31/01/2009

A ESPELUNCA

E, de repente, aquilo que parecia inviável – e já por duas vezes fora rejeitado – apareceu aprovado em poucos dias. Num vê-se-te-avias. O país ia ter, finalmente, um empreendimento fantástico e nunca visto cá na parvónia, uma espécie de centro comercial a céu aberto, com uns repuxos e outras tretas. Pouco importava se ficava em cima – e até abocanhava um bom bocado – de uma Zona de Protecção Especial do Estuário do Tejo, reconhecida e protegida pela própria União Europeia. O que interessava era que o negócio ficasse assente antes que as eleições legislativas, que iriam ter lugar daí a dias, pudessem pôr as rédeas noutras mãos, como se previa e, de facto, aconteceu. As rédeas e, como logo se disse (em 2002), as luvas.

Milagre! gritaram uns, a começar pelo presidente do Câmara Municipal de Alcochete (um empresário socialista, cuja principal acção à frente da autarquia foi dar tacho a um número incalculável de boys e girls), e a acabar no ministro do Ambiente, o então ainda pouco conhecido José Sócrates Pinto de Sousa. Milagre! gritou também Pedro Nunes, ex-sócio do inglês, Smith, que esteve desde o início no negócio da FreePort, da qual chegou a ser administrador, e é conhecido em Alcochete como o Mané Pedro, e também ele ligado ao PS.

Aldrabice! gritaram outros, já que Fátima não fica por aquelas bandas, e não consta que a Santa se preocupe com negociatas de natureza tão terrena e, acima de tudo, duvidosas.

De facto, a coisa cheirava a esturro. As mentes doentias logo disseram que por ali andavam fumos de corrupção. O primeiro juiz de instrução do que ficou conhecido como caso FreePort, estranhou a «celeridade invulgar» e «um andamento inusitado» no processo, segundo o que escreveu num despacho de Fevereiro de 2005. «O processo que conduziu à construção e funcionamento do complexo industrial apresenta várias irregularidades e um andamento inusitado», escreve o magistrado do Tribunal do Montijo, no despacho datado de Fevereiro de 2005. O juiz salientou ainda que, quando o projecto obteve o parecer pretendido, o desenvolvimento do processo «conheceu uma celeridade invulgar, decorrendo em 20 dias e não nos 100 dias usuais». Apesar de não ter licença de utilização, o FreePort foi inaugurado em Setembro de 2004.

Antes disso, o projecto tinha recebido pareceres desfavoráveis em dois estudos de impacto ambiental, de Outubro de 2000 e Dezembro de 2001. A terceira avaliação ambiental, de Janeiro de 2002, acabou na aprovação do projecto, a 14 de Março do mesmo ano. Nesse mesmo dia, zelosamente, o Governo alterou os limites da Zona de Protecção Especial (ZPE) do Estuário do Tejo, criada em 1994 com cerca de 44 mil hectares. A ideia desta área era proteger uma zona especial de interesse para a conservação da avifauna, servindo de tampão entre zonas naturais mais relevantes e espaços urbanos. Ao diabo a Natureza, já que a outra natureza – a humana – tem prioridades bem mais exigentes.

Por essa altura – e segundo a polícia inglesa apurou – saíram de Inglaterra, onde os promotores do FreePort tinham sede, 4 milhões de euros a caminho de Portugal e, se milagre foi a aprovação do projecto, no Santuário de Fátima esse valor não entrou. Nem na Santa Casa da Misericórdia de Alcochete. Nem no meu bolso, nem de nenhum tio, primo ou qualquer parente meu. Nem – presumo eu – no seu bolso, amigo ouvinte/leitor. Para onde foi, nesse caso, a bagalhuça? Penso – e volto a pensar – e o que me vem logo à cabeça é que tudo isto só pode ser uma miserável cabala para deixar alguém muito mal visto. Se calhar, nem o FreePort existe. É tudo uma ilusão. Um passe de mágica.

Apesar disso, por altura da luz verde dada pelo Ministério do Ambiente à construção do FreePort de Alcochete, o então Instituto de Conservação da Natureza, que dependia do MA, ultimou também um acordo de cedência de uma das suas instalações na zona à empresa Smith & Pedro. É sobre esta firma de consultoria que recaem suspeitas de «pagamentos corruptos» no âmbito do licenciamento daquele empreendimento. A existência do acordo foi confirmada ao jornal PÚBLICO por um dos responsáveis da Associação Portuguesa de Guardas e Vigilantes da Natureza, que na altura denunciou o caso. E se o senhor Smith garante que nunca reuniu com Sócrates, o seu sócio, o tal senhor Pedro, afirma que, sim, senhor, reuniu com o cavalheiro. Sócrates não se lembra. Acontece, às vezes, termos memórias selectivas…

(Sócrates também não se lembrava de ter sido sócio da Sovenco, empresa criada em 1990, destinada à venda de combustíveis, que, para além de Sócrates, tinha como sócios Fátima Felgueiras, Armando Vara e Virgílio de Sousa. De D. Fátima, todos sabemos a história – e as histórias. De Vara, sabemos muito, mas poucos sabem que foi condenado a 4 anos de prisão com a pena suspensa. Foi corrido do governo de Guterres, pelo próprio Jorge Sampaio, devido aos escândalos da célebre Fundação para a Prevenção e Segurança, mas é hoje administrador do BCP. Virgílio de Sousa, esse, foi condenado a prisão devido a um processo de corrupção no Centro de Exames de Condução de Tábua. Exemplar. Tudo bons rapazes!).

Sócrates, é claro, irritou-se com as notícias sobre o FreePort. Disparou para esquerda e para a direita, para cima e para baixo. Sócrates é impoluto. Nunca mente. Nunca pratica uma acção menos boa, quanto mais uma má acção… Relembre-se o caso exemplar da sua licenciatura.

Da Universidade Independente nem vale a pena falar, pois as histórias vindas a público e o seu consequente encerramento (pelo governo de Sócrates, ora bem…) dizem tudo. Só os tolos não perceberam que aquilo era uma fábrica de canudos e de outras coisas ainda mais repugnantes. Ao ser encerrada, encerrou-se também a hipótese de vasculhar os seus arquivos e perceber que espelunca seria aquela. Quantas provas não desapareceram desde então?

Mas vamos à licenciatura. Na VI Legislatura, José Sócrates entrega na Assembleia da República, um Registo Biográfico onde consta, escrito pelo seu punho, que a sua profissão é a de «engenheiro» e que as suas habilitações literárias são «engenharia civil». Tal e qual. Como se sabe, quando esta mentirinha foi descoberta, logo apareceu uma segunda versão desse mesmo documento. E onde estava escrito «engenheiro», foi acrescentada a palavra «técnico», e onde estava escrito «engenharia civil» foi igualmente acrescentado, em espaço anterior, a abreviatura «bach», de Bacharelato, que era o que ele tinha.

Isto é: o Registo Biográfico de José Sócrates foi rasurado, alterado, adulterado por ele próprio, sem que alguém responsável na Assembleia da República consiga explicar como é que isso foi possível. E nada lhe aconteceu. Ou seja: continuamos num ambiente de espelunca.

Ora, em 31 de Julho de 1979, termina o Bacharelato no Instituto Politécnico de Coimbra, apenas com média de 12 valores. Mais tarde, em 27 de Dezembro de 1994, o aluno n.º 20.382, José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa, inscreve-se no Instituto Politécnico de Lisboa, no curso de Transportes e Vias de Comunicação. Repentinamente, assim que toma conhecimento que a UnI foi aprovada pela portaria 496/95 de 24 de Maio de 1995, sem que se conheça qualquer justificação, muda-se de armas e bagagens para esta instituição. É aqui, neste local, que haveria de se revelar um antro de facilitismo e promiscuidade, que José Sócrates consegue aquilo que sempre ambicionou – uma «licenciatura» em Engenharia.

Eu recordo como.

Das 31 cadeiras que teria de fazer, deram-lhe equivalência a 26.

Nem mais, nem menos... 26 disciplinas. Assim, apenas teria de fazer... 5 disciplinas!

Mas isto não fica por aqui. Destas 5 disciplinas que lhe faltava fazer, 4 delas – os chamados "cadeirões", por serem as mais difíceis – foram dadas por um único professor, por sinal seu amigo e conhecido de longa data, de nome António José Morais, adjunto do secretário de Estado – e também seu amigo e velho compagnon de route, – Armando Vara e colega do mesmo governo em que estava nessa altura José Sócrates, como secretário de Estado adjunto. Que notas o amigo professor Morais lhe deu? Análise de Estruturas – 17; Projecto e Dissertação – 18 (dezoito); Betão Armado e Pré Esforçado – 18 (dezoito); Estruturas Especiais – 16 (dezasseis).

Nada mau, para quem vinha com média de 12 do Politécnico. Ah! É verdade, e nessa altura José Sócrates ainda era secretário de Estado adjunto do Ministro do Ambiente, tinha pouco tempo para estudar, para trabalhos e para aulas e preparação de exames. Vejam bem que notas ele teria se tivesse mais tempo para se dedicar às aulas.

Mas falta ainda a cereja em cima do bolo. Uma cadeira, de entre as 5 que o «obrigaram» a fazer – Inglês Técnico. Teve 15. Isso mesmo, teve 15. Foi seu professor o reitor Luís Arouca, entretanto preso por falsificação de documentos. Ao Arouca, enviou Sócrates um fax, em papel timbrado do Ministério do Ambiente, do Gabinete do Secretário de Estado Adjunto, numa clara atitude de promiscuidade e de pressão, terminando de forma muito pouco formal e excessivamente familiar, com um "Seu Sócrates".

Ora, para concluir toda esta trapalhada, o certificado de Habilitações da UnI, lá diz que «concluiu o curso em 08-09-1996» que, curiosamente, foi a um...domingo. Ele há cada uma...

E se estas coisas mirabolantes vos recordo, é porque há muita gente, nesta espelunca chamada Portugal, que gostaria de ver morto e enterrado este processo. Que vive e convive bem com estas baixezas, numa constante negação da realidade.

E porque, naturalmente, quero que percebamos bem o país em que vivemos e que gente nos governa.

Universidade Independente. FreePort. Tábuas da mesma canoa.


Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 28/01/2008.
(Não deixe de ouvir em 98.7 Mhz e participar pelos telefones 212277046 ou 212277047 todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00).

21/01/2009

MENTIROSO E DESCARADO

Há quem lhe chame arrogante, prepotente, vaidoso, egocêntrico, autista, coveiro da pátria, falso engenheiro e outros mimos. Nada disso lhe fica mal, confesso. No entanto, face ao seu último discurso de recandidatura à liderança do PS, basta-me chamar-lhe mentiroso e descarado.

Não caio no disparate de destacar naquele chorrilho de promessas, como fizeram vários órgãos de comunicação social, o casamento dos homossexuais e a regionalização, meras questões de lana-caprina. Na verdade, se a primeira nem no PS é consensual, a segunda só o poderá ser porque traria consigo mais um comboio de jobs for the boys, coisa em que o PS é especialista a nível planetário. Deixemo-nos disso, portanto.

Então, o que promete Sócrates, neste ano eleitoral em que já estamos?

«Concretização de novas medidas, que permitam desagravar as famílias de rendimentos médios, apoiando-as nas suas despesas essenciais e estimulando a natalidade»

«Aprofundamento das prestações sociais para aqueles que não podem aceder a rendimentos dignos através da actividade económica e para as famílias expostas aos factores de perpetuação da pobreza».

«Investimentos como o novo aeroporto internacional de Lisboa, a ligação à alta velocidade ferroviária europeia, a conclusão do plano rodoviário nas regiões do interior ou o reforço da rede de barragens, são investimentos cujo adiamento diminuiria fortemente o nosso crescimento potencial».

Por outras palavras: o circo eleitoral já está armado, com o seu cortejo de mirabolantes aldrabices, papas e bolos.

No fundo, Sócrates promete dar à classe média – que tem vindo a destruir sem nó nem piedade – aquilo que lhe roubou ao longo dos últimos anos. Pergunto se é possível fazer agora, em plena crise – que, segundo todos os arautos da economia capitalista, se prolongará para além de 2010 – aquilo que ele e o seu governo cor-de-rosa não fizeram nos malfadados anos que temos vindo a sofrer? Se é, porque razão não foi feito antes, quando a situação económica era mais favorável?

Muito bem, «engenheiro», com esta não me levas lá.

Sócrates fala em medidas sociais de apoio às famílias em situação de pobreza. Tanta sensibilidade leva-me às lágrimas. Mas quem foi que, desde que tomou posse, fez o desemprego subir em flecha?

E quem fez aprovar um código do trabalho, onde o trabalho precário é institucionalizado?

Quem pôs os portugueses a ter que se desdobrarem em vários empregos, definhando-se em call centers, empresas de segurança, distribuição de propaganda porta-a-porta e a recorrerem cada vez mais ao mercado de trabalho escravo, que outra coisa não é essa inovação do capitalismo selvagem, chamada aluguer de mão-de-obra?

Quem permitiu que o custo de vida subisse de forma brutal, sempre acima dos miseráveis aumentos dos ordenados e pensões, acentuou as disparidades sociais, acrescentou mais pobres aos pobres existentes e, aos existentes, agravou a miséria?

Terá sido o mesmo Sócrates que agora vem dar uma mãozinha à pobreza que criou?

Não, com esta, senhor «engenheiro», também não me enganas.

Falta o TGV e o novo aeroporto. Ora aí estão duas coisas em que acredito. Obras públicas, das grandes, das chorudas, das que rendem muito. Das que vão ter muitas derrapagens, trabalho a mais, revisões de preços, adjudicações à medida, comissões, luvas, financiamentos por baixo da mesa, lugares de topo nas empresas vencedoras. Uma intrincada teia de mãos bem untadas, um paraíso para banqueiros, grandes empresários, decisores e intermediários vários, sem esquecer os que levam – e lavam – os pacotes do costume.

Mas as mentiras e os embustes – e o descaramento – não acabam aqui.

Não é só a crise económica e financeira que ameaça a vida de todos nós, transformando o quotidiano de milhares de portugueses num inferno, empobrecendo os que nunca foram pobres e arrastando para a miséria os que já o eram. A sopa dos pobres e a caridadezinha já são instituições nacionais, como o foram nos tempos mais sombrios de Salazar.

Ora, se isto significa o descalabro a que nos conduziram as políticas do actual dono do PS – e não devemos esquecer que este pântano se alargou muito antes da crise internacional ter estoirado – o que me aterroriza é a impunidade e o descaramento com que o governo socialista nos mente, como se não passássemos de atrasados mentais. Que, se calhar – e pelo que se vai vendo e ouvindo – até somos.

Há meses, o senhor «engenheiro» apresentou e fez aprovar, na AR, uma obra de ficção, a que chamou OGE. Disse que era algo realista, adaptado aos dias que aí vêm, apesar de toda a gente dizer o contrário. Cavaco Silva – pese, embora, ter manifestado dúvidas e ter pedido uns esclarecimentos – aprovou a aldrabice.

Eis que, há poucos dias, os aldrabões que governam este patusco país brindam o país com um Orçamento suplementar ou rectificativo, que dá razão aos reparos que antes lhes tinham sido feitos, só que, para nosso mal, continua a ser, este Orçamento, tão aldrabão como o OGE inicial.

Na realidade, tanto a Comissão Europeia como uma das mais consagradas revistas dedicada a questões económicas (The Economist) apontam para dados bem diferentes – e piores – daqueles que o orçamento rectificativo agora considera. Ou seja: a emenda foi pior do que o soneto, o que significa que o orçamento rectificativo é tão mentiroso como o orçamento rectificado.

Mas – pergunto eu – será que Sócrates e o seu inenarrável ministro das finanças são uns burros incompetentes, incapazes de preverem o que vai acontecer nos próximos onze meses e meio? Serão? Bem… que Sócrates o seja, não me admira, pois todos sabemos que só desenrascou um canudo em engenharia, pelo que, de finanças, saberá o que o outro lhe diz. Mas Teixeira dos Santos enganou o seu chefe de governo? Ou Teixeira dos Santos é um incompetente chapado? Ou, simplesmente, estarão os dois a aldrabar os portugueses?

Não sou nenhum génio, mas também não preciso de o ser para garantir que andam a enrolar-nos há muito tempo.

O povo é «uma enorme e possante besta», disse Erasmo de Roterdão, há cerca de 500 anos.

Parece-me que nada mudou em meio milénio, não acham?


Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 21/01/2008.
(Não deixe de ouvir em 98.7 Mhz e participar pelos telefones 212277046 ou 212277047 todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00).

14/01/2009

“HÁ SEMPRE ALGUÉM QUE RESISTE…”

Como tenho dito, as crónicas que aqui são lidas todas as quartas-feiras, também são enviadas para um vasto grupo de amigos e publicadas na Internet. Por isso, é frequente alguns ouvintes e leitores enviarem-me textos por e-mail, comentando o que foi dito ou escrito, ou enviando as mais diversas opiniões. Assim, achei interessante divulgar alguns desses comentários. Será feita por eles a nossa crónica de hoje.

«Parabéns. A crónica não podia ser mais actual e pertinente em tempo de ofensiva israelita. Um bom ano para ti e que não te falte tempo e determinação para nos continuares a interpelar com as tuas crónicas.
Um abraço.»

Joaquim Sarmento - Almada


«O Primeiro-Ministro apresentou há dias, com pompa e circunstância, o LISBON MBA, Mestrado em Gestão, que irá ser promovido por duas Universidades portuguesas em colaboração com um Instituto de Tecnologia dos Estados Unidos.
José Sócrates esqueceu-se, porém, de dizer o preço que cada aluno irá pagar anualmente. O LISBON MBA vai custar a cada aluno 30.000 euros por ano. É esta a verdadeira face da política defendida por Sócrates: o dinheiro e a cultura são para os ricos, as migalhas para os pobres.»

Jorge Castanheira Barros - Coimbra


«Excelente a tua crónica sobre o morticínio na Palestina. Embora não partilhemos algumas ideias politicas, concordo a 1.000 % com o que escreveste. Os nazis israelitas estão a fazer aos palestinianos o mesmo que os nazis do III Reich fizeram aos seus antepassados.
Uma vergonha para o mundo ocidental, da democracia e dos valores humanistas, que a tudo assiste, pouco mais fazendo que assobiando...»

Luís Beleza - Mirandela


«A nossa economia afunda-se. Em Dezembro, os dados divulgados pelo INE indicam que o clima económico caiu para valores mínimos registados nos últimos vinte anos.
Consumidores, empresários de todos os sectores e, até, o PR, dizem que estão pessimistas quanto ao futuro. O governo, apesar de Sócrates começar a render-se à realidade, insiste nas políticas que levaram a isto. Não me venham com tretas sobre a crise internacional, porque já estávamos a bater no fundo quando ela rebentou. Em consequência, o governo dá umas esmolas aos mais pobres, enche os banqueiros com apoios de milhões e despreza a classe média. Em breve, só teremos ricos (muito ricos) e pobres (muito pobres) em Portugal. É assim o socialismo da esquerda moderna do engenheiro Sócrates.»

Maria Amélia Simões - Miratejo


«Antes de mais nada, gostei muito da sua crónica sobre o que se passa na Palestina.
Aliás, veio ao encontro daquilo que penso. Por outro lado, ajudou-me a entender algumas coisas.»

Isabel Camarinhas - Lisboa


«Li que as pensões de reforma requeridas este ano irão sofrer penalizações até aos 1,32%, e que quem quiser evitar este rombo deverá trabalhar mais dois meses. Todos sabemos que muita gente procura novos empregos depois da reforma, porque as pensões já são baixas e não dão para viver. Por isso, ou por imposição do governo, qualquer dia os portugueses vão trabalhar até morrer. Será esta uma política socialista e de esquerda?»

Vítor Oliveira – Póvoa de Santo Adrião


«Levanto-me sempre cedo, detesto estar na cama a olhar para o teto, mas hoje ainda saltei mais cedo e tive oportunidade de ler a Crónica, mesmo antes de tu a divulgares publicamente. Gostei muito. É importante que as pessoas saibam efectivamente o que se está a passar. Ainda ontem à noite não consegui suster as lágrimas quando mostraram a imagem do bracinho de uma criança, completamente soterrada pelos escombros de uma explosão. Era a mãozinha de uma criança a rondar os 4 anos, comparei-a com a minha neta, e fiquei com um aperto na garganta que não consegui dormir por muito tempo. As notícias davam conta de um bombardeamento a uma escola e da morte de umas dezenas de miúdos. Pergunto-me como é que há seres humanos com o coração tão empedernido que não hesitam em destruir crianças. Já tinha pensado o mesmo que tu escreveste – estes israelitas estão a repetir o holocausto que os vitimou, tornando-os, efectivamente, tão nazis como os outros. E as potências internacionais vão assistindo, pacificamente, de camarote. Afinal parece que o Bush só se incomodava com a ditadura e a prepotência do Saddam.»

Hélida Pais - Barreiro


«Já não consigo ver televisão. As notícias sobre o que se passa na Palestina são tratadas como se aquilo fosse uma guerra. Guerra? Como se pode chamar guerra a confrontos entre duas forças tão desiguais? Até parece que os mísseis dos palestinianos se podem comparar ao potencial bélico dos judeus. E as mortes? Morre um judeu, e é vítima do terrorismo. Morrem centenas de crianças e mulheres palestinianas, e são vítimas da guerra. Um judeu vê a sua casa trespassada por um míssil, e é uma tragédia, com muitas lágrimas à mistura. Em Gaza, bairros inteiros foram arrasados. É normal. É a guerra, dizem os hipócritas.
Por isso, João Carlos Pereira, não cale a sua voz. Só a Rádio Baía nos vai dizendo a verdade.»

Cristina Santos – Costa de Caparica


«Num clima de medo e submissão aos poderes existentes, quer a nível nacional, quer a nível internacional, é saudável e animador saber que há uma pequena rádio local que ousa dizer as verdades que os outros calam ou deturpam. As suas “Provocações” lembram-me o poema que diz: “há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz NÃO!”. Destas pequenas/grandes coisas se fez e faz a resistência aos opressores, quer oprimam por decreto, quer oprimam à bomba. Nunca se cale».

Fernando Teixeira - Almada


«Sempre no ponto certo.
Um abraço».

Eufrázio Filipe - Seixal


Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 14/01/2008.
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07/01/2009

O HOLOCAUSTO CONTINUA

Admita o ouvinte que, vivendo numa casa de três ou quatro assoalhadas, um dia lhe invadem a habitação e lhe dizem que, a partir desse momento, passará a viver na despensa com a sua mulher e filhos, ficando a sala, os quartos, a cozinha, a casa de banho, as varandas e tudo o resto para os novos ocupantes. Mais: não poderá sair da despensa sem autorização e, se os novos inquilinos quiserem, podem dispor, também, das partes que entenderem da despensa que lhe deixaram. E se alguém da sua família se tiver refugiado em casa de um vizinho e não desistir de lutar por voltar à casa que era sua, será impiedosamente perseguido e massacrado e, naturalmente, chamado de terrorista e fanático.

Este exemplo é, em ponto pequeno, o que se passa na Palestina desde 1947, altura em que os sionistas, apoiados pelas potências ocidentais, se apossaram das terras, casas, água e de todos os recursos dos palestinianos, remetidos, desde então, a um pequeno território onde, mesmo assim, foram obrigados a ceder aos judeus os terrenos que estes quisessem para erguerem os famigerados colonatos. Portanto, não foram os mísseis do Hamas, nem Arafat, nem a intifada, nem os combatentes suicidas que estiveram na génese do conflito no Médio Oriente, mas a usurpação da terra dos palestinianos pelo sionismo. Isso – e só isso.

Já disto aqui falámos a semana passada, mas estando em curso mais uma fase do genocídio que os sionistas, há décadas, levam a cabo contra o povo da Palestina, visando a conquista de todo o Médio Oriente, obriga-me a consciência a não pactuar, pelo silêncio, com os nazis de Israel e, por tabela, com as hipócritas potências ocidentais que, fingindo preocupação, vão deixando o estado sionista concretizar os seus sinistros objectivos.

Deixem-me, agora, utilizar palavras que li no site www.resistir.info (site cuja visita aconselho), palavras essas que ilustram o que acabo de dizer:

«Em Abril de 1943, os judeus do Gueto de Varsóvia foram massacrados pela máquina militar do III Reich nazi. Em Dezembro de 2008, os palestinianos do Gueto de Gaza são massacrados pela máquina militar do IV Reich nazi-sionista. Ambos os povos exerceram o seu direito inalienável à revolta contra a opressão.

É hipócrita e cínica a atitude do governo português, ao recomendar que cessem os ataques de ambos os lados. Com essa argumentação, pretende-se comparar a resistência digna do povo palestiniano e a acção criminosa do invasor sionista, que massacra a população civil e destrói a infra-estrutura de Gaza, depois de sustentar durante meses um bloqueio total contra o seu povo.

Este genocídio só é possível porque o lobby judeu mundial concede-lhe o combustível necessário, porque os EUA dão cobertura política, económica e bélica ao agressor, porque a União Europeia lhe deu um sinal verde e porque grande parte da população israelita dá apoio à limpeza étnica promovida pelo governo nazi-sionista.

Só o levantamento generalizado no mundo árabe e a solidariedade internacional, com todo o tipo de protestos por toda a parte, poderá deter essa acção criminosa. Neste momento, é importante reiterar a solidariedade com o governo legítimo do Hamas e repudiar a posição cúmplice do actual presidente da Autoridade Nacional Palestiniana, senhor Mahmud Abbas. Este, apesar da carnificina em curso, optou por acusar o Hamas pelo que está a acontecer e, de forma submissa, procura negociar com os assassinos do seu povo.

As novas atrocidades cometidas pelo estado judeu colocam questões candentes. O bombardeamento indiscriminado da população de Gaza pelos caças F-16 da entidade sionista, já provocou mais de 600 mortos e perto de 1.000 feridos. Isto vem na sequência de um cerco prolongado, em que se priva aquela população de alimentos, combustíveis e medicamentos. A palavra genocídio tem razão de ser. Ele está a ser efectuado desde há anos. É um genocídio em câmara lenta. A cumplicidade/passividade da União Europeia e dos governos de muitos países árabes (a começar pelo do Egipto) é notória. Mas acima de tudo é notória a conivência de grande parte dos cidadãos de Israel.

Na década de 1930, o cidadão médio da Alemanha podia alegar desconhecimento dos crimes perpetrados pelo nazismo. O aparelho de propaganda hitleriano jamais mencionava o holocausto em curso. A existência dos campos de concentração e dos fornos crematórios era cuidadosamente escondida. Os «media» da Alemanha nazi nunca mencionavam a existência de tais infâmias.

E o que se passa hoje em Israel? Os crimes do estado sionista são bem conhecidos. A realidade do apartheid é evidente para todos, basta olhar as muralhas que esquartejam a Palestina. Os assassinatos das sinistras polícias políticas de Israel são divulgados nos «media». As 100 toneladas de bombas já despejadas sobre a população indefesa de Gaza são anunciadas nos jornais israelitas. As perseguições ao espoliado povo palestino (10 mil palestinos presos) são notórias. Por isso – ao contrário do povo alemão dos anos 30-40 – o povo de Israel não pode alegar ignorância. Assim, exceptuando as forças democráticas e progressistas (como o PCI, o Hadash e algumas personalidades dignas), deve-se colocar o problema da responsabilidade colectiva dos cidadãos israelitas, que permanecem passivos ou dão apoio (inclusive com o seu voto) a um governo que comete tais atrocidades».

Assim se escreve – e bem – no site www.resistir.info. A faixa de Gaza é, hoje em dia, a maior prisão do mundo. E aquela onde, sem a menor dúvida, os Direitos Humanos são há anos espezinhados impunemente, expondo de forma exuberante o cinismo do mundo ocidental, cujos valores apregoados não passam de meras palavras sem a menor correspondência com a realidade. Na Palestina só faltam, como disse José Saramago, as câmaras de gás, para que a correspondência com o holocausto seja perfeita. Mas – digo eu – só não existem câmaras de gás porque outras maneiras existem de exterminar um povo. O que só não vê quem não quer.

Por todo o mundo, entretanto, erguem-se vozes contra as acções do estado nazi-sionista de Israel. Na Europa e nos Estados Unidos, importantes manifestações demonstram que os Palestinianos não estão sozinhos na sua luta pelo direito a viver na sua pátria, livres e independentes. Em Portugal, estão programadas as seguintes acções de protesto contra o massacre da população de Gaza:

- Dia 7 de Janeiro, 18h30, Sessão pública de esclarecimento (R. da Palma, 248 em Lisboa)

- Dia 8 de Janeiro, 18h00, Embaixada de Israel (R. António Enes, 16 em Lisboa)

PS – Hoje não falo de Sócrates. Na sua entrevista à RTP nada foi dito de realmente importante. O homem parece-me um balão em acelerado processo de esvaziamento. Trapalhão e atrapalhado. E inseguro. A única coisa a destacar é a sua única preocupação: o poder. Mas isso já nós sabíamos. Como sabemos que o poder está a fugir-lhe.


Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 07/01/2008.
(Não deixe de ouvir em 98.7 Mhz e participar pelos telefones 212277046 ou 212277047 todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00).

1997, 2007 © Guia do Seixal

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