08/04/2009

(SÓ)CRETINICES

José Sócrates, o político português no activo que mais trapalhadas carrega nas mochilas da sua vida pública e privada, apresentou uma queixa-crime contra João Miguel Tavares, do Diário de Notícias, porque o jornalista escreveu o seguinte: «Ver José Sócrates apelar à moral na política é tão convincente quanto a defesa da monogamia por parte da Cicciolina.»

O ministro da Justiça, por seu lado, vai apresentar outra queixa-crime contra o semanário Sol, porque este periódico noticiou que ele, ministro, servira de intermediário entre Sócrates e Lopes da Mota, para que este avisasse os procuradores Vítor Magalhães e Pães de Faria dos riscos de não acabar rapidamente com o processo Freeport, deixando Sócrates em paz.

Lopes da Mota, recorde-se, preside à entidade da UE que trata de assuntos judiciários. Mas recorde-se, principalmente, que foi colega de Sócrates nos tempos de Guterres e que foi suspeito – o caso acabou arquivado – de ter avisado Fátima Felgueiras da eminência da sua detenção, o que permitiu à senhora escapulir-se para o Brasil.

Então, por estas duas amostras, já sabemos o que nos espera. Ou se deixa de lado a liberdade de imprensa, o direito de opinião mais o direito de informar, ou vai bater tudo com os ossos no banco dos réus. E se isso não der resultado, institui-se, a bem da nação, a censura e, se tal for necessário, a polícia política, que tratará de cortar o mal pela raiz. Aí estão, visíveis à vista desarmada, as tentações totalitárias do PS.

E, diga-se a verdade, recursos humanos para constituir os novos quadros censórios e repressivos, não faltam aos socialistas. Que conviveu – e convive – com eles nos locais de trabalho, no movimento sindical, nas autarquias, seja onde for, logo percebe o que ali está em termos de estrutura mental e arcaboiço moral. Um manancial de bufos, uma mãe-d’água de sabujos, um viveiro de lambe-botas, um alfobre de gentalha capaz de vender a mãe a patacos, só para agradar ao chefe.

De facto, a frase do jornalista que tanto incomodou José Sócrates é, em qualquer democracia, a coisa mais banal do mundo. Recordo, a propósito, o que disse um antigo presidente dos Estados Unidos, Harry Trumann: «Quem se dá mal com o calor, não trabalha na cozinha.» Ora Sócrates, um pimpão desenrascado, um finório de alto calibre, convenceu-se que o facto de ser primeiro-ministro e governar com maioria absoluta lhe confere o direito a ser intocável. Pelo contrário: quanto mais alto for o cargo, maior a exposição à crítica e ao referendar dos actos. Sócrates quer ter o privilégio de ser cozinheiro, mas não quer suportar o calor que está inerente ao cargo. Se assim é, só tem um caminho: desaparecer da cozinha.

No entanto, é mais provável que se julgue Luís XIV, o Rei-Sol. Mas Luís XIV – e isto li eu em qualquer lado – apesar de ser, ou de se julgar, o Rei-Sol, tinha uma cadeira-retrete, da qual gostava muito. Uma manhã, já no fim do seu reinado, levantou-se da cama, sentou-se na cadeira-retrete… e desapareceu. Quero eu dizer com isto que Sócrates pode escolher: ou percebe que está a mais num regime democrático, e sai pelo seu pé; ou, um dia destes, desaparece sem querer, desfeito nas suas próprias fezes.

(Esclareço, para o caso de ir malhar com os ossos no banco dos réus, que a linguagem metafórica aqui utilizada também desagradava aos coronéis da censura).

Mas já que falei do ministro da Justiça, deixem-me contar-vos o seguinte: Alberto Costa fez parte do Governo de Macau, embora se tenha esquecido de mencionar isso no seu currículo. Talvez porque acabou demitido por José António Barreiros, por, precisamente, ter tentado influenciar um juiz. O despacho de demissão, da autoria de José António Barreiros, invocava isso mesmo, como fundamento para o demitir. O despacho, contudo, foi alterado por influência do então Governador Carlos Melancia (lembram-se da criatura?...), de modo a não beliscar a honorabilidade de Alberto Costa. Resultado: o senhor recorreu à Justiça, alegando que tinha sido demitido injustamente e sem fundamento. Ganhou e recebeu uma indemnização! Esta história foi toda contada por José António Barreiros em entrevista que deu, quando Alberto Costa foi nomeado ministro da Justiça, na qual ainda afirmou: «Escolheram para ministro quem eu não quis para Secretário».

Neste quadro deprimente, as atenções voltam-se para Belém. Cavaco não pode ficar impávido e sereno a ver desaguar este esgoto sobre o regime, mesmo que o regime já esteja numa fossa há muito tempo. A tese da cabala já deu o que tinha a dar – e nunca deu muito, aliás – e todos os dias dados novos se acrescentam aos já sabidos. As pressões denunciadas por dois respeitados magistrados significam que chegámos ao vale-tudo. Por esse mundo fora, não é Sócrates que está em causa, mas o próprio país. Cavaco, ao não agir, está a deixar que se denigra o que resta da nossa imagem. Se é que resta ainda alguma coisa boa.

Para azedar as coisas ainda mais para o lado de Sócrates, soube-se agora que a empresa da mãe do primeiro-ministro, que está a ser investigada no âmbito do Freeport, aparece também envolvida num processo de corrupção na Câmara da Amadora, com outras figuras de peso do PS. Os investigadores suspeitam que José Paulo Bernardo Pinto de Sousa, primo do primeiro-ministro, seja o parente que o arguido Charles Smith acusa de ter sido o receptor das «luvas» alegadamente entregues a Sócrates para conseguir o licenciamento do projecto de Alcochete. Ora, este José Paulo Bernardo está também referenciado no processo que corre no Departamento Central de Investigação e Acção Penal, onde se investigam indícios de tráfico de influências, corrupção, financiamento a partidos e branqueamento de capitais, e que tem como figura principal o actual presidente da Câmara da Amadora, Joaquim Raposo.

Raposo é um dos vários suspeitos deste vasto processo, cuja investigação se tem arrastado, apesar de já terem sido constituídos oito arguidos. Em causa, soube o semanário SOL, estão os actos ilícitos praticados por uma rede de pessoas ligadas à Câmara da Amadora e a empresas de construção civil, e que envolve também elementos da Direcção Regional de Ambiente e Ordenamento do Território, a que presidiu Fernanda Vara. Curiosamente, esta arquitecta – uma das arguidas no processo da Amadora – integrou a comissão que deu parecer favorável ao Estudo de Impacto Ambiental que permitiu o licenciamento do projecto Freeport, em Alcochete.

Nas buscas desencadeadas pela Polícia Judiciária, em 2004, às empresas suspeitas neste processo e a vários serviços da Câmara da Amadora, o computador do presidente, Joaquim Raposo, foi um dos que mais provas deu aos investigadores. Foi aqui, soube o SOL, que surgiu a referência à Mecaso – uma das empresas de Maria Adelaide Carvalho Monteiro, mãe de José Sócrates, e José Paulo Bernardo, o primo de quem agora se suspeita.

Outra cabala? Outra campanha negra? Boquiaberto, o país assiste a isto tudo e considera que há mesmo duas justiças. Se só houvesse uma, Sócrates já teria sido constituído arguido, porque tudo isto é substancial e concreto demais para poder ser considerado uma invenção de inimigos políticos.

Que a política está a meter a foice na seara da justiça, disso eu já não tenho a mínima dúvida. E veremos agora quem é que vai ser desencantado para investigar as pressões sobre os magistrados. Outro camarada de Sócrates?

Também, era só o que faltava…

No entanto, depois das absolvições de Pinto da Costa e de Avelino Ferreira Torres, tudo pode acontecer, não é verdade?


Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 08/04/2009.
(Não deixe de ouvir em 98.7 Mhz e participar pelos telefones 212277046 ou 212277047 todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00).

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Carta Aberta ao Exmo. Senhor Paulo Silva
Caro Paulo Silva,
Tenho uma má noticia para te dar, que espero não seja a última neste ano negro para ti e em particular para o PCP/CDU (sabes, aconselhe-me com o Prof.Bambo, conheces?) pois os ladrões, vigaristas, trafulhas da Lista B, ás Eleições dos Bombeiros da Amora, acabam de tomar posse, imagina que o Sr. Presidente da Assembleia, um mau exemplo de cidadão, contrariando os teus doutos e avisados conselhos, escolheu outra via! Por isso agora avante camarada, sobra a Assembleia-geral, marcada pela camarada Lúcia, com a seguinte Ordem de Trabalhos: Análise do abaixo assinado, para analise das Eleições, anulação dos resultados e marcação de novas eleições?
E depois sobra finalmente a esperada impugnação (tão querida por ti) nos tribunais para reaver o poder, sim porque neste concelho o que interessa é o poder não é o bem-estar das populações.
Afinal como se podem preocupar tanto com os Bombeiros da Amora, se a Câmara PCP/CDU, fez tudo, mas tudo que ela não fosse uma realidade e agora faz tudo mas tudo para a influenciar e orientar.
E por favor Caro Paulo Silva, eu sei que és um democrata, um homem que sempre lutou contra a censura e a liberdade, não utilizes o tal lápis Azul, que uma bloguista chama sempre a atenção, isso eram os métodos do Salazar e dos fascistas que os verdadeiros comunistas sempre combateram. Por Favor deixa passar esta informação, ah já me esquecia vou copiar para passar nos outros blogs da n/praça.
Agradecido.

9/4/09 4:14 da tarde  

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