considerável no Escambray, na província de Las Villas. A maioria das sabotagens que tiveram lugar em Havana e noutros lugares foram realizadas com materiais fornecidos desta maneira."

"d. Desenvolvimento da Actividade Guerrilheira.
Os agentes infiltrados conseguiram desenvolver uma ampla organização clandestina que se estendia de Havana até ao resto das províncias. Contudo, só no Escambray houve uma actividade guerrilheira verdadeiramente efectiva, onde se estima que de 600 até mil soldados da guerrilha mal equipados, organizados em bandos de 50 até 200 homens, operaram com sucesso durante mais de seis meses. Um coordenador para a acção no Escambray treinado pela CIA entrou em Cuba clandestinamente e pôde chegar até à zona onde se encontrava a guerrilha, mas foi capturado em muito pouco tempo e executado rapidamente. "Outras pequenas unidades guerrilheiras operavam por vezes nas províncias de Pinar del Rio e Oriente, não alcançando resultados significativos. Os agentes reportaram que existiam grande quantidade de homens desarmados em todas as províncias dispostos a participarem da actividade guerrilheira se lhe entregassem armas."

"e. Sabotagem.
(1) De Outubro de 1960 até 15 de Abril de 1961 a actividade de sabotagem comportou-se da seguinte maneira:

"(a) Foram destruídas aproximadamente 300 mil toneladas de cana-de-açúcar em 800 incêndios."

"(b) Foram provocados aproximadamente 150 incêndios, entre outros, contra 42 casas de fumo, duas fábricas de papel, uma refinaria de açúcar, duas leitarias, quatro armazéns e 21 casas de comunistas."

"(c) Realizaram-se por volta de 110 atentados com dinamite contra escritórios do Partido Comunista, à Central Eléctrica de Havana, dois armazéns, à estação ferroviária, à estação rodoviária, aos acampamentos das milícias e aos caminhos de ferro."

"(d) Na província de Havana foram colocadas perto de 200 petardos."

"(e) Fizeram com que descarrilassem seis comboios, foram destruídos uma estação e os cabos de micro-onda e inúmeros transformadores de electricidade."

"(f) Um comando realizou um ataque inesperado desde o mar contra Santiago, que tornou inactiva a refinaria durante quase uma semana."

Até aqui o que conhecemos, graças à informação de Hawkins. Qualquer pessoa pode compreender que duzentas bombas na principal província de um país subdesenvolvido que vivia da monocultura da cana-de-açúcar, trabalho semi-escravo e da quota açucareira, ganha durante quase dois séculos como fornecedor seguro e cujas terras e fábricas de açúcar de maior capacidade de produção eram propriedade de grandes empresas norte-americanas, constituía um brutal acto tirânico contra o povo cubano. Somem-se a isto o resto das acções que realizaram.

Não digo mais nada. Chega por hoje.


Fidel Castro Ruz
7 de Julho de 2007

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