21/09/2008

O IKE FINANCEIRO

As notícias de hoje à tarde são para não perder:

"Bush cancelou todas as actividades. Tinha previsto ir ao Alabama e à Flórida para participar dos actos de arrecadação de fundos eleitorais."

"Na quinta-feira disse que estava preocupado pela situação dos mercados financeiros e da economia estadunidense…"

"Os mercados sofreram uma queda" ― continuam informando os telexes ― "o governo viu-se obrigado a nacionalizar a gigante seguradora American International Group (AIG), e a Reserva Federal, numa ação coordenada com outros bancos centrais, injectou US$180 biliões nos mercados financeiros."

"O presidente garantiu que o seu governo está a tomar providências agressivas e extraordinárias ‘para acalmar os mercados’."

"As autoridades da Ásia procuram frear a queda das suas moedas, bolsas e valores, para evitar que a crise de Wall Street atinja a região."

"O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, responsabilizou hoje a especulação pela crise financeira internacional, e admitiu que está preocupado pelos riscos de uma recessão nos Estados Unidos.

"Também se compadeceu com a situação dos grandes bancos dos Estados Unidos, que no passado criticaram o Brasil e outros países emergentes, e pôs em causa o sistema financeiro internacional.

"Há uma crise nos Estados Unidos, uma crise muito forte, que levou a maior economia do mundo a sobressaltos extraordinários", disse.

"Não quer dizer que não estejamos preocupados. Os Estados Unidos são a maior economia do mundo e o maior importador."

Concluiu as suas palavras afirmando: "Vejo com certa mágoa bancos importantes, muito importantes, que passaram a vida dando conselhos ao Brasil e sobre o que tínhamos que fazer ou não, e que agora estão falidos ou caíram na falência."

Os ventos ciclónicos do Ike financeiro também ameaçam todas as "províncias" do mundo. O prognóstico meteorológico é incerto; há semanas que se vem falando nele, e rajadas de mais de 200 quilômetros por hora fazem-se sentir. Como diz Rubiera, de um nível para o outro, o seu poder destruidor duplica-se.

É bem difícil acompanhar de perto e compreender as cifras fabulosas de dinheiro fresco injectadas na economia mundial. São grandes doses de papel moeda, que conduzem inevitavelmente à perda de valor e de poder aquisitivo.

O aumento dos preços é inevitável nas sociedades consumistas e desastroso para os países emergentes, tal como aponta Lula da Silva. Se o maior importador do mundo deixa de importar, prejudica os outros; se sai a concorrer, prejudica os demais produtores.

Os grandes bancos dos países desenvolvidos imitam e tentam coordenar com os dos Estados Unidos; se os deles vão à falência, os daqueles também, e devoram-se uns aos outros.

Os paraísos fiscais prosperam; os povos sofrem. É por acaso assim que se pode garantir o bem-estar da humanidade?


Fidel Castro Ruz
18 de Setembro de 2008

17/09/2008

SÓCRATES ULTRAPASSA SALAZAR PELA DIREITA

Enquanto Sócrates anda a mostrar escolas pintadas de fresco e devidamente mascaradas para o Carnaval político de que vive o governo socialista, outras há que não podem abrir por falta de pessoal auxiliar. Sem refeitórios, com os recreios esburacados, com falta de equipamentos e, de um modo geral, com falta de segurança, o país que o «engenheiro» pinta na sua propaganda desesperada, anda longe – muito longe – do país real.

Entretanto, e apesar do aparato policial em operações que pouco mais rendem que a detenção de meia dúzia de palermas a conduzir sob o efeito do álcool, e uma ou outra dose de droga ou arma ilegal, os assaltos a bombas de gasolina, a cafés e restaurantes e a bancos são notícias quase diárias.

As fábricas continuam a fechar e a atirar portugueses para o desemprego. Às centenas. A emigração duplicou nos últimos 12 meses, e são aos milhares os portugueses que procuram em Espanha, Inglaterra, Bélgica, Luxemburgo e outros países europeus a côdea que no seu país lhe é negada. Como nos velhos tempos do fascismo. Angola é um novo destino de quem se vê obrigado a fugir deste país em coma, agonizante, sem presente e sem futuro.

Descaradamente, Sócrates e a corte de seguidores que vivem à sua sombra, vão dizendo que o governo sempre vai conseguir criar os tais 150 mil postos de trabalho, não fazendo entrar para estas contas os milhares que anualmente se perdem. Ah! Mas dando provas de uma imaginação sem fronteiras – e sem vergonha – inclui nos empregos criados os milhares conseguidos pelos que fogem de Portugal para ir ganhar a sua vida no estrangeiro. Alguma coisa o «engenheiro» aprendeu na Universidade Independente.

O trabalho precário aumenta assustadoramente, e milhares de trabalhadores, na sua maioria jovens, não conseguem fazer um plano sério para a sua vida, pois o que têm pela frente é um mar de incógnitas e insegurança. Em consequência disto, constituir família ou ter filhos é um acto de perfeita loucura. Por essa razão – e segundo as estatísticas oficiais – os óbitos, em Portugal, são superiores aos nascimentos. O país envelhece, definha-se, afunda-se sem remédio no pantanal das políticas de um governo liderado por um político egocêntrico, deslumbrado consigo próprio, que repete absurdos e incongruentes discursos de sucesso, os quais, no plano das coisas reais, seriam anedóticos se não fossem presságios dos dias negros que ainda nos esperam.

Ultrapassando Salazar pela direita, Sócrates quer impor agora um Código do Trabalho que o velho fascista nunca imaginaria, piorando-o, até, em relação ao que Bagão Félix congeminou. Exemplo disso é a destruição do princípio do tratamento mais favorável, que dispõe que os CCTs e os CITs não podem estabelecer condições mais desfavoráveis do que as estabelecidas por lei. Embora o PS, enquanto esteve na oposição, defendesse este princípio, logo que chegou ao governo esqueceu-se dele.

Outro exemplo: de acordo com o actual Código do Trabalho, a "adaptabilidade" consiste na possibilidade que tem a entidade patronal de obrigar o trabalhador, nos dias em que a empresa tenha mais serviço, a trabalhar mais 2 a 4 horas por dia, para além das 8 horas, sem ter de pagar horas extraordinárias, sendo o trabalhador compensado por horas que faça a menos nos dias em que a empresa tenha menos serviço. Mas esta adaptabilidade só pode ser introduzida por CCT ou com o acordo do trabalhador. O governo de Sócrates pretende alterar esta disposição. De acordo com a proposta, os trabalhadores que não queiram entrar no regime da adaptabilidade poderão ser forçados a aceitá-la.

Não contente, Sócrates e a sua camarilha pretendem criar um novo tipo de contrato que não existe no Código de Bagão Félix: o chamado contrato de trabalho intermitente. De acordo com o art. 159, as entidades patronais poderão impor contratos com a "duração da prestação de trabalho de modo consecutivo ou intercalado", sendo apenas obrigadas a garantir "seis meses de trabalho consecutivos a tempo completo por ano". O trabalhador só tem direito ao salário completo nos meses em que prestar trabalho em tempo completo. Nos restantes meses, terá direito apenas a 20% do salário sem direito a subsídio de desemprego. E o art. 160 dispõe que o subsídios de férias e o de Natal têm um valor inferior ao do salário a tempo completo pois é "a média dos valores de retribuições e compensações auferidas nos últimos 12 meses, ou no período de duração do contrato, se esta for inferior".

Mais: o n.º 1 do art. 207 da proposta dispõe que, por meio de contrato colectivo de trabalho, pode ser instituído um regime de "banco de horas". E o n.º 2 dispõe que este banco de horas é alimentado através do "aumento do período diário de trabalho até 4 horas diárias e pode atingir 60 horas semanais, tendo o acréscimo o limite de 200 horas por ano". Estas horas feitas a mais não são pagas como trabalho extraordinário, mas sim compensadas por horas feitas a menos que poderão ser fixadas pela empresa que escolhe o período que mais lhe interessar.

Não contente, o governo do PS, através do n.º 1 do art. 208 da proposta de lei estabelece que "por instrumento de regulamentação colectiva de trabalho ou acordo entre empregador e trabalhador, o período normal de trabalho diário poderá ser aumentado até 12 horas, para concentrar o trabalho semanal em três ou quatro dias consecutivos, devendo a duração do período normal de trabalho semanal ser respeitado em média de um período de referência até 45 dias". Para o governo mesmo a saúde e a vida familiar do trabalhador pouco contam. Os trabalhadores estão abaixo de ferramentas.

Ao pé disto, a banditagem que anda por aí a praticar assaltos a torto e a direito, chega a parecer um grupo de meninos de coro. Roubar, mas roubar mesmo, espremer os nossos bolsos e carteiras até ao último suspiro, espalhar a fome e o desespero entre as famílias portuguesas, é assim: através duma lei que mais não faz que colocar a vida de cada trabalhador português nas mãos do seu amo: o patrão.

Ah! E não se esqueçam. O capitalismo é muito bom. Vejam só no que está a dar a crise nos EUA, esse exemplo de liberdade, justiça, progresso, oportunidades e sei lá que mais. E já repararam que de entre tantos analistas e comentadores que discorrem sobre essa crise, ninguém pergunta os nomes de quem criou esse enorme buraco? Bem, isso não interessa. Em último caso, foi o Menino Jesus…

Mas já perceberam quem vai pagar a factura, não perceberam? Taxas de juros mais altas, mais casas penhoradas, mais falências, mais desemprego, mais fome, mais e mais miséria.

Afinal, é bem feito. Quando eles pedem o nosso voto, nós damos.


Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 17/09/2008.
(Não deixe de ouvir em 98.7 Mhz e participar pelos telefones 212277046 ou 212277047 todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00).

14/09/2008

SOB O ASSÉDIO DOS FURACÕES

Ainda não nos tínhamos recuperado do impacto emocional e dos prejuízos materiais ocasionados pelo furacão Gustav na Ilha da Juventude e em Pinar del Río, com ventos de força inusitada, quando começaram a chegar notícias da subida do mar ocasionada por Hanna, e ainda pior: o furacão de grande intensidade Ike, virando para o sudoeste, devido à pressão de um forte anticiclone no norte da sua trajetória, vai atravessar mais de mil quilômetros ao longo de todo o território nacional.

Isto significa, finalmente, que todo o país será atingido pelos três furacões, e alguns pontos, duas vezes.

Onde ficará um cacho de bananas, uma fruta ou os vegetais de uma horta intensiva? Onde ficará uma plantação de feijões e de outros grãos? Onde ficará um campo de arroz ou de cana? Onde ficará um aviário, um centro de criação de suínos ou de bovinos? A nação toda agora está no que na guerra é chamado de alarme de combate.

Os problemas expostos na reflexão, em que qualificava Gustav de golpe nuclear, multiplicaram-se. Os princípios que devem guiar a nossa conduta continuam sendo os mesmos, apenas precisamos fazer esforços incomparavelmente maiores.

A Defesa Civil não perdeu um só minuto. Os que ocupam responsabilidades no Partido e no governo, foram mobilizados em toda a parte. Os dirigentes devem exigir disciplina, conter emoções e exercer autoridade. A televisão, a rádio e a imprensa escrita assumem uma grande responsabilidade no exercício da sua tarefa de informarem.

O mundo tem observado com admiração a conduta do nosso povo face aos embates de Gustav. Enquanto os inimigos esfregavam cinicamente as mãos, os amigos, como ficou evidenciado, são muitos e estão decididos a cooperarem com o nosso povo. As sementes de solidariedade espalhadas durante muitos anos frutificam por toda a parte. Aviões russos e de outros países chegaram rapidamente de milhares de quilómetros de distância com produtos, que são avaliados, não pelo seu volume ou pelo seu preço, mas pelo seu significado. Doações de pequenos Estados como Timor-Leste, mensagens de países importantes e amigos como a Rússia, Vietnam, China e outros, expressaram a disposição de cooperar em tudo quanto é possível nos programas de investimentos que devemos implementar de imediato para restabelecer a produção e desenvolvê-la.

A irmã República Bolivariana da Venezuela e o seu presidente, Hugo Chávez, adoptaram medidas que constituem o mais generoso gesto de solidariedade que receberá a nossa pátria.

Acho que, por muito duros que forem os golpes recebidos e por receber, o nosso país tem condições de salvar vidas de cubanos, e as famílias receberão ajuda material e alimentar o tempo necessário, até recuperarmos no mais curto espaço de tempo possível a capacidade de produzir alimentos. Essa ajuda não vai ser igual para todos os municípios, porque os prejuízos não foram iguais em todos eles nem é igual o tempo que cada um precisa para se recuperar.

Neste momento, todos estamos sob o assédio dos furacões. Mais do que nunca antes, impõe-se a racionalidade e a luta contra a delapidação, a vadiagem e a acomodação. É preciso agir com absoluta honestidade, sem demagogia nem concessão alguma à fraqueza e ao oportunismo. Os militantes revolucionários têm que ser exemplo. Devem dar e receber confiança. Dar tudo pelo povo, até a vida se preciso.


Fidel Castro Ruz
7 de Setembro de 2008

10/09/2008

DEIXO A ESCOLHA AO DIABO

No dia 2 de Agosto, centenas de milhares de cidadãos dos EUA manifestaram-se contra a ameaça de agressão ao Irão e contra as guerras em curso no Iraque e no Afeganistão. As manifestações decorreram em Nova York, Cleveland, Detroit, Buffalo e 87 outras cidades dos EUA. A comunicação social portuguesa, sempre atenta a um espirro de Bush, a uma sentença de Condoleezza Rice, ou às campanhas eleitorais norte-americanas, como se de coisa nossa se tratasse, nem um pio soltou sobre o assunto. Calou. Escondeu.

No momento em que o governo da Geórgia lançava o seu ataque à Ossétia do Sul, criando um novo foco de conflito mundial, o padrinho do golpe, George W. Bush, apresentava-se em público completamente embriagado, e isto em plenas Olimpíadas de Pequim. As fotografias publicadas em Gawker.com e difundidas em numerosos sítios da Internet, são reveladoras em si mesmo e dispensam comentários. Os órgãos de comunicação social portugueses, sempre à cata de escândalos e peripécias do género, ignoraram completamente a questão. Calaram. Esconderam.

Manuela Ferreira Leite quebrou um longo silêncio e disse de sua justiça sobre a governação socialista, perante um escasso número de convivas. Jerónimo de Sousa, no comício de encerramento da Festa do Avante também teceu as suas críticas ao governo, fazendo-o perante muitos milhares de visitantes que, durante três dias, participaram no maior evento político e cultural que se realiza no nosso país. No dia seguinte, quem olhasse para as primeiras páginas dos nossos principais jornais diários, não seria por elas que saberia que tinha havido a Festa do Avante, embora soubesse que Ferreira Leite tinha dito algumas coisas. Sabia, isso sim, que algumas avionetas tinham realizado umas acrobacias entre o Porto e Gaia e que, afinal, a fotografia de um tubarão a querer abocanhar um homem pendurado num helicóptero, não passava, afinal, de uma montagem.

O que significa tudo isto? Que, em Portugal, não existe liberdade de imprensa? Que a Censura voltou às redacções? Se não voltou, porque se ignoram factos e acontecimentos que, sejam quais forem os critérios jornalísticos adoptados, não podem, pela sua amplitude e importância nacional e internacional serem, pura e simplesmente ignorados?

Centenas de milhares de norte-americanos a manifestarem-se contra a guerra não é notícia? Mas a algazarra de alguns monges budistas, soprados oportunamente pelos norte-americanos e europeus, a reclamarem a independência do Tibet, nas vésperas dos Jogos de Pequim, já mereceram rios de tinta e milhares de horas de tempo de antena. Porquê?

Fotografias do presidente da maior potência mundial, a cair de bêbado, não merecem primeira página? Mas não é esse o mesmo homem que, se lhe der na veneta, pode mandar bombardear e invadir meio mundo? Ieltsin era um alcoólico. Bush é o quê? E se em vez de Bush, tivesse sido Hugo Chávez ou Evo Morales, teriam os nossos órgãos de comunicação social ignorado o facto? Ou teria havido pano para mangas?

A Festa do Avante não é, objectivamente, em termos políticos, sociais e culturais, um acontecimento maior e mais importante do que as piruetas de umas avionetas? O discurso de Jerónimo de Sousa é menos importante do que o discurso de Manuela Ferreira Leite?

Todas estas perguntas têm uma resposta óbvia: a liberdade de imprensa é uma treta. A censura existe, embora não tenha existência legal. Já não há o lápis azul do censor, mas há a tinta invisível, subentendida, do director ou do chefe de redacção, o «vê lá se sabes o que te convém», e o que te convém é o que convém ao dono do jornal ou do grupo editorial (que por mero acaso está ligado a um grande grupo económico), é o que convém ao governo português e, em última análise, é o que convém ao governo dos EUA.

Todas estas perguntas exigem uma outra, para resumir: vivemos, de facto, em democracia? Se a democracia pressupõe uma informação livre e isenta, então, não vivemos em democracia.

Lembram-se da independência do Kosovo? Era boa, porque no Kosovo, vivia uma maioria de albaneses. E a independência da Ossétia e da Abecássia não são boas, porquê? Os seus residentes não são maioritariamente russos? Então? Porque é que para uns é assim e, para outros, é assado? Por outras palavras: porque é que todos temos de dançar ao som da música que toca um país governado por um bêbado imbecil?

A tanta pergunta só há uma resposta, uma explicação: os meios de comunicação social estão ao serviço do poder económico, e não passam de instrumentos para perpetuar uma situação de submissão de milhões de pessoas aos interesses do grande capital nacional ou multinacional. Sob uma aparente capa de isenção e pluralismo, limitam-se a condicionar ideologicamente as populações, garantindo que, no essencial, nada mude.

O jogo dito «democrático» reduz-se, assim, em quase todo o mundo, à luta entre dois partidos siameses, ambos servidores fiéis do poder económico, ao qual é indiferente que vença um ou outro. Ambos o servem com igual fervor e eficácia. As eleições são uma farsa, especialmente porque se instila nas populações a ideia de que a disputa é entre os «bons» e os «maus», sendo os bons o que defendem as coisas como estão, enquanto os maus são os que defendem a mudança, outras políticas.

E que políticas são essas? São políticas terríveis, populistas, subversivas, insensatas, destabilizadoras da economia, pois visam acabar com a fome e o desemprego, em vez de agravarem uma e outro. Políticas que respeitam os interesses nacionais, em vez de protegerem os interesses privados dos donos dos meios de produção. Políticas que garantem trabalho, saúde, educação e habitação a todos os portugueses, em vez da política baseada na lei da selva e do regateio, vulgarmente chamada «economia de mercado».

Políticas que ponham fim à miséria, à violência, à injustiça, à corrupção e ao festim indecoroso que enche a pança a ministros, deputados, gestores e presidentes de tudo e mais alguma coisa, altos comissários disto e daquilo e do que ainda se há-de inventar para que nenhum focinho fique de fora da gamela enorme que é o Orçamento Geral do Estado. Políticas que toquem nos altos interesses instalados, meus senhores, não são democráticas e, em última análise, quem as defenda ou pratique, bem pode, um dia destes, ir malhar com os ossos à prisão de Guantánamo ou, mais civilizadamente, ao Tribunal Penal Internacional de Haia.

Entretanto, Sócrates, que só podia ser primeiro-ministro em Portugal, em certos países de África ou em certas repúblicas sul-americanas, eriça os pelos da venta sempre que é criticado e, na sua voz da falsete, garante que ninguém governaria melhor do que ele. Porém, os resultados estão à vista.

Baste saber procurar na Internet para ficarmos a saber que Portugal cresceu apenas metade do que a média da Zona Euro, no segundo trimestre de 2008. A economia nacional tem mesmo o quarto crescimento mais fraco de toda a União Europeia. Em consequência, os portugueses estão cada vez mais pobres face aos parceiros europeus.

Portugal está na cauda da Europa em termos de crescimento económico e continua a divergir da média. No segundo trimestre de 2008, o crescimento da economia nacional foi metade da média da Zona Euro e menos de metade da média da União Europeia, comparando os dados com o segundo trimestre de 2007.

Pois… é a crise internacional, dizem os papagaios socialistas e outras aves canoras pagas a peso de ouro para palrar as suas sentenças inapeláveis. Mas que raio de crise internacional é esta, que só lhe dá para malhar no bom e manso povo português?

Democracia, em Portugal? Só se for para o senhor Amorim, para o engenheiro Belmiro, para essa pérola da mais requintada inteligência e singular cultura, de seu nome Jo Berardo, e todo o escol de insignes banqueiros e demais magnatas, incluindo os perfumados funâmbulos dos offshores, que sugam hoje Portugal e os portugueses com tanta furia e tanto descaramento, que nunca tal antes se viu, nem nos velhos tempos de Salazar e Caetano.

E a tal ponto as coisas chegaram, que já há quem diga que Sócrates ficará para a história como o homem que conseguiu transformar Salazar num santo.

Cá para mim – e por enquanto – entre um e outro, deixo a escolha ao diabo. Mas é só para não me chamarem nomes feios…


Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 10/09/2008.
(Não deixe de ouvir em 98.7 Mhz e participar pelos telefones 212277046 ou 212277047 todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00).

04/09/2008

OS “POBRES DE SÓCRATES” E OS GNUS

As minhas primeiras palavras vão ser de agradecimento para os muitos amigos que, em mais uma hora terrível da minha vida, quiseram acompanhar-me e deixar-me uma palavra e um gesto de reconforto. Foram atitudes sentidas de quem, por ser genuinamente solidário e amigo, quis estar comigo e com a minha família sem outro intuito que não fosse o de nos reconfortar e dar ânimo. Para eles, vai o meu comovido obrigado. Alguns deles, sabendo do sucedido pela nossa Rádio Baía (a quem agradeço emocionado), deslocaram-se de bastante longe para nos dar esse abraço sincero – e só não cito aqui os seus nomes porque sei que não esperam (nem querem) qualquer tipo de destaque. Basta que lhes diga – a todos – quão reconhecido estou por essa prova de sincera amizade, e que guardarei no coração cada um deles.

Porém, ao lado dos muitos amigos sinceros, também apareceram alguns hipócritas e oportunistas, as várias espécies de necrófagos e os seus sabujos que, sem o mínimo de pudor ou respeito, vieram aproveitar-se do sofrimento alheio para se mostrar à população e impingirem uma imagem de solidariedade e pesar que estavam bem longe de sentir. Compreende-se: é preciso ganhar votos seja à custa do que for. A esses abutres – e como lhes disse cara-a-cara no próprio momento – apenas posso responder com a minha repulsa e o meu profundo desprezo. E garantir-lhes que não tenho memória curta.

Mas a vida continua – e aquilo que não nos mata acaba por nos fortalecer. Vamos, por isso, retomar as nossas Provocações, tocando dois assuntos que estão na berra – e profundamente interligados: pobreza e insegurança:

Começo pelos chamados «Pobres de Sócrates», assim designados porque as políticas do «engenheiro» remendão que, em nome do Partido Socialista, vai destruindo o país, estão a produzir carenciados a um ritmo alucinante. Um dos indicadores, mostra-nos que os beneficiários do Rendimento Social de Inserção, destinado a quem tem graves carências económicas, aumentaram em mais de 400% em quatro anos. São já 334 mil as pessoas que recebem esta prestação social. Estes números respeitam ao final do primeiro semestre deste ano, e mostram de que forma a pobreza está a aumentar em Portugal. Não é novidade, mas convém não calar o facto, sob pena de sermos cúmplices neste crime.

O número, disponível nas estatísticas do site do Ministério do Trabalho e Solidariedade Social, ainda não parou de aumentar desde o início de 2008, subindo alguns milhares de mês para mês. No final de 2007, eram 311.731, ou seja, apenas nos primeiros seis meses deste ano, houve um acréscimo de 23 mil pessoas.

Eugénio da Fonseca, presidente da Confederação das Instituições de Solidariedade, afirmou há dias: «Muitos dos nossos pobres trabalham e isso só revela que temos níveis salariais muito baixos, que não são compatíveis com as exigências que a vida coloca, mesmo ao nível das necessidades mais básicas, para subsistir com o mínimo de condições».

De facto, o perfil tradicional dos pobres em Portugal sofreu grandes alterações nos últimos tempos, facto que, por sua vez, a responsável do Banco Alimentar contra a Fome, Isabel Jonet, confirma, baseando-se nos indicadores e nos pedidos que recebe das instituições privadas de solidariedade social e, até, das misericórdias.

«Tradicionalmente, os dois grandes grupos de pobres em Portugal eram os idosos e os desempregados, mas ultimamente, sobretudo de há três anos para cá (exactamente o período correspondente ao consulado socretino, saliento eu), sabemos que surgiu um novo grupo a que chamamos os novos pobres». Segundo Isabel Jonet, estes «novos pobres» são pessoas que «têm um emprego, até têm salário fixo ao final do mês, mas cujo rendimento não chega para cobrir as despesas e, muitas das vezes, até procuram um segundo emprego, não declarado, e que mesmo assim não conseguem fazer face ao custo de vida».

«São pessoas que se não se atrasavam a pagar as suas despesas fixas, como as mensalidades da casa, água, luz, gás, electricidade ou, até, as creches dos filhos e que agora se atrasam sistematicamente, porque o dinheiro não lhes chega», refere.

Nesta categoria de «novos pobres» (os «Pobres de Sócrates», portanto), Isabel Jonet inclui ainda casos de «trabalhadores a recibos verdes, outros trabalhadores afectados pela precariedade do emprego, pessoas que contraíram créditos bancários sem capacidade para os saldar, crianças, jovens, que são outra camada muito vulnerável da população, e muitos realojados que também não têm condições mínimas de vida».

O risco de fome em Portugal, face à crise alimentar mundial, também foi a base de um alerta da Comissão Permanente da Cáritas Portuguesa, ao mesmo tempo que defendeu a necessidade de o Governo preparar programas de apoio a carenciados.

O que diz o Governo a tudo isto? Que a economia está a reagir muito bem, que o défice está sob controlo, que o desemprego está a diminuir, que as políticas do governo estão a ter um grande sucesso. Fome em Portugal? Nada que a caridadezinha não resolva.

Aqui chegados, reparamos, também, que o país está a caminho de se transformar numa enorme favela, onde miséria e violência dão as mãos numa dança macabra. É claro que nem todos os pobres se transformam em criminosos, mas também é verdade que a deterioração do clima social e a bagunça em que se transformou a nossa vida política – ou, melhor dizendo: o sistema político – dando cada vez mais aos ricos e tirando cada vez mais aos pobres, muito contribui para a lei da selva que parece estar a instalar-se a grande velocidade.

A recente revisão do Código de Processo Penal, extremamente benevolente e, até, encorajadora para os criminosos, que nunca sentiram as costas tão quentes, está a dar os seus envenenados frutos. Matar para roubar ou para ajustar contas, já é coisa do quotidiano. Só num dia – e só na região da grande Lisboa – foram assaltados três bancos, duas bombas de gasolina e uma farmácia. O “carjacking” já é uma coisa banal. A profissão de ourives é, agora, uma profissão de alto risco – e longe vão os tempos em que andavam com a malinha com o ouro, percorrendo vilas e aldeias, em cima de uma vulgar bicicleta, anunciando o seu mister de comprar e vender o precioso metal.

Criminosos apanhados em assaltos com armas de fogo, em Leiria, são, por força do malfadado Código de Processo Penal socialista, libertados pelo Juiz com termo de identidade e residência, para serem apanhados, logo no dia seguinte, a assaltar uma estação de serviço em Setúbal. Um gatunozeco fugido à justiça, que já ensinava ao filho, de treze anos, como ganhar a vida no gamanço, é constituído arguido e sai com a medida de coação mais leve, enquanto o guarda que, ao tentar deter os criminosos, abriu fogo e alvejou mortalmente o menor, é também constituído arguido e aplica-se igual medida de coação.

Idosos são espancados até à morte, para lhes roubarem meia dúzia de euros.

Bandos de vadios assaltam passageiros em comboios e autocarros. Há restaurantes saqueados em plena hora de almoço. Carrinhas de valores são interceptadas e abertas à força de explosivos. Assaltos a bancos e estações de serviço, a residências e a cidadãos em plena via pública, são coisas que já quase não merecem tempo de antena. Na verdade, já ninguém se espanta quando ouve dizer que a papelaria da esquina ou o café do largo foram assaltados em plena luz do dia.

Face a isto, os responsáveis governamentais dizem que Portugal ainda é um país seguro, que lá fora é que é um caso sério, que este é o preço a pagar pela liberdade, e outras baboseiras e idiotices.

A verdade, porém, é esta. Hoje, em Portugal, seja pelas políticas sociais e laborais do Partido Socialista, seja pela sua criminosa visão das questões da Justiça e da segurança, a vida dos portugueses não vale um chavo.

Por isso, meus amigos, dou razão a um colega meu que, há dias, me dizia. «Até uma manada de gnus, aqueles mamíferos estranhos e aparentemente estúpidos que vagueiam pelas savanas africanas, tem mais consciência da sua força e dos seus interesses do que nós, portugueses. Nós, nem de manada temos o sentido. Se queres que te diga o que somos, olha: SOMOS PASTO!».

Tem toda a razão o meu colega. Somos pasto. Isto é: comem-nos e ainda nos defecam em cima.


Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 04/09/2008.
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1997, 2007 © Guia do Seixal

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