27/09/2006

UMA DITADURA CHAMADA DEMOCRACIA

Não sei porquê, na última semana voltou-me à memória, com frequência, esta célebre quadra de António Aleixo:

Uma mosca sem pudor,
pousa com a mesma alegria,
na cabeça dum doutor,
ou em qualquer porcaria…

Mas em vez de ficar aqui à espera de descobrir o porquê da lembrança, vamos ao que importa. Na semana passada, um ilustre ouvinte, com uma veia humorística invulgar, teceu loas sem fim à governação de José Sócrates, levando, na cómica enxurrada laudatória, tudo o que cheirasse a Partido Socialista. Entre muitas e boas, decretou o doutor que a luta de classes não existe, eventualmente porque não há classes, ou, se houver, as mais fracas e exploradas – as classes trabalhadoras – estarão devidamente amansadas e, por conseguinte, sem disposição nem força para a luta.

É claro que as classes sociais – e as lutas que entre si travarão – não existem, ou deixam de existir, porque uns dizem que sim e outros, do alto da sua cátedra, afirmam o contrário. Tal como não foi por Galileu ser obrigado, pela Santíssima Inquisição, a dizer que era o sol que girava a volta da terra, que a realidade se alterou. As coisas são como são, por muito que alguns manhosos, bem instalados na vida, nos queiram impingir o contrário. As classes existem, como o tal doutor implicitamente confirmou, ao declarar que o motorista que conduz suas excelências, por não ter o mesmo estatuto académico e profissional – logo, social – não pode ter, em consequência, os mesmos proveitos remuneratórios.

Na verdade, conheço muitos motoristas (de autocarros dos transportes colectivos de passageiros, de camiões de transportes de mercadorias, de táxis e, até, motoristas da fina flor da casta de velhos e novos ricos que por aí cacarejam), que são mais úteis à sociedade do que as matilhas de doutorzecos dependurados nos estofos do poder económico ou político, onde parasitam os recursos nacionais sem qualquer pudor ou hesitação.

Aliás, qualquer mineiro, qualquer pescador, qualquer agricultor, qualquer operário metalúrgico ou têxtil, qualquer um destes – ou doutros – agentes produtivos tem, para mim, uma utilidade social maior do que a dos perfumados doutores instalados nos incontáveis gabinetes da administração das empresas públicas ou privadas, essa elite obscena que nos leva couro e cabelo, sugando, avidamente, as tetas desta democracia feita à sua medida.

São os boys e as girls, os tios e as tias, os primos e as primas, os filhos e as filhas, as amantes e os gigolos, os favoritos e as favoritas, os cunhados e as cunhadas, enfim, é todo este banquete imundo, esta promiscuidade entre a classe de cima e as subclasses que lhe fazem os recados, instaladas em todos os patamares do aparelho do Estado, onde fervilham senhoritos e senhoritas que de lá só saem para serem ainda melhor gratificados nas empresas privadas que ajudaram a medrar, enquanto decretavam, para a plebe – ou seja, para as classes inferiores, como os «motoristas» – o aperta o cinto habitual.

Disse, às tantas, o doutor, aquilo que eu já ouvia a Salazar e Caetano, e, depois, a Soares, a Cavaco, a Guterres, a Durão, a Santana e, agora, a Sócrates, tal como a toda a sorte de sacripantas que têm segurado as rédeas do poder, ou seja, que os sacrifícios que hoje pedem aos portugueses só terão os seus frutos daqui a muitos anos, isto é, como ele doutoralmente perorou, só terão efeitos para os nossos filhos ou nossos netos.

Pois é: o pior é que já nasceram e morreram muitos filhos e muitos netos desde que esta lengalenga foi inventada, talvez inspirada na frase que o merceeiro afixava à vista de todos, numa das prateleiras atrás do balcão: Hoje não se fia. Só amanhã. É a táctica da cenoura pendurada num pau à frente dos olhos do jumento, que a vai perseguindo sem nunca a alcançar e, assim, puxa a carroça e transporta o dono – e os doutores que o lambem – ao seu destino.

Mas é a essa habilidade que se chama governar. Tal como é a esta ditadura que se chama democracia.

Falando disto a um amigo meu, respondeu-me ele que um dos males do nosso país é não haver uma opinião pública consciente, sólida e activa. Não há movimentos de opinião, nem movimentos cívicos à margem dos partidos, Só há, em suma, carneiradas. Em consequência – dizia ele – o país está dividido em rebanhos, e cada rebanho bale conforme o seu pastor. Há o rebanho da Serra da Estrela, há o rebanho da Serra de Aire, há o rebanho da Serra de Ossa, e não passamos disto. As fidelidades partidárias acabam por ser um cheque em branco para a imposição de políticas que, invariavelmente, favorecem meia dúzia de pessoas em prejuízo do resto.

E é precisamente por isto – e aproveitando uma enorme maré de conformismo e descrença – que os «doutores» deste país, reunidos em conclave no Beato (bem se poderia chamar-lhes o Bando do Beato), decidiram que era oportuno apanhar a embalagem de Sócrates para pedir ainda mais sangue, mais carniça fresca. Garantem que a carnificina que está em curso ainda não chega. Querem tudo, querem o resto. «As reformas realizadas são insuficientes. É necessário ir mais fundo», exigem, agora que tomaram o freio nos dentes e têm um primeiro-ministro «à maneira», que gosta de se pôr a jeito para satisfazer os desejos dos homens do dinheiro.

E eles nem querem muito! Querem, «só», pagar ainda menos impostos. Querem, «só», deitar as mãos à segurança social e serem eles a arrecadar os descontos e, depois, a pagarem-nos as pensões que o resultado da «capitalização» e, principalmente, da especulação bolsita, permitissem, depois de descontados os lucros que entendessem retirar para si. Querem «só», mão-de-obra barata e flexível, e que a possam despedir a qualquer momento. Querem, «só», arrebanhar tudo o que é serviço público, seja na área da saúde, seja na educação, seja na captação e distribuição da água e, depois, no tratamento das águas residuais. Eles querem – quando isso for possível – ser donos do ar, para depois no-lo cobrarem ao metro cúbico. Eles querem fazer de tudo – mas de tudo – um enorme e proveitoso negócio, para lhes encher a burra e a arca, competindo-nos a nós, aos «motoristas», aos «burros de carga» carregar com eles e receber o que suas excelências pagarem, isto se quiserem pagar, claro está. Eles querem, resumindo, ser os nossos donos, os seres omnipotentes a quem serviremos sem hesitações e sem levantar os olhos.

Os senhores doutores só falam do Eurostat, do FMI, da OCDE para dizerem o que lhes convém, mas passam, ligeiros, ao lado do facto de sermos cada vez mais últimos em tudo e de, todos os anos, ficarmos mais distantes do penúltimo. Eles sabem, coitados, conforme um seu exemplar nos informou a semana passada, que só temos bons ministros, incluindo, aí, a senhora ministra da edução. Mas, como não se pode saber tudo, não foi dito que Portugal é um poço de poucos e nada bons alunos. Que o ensino, em Portugal, que tem sido da responsabilidade, à vez, do PS e do PSD, provoca a «incapacidade dos jovens em transitarem do sistema educativo para o mundo do trabalho».

E não sou eu que o digo: o diagnóstico foi feito pelos economistas do Banco Europeu de Investimentos, Luísa Ferreira e Pedro Lima, que usam os indicadores da OCDE e desmontam argumentos desculpabilizantes do estado a que chegou o ensino.

A verdade, dizem aqueles economistas, é que Portugal está na cauda da OCDE. O número de estudantes de todos os níveis situa-se «claramente abaixo» dos países desenvolvidos. Só 35% dos adultos que beneficiaram do investimento na educação nas últimas décadas (hoje têm entre 25 e 34 anos) acabaram o secundário, remetendo-nos para o 3.º pior lugar, quando em mais de metade da OCDE o secundário foi atingido por 80%.

Para quem defendeu que o melhor do 25 de Abril foi o 25 de Novembro, deve custar um bocado engolir coisas destas: «o mais assustador», diz-se no estudo, «é que o número não baixou nos últimos dez anos, já que cerca de metade dos jovens entre os 18 e os 24 anos continua a virar costas à escola. Há cinco anos, um quarto dos nossos jovens não tinha sequer concluído o 9.º ano. Os níveis de participação no secundário e universitário estão, portanto, «claramente abaixo de valores óptimos».

Também «a qualidade não é melhor», dizem os autores do estudo, dado o «desempenho modesto dos alunos portugueses, sempre abaixo da média global». Baseados em testes internacionais, os autores sublinham que o nosso sistema educativo «parece incapaz de produzir um produto cuja qualidade média consiga competir».

Mas os doutores (alguns doutores) só sabem o que lhes convém. Nasceram para «puxa-saco», como dizem os brasileiros, mas suaves do que nós, que abrutalhados, usamos o vulgar «engraxador» ou, ainda pior: o «lambe-botas».

Não sabem que, em Oliveira de Azeméis, os pais fecharam 10 escolas, porque não tinham condições para funcionar. Que há milhares de refeitórios escolares que ainda não abriram. Que foram transferidos alunos para escolas muito piores do que aquelas que encerraram. Não sabem que, enfim, a vida está pior para 9 milhões de portugueses, mas está melhor, muito melhor, para os senhores doutores, com todas as suas incontáveis mordomias.

Não sabem – ou fingem que não sabem – que a uma democracia assim se pode chamar, com todo o rigor, ditadura disfarçada. Ou, se quisermos, de feudalismo financeiro, onde a casta dominante vive do sangue, do suor e das lágrimas dos dominados, e ainda por cima, goza com eles.

O que vale, meus amigos, é que as moscas não distinguem entre as carecas destes doutores e a estrumeira que por aí vai alastrando, alastrando, alastrando…

E veremos, um dia, como há motoristas que darão excelentes ministros, e doutores que, apesar de quererem ser ministros, nem para motoristas servirão.


Crónica de: João Carlos Pereira
Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 27/09/2006.
(Não deixe de ouvir e participar todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00, em 98.7 Mhz)

24/09/2006

ESTA SEMANA

O DIABO
O Presidente da Venezuela, Hugo Chávez, afirmou perante a Assembleia Geral das Nações Unidas, que na véspera ali tinha estado naquela mesma tribuna o Diabo, referindo-se a Bush, e que este, julgando-se o dono do mundo, debitou as suas receitas para tratar de manter o actual esquema de dominação, exploração e saque de todos os povos.

O Estadista venezuelano comparou o discurso do mandatário estadonidense com uma produção de Hollywood, ao qual se poderia adaptar bem um guião para um filme com o título de “As Receitas do Diabo”.

Entretanto o Diabo protestou, por considerar que Bush é igual a Bush e que não admite ser confundido com ele, porque não é alcoólico e acima de tudo preserva a ética e o respeito por Deus, seu directo opositor.

Nunca se imaginaria que o Diabo ficasse tão ofendido, ao ponto de querer processar judicialmente Hugo Chávez por este ter posto em causa o seu prestígio e “bom-nome”.

Em conferência de imprensa, disse o Diabo:

- Sou realmente mau, alimento as labaredas do inferno através da co-incineração, procuro transviar as almas, mas esse tal Bush é muito pior do que eu.

- Por favor, digam lá ao Chávez que não volte a ofender-me porque eu não quero dominar sozinho o mundo (Deus também tem alguns direitos), não ando a fomentar a guerra nem o terrorismo, não quero destruir países, não prendo nem mato inocentes só porque não concordam comigo, nem me interessam os negócios da droga, do armamento ou o petróleo.

- Pelo que observo, esse Bush quando chegar cá acima ao inferno vai considerar isto um paraíso, comparado com o que ele fez no Afeganistão, no Iraque e no Líbano.

Um dos jornalistas presentes na conferência, solicitou-lhe a confirmação ou negação da existência de um abaixo-assinado dos actuais ocupantes do inferno para que fosse impedida a entrada de Bush nos seus domínios, ao que o Demo respondeu:

- É verdade e isso está a criar-me sérios problemas. Em primeiro lugar, tenho a certeza que se ele entrar cá, eu não serei reeleito. Depois, perverso como é, ao conquistar o poder do inferno, quererá ocupar e dominar também o paraíso. Por estes motivos, está já marcada uma cimeira bilateral ao mais alto nível, onde estarei eu e Deus para decidirmos quais as medidas urgentes a adoptar em defesa das nossas seculares posições, que sempre foram respeitadas por ambas as partes, estando consignado que os bons vão para o Paraíso e os maus para o Inferno. Ora com Bush, devido à sua pouca ou nenhuma inteligência, depois de ele chegar cá acima, nada ficará como antes.

Um outro jornalista ainda questionou sobre a hipótese de no caso de Bush se fazer acompanhar pelos que lhe estão mais próximos, quais as posições que iriam ocupar no Paraíso ou no Inferno.

A resposta veio pronta e mais uma vez directa:

- Os nossos serviços de informações já fizeram algumas escutas e concluíram que ele pretende trazer consigo numa primeira fase alguns elementos da CIA, a Rice e o Sócrates.

Ouviu-se então um pequeno “sururu” em toda a sala, pois ninguém entendeu aquela de ele levar o Sócrates.

O Diabo explicou:

- A CIA ocupar-se-á de prender os indesejáveis e como Guantamo já não tem capacidade para receber mais presos políticos, os mesmos serão distribuídos pelas outras prisões secretas espalhadas pelo mundo ou então, podem mesmo ser deixados em Nova Orleães, à espera que haja uma nova catástrofe que os faça desaparecer para sempre de circulação. A Rice tomará o lugar do S. Pedro e o Sócrates será o Secretário-Geral para todos os assuntos, na medida em que ele tem acumulado uma grande experiência à frente dos destinos de Portugal, pois se aquilo não era um Paraíso, agora parece-se mais com o Inferno.

Disse um dos jornalistas:

- Mas o Sócrates ainda é novo e diz-se socialista.

Respondeu o Diabo:

- Isso é verdade, mas se repararem bem, vejam as políticas que ele tem adoptado para os seus concidadãos, com a diminuição constante dos salários reais, o aumento dos impostos, a diminuição ou ausência de cuidados de saúde, a educação cara, o custo de vida pelo hora da morte, as pensões de miséria, a justiça num caos, o desemprego a aumentar, a falta de habitação social, os transportes caros, etc.

Disse ainda:
- A vinda de Sócrates assegurará também o equilíbrio das finanças, já que está prevista a cobrança de uma taxa moderadora de entrada cá em cima, pois se eles morrem excessivamente lá em baixo por falta de assistência, por falta de medicamentos, por falta de uma alimentação mínima e por falta de muitas outras coisas, introduz-se uma taxa para refrear um pouco as mortes e assim possibilitar um acesso mais restrito.

- Então e não há nada a fazer ? Perguntou um dos presentes.

- Há. Disse o Diabo.

- Há ainda a possibilidade de eu falar com o Sócrates e fazer um pacto com ele, pois se comungamos das mesmas ideias, ele não necessita de se juntar ao Bush para me derrubar.


CATEDRAIS
Alegrem-se os amantes dos “xopingues”, pois vão passar a ter até 2008 mais 33 catedrais do consumo em Portugal. Uma delas localizar-se-á em Viseu e será a segunda maior da Península Ibérica.
Neste sector, somos orgulhosamente um dos primeiros da Europa, já que a média situa-se em 182 m2 de área por cada 1.000 habitantes e nós já ultrapassámos os 195 m2 e vamos continuar a crescer.
Quando o engenheiro José Sócrates e seus acólitos falavam (porque já não falam) dos grandes investimentos que aí viriam, com o consequente aumento da oferta de emprego, deveriam referir-se a isto, porque não se vislumbra nada mais, antes pelo contrário.


MENTIRAS
Na Hungria não têm parado as manifestações de contestação ao Primeiro-Ministro, exigindo a sua demissão, depois de serem conhecidas as conversas telefónicas em que este teria dito que mentia para ganhar as eleições.
Em Portugal, nem sequer é preciso conhecer as conversas telefónicas do Sócrates, já que está mais que comprovado na prática o chorrilho de mentiras que ele proferiu durante a campanha, levando muita gente a considerá-lo socialista e democrata.
Ou alguém ainda tem dúvidas ?


MILITARES
Vi um destes dias na RTP 1 uma reportagem sobre os militares mortos nas ex- colónias e que na devida altura não foram transladados os seus corpos para Portugal, pois na década de 60 as famílias tinham de pagar 11 contos de transporte ao Estado, para que este, responsável pela mobilização, lhes entregassem os restos mortais dos seus entes queridos.
Os túmulos estão ao abandono e nem sequer existe qualquer documento que possa identificar convenientemente as sepulturas espalhadas pelos mais variados locais.
Presidentes da República, Primeiros-Ministros, Ministros e altas patentes Militares têm ido por varias vezes a essas regiões desde há mais de 30 anos e nada fizeram.
Os outros Países (dignos desse nome) têm cemitérios próprios em varias partes do mundo, mas Portugal abandonou completamente aqueles que morreram pelo simples facto de terem sido obrigados a irem para uma guerra que nada lhes dizia.
O mais chocante é ouvir os depoimentos dessas pessoas humildes para quem 11 contos na década de 60 seria uma fortuna, continuarem à espera que o Estado repare essa injustiça e possam finalmente fazer um funeral com a dignidade que eles merecem.

20/09/2006

PARABÉNS A VOCÊS!

Realizou-se, no passado fim-de-semana, em Havana a XIV Cimeira dos Países «Não-Alinhados». Mas não será disso que vou falar. E se aqui faço esta chamada, é porque tenho três pequenas notas a salientar:

Em primeiro lugar, aconselhar os meus ouvintes – os que disponham de Internet, claro - a consultarem o site www.seixal.com, na rubrica crónicas, onde poderão ter acesso a um interessante texto de Cunha Vieira sobre a origem e objectivos deste Movimento, criado em 1961. Vale a pena.

Em segundo lugar, para realçar algo que lá vem escrito. O Movimento dos Não-Alinhados representa 51% da população mundial, 53% da área marítima, 45% das terras cultiváveis e 86% da extracção petrolífera.

Em terceiro lugar, é que, em conversa com o autor do texto, ele lamentava-se do facto de a nossa comunicação social ter falhado na cobertura do acontecimento. Respondi-lhe que a comunicação social nacional e internacional não falhou. Pelo contrário. Falharia se, contrariando a vontade dos seus donos – o grande capital, os grandes grupos económicos portugueses e transnacionais – se tivesse atrevido a cobrir a Cimeira. Ao escondê-la, ao ignorá-la, não só não falhou, como cumpriu à risca o seu triste ofício de manipular e desinformar. E, por isso, aqui vão os meus parabéns. Quando os crápulas são perfeitos, há que assinalá-lo!

Vamos, agora, aos parabéns ao Governo.

Os primeiros parabéns vão para o ministro da Saúde, que ameaça com a criação de novas taxas moderadoras para sectores que actualmente são gratuitos para os utentes, como o internamento ou a cirurgia de ambulatório. Diz que pode ser aplicada em breve, mas garante que não tem apenas fundamentos económicos. Diz ele que «este tipo de receitas é mínimo» para o Serviço Nacional de Saúde, justificando a criação destas novas taxas com objectivos mais estruturais, como a moderação do acesso e a valorização do serviço prestado. O ministro está consciente do impacto de uma medida destas e afirma-se «preparado» para a celeuma. Conclusão a tirar desta conversa de palha: a sangria continua, até em áreas tão melindrosas e tocando os extractos populacionais mais desfavorecidos.

Também o fim da gratuitidade dos medicamentos para a doença de Parkinson, que afectará quem ganhar um cêntimo acima do salário mínimo, merece que aqui peçamos uma salva de palmas para Correia de Campos e para todo o governo socialista.

Mais parabéns, agora para a ministra da Educação, pelo facto de a maioria das crianças que frequentam o primeiro ciclo do Ensino Básico ainda não terem asseguradas as suas refeições na escola. Sabendo-se que, em muitas zonas do país, a única refeição quente que algumas crianças comem, no dia, é aquela que é servida nas escolas, os parabéns são mais do que merecidos. Mais uma salva de palmas para o PS, governo super, super, super socialista.

Parabéns, ainda – e principalmente – para o ministro das Finanças. A decisão de suspender, até finais do ano, os pagamentos aos empreiteiros que executam obras para o Estado, especialmente os que trabalham para as Estradas de Portugal, é de arromba! Não bastavam já os atrasos constantes nos pagamentos aos empreiteiros (há algumas empresas que têm facturas para receber de Janeiro e Fevereiro) e o Governo socialista vem pôr, agora, a cereja que faltava no bolo da desgovernação.

E se já há empresas que não sabem como vão pagar salários, agora das duas, uma: ou suspendem as obras e dispensam o pessoal, ou vão recorrer a empréstimos bancários para honrar os seus compromissos. E é assim que a banca engorda, engorda, engorda…

Ó sôr ministro das Finanças, faça-nos lá um favorzinho. Nessa lista de caloteiros que mandou publicar na Internet, mande acrescentar este nome: GOVERNO SOCIALISTA, DEVEDOR RELAPSO E SEM VERGONHA.

Para fechar os parabéns governamentais, um para o primeiro-ministro, José Sócrates. Porquê? Pela sua grande capacidade para dinamizar a economia. Para além dos bancos e das sociedades que emprestam dinheiro ao Zé – e que nunca floresceram como agora – chegou a vez das casas de penhores. É que os portugueses voltaram a recorrer ao prego – tal como o faziam nos tempos de Salazar e Caetano – para irem sobrevivendo nesta gruta de vampiros em que se transformou Portugal. As diferenças entre o hoje e o antigamente são cada vez menores. E, nalguns casos, deixam o PS pior no retrato do que ficava a velha e bafienta União Nacional.

Finalmente, os parabéns a Sua Santidade, o Sumo Pontífice.

Parabéns, em primeiro lugar, por, dizendo-se o representante de Cristo na terra, conseguir ser o seu oposto sem que, aparentemente, os católicos dêem por isso. Exagero meu? Não me parece. Cristo nasceu, viveu e morreu pobre. Usava apenas o necessário para a sua missão. Esteve ao lado dos humilhados e ofendidos contra os grandes e poderosos, seus opressores. Pregou a justiça, defendeu a dignidade humana, considerou que era mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha, do que um rico entrar no reino dos céus. Não vivia em palácios dourados, nem se mancomunava com os poderosos de então. Todas as suas atitudes eram coerentes com as ideias – e os ideais – que defendia. E deu a vida por isso.

É claro que Sua Santidade tem o direito de calçar sapatos de pele de crocodilo, paramentar-se de ouro e ser transportado aos ombros de outros homens. Sua Santidade tem o direito de habitar onde habita, rodeado por gente que da fome, da miséria, enfim, de qualquer carência só sabe de ouvir dizer, pois o Vaticano é a antítese da gruta de Belém, da carpintaria de José ou da cruz do Calvário, mesmo sob a forma de metáfora.

Sua Santidade é livre de pregar uma coisa e fazer outra – ou de nada fazer para que se cumpra o que prega – deixando que, assim, os milhões de pobres e espoliados, «fabricados» na mesma «oficina» que Cristo combateu, continuem pobres e espoliados, sem direitos e sem futuro, enquanto que, no Vaticano e Patriarcados, a comida é farta, o vinho é bom, as roupas excelentes e as paredes e os tectos bordados a ouro. A Igreja Católica até é livre de ter um Banco (o Banco do Vaticano) e demais negócios ligados a vários misteres. Só não me parece livre de se dizer cristã.

Por isso, o que sua Santidade e a sua Católica, Apostólica, Romana e beata Igreja não podem – ou não deviam poder – é considerarem-se os representantes de Cristo na terra, e só o fazem com o à-vontade que fazem – para não dizer: descaramento – porque sabem que Cristo não volta cá para os meter na ordem e apresentar a factura por tanta hipocrisia.

Agora, Sua Santidade, cumprindo a sua missão de enfileirar ao lado dos poderosos desta terra, e de lhes fazer o jogo, provocou, sabiamente, o mundo islâmico, deitando sinistras achas para uma fogueira cada vez mais abrasadora.

Sua Santidade deveria saber, melhor do que ninguém, que foi a cristandade que, de cruz na mão esquerda e de espada na direita, saqueou meio mundo, levou ao extermínio civilizações inteiras, arrasou cidades com séculos de história e massacrou as suas populações, com a agravante de o fazer mais pelo ouro e menos pela fé que, diga-se a verdade, é coisa – a fé – que a alta hierarquia religiosa usa muito e bem, mas sente pouco e mal. Fé, têm-na os crentes humildes, e disso se serve a Igreja para os dominar e os deixar na sua funesta espera por uma vida melhor… mas só depois da morte.

Sua Santidade deveria saber que nada houve de mais hediondo, em termos de fanatismo religioso, do que a Santa Inquisição. Tal como deverá saber que, durante séculos, enquanto o mundo islâmico convivia sadia e lucidamente com as ciências e as artes, o Santo Ofício obrigava Galileu Galilei a dizer, para salvar a vida, que, afinal, era o sol que andava à volta da terra, e que esta estava imóvel, como centro do universo, como apregoavam as Sagradas Escrituras.

Ao acusar habilidosa e cobardemente – já que o fez por palavras copiadas – o Islão e o Profeta Maomé de serem veículos de males e desgraças, e que defendem pela espada a sua fé, Sua Santidade alinhou, conscientemente e de forma perversa na Cruzada liderada por George Bush, que, mais uma vez, através do acirrar de ódios religiosos, mais não pretende que deitar mão aos recursos energéticos existentes do Médio Oriente.

Sua Santidade age como se o catolicismo fosse a única, ou a maior – ou a verdadeira – religião. Acontece que nem é a única, nem a maior e, quanto a essa coisa da verdade, Galileu disse tudo, ao demonstrar que os dogmas da Santa Madre Igreja – e pelos quais mataram milhões de seres humanos – não resistem à mais descuidada observação do mundo e da vida.

Que fique claro que, ao afrontar assim as cúpulas da Igreja Católica, bem instalada nas monumentais abóbadas do Vaticano, o luxo em que vivem e o seu afastamento dos que sofrem, não estou a pôr em causa a fé dos católicos, para mim tão respeitável como a fé dos seguidores do Islão, do Budismo ou de qualquer outra religião. A Igreja rendeu-se e aliou-se aos poderosos e, mais do que Judas, traiu Cristo e os seus ensinamentos.

E acabo com um poema de Guerra Junqueiro, que diz, em poucas linhas, tudo o que acabei de dizer:

No meio de uma feira, uns poucos de palhaços
andavam a mostrar, em cima de um jumento,
um aborto infeliz, sem mão, sem pés, sem braços,
aborto que lhes dava um grande rendimento.

Os magros histriões, hipócritas, devassos,
exploravam assim a flor do sentimento.
E o monstro arregalava uns grandes olhos baços,
uns olhos sem calor e sem entendimento.

E toda a gente deu esmola aos tais ciganos.
Deram esmola, até, mendigos quase nus.
E eu, ao ver esse quadro, apóstolos romanos,

eu lembrei-me de vós, funâmbulos da cruz,
que andais no universo há mil e tantos anos
exibindo e explorando o corpo de Jesus.


Crónica de: João Carlos Pereira
Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 20/09/2006.
(Não deixe de ouvir e participar todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00, em 98.7 Mhz)

17/09/2006

ESTA SEMANA

NÃO ALINHADOS
Realizou-se em Havana a XIV Cimeira dos “Não Alinhados” com a presença de 110 Países dos 116 que fazem parte do Movimento criado em 1961, e mais uma vez a comunicação social que existe em Portugal não deu qualquer importância ao acontecimento, o qual representa no seu conjunto, tão só cerca de 51% da população mundial, 53% da área marítima, 45% das terras cultiváveis e 86% da extracção petrolífera.

Para se entender os objectivos e a origem do Movimento dos Não Alinhados, teremos de recuar no tempo, quando se formou e consolidou o campo socialista após o final da II Guerra Mundial, o desmoronamento dos impérios coloniais, o desenvolvimento de um mundo bipolar e a emergência dos blocos militares da NATO e do Pacto de Varsóvia, os quais vieram criar um novo panorama internacional, que propiciou o surgimento de encontros de concertação multilaterais promovidos pelos países do sul.

Neste contexto, os países subdesenvolvidos, na sua maioria da Ásia, e da África, sentiram a necessidade de unir esforços na defesa comum dos seus interesses, na consolidação das suas independências e soberanias e no desenvolvimento cultural e económico dos seus povos, além de expressarem um forte compromisso com a paz, ao declararem-se “não alinhados” a nenhum dos dois blocos militares que então haviam surgido.

Com os objectivos de debater e avançar com uma estratégia concertada, tem lugar a Conferência Afro-Asiática de Bandung, na Indonésia, em Abril de 1955, onde compareceram 29 Chefes de Estado e de Governo da primeira geração pos-colonial de líderes e cuja finalidade expressa foi a de identificar e avaliar os problemas mundiais do momento e delinear políticas comuns para os enfrentar.

Ainda que os líderes asiáticos e africanos reunidos em Bandung pudessem ter tendências políticas e ideológicas diferentes sobre as sociedades que desejavam construir ou reconstruir, existia um projecto comum que os unia e dava sentido a uma concertação mais estreita de posições. O seu programa incluía a descolonização política da Ásia e da África e todos estavam de acordo em que a independência política recém recuperada só era um meio para conseguirem o fim da libertação económica, social e cultural.

A reunião de Bandung foi considerada como o antecedente mais imediato da criação do Movimento de Países Não Alinhados (MNOAL) que surgiu finalmente seis anos depois, com um critério geográfico mais amplo, ao celebrar-se em Belgrado a Primeira Conferência, de 1 a 6 de Setembro de 1961.

Esta primeira cimeira do MNOAL, que foi convocada pelos então líderes da Índia, Indonésia, República Árabe Unida (Egipto e Síria) e Jugoslávia, assistiram os Chefes de Estado e de Governo de 25 Países e delegados observadores de outros 3.

Cuba, onde a Revolução havia triunfado dois anos antes, foi a única nação latino-americana que esteve entre os fundadores do Movimento, consciente da importância histórica que tinha para os países subdesenvolvidos de todas as partes do mundo.

O Movimento desempenhou um importante apoio às nações que então lutavam pela sua independência no terceiro mundo e ofereceu a sua estreita solidariedade às aspirações mais justas da humanidade. Contribuiu de forma inegável para o triunfo da luta pela independência nacional e a descolonização, o que permitiu manter um importante prestígio diplomático.

Ao finalizar da década de 80, o Movimento enfrenta o grande repto que representou o derrube do campo socialista. O fim do enfrentamento entre os dois blocos antagónicos que deram origem ao Movimento e essência, foi visto por alguns como o início do fim do MNOAL. O facto de que a Jugoslávia ocupava a presidência do Movimento nesse período, momento em que se produziu também o desmembramento desse país, conduziu a uma diminuição significativa da actividade de concertação política.

Não obstante e apesar destes reveses, ficou demonstrado que a conjuntura internacional justificava plenamente os mesmos princípios e objectivos dos Não Alinhados, pois algumas das condições iniciais que haviam dado origem ao Movimento se mantinham, para além de outras que surgiram com o final da guerra fria.

O desaparecimento de um dos blocos não eliminou os agudos problemas do mundo, antes pelo contrário, porque outros interesses estratégicos de dominação surgiram, adquirindo novas e mais perigosas dimensões de ataque aos países subdesenvolvidos.

A defesa do multilateralismo, dos princípios que regem o Direito Internacional e as relações entre os Estados, assim como a manutenção da paz e da segurança internacional, constituem só por si razões mais que suficientes para preservar e fortalecer o MNOAL.

Por outro lado, os principais objectivos do Movimento continuam sem se materializar, como a paz, o desenvolvimento, a cooperação económica e a democratização das relações internacionais, são algumas das metas antigas que ainda não foi possível concretizar.

Em resumo, a situação internacional actual é cada vez mais preocupante para os Países Não Alinhados, pois os problemas que os preocupam, em vez de diminuírem, expressam-se cada vez com maior rigor. Se há 45 anos, quando a guerra fria polarizava uma parte considerável da humanidade em dois blocos antagónicos, hoje o processo de globalização neoliberal obriga ao fortalecimento e aos esforços dos países do sul para potenciar a sua união, a sua solidariedade e a sua coesão, com vista a dar respostas conjuntas aos acontecimentos internacionais.

Ao longo de toda a semana e para além dos trabalhos oficiais da Cimeira, tiveram lugar vários encontros bilaterais, destacando-se, por exemplo, o importante acordo para início de conversações para a paz, entre a índia e o Paquistão.

Nos próximos três anos o Movimento será dirigido por Cuba e presidido pelo Comandante Fidel Castro, o qual foi eleito por aclamação.

Por ser demasiado extenso, não reproduzo o documento final aprovado pela Cimeira. No entanto, poderão ter acesso ao mesmo, em espanhol, no endereço:

http://200.55.191.8/documentos_finales/DOCUMENTO%20FINAL%20ESPANOL.doc

13/09/2006

ERA UMA VEZ…

Vários amigos têm insistido comigo no sentido de eu enfileirar entre os que já não duvidam que os atentados de 11 de Setembro foram uma grandiosa produção made in USA.

Segundo opiniões e dados cada vez mais pormenorizados, as Torres Gémeas não ruíram devido ao colapso provocado pelo incêndio que teve origem no choque das aeronaves, mas por processo de implosão previamente preparado. Também o chamado Edifício n.º 7, que não sofreu nenhum embate, haveria de ruir inesperadamente, sendo visíveis, no vídeo que captou o momento da queda, uma série de inexplicáveis explosões, perfeitamente sincronizadas no interior da estrutura.

Dizem-me que, de acordo com uma espantosa reportagem escondida nas madrugadas da RTP e do Canal 2, só fica com dúvidas de que se tratou de uma acção planeada, executada e usada pelos EUA, quem quer. Ou for tolo. Lamento ainda não ter tido acesso a esse trabalho, prometendo que me esforçarei por conseguir vê-lo e, então, formar uma opinião definitiva.

No entanto, há muito que vi – e revi – o vídeo do impacto na ala oeste do Pentágono e aí, caros ouvintes, aquilo que ali embateu não foi, seguramente, um Boeing 747. Nem uma avioneta. Foi, claramente, um míssil. Tratou-se de um projéctil oblongo, voando rasando o solo a uma velocidade incrível. Nenhum avião – e muito menos nenhum Boeing 747 – poderia ter uma trajectória daquelas, perpendicular ao solo, sem que não embatesse, antes disso, noutro qualquer edifício, por menor que ele fosse. Manobra assim, nem o mais experimentado piloto poderia realizar, quanto mais um inexperiente terrorista sujeito a uma enorme pressão.

Aliás, nem o impacto, nem os destroços, nem as imagens que, na altura, foram passadas, são compatíveis com o embate de um aparelho com a dimensão de um 747. Então, porque mentem os responsáveis norte-americanos? E, se mentem aqui, porque não mentirão a propósito do resto?

Quanto ao célebre Voo 93, cuja versão ficcionada está em exibição dos cinemas de todo o mundo, apenas posso discorrer sobre aquilo que vi. E o que vi foi uma cratera pequena demais para poder ter sido feita por outro Boeing 747, mesmo admitindo que ele caiu a pique. Nas imagens de desastres semelhantes ao alegadamente sucedido em 11 de Setembro, na Pensilvânia, vemos sempre destroços espalhados por uma área enorme e, principalmente, restos identificáveis do aparelho destroçado.

Acredito piamente que, no mundo actual e, especialmente, no que aos EUA respeita, tudo é possível. Aliás, nos próprios EUA aumenta o número dos que acreditam em versões diferentes da oficial proclamada pela Casa Branca. Um inquérito de opinião da “Scripps Howard / Ohio University” revela que:

- 36% dos norte-americanos declaram que a administração Bush está implicada, activa ou passivamente, na perpetração dos atentados;

- 16% declaram que a derrocada das Torres Gémeas não foi devido aos aviões que se chocaram, e sim a explosivos;

- 12% declaram que o Pentágono não foi atingido por um avião de carreira e sim por um míssil.

Embora isso seja pouco divulgado em Portugal, a verdade é que tem sido feito um grande trabalho de investigação efectuado por muita gente ao longo destes cinco anos, visando desvendar tudo acerca dos acontecimentos do 11 de Setembro. E aquilo que já se sabe parece ser, para essas pessoas, mais do que o suficiente para demonstrar a enormidade monstruosa das mentiras arquitectadas e executadas pelo governo Bush. A juntar ao que acima referi, um conjunto cada vez maior de especialistas, com trabalhos publicados na Internet, em órgãos independentes da comunicação social e em conferências públicas realizadas por todo o mundo, garante que.

1 - As duas torres vieram abaixo por demolição controlada com explosivos pré-posicionados e não devido a choques de aviões;

2 - Edifícios com estrutura de aço em treliça não podem ruir devido a choques de aviões ou a incêndios;

3 - Nenhum caça da Força Aérea descolou para tentar interceptar os aviões sequestrados;

4 - Elementos ligados à administração Bush, criadores do “Project for a New American Century”, previam que o processo de transformação por eles desejado para dominação do mundo, "provavelmente será longo se faltar um evento catastrófico e catalisador como um novo Pearl Harbour" (in Rebuilding America's defences: strategies, forces and resources for a New American Century, publicado em 2000);

5 - Os aviões não foram desviados e conduzidos por terroristas, mas sujeitos a um sofisticado sistema de controlo remoto, o qual, como confirmou um piloto militar norte-americano, agora na situação de reserva, depois de activado impede qualquer controlo do aparelho pela equipa de pilotagem.

Reconheço que todos estes trabalhos de investigação têm sido sistematicamente silenciados pelos órgãos de comunicação social ditos "de referência" (excepção honrosa foi a edição norueguesa do “Le Monde Diplomatique”, que tem publicado trabalhos notáveis acerca do 11/Set).

Perguntarão alguns ouvintes das razões porque eu, não podendo subscrever todas estas teses – subscrevo, como disse, apenas, algumas – levanto aqui a questão? Faço-o porque, como disse, admito essas possibilidades e, principalmente, porque de tão escondidas pelo poder dominante, sou levado a crer que houve muito ilusionismo no meio disto tudo. Afinal, nem seria a primeira vez que os norte-americanos usavam meios destes para justificar as suas agressões.

No fundo, concluí que o mínimo que posso fazer é colocar isto à discussão de todos nós. Pensando bem, não será muita ingenuidade acreditar na versão oficial de que 19 patuscos, armados com canivetes, poderiam sequestrar vários Boeings, em simultâneo, e comandá-los em manobras difíceis, verdadeiramente acrobáticas?

E ainda mais: para ser verdade o que diz a administração Bush, então no dia 11 de Setembro falhou tudo. Falhou a CIA, falhou o FBI, falhou toda a molhada de serviços secretos, tidos como os melhores do mundo. Mas, meus amigos, aquele não era o dia das bruxas, pois não?!

Pois não, Mas que as há, lá isso há…


Crónica de: João Carlos Pereira
Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 13/09/2006.
(Não deixe de ouvir e participar todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00, em 98.7 Mhz)

10/09/2006

ESTA SEMANA

CUBA
Todos aqueles que já faziam as mais variadas conjecturas sobre o futuro de Cuba devido à intervenção cirúrgica a que o Comandante Fidel Castro foi submetido, devem estar agora muito desiludidos, pois ele encontra-se em franca recuperação e é até possível vir já na próxima semana a receber algumas das personalidades que irão participar em Havana na XIV Cúpula do Movimento dos Não-Alinhados, que conta com 116 Países, estando já confirmada a presença de chefes de estado e de governo de mais de cem deles, para além dos secretários-gerais das Nações Unidas, da Liga Árabe e o Presidente da União Africana.
Mesmo que o Comandante não possa estar fisicamente presente no Palácio de Convenções, ele não deixará certamente de transmitir as suas ideias a esta reunião magna do Movimento que completa já 45 anos de existência, desde a sua criação em 1 de Setembro de 1961 na cidade de Belgrado.
Esta Cimeira de Havana irá contar com mais de 800 jornalistas de todo o mundo que já solicitaram a sua credenciação, esperando-se que possam fazer um trabalho honesto e que transmitam tudo o que aí se passar.
Mais do que nunca, num mundo cada vez mais globalizado e dominado pelas grandes potências militares e económicas, torna-se imperioso que seja estabelecida uma nova ordem internacional e que sejam respeitados os mais elementares direitos de cada país e de cada povo.


BLOCO CENTRAL
Pronto: já temos o bloco central a funcionar com o alto apadrinhamento do senhor Cavaco.
Agora foi o pacto para a Justiça, seguir-se-á o da Segurança Social, depois o da Saúde e logo se vê o que mais se irá concretizar nesta “democracia” representativa em que PS e PSD emprestam as panelas para fazerem os cozinhados que melhor satisfaça as suas requintadas clientelas do restaurante que se chama Portugal.
É claro que nem todos têm acesso ao restaurante, pois ele destina-se apenas a alguns privilegiados, restando para os outros as casas de pasto ou umas tascas manhosas, o que já não é nada mau, para fingir que todos têm os mesmos direitos.
Como a gerência do restaurante é rotativa entre os sócios, há que preservar as ementas e dar boa utilização aos tachos para que não se deteriorem e se possam conservar por muito e muito tempo, garantindo assim o lucro certo a cada um deles.
E se por acaso houver algum desentendimento na sociedade, lá estará vigilante em Belém o provedor da clientela para pôr água na fervura e não deixar entornar o caldo.


PRISÕES
Afinal a legalização do consumo e consequentemente do negócio das drogas nas prisões foi definitivamente aprovado pelo (des) governo socialista do senhor Sócrates, mesmo contra a opinião dos guardas prisionais e dos reclusos que sabem os perigos que passarão a correr com esta “inteligente” medida.
Como se isto não bastasse, será também distribuída lixívia e “kits” de agulhas para a realização de tatuagens e colocação de “piercings”, assim como terão à disposição preservativos e lubrificantes sexuais, não vá algum poderoso do momento bater com os costados numa qualquer prisão deste pobre país. No fundo eles só estão a zelar pela sua futura integridade física, pois aquilo sem lubrificante deve doer muito.
Enquanto isto, o mesmo (des) governo socialista do senhor Sócrates permitiu que mais de 36 mil crianças com idades inferiores a 13 anos frequentassem no anterior ano lectivo as escolas apoiadas pela saúde escolar, sem terem o boletim de vacinas actualizado.
É assim: para haver dinheiro para as drogas, as seringas e os preservativos, não há dinheiro para vacinar as crianças e este (des) governo socialista tem as suas prioridades.


OCDE
Ficámos a saber que os salários dos professores portugueses estão bastante altos e que são os terceiros mais bem pagos, só sendo superados pela Coreia do Sul e pelo México.
Esta conclusão é revelada num estudo da OCDE (Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Económico), tendo como valor de referência o PIB (Produto Interno Bruto) per capita de cada País.
É assim que se manipulam os números e se faz crer junto da opinião pública aquilo que na realidade é muito diferente. E o pior de tudo isto é que uma grande parte da comunicação social dá cobertura a estas mentiras.
Como é fácil de compreender, se o PIB de um país é baixo (como o nosso) logicamente que a diferença é maior em relação a outros. Assim, pela mesma ordem e razão, façam o favor de compararem também os ordenados dos membros do governo, deputados, administradores de empresas públicas, etc.
Que mais inventarão para nos atirarem areia para os olhos ?


SIMPLEX
Que bom. Portugal é dos países mais ágeis a criar empresas. Até tivemos direito a uma distinção qualquer, que ninguém percebeu de onde vinha, mas o que é certo é que somos os mais rápidos a criar empresas. O simplex é assim.
Só é pena que depois de a empresa criada, se tiver negócios com o Estado, tem que pedir à Segurança Social que lhe passe uma declaração a dizer que nada deve e que antes era passada imediatamente e que agora demora pelo menos 10 dias úteis. Pelo menos em Setúbal é assim.
Mas se a empresa for de promoção imobiliária, pode também ter de esperar meses para que um simples projecto de arquitectura de uma moradia em zona urbana e com declaração de viabilidade seja aprovado na respectiva Câmara Municipal, porque os técnicos têm muito que fazer, estão de baixa ou de férias.
E que dizer do simplex do ministro das finanças que ainda não devolveu o dinheiro que tem estado em seu poder correspondente ao IRS do ano passado e que ele descaradamente afirmou já ter sido todo processado ?
Cambada de incompetentes e mentirosos.


TURISMO
Há dias pudemos assistir através da comunicação social ao êxito obtido pela construção de umas piscinas com ondas em Castanheira de Pêra, município situado numa região interior do País, que, com imaginação e sentido prático a autarquia conseguiu proporcionar uma melhor qualidade de vida à população que serve, para além de criar um importante pólo de atracção turística, com a consequente valorização do comércio local.
Em contraste, temos por exemplo a Câmara Municipal do Seixal, que celebrou em Abril de 2003 um protocolo com a Universidade de Aveiro, com vista à elaboração do Plano Estratégico de Desenvolvimento do Turismo no Concelho do Seixal, o qual veio a ser apresentado no dia 14 de Julho de 2005 com a devida pompa e circunstância.
De salientar que este protocolo custou mais de 100.000 euros à Autarquia, ou seja, a todos nós, sem que se veja qualquer utilidade do Plano, ou que alguma das poucas ideias aí contidas tenha tido qualquer exequibilidade até aos nossos dias.
Para quem não conhece, basta ir ao “site” da Câmara em: (www.cm-seixal.pt/cmseixal/turismo) que aí encontrará o documento na íntegra.
Ou seja, não existe uma verdadeira política de turismo para o Concelho, mas encomenda-se e paga-se um estudo, que por muito bem apresentado, nada diz de novo e não tem qualquer utilidade.
Mas mesmo assim e sabendo nós (pelo menos aqueles que se interessam por estas coisas do turismo) que algumas acções já podiam ter sido implementadas, nada foi feito com ou sem Plano.
E não se diga que é por falta de dinheiro, pois isso é uma falsa questão, na medida em que podem ser desenvolvidas algumas iniciativas praticamente sem custos ou de custos tão reduzidos que podem ser perfeitamente cobertos pela iniciativa privada ou por contrapartidas indirectas.
Infelizmente o turismo no Seixal está cada vez mais virado para as catedrais do consumo que, pelos vistos, era o que nos fazia mais falta.

06/09/2006

CO-INCINERAÇÃO E MENTIROLAS

(ou os «negócios da China» do Partido Socialista)

Vou cumprir o prometido há oito dias, na sequência do telefonema de um ouvinte, que parecia acreditar na bondade do Governo quando insiste em queimar nas cimenteiras os Resíduos Industriais Perigosos (RIP) que por aí se produzem. Isto é, vou dedicar esta crónica ao problema da co-incineração, e nela se tentará – e penso que se conseguirá – provar que essa fixação de Sócrates pela queima dos RIP em cimenteiras nada tem a ver com políticas ambientais – e muito menos com uma sã política ambiental.

Mas, antes disso, quero dar os parabéns ao Governo por duas ou três coisitas. Os primeiros parabéns vão para o ministro da Saúde, que mandou fechar a unidade de queimados do Hospital de D. Estefânia. Agora, uma criança que sofreu queimaduras de 3.º grau em 40% do corpo, não pôde ser tratada em Portugal, pois nenhuma unidade de queimados de nenhum hospital deste santo país onde tivemos a dita – ou a desdita – de nascer, tinha meios para tratar devidamente a criança. E lá foi ela para Espanha, ficando por saber quem paga a factura do tratamento e da deslocação da família. Se eu fosse ministro da Saúde, só tinha uma coisa a fazer: pedir desculpa aos portugueses e, naturalmente, demitir-me no mesmo instante. Mas o ministro, como não está lá para resolver os problemas de saúde dos portugueses, mas para pôr os privados a ganhar dinheiro com ela, continua, impávido e sereno, a cumprir a sua lamentável tarefa.

Parabéns, também, para a ministra da Educação, pois a poucos dias do início do ano lectivo, milhares de famílias ainda não sabem em que escolas os seus filhos vão estudar: se na que está sob ameaça de encerramento, se noutra, a vários quilómetros de distância, em muitos casos sem condições para acolher mais alunos, nem para lhes fornecer as indispensáveis refeições. E de transportes escolares nem é bom falarmos.

E parabéns, também, a todo o Governo, por ter deixado passarem por Portugal os tais aviões da CIA com prisioneiros clandestinos a bordo, destinados às câmaras de tortura da prisão de Guantánamo. Afinal, o ex-ministro Freitas sempre sabia de qualquer coisa que, agora, livre das arreatas de Sócrates, lá foi contando à deputada europeia, Ana Gomes.

Aproveito a boleia para dar um saltinho aos EUA e felicitar a administração norte-americana pela morte de cinco crianças num incêndio na casa que habitavam num bairro para pobres dos arredores de Chicago. Como não havia electricidade na casa – por não haver dinheiro para a pagar – usavam-se velas. Deu no que deu. Mas afinal, morreram «só» cinco pobres, dos mais de 30 milhões que, oficialmente, se confessa existir nos EUA. Mas haja dinheiro para a guerra, que é o que é preciso.

Finalmente, um convite: quem quiser ter uma pálida ideia da forma como o estado sionista trata os palestinianos na sua própria terra, consulte o site "www.machsomwatch.org" e diga, depois, o que sentiu. Diga, especialmente, se gostava de ser assim tratado, em Portugal, por uma qualquer potência ocupante.

Mas vamos, então, à co-incineração, e relembrando o que eu disse já aqui em Março deste ano:

«Da acção de Sócrates como ministro do Ambiente do governo de António Guterres, duas coisas ficaram na memória dos portugueses: a primeira, foi a sua total incapacidade para resolver os graves problemas ambientais do país; a segunda, foi uma doentia fixação no processo de co-incineração, que teimava em localizar na Arrábida e em Souzelas. Na altura, um vigoroso movimento de opinião alastrou pelo país e, principalmente nas regiões ameaçadas, contribuiu para pôr a nu os malefícios do processo e, ao mesmo tempo, desmascarar os verdadeiros interesses do Partido Socialista em todo aquele sinistro esquema. Por estas e por outras, Guterres fugiu a sete pés, o PS perdeu as eleições, e pensou-se, então, que a Arrábida estava salva e que o bom-senso se imporia nas decisões que os futuros governantes viessem a tomar.

De facto, Isaltino Morais pôs fim à cabala socialista, e apesar da sua curta passagem pelo governo de Durão Barroso, ainda assim, foram homologados dois Centros Integrados de Recolha e Valorização de Resíduos Industriais Perigosos, o que praticamente dispensava a co-incineração em cimenteiras, ou a incineração dedicada.

Mas, afinal, o que é isso da co-incineração? Incinerar é tratar termicamente os resíduos. No caso da co-incineração de RIP em cimenteiras, o processo consiste em substituir parte do combustível fóssil utilizado nestas unidades industriais, como, p.e., o carvão, por resíduos que têm um poder calorífico significativo. A destruição dos RIP dá-se nos fornos das cimenteiras juntamente com as matérias-primas utilizadas para o fabrico do cimento. Neste processo, os componentes orgânicos dos resíduos são destruídos, mas os metais são incorporados no produto final, ou seja, no cimento.

Contudo, como qualquer outro processo de tratamento térmico de resíduos, comporta riscos, quer para o ambiente, quer para a saúde pública, como a libertação de poluentes atmosféricos, e é aqui que está o “calcanhar de Aquiles” do processo. Por outras palavras: uma parte dos resíduos (a menos perigosa) é eliminada, outra parte vai aparecer misturada com o cimento, e outra parte há que vai passar para a atmosfera, através de partículas de vária natureza, sendo as mais perigosas designadas por dioxinas e furanos, tidas como altamente cancerígenas. Isto é, o processo não é seguro.

E por o não ser, a co-incineração tem vindo a ser gradualmente posta de parte, de tal maneira que, no dia 22 de Maio de 2001 foi aprovada a Convenção de Estocolmo sobre os Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs). Nela, os cerca de 100 países signatários, entre os quais Portugal, reconheceram que os POPs são muito perigosos para a saúde humana e o ambiente, devendo as suas emissões ser reduzidas o mais possível, e tanto quanto possível eliminadas por completo. Ora, a co-incineração de RIP em cimenteiras está explicitamente listada na convenção como uma actividade a ser eliminada o mais depressa possível, conforme se lê no anexo C, Parte II, alínea b) da referida Convenção.

Já nessa altura, caros ouvintes, não se compreendia que o Governo português, tendo subscrito essa convenção, quisesse, ainda assim, prosseguir com a co-incineração em Portugal. Para o fazer, Sócrates repetia, mentindo grosseiramente, que a co-incineração era inócua. Se o era, porque carga de água assinou, então, uma convenção internacional, com mais de 100 países, que diz exactamente o contrário? E o descaramento e espírito manipulador do então ministro do Ambiente – e actual PM – foram tão longe na tentativa de iludir o povo português, que o site do Ministério do Ambiente nunca divulgou a Convenção de Estocolmo nem, como aconteceu nos outros países subscritores, traduziu – e muito menos publicou – o texto saído da Convenção nesse seu site. Democratas…

Para que se veja, ainda, o calibre deste indivíduo a quem os portugueses deram rédea solta para governar o país, lembremo-nos que Sócrates afirmou nessa ocasião, respondendo a uma queixa apresentada em Bruxelas por altura da sua primeira investida com a co-incineração no Parque Natural da Arrábida, que (e cito) «nunca esteve nas intenções do governo a queima de resíduos perigosos no Outão».

Chegou a altura de dizer duas coisas: uma, é que a co-incineração é o «negócio da China» para qualquer cimenteira. Primeiro, porque recebe financiamentos estatais para se dotar com filtros e outros equipamentos que, alegadamente, melhorem o processo de queima; segundo, porque os resíduos que vai utilizar como combustível, permitem-lhe poupar mais de 30% no consumo em energia para funcionamento dos seus fornos; finalmente, porque uma parte dos resíduos vai entrar na composição do cimento, em vez das matérias-primas normalmente utilizadas. Talvez por isso, e tal como foi dito em 2001 – e então largamente divulgado na comunicação social escrita e falada – o PS teria sido altamente beneficiado com generosos donativos financeiros por parte das cimenteiras.

Outra coisa que convém denunciar é a farsa de uma tal Comissão Científica Independente (CCI), nomeada e paga pelo Governo socialista para decidir e acompanhar todo o processo de implantação e funcionamento da co-incineração. Independente, nunca foi, nem seria, caso ainda legalmente existisse, por duas razões principais. Em primeiro lugar, não se tratava de uma comissão de cientistas que procurassem a melhor solução para a queima de RIP, mas uma comissão de pessoas que, à partida, já defendiam a co-incineração – e por isso foram escolhidas e para isso eram pagas. Em segundo lugar, porque essas pessoas seriam pagas – e muito bem pagas, para cima de seiscentos contos mensais – para acompanhar o processo enquanto ele funcionasse, ou seja: sabendo dizer «Sim, senhor ministro», arranjavam um tacho vitalício. Mas que rica independência!

Talvez isso explique porque o relatório da CCI contém erros de tal modo grosseiros, que não se vê outra explicação para eles que não seja a de, a qualquer custo, “levar a carta a Garcia”, ou seja, fazer o frete ao Governo. Por exemplo: para demonstrar que uma cimenteira em regime de co-incineração emite poucas dioxinas, a CCI comparou as emissões de uma cimenteira com as emissões de fogões de sala, concluindo que a co-incineração numa cimenteira corresponde às emissões de dioxinas/furanos de 170 fogões de sala a queimar 4 toneladas de lenha por ano.

Mas como foram feitos os cálculos? A CCI estimou que uma cimenteira emite 0.41g de dioxinas/furanos por ano, dizendo, sem explicar como aí chegou, que, no máximo, 1/3 desse valor corresponde à co-incineração. Seguidamente, estimou as emissões de um fogão de sala, que queima 4 toneladas de madeira por ano (considerado que esta situação é representativa do caso português), citando um relatório dinamarquês que supostamente dizia que cada quilograma de lenha emite 200 nanogramas (ng) de dioxinas/furanos. Porém, quando se verifica o relatório dinamarquês citado, observa-se que o valor 200 ng / kg não aparece em lado nenhum. Apenas aparece o valor 200 ng / tonelada, ou seja, 1.000 vezes menor do que o valor usado pela CCI. Do relatório dinamarquês tira-se também que os 200 ng / tonelada não se referem a fogões de sala ("wood stoves") mas sim a um outro tipo de queima, mais industrial ("wood furnaces"). O valor para fogões de sala aparece numa outra secção do relatório dinamarquês, e é 1.9 ng / kg, ou seja, mais de 100 vezes menor do que o valor que a CCI usou nos seus cálculos.

Ou seja, o relatório mostra que houve um duplo erro por parte da CCI: por um lado, trocou toneladas por quilos. Por outro, utilizou um valor de uma secção de queima industrial, em vez de usar o valor da queima em fogões de sala.

Não há dúvida de que o valor 200 ng/kg usado pela CCI para queima residencial de madeira está errado. A bibliografia científica demonstra-o e a CCI sabia disso, uma vez que viu essa bibliografia. No entanto, a CCI nunca aceitou o erro e, mesmo assim, é neste tipo de argumentação que o governo de Sócrates se baseia para voltar a atentar contra a nossa saúde.

Chegados aqui, alguns ouvintes perguntarão: «Mas para o Governo insistir na co-incineração, não será que ela é a melhor solução para os RIP por aí produzidos e espalhados?». Só há uma resposta: «NÃO! NÃO É». E não é, por razões científicas e económicas internacionalmente aceites e valorizadas.

O que a comunidade científica internacional tem vindo a dizer – e que a Convenção de Estocolmo espelha e a União Europeia acompanha – é a aplicação da chamada regra dos Três Erres: Redução, Reutilização e Reciclagem de RIP.

Aliás, a Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, que se pronunciou sobre a co-incineração, referiu, entre outras coisas, o seguinte:

«Quanto maior a quantidade de resíduos queimados, maior é a exposição humana a produtos tóxicos e, portanto, maior é o risco para a saúde pública. Apesar desta ser uma evidência unanimemente aceite, a CCI não fez recomendações no sentido de reduzir a produção de RIP, e ignorou a existência de experiências concretas em Portugal que demonstram a eficácia desta opção, como é o caso de 14 empresas de Setúbal orientadas por um programa do INETI» pois «a política dos três R deve sempre preceder a aplicação da incineração. Pelo contrário, a CCI insistiu numa atitude favorável à co-incineração dos óleos e solventes, esquecendo totalmente as prioridades da política de resíduos, não tendo sequer visitado a fábrica existente em Pombal para a regeneração de solventes halogenados e não halogenados. Também os óleos podem ser regenerados em Portugal e os resíduos finais inertizados, sem necessidade de incineração, o que a CCI nem sequer refere no relatório».

Mas ainda acrescentaram os Médicos de Saúde Pública:

«A defesa da Saúde Pública passa sempre por princípios, de que recordamos alguns:

Precaução - quando não conhecemos todos os efeitos sobre os humanos de uma determinada medida ou processo (como é caso da co-incineração) é melhor não os pôr em prática. Aliás, isso é prática corrente na UE (e Portugal soube-o quando foi atingido pelo embargo à carne de vaca por não ter totalmente controlada a "doença das vacas loucas"). E é certamente mais fácil controlar as vacas atingidas por BSE, do que os fumos das cimenteiras que não podemos estabular, nem abater.

Biodiversidade - como condição estrita para o normal desenvolvimento da vida e garante do equilíbrio da espécie humana com o ambiente que a rodeia. Defende-se a multiplicidade da vida, em particular as formas unicelulares como a matriz sustentadora da própria vida. Quando falamos de saúde humana, estamos a falar também da saúde dos microrganismos que co-determinam os ecossistemas onde vivemos. Além de poderem ser alteradas as espécies presentes nos ecossistemas atingidos pela poluição, os microrganismos concentram os poluentes e introduzem-nos na cadeia alimentar com graves riscos para a saúde humana.

(E meto um parênteses para dizer que nos locais onde ainda se pratica a co-incineração, é proibido, num raio de 30 km, desenvolver actividades agrícolas e agro-pecuárias).

A CCI propôs a co-incineração na cimenteira do Outão, em pleno Parque Natural da Arrábida, proposta que, para além de legalidade duvidosa, carece de bom senso. A única proposta aceitável para o futuro daquela cimenteira, só pode ser o seu encerramento e a sua transferência do Parque para distância razoável, onde não possa pôr em risco o último santuário da flora mediterrânica primitiva».

Isto, disseram os Médicos de Saúde Pública.

E é aqui chegados, ao Parque Natural da Arrábida, à Serra-Mãe de Sebastião da Gama, a essa pérola do nosso património natural, a esse santuário da fauna e, sobretudo, da flora, com espécies únicas no planeta – e que se encaminha para ser património natural da toda a Humanidade – que a fixação psicótica de Sócrates, a sua arrogância despótica – e, por isso mesmo, verdadeiramente imbecil – assume o aspecto de duplo crime: pelo que atrás ficou dito sobre a co-incineração, e pelo que representa enquanto atentado verdadeiramente terceiro-mundista a algo que só uma mente enviesada é capaz de não respeitar e defender – a Serra da Arrábida.

Hoje, uma única dúvida se me coloca: será apenas a psicose de um indivíduo a quem o exercício do poder descompensa gravemente, ou os negócios da China, com os seus opiáceos langores, terão levado o Partido Socialista a perder por completo a noção das mais elementares conveniências?

Dizendo de outro modo: será um caso clínico, ou um caso de polícia?».

Isto disse eu em Março deste ano. E, para que os ouvintes o recordem ou fiquem a saber e possam tirar as devidas conclusões, aqui o repito sem medo ou receio de desmentido.

A co-incineração é um processo em vias de extinção, que a comunidade científica internacional tem vindo a rejeitar, não só pelos malefícios que nele são detectáveis, como por haver a consciência de que ainda não foram completamente avaliados todos os seus impactos nocivos para o meio ambiente e, sobretudo, para a saúde pública.

Levar os lixos tóxicos e a respectiva co-incineração para a Arrábida, um Parque Natural incluído na Rede Natura 2000, candidato a Património Natural da Humanidade, ou para cima de uma população, como em Souzelas, tal como escrevi no Outra Banda, em 11 de Junho de 1999, «não lembrava ao diabo». E isso sabia – e sabe-o – José Sócrates, pois já em 1998 mentiu a Bruxelas, garantindo que levar a co-incineração para uma área protegida estava fora de questão. Vê-se.

Por tudo isto, queridos ouvintes, digo-vos eu que «co-incinerados» no tribunal da opinião pública devem ser o ministro do Ambiente e o seu mentor, o primeiro-ministro Sócrates. Pelo crime anunciado e, também, porque de mentirosos e trapalhões está o país farto.

Principalmente quando o PS chega ao poder.


Crónica de: João Carlos Pereira
Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 06/09/2006.
(Não deixe de ouvir e participar todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00, em 98.7 Mhz)

03/09/2006

ESTA SEMANA

KATRINA
Passado um ano sobre a devastação da cidade de Nova Orleães provocada pela passagem do furacão Katrina, os resultados mais visíveis dos cerca de 100 milhões de dólares já gastos pelo governo federal, concentram-se nas zonas mais ricas da cidade, onde o impacto da tempestade foi menor, estando a recuperação das infra-estruturas a decorrer de forma bastante lenta.
Só 60% do fornecimento de electricidade foi retomado, o gás só abrange apenas 41% e os transportes públicos estão reduzidos a 50%, afectando principalmente a população mais carenciada.
Enquanto isto, só metade dos hospitais estão a funcionar, mas os hotéis e casinos já retomaram a sua actividade normal.
Se o senhor Bush fosse uma pessoa normal, deveria preocupar-se mais com os dramas que tem no seu próprio Pais e deixasse viver em paz as populações que por esse mundo fora têm sofrido com as suas ingerências e belicismos.
Recentemente foram descobertos detonadores e fios eléctricos usados para explosivos numa carga diplomática enviada para a embaixada dos EUA na Venezuela, confirmando-se assim as suspeitas de que, mais uma vez o senhor Bush e o seu governo está a apoiar os movimentos terroristas na Venezuela, quando se aproxima a data de novas eleições presidenciais que se realizarão em Dezembro.
Mas, como se sabe, a família Bush tem interesses na indústria militar e está mais interessada em destruir os governos que não lhes prestam vassalagem e em construírem bombas em vez de casas e hospitais.


ESCOLAS
O (des) governo socialista que nos calhou na rifa continua a sua saga de encerrar as escolas do ensino básico que tenham menos de 20 alunos. Situando-se geograficamente a maioria destes estabelecimentos no interior do País, fácil é de prever que a desertificação é para continuar, pois os senhores socialistas que nos (des) governam querem cumprir o défice à custa dos sacrifícios daqueles que menos recursos têm.
A lógica parece ser a do lucro, ou a falta dele, como se as escolas, as maternidades ou os centros de saúde, não fossem direitos fundamentais a que todos deveriam ter acesso, independentemente das estratégias economicistas dos governos, logo, anti-sociais.
De acordo com as fontes do Ministério da Educação, neste momento existem 7.741 escolas do ensino básico, e destas, 3.049 possuem menos e 20 alunos. Se a teimosia persistir, restarão apenas 4.692.
Para que se tenha uma ideia e um termo de comparação entre Países com praticamente a mesma área geográfica e a mesma população, em Cuba existem 9.229 escolas só do ensino básico, sendo 2.336 no sector urbano e 6.893 no sector rural, que funcionam em pleno, mesmo com todas as limitações e boicotes que se conhecem, estando previsto a abertura de mais algumas de acordo com as necessidades e o aumento da população em idade escolar.
É assim a democracia. Só que uns aplicam-na, enquanto outros se servem dela.


INTELIGÊNCIAS
As brilhantes ideias do (des) governo socialista não se ficam só pelo encerramento de escolas, maternidades e centros de saúde, ou pela introdução de seringas e droga nas prisões.
Agora vêm com um relatório já aprovado em Conselho de Ministros onde se propõe a sensibilização dos automobilistas para passarem a circular nas auto-estradas a menos 2 km por hora, assim como a circulação dos táxis em menos um dia por semana, com vista à redução das emissões de dióxido de carbono para a atmosfera.
Se tudo isto não fosse ridículo, até dava para contar como anedota. Então estas mentes socialistas não se preocupam em ter transportes públicos em condições e a preços acessíveis à população, mas querem cortar na velocidade e nos táxis ?
Os chaços de autocarros e ligeiros que por aí circulam que só por obra e graça do além passam nas inspecções, não são poluidores ? As longas filas de trânsito que diariamente se formam para entrar em Lisboa e Porto só produzem oxigénio ? As imensas frotas dos ministérios e das Câmaras Municipais só utilizam água ?
Deixem-se de tretas e ataquem os problemas com alguma inteligência em vez de fazerem de nós parvos.

1997, 2007 © Guia do Seixal

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