31/08/2005

Só à bordoada !

Há uns tempos atrás, o filho de um amigo meu, com poucos anos de idade, caiu no recreio do colégio, fracturando o baço. Levado para o Hospital do Barreiro, foi ali operado, tendo-lhe sido retirado aquele importante órgão. No dia a seguir, que coincidiu com o fim-de-semana, a família foi avisada para, no espaço de, salvo erro, 24 horas, ministrar ao garoto determinado medicamento, tipo vacina, necessário para que a ausência do baço não viesse a provocar, mais tarde, problemas graves na sua saúde.

Primeira surpresa: o hospital não dispunha desse medicamento;

Segunda surpresa: o medicamento não estava à venda nas farmácias.

Terceira surpresa: em nenhum lado deste abençoado país a família conseguiu obter o medicamento, apesar de todos os esforços desenvolvidos.

Foi então que alguém sugeriu ao meu amigo que tentasse falar para um hospital em Espanha, onde talvez lhe resolvessem o problema. Dito e feito. Telefonema para um hospital de Badajoz, onde lhe responderam que teria o medicamento à disposição mal chegasse. Viagem até Badajoz, chegada ao hospital onde, na recepção já estava o medicamento devidamente acondicionado, acompanhado com o desejo de rápido restabelecimento. «Quanto se deve?», perguntou o meu amigo.

Quarta surpresa: «Nada. É gratuito», responderam-lhe.

Lembrei-me deste caso, porque, precisamente ontem, chegou ao meu conhecimento um episódio igualmente triste e revoltante. Ouçam bem:

Um português, residente em Almada, acordou no dia 16 de Abril deste ano e deu consigo com um problema assustador no olho direito. Pareceu-lhe grave, pelo que se deslocou ao Hospital Garcia de Orta, em Almada.
Diagnóstico: descolamento de retina, situação que, como se sabe, só é reversível através de intervenção cirúrgica.

Segundo a opinião do oftalmologista que o atendeu, a situação era muito grave, portanto, urgente. A cegueira poderia ser a consequência de qualquer atraso. Mas a lista de espera é muito grande, diz-lhe: talvez seis meses a um ano. O nosso amigo fica abismado, pois uma situação assim deveria requerer intervenção imediata. Qual a saída, então, sugerida pelo médico? A existência de um bom especialista em Setúbal, que ele próprio conhecia.

E lá vai este português à consulta do referido especialista, que lhe confirma o diagnóstico: tem de ser operado. E acrescenta: «Eu levo 3.000 euros por operar, mais 3.000 para a clínica e assistentes». Total: 6.000 euros (1.200 contos). O nosso amigo, que pela consulta já desembolsara 60 euros (12 continhos) por achar o orçamento brutal, aconselhado, resolve marcar consulta para uma clínica em Badajoz. Devido à urgência do caso, marcam-lha para o dia seguinte. É atendido meia hora depois de ter chegado. Confirmam-lhe o diagnóstico. O especialista diz não haver tempo a perder, não tem datas livres, por isso vai ter de adiar operações menos urgentes para poder encaixar a do cidadão português. Volta passados 10 minutos, com a data da operação: «Amanhã às 17 horas». «E quanto custa?», pergunta o nosso concidadão. «São 1.200 euros» (240 contos). Deve acrescentar-se que o custo da consulta foi de apenas 35 euros. E que a operação foi um êxito! Mais: nos 30 dias seguintes – e sempre que se deslocou à clínica para os tratamentos suplementares – não pagou mais nada!

Podíamos ficar por aqui, que já bastava para nos mordermos todos de raiva e de vergonha. Mas, embalado por estes exemplos e por notícias recentes sobre a ida de portugueses a Espanha para pouparem dinheiro, vou continuar, na esperança que alguns ouvintes, eventualmente muito contentinhos porque o partido deles está no governo, abram os olhos e tentem perceber que os partidos existem para servir as pessoas, e não são as pessoas que existem para servir os partidos.

Há dois anos, um casal meu amigo, ambos funcionários públicos, por sinal afectos a um partido que esteve no governo até há pouco tempo, conseguiram a transferência para o Algarve. Despacharam a casa que tinham no Barreiro, compraram residência em Espanha, na Ilha Cristina, e todos os dias vêm trabalhar do lado de cá. Estão os dois felicíssimos: mais qualidade de vida, mais poder de compra, mais tranquilidade, mais segurança, mais futuro. «Olha, João, foi a melhor decisão da nossa vida», garantem-me.

As coisas estão de tal maneira, que até os nossos emigrantes, na sua habitual visita de férias, já sabem que devem abastecer-se em Espanha antes de entrar em Portugal, se quiserem poupar uma mão cheia de euros. Por outro lado, são cada vez mais os portugueses a viajar até Espanha para fazerem as suas compras, que até de Évora já compensa a deslocação ao país vizinho. As bilhas de gás, muitas delas produzidas em Leça da Palmeira, são quase cinco euros (mil escudos) mais baratas. Da gasolina, então, não se fala, significando, em média, uma poupança de 50 escudos por litro (o que em cêntimos – 25 – não parece tanto).

Mas o pão, o leite, a carne, o peixe, enfim, todos os géneros de primeira necessidade, incluindo, como é natural, os produtos de higiene diária, custam todos eles significativamente menos do que em Portugal, onde os ordenados são, como todos sabemos, incomparavelmente mais baixos.

Por tudo isto, todos os dias há portugueses que também procuram Espanha para trabalhar e viver, cansados que estão do fartar vilanagem que caracteriza o poder político e o poder económico em Portugal. E não são só os trabalhadores que demandam Espanha. Soube há dias que um certo empresário de Campo Maior, farto de esperar, meses e meses a fio, que lhe deferissem, na câmara municipal, a documentação necessária à construção de uma unidade industrial, resolveu atravessar a fronteira e fazer em Espanha o que lhe estava a ser estupidamente travado em Portugal. Em 15 dias, talvez nem tanto, veio a luz verde necessária à concretização do projecto.

Se me perguntarem porque é que as coisas são assim, porque razão não conseguimos passar da cepa torta, e porque, no fundo, sendo tão semelhantes aos espanhóis, estamos, afinal, tão atrás deles em todas as áreas que servem para definir níveis de desenvolvimento e progresso, eu confesso que não tenho as respostas todas. Mas tenho duas que julgo responderem à maior parte das questões.

A primeira, é que a Espanha, apesar de ser uma monarquia, é mais republicana do que Portugal, que continua a viver num putrefacto regime feudal. Não temos rei, nem rainha, nem casa real, mas somos dominados por meia dúzia de reizinhos, bastardos nascidos de uma barregã que abriu as pernas a El Rei Dinheiro e logo os entregou aos cuidados da ama-seca mais corrupta do mundo, também conhecida por classe política.

A segunda, é que os políticos, em Espanha, sabem que não podem governar os espanhóis com o desprezo e o despudor que os políticos portugueses usam, como regra e princípio, para nos governarem. Se os espanhóis fossem tratados como um bando de atrasados mentais, como uma carneirada indolente e amorfa, que a tudo se sujeita servilmente, há muito que teriam queimado vivo quem a tanto se atrevesse.

Mas nós somos de brandos costumes, como dizia o velho de Santa Comba. Dêem-nos um telemóvel, mesmo que ao dia 15 já não haja dinheiro para o carregar, e já pensamos que somos felizes e modernos. Dêem-nos um computador para vermos pornografia na Internet, e já não pensamos na prestação que se vence no dia seguinte e não há dinheiro para a pagar. Dêem-nos crédito para pagarmos o crédito atrasado, e já respiramos fundo.

E eles a governarem-se e a produzirem leis para legalizar o governanço!

Então, o que fazer? Na opinião de Sampaio, é aumentar a auto-estima e encarar os sacrifícios necessários com um sorriso nos lábios.

Na minha opinião, assim só dá mais do mesmo. Cá por mim, só com uma grande vassoura, que também pode ser um belo pau de marmeleiro. Bordoada nas costas desta malandragem toda. E, já agora, pô-los todos a trabalhar, que é coisa que a maioria deles nunca fez na vida.

Crónica de João Carlos Pereira - Lida aos microfones da Rádio Baía em 31/08/2005

25/08/2005

Filhos de ... emigrantes

O reverendo Pat Robertson, que até já foi candidato à presidência dos Estados Unidos da América, qualificou o Presidente da Venezuela Hugo Chavez como um “perigoso inimigo do seu país” e que por isso “deveria ser assassinado, pois a sua morte seria bastante mais barata do que lançar uma outra guerra”.

Esta declaração foi feita através da televisão para quem o quis ouvir, incitando os seus concidadãos e o mundo à violência, tentando influenciar o poder político para uma intervenção mais dura em relação à Venezuela.

Num país civilizado respeitador dos Direitos Humanos e da soberania de outros estados, o mínimo que se poderia exigir era um pedido de desculpas formais e a condenação pública e judicial de quem faz tais declarações.

Mas não; o governo dos EUA apenas se demarcou dizendo que “eram opiniões pessoais e que isso não passava pela estratégia do executivo americano”. Como se pudessemos acreditar na sinceridade desta gente que praticamente desde que Hugo Chavez foi eleito, têm vindo a provocar convulsões na Venezuela através dos seus “anjos” da CIA, tudo fazendo para lá voltarem a colocar um governo fantoche e assim dominarem a seu belo prazer, tal como o têm feito na maioria dos países da América Latina.

É deste modo que funciona a mentalidade destes pseudo-democratas (ainda por cima religiosos) que se consideram donos do mundo, bastando para tal eliminar fisicamente quem lhes faz frente e não pactua com as suas políticas de domínio absoluto sobre estados soberanos que não se amedrontam com o poder bélico que possuem.

Para eles, filhos de emigrantes – para não lhes chamar filhos de outra coisa – já não lhes bastava terem o espinho de Cuba encravado desde 1959, para agora também se verem confrontados pela Venezuela por possuir um líder destemido e que não se verga perante os poderosos da guerra.

Pobre filhos de emigrantes que, ignorantes como demonstram ser, apenas servem de “carne para canhão”, não percebendo que se estão a auto-destruir e que mais tarde ou mais cedo serão reduzidos à sua insignificância, perdendo algumas das poucas liberdades que ainda têm.

Hoje em dia torna-se difícil que haja alguém em todo o mundo que possa em consciência defender este tipo de estratégia norte-americana, e os que ainda o fazem, é por puro interesse político ou económico olhando apenas para o umbigo e não querendo ver o que se passa à sua volta.

Há mais de uma década já o Presidente Fidel de Castro alertava nas Cimeiras Internacionais para os perigos da globalização e das suas consequências e quase todos consideravam que ele exagerava nas suas previsões.

Está à vista quem errou e quem estava certo.

Celino Cunha Vieira

24/08/2005

Os Incendiários

Os incendiários

Quanto, há três semanas atrás, li aqui a minha última crónica, já o país ardia há cerca de dois meses. Florestas, aldeias, habitações dispersas, terrenos de cultivo, pomares, pastagens, currais, galinheiros, celeiros e armazéns, a par de uma fábrica ou outra, ardiam como tochas. Parques naturais, também. Agora, o fogo até entrou numa das principais cidades portuguesas.

A seca e a perspectiva de um verão quente faziam, há muito, adivinhar o pior. Tirando um dia ou dois, em que o território nacional foi bafejado por umas escassas gotas de água, não passou um único dia sem que o país não fosse devorado por dezenas de fogos. Entretanto, em Lisboa, o poder político espreguiçava-se, tranquilo, à beira das férias, já que mansão de rico e morada de político nunca constou que ardessem. O poder económico, esse, partira para o Dubai ou para paraísos semelhantes.

Mas o país das pessoas comuns, ardia – e arde. Os bombeiros e os meios de que dispõem não podem acudir a todo o lado, e as populações desesperadas, pedem à santa que faça aquilo que os homens não são capazes. Aparentemente, a santa e os outros santos, mesmo os de maior peso, prestígio e influência, terão partido para férias, pois também eles, tal como o senhor engenheiro José Sócrates, merecem uns dias de repouso, longe dos problemas dos míseros mortais. E as preces não foram ouvidas.

Sabemos hoje – quando as chamas ainda por aí continuam a devorar o que lhes dá na gana – que em Portugal já ardeu mais do que nos restantes países da Europa do Sul. E quem der uma olhadela às fotos que os satélites enviam, observará as manchas negras do território ardido, o clarão laranja dos incêndios, com os respectivos penachos de fumo alongando-se por quilómetros. Nada disso se vê em Espanha, França, Itália ou Grécia, onde os incêndios são fenómenos excepcionais e não uma praga crónica e endémica, como acontece neste braseiro à beira-mar plantado. Ou seja: o país mais pequeno arde mais do que os maiores todos juntos, com condições climatéricas e geográficas muito semelhantes.

Dizia, há dias, um responsável pelo combate aos fogos, que mal se verifica a regra dos Três Trintas, o perigo de incêndio sobe em flecha. E explicou: vento acima dos 30 nós; humidade abaixo dos 30 por cento; e temperatura acima dos 30 graus. Eu diria que, em Portugal, o mais correcto é falar na regra dos Quatro Trintas. Isto é: falta acrescentar outro 30 – o de trinta anos de atraso em relação aos países desenvolvidos.

Ardemos mais, porque somos os mais pobres da Europa. Ardemos mais, porque somos os mais corruptos da Europa. Ardemos mais, porque somos os mais desorganizados (entenda-se: mal governados) da Europa. Ardemos mais, porque somos os mais tristes e infelizes da Europa. Ardemos mais, porque somos os mais doentes da Europa. Ardemos mais, porque somos o povo mais submisso e manipulado da Europa. Ardemos mais, em suma, porque não somos capazes de pensar que este país é nosso e não de meia dúzia de políticos canalhas e incompetentes que, ano após ano, deixam tudo ao abandono, salvo as suas contas bancárias – cá, na Suiça ou em qualquer paraíso fiscal – e só querem a governação para assegurar o seu futuro e o dos seus familiares e compinchas.

Mas não se diga que os fogos só têm coisas más. Os fogos que por aí lavram, pelo menos para uma coisa serviram: para queimar também a capa diáfana da fantasia que tapava a nudez crua da triste verdade que é o engenheiro Sócrates como primeiro-ministro (e Eça que me desculpe este quase plágio). De Sócrates e do seu governo, especialmente de António Costa, esse ministro da Administração Interna, cada vez mais gordo e luzidio, sempre com um meio sorriso alvar afivelado.

Estado de Calamidade? Não, porque isso só iria beneficiar as seguradoras! Intervenção dos Bombeiros Sapadores, que, aliás se ofereceram para combater os fogos? Não, porque o Governo não manda nos sapadores! Pedido de ajuda ao estrangeiro? Cuidado, que essa ajuda pode ser perigosa se não for estritamente necessária. Amanhã, com uma situação realmente grave, podemos pedir, e, depois, já ninguém ajuda. Pedir ajuda comunitária, através de fundos destinados a estas situações? Não pode ser, porque ainda não ardeu área suficiente! Mas a situação não é gravíssima? Então, para que interrompeu as férias o presidente da República, embora não tenha dito nada que se aproveitasse? Bom, na opinião de Sócrates, só houve um dia realmente preocupante, com uma série anormal de incêndios fora de controlo. Bem vistas as coisas, segundo este notável governante, a situação até está melhor do que em 2003, ano em que ardeu mais área do que este ano. Se isto não é canalhice política no seu esplendor, então já não sei o que será canalhice, seja política ou seja da outra.

Afinal (que remédio!), a ajuda estrangeira acabou por chegar, vinda de Espanha, de Itália, de França, da Alemanha, da Holanda, países onde os meios aéreos de combate a incêndios, pelos vistos, são excedentários. Nós queremos é 10 estádios de futebol, para embasbacar o Zé Povinho e entretê-lo com apitos dourados, migueladas e penaltis. Nós queremos é helicópteros, submarinos e carros de combate para ir fazer o frete à NATO e ao Bush, e mamar resíduos de urânio no Afeganistão, no Iraque, no Kosovo ou onde o mentecapto nazi mandar. Nós queremos é TGVês e novos aeroportos, para engordar empreiteiros e para fazer certos «responsáveis» partidários lamber os grossos beiços à espera das chorudas comissões, que escorrerão para os seus democráticos bolsos e para os cofres dos seus partidos.

Limpeza das matas nacionais? Torres de vigia e detecção de incêndios estrategicamente espalhadas pelo território? Equipas móveis de ataque rápido a fogos? Compra de meios aéreos suficientes? Dotação dos bombeiros com meios bastantes e eficazes? Calma, há um tempo para tudo, e agora é só tempo de apagar os fogos. Lá mais para o Natal falaremos disso.

Já ouvi essa conversa no ano passado, e no outro, e no outro. Eu até já ouvi isso nos anos em que o primeiro-ministro se chamava Guterres e o ministro do Ambiente se chamava Sócrates... E todos os anos, quando chega a altura da classe política mergulhar numa merecidíssimas férias, sejam elas no Quénia, ou em Kuala Lampur, ou na Malásia (o local mais procurado pelos pedófilos endinheirados), a macacada perdida por essas matas e aldeias remotas entretém-se a apagar fogos – ou a morrer queimada.

Morre o gado, ardem as hortas, as alfaias, as casas, as colmeias, arde o sustento e ardem os meios de sobrevivência de milhares de pessoas. Morrem populares e bombeiros. O ambiente deteriora-se, a fauna e a flora sofrem golpes irreparáveis, perdem-se milhões de litros de água, o ar fica irrespirável. Mas sua excelência está no Quénia e acha que não faz cá falta nenhuma. Não foi para apagar fogos que lhe deram uma maioria absoluta. O substituto Costa que se desenrasque. Os bombeiros que façam o que lhes compete. Quando chegar, vai pôr um ar pesaroso e pensativo, e vai dizer que está solidário com as populações.

Irá à Pampilhosa da Serra dez dias depois do flagelo ter começado. Chamará demagogos e politiqueiros aos que o censuraram por não ter decidido interromper as férias para voltar ao seu país em chamas e estar, de facto, solidário, com os portugueses, acompanhando a situação de perto e participando activamente na tomada de decisões. Chamará ignorantes aos que fazem perguntas incómodas e não conseguirá controlar a sua arrogância e tendência para se irritar com os que não concordam com ele. Ele sabe tudo, de resto. Ele também nunca se engana. Ele manda, e acabou-se.

E o país a arder. Diz-se, entretanto, que já foram apanhados cento e tal presumíveis incendiários. Não me custa a crer. Mas falta engavetar os verdadeiros incendiários, os maiores, os que não são presumíveis, mas comprovadamente incendiários. São eles todos os governantes que, ao longo dos anos, nada fizeram para que a época dos fogos não fosse o inferno que todos os anos é. Eles, sim, é que são os incendiários.

Não resisto, ao terminar, a contar-vos uma cena deliciosa a que assisti há dias num café, onde tomava a bica. Na televisão, as imagens dantesca dos incêndios, os populares atacando as chamas com tudo o que tinham à mão, os bombeiros sem mãos a medir, uma casa tomada pelas chamas, um mar de faúlhas em fundo negro. É então que um homem que, encostado ao balcão, saboreava um copo de cerveja, se volta para os outros clientes e pergunta: «Eh pá! Já chegaram os americanos? Se calhar, pensam que escondemos o bin Laden…».

Crónica de João Carlos Pereira - Lida aos microfones da Rádio Baía em 24/08/2005

13/08/2005

Como dizia o Eça há 140 anos ...

Na semana passada, dediquei grande parte da nossa conversa à gestão exemplar que a presidente da Câmara Municipal de Almada – e a sua equipa – têm vindo a fazer no concelho; e fi-lo a propósito da inauguração do Teatro Azul, um dos melhores equipamentos culturais do nosso país. Ouviram bem: um dos melhores equipamentos culturais do nosso país.

Volto ainda ao assunto para dar aos ouvintes da Rádio Baía mais alguns dados sobre este teatro municipal, que foi – note-se bem – quase integralmente pago pelos cofres do município e, a propósito disso, falarmos de outras coisas. De facto, a obra custou 10,6 milhões de euros, dos quais a autarquia suportou 8,1 milhões, e o Governo apenas 2,5. Não significa isto que eu ache que o Governo deu pouco (cá para mim, mesmo que se o governo não desse nada, a obra fazia-se na mesma), mas quero apenas dizer, cá na minha, que, até nisto, Almada é diferente do resto do País. Em muitos casos, os autarcas, depois de consumirem os recursos municipais em actos improdutivos, numa dolce vita de novos-ricos, só porque pensaram que tudo o que luzia era ouro, vêem-se agora na situação de tesos absolutos e, para disfarçar a sua gestão irresponsável e a obra que não fazem, trespassam a culpa para a crise e para o Governo, que acusam de não cumprir o que deveria cumprir. Pelo meio, vão assumindo atitudes próprias de caloteiros encartados, atirando para cima de fornecedores, munícipes e trabalhadores das autarquias o ónus da sua irresponsabilidade e incompetência.

Não quero dizer que não haja crise, ou que os governos sejam coisas honradas e responsáveis. O que eu quero dizer é que não se pode dissolver as culpas próprias nas culpas alheias e que, em vez de se seguir o mau exemplo da administração central, deve seguir-se pelo único caminho decente que existe, que é gerir os dinheiros públicos com critério e respeito pelos cidadãos. Cidadãos que almoçam (os que almoçam) todos os dias, mas pagam do seu bolso as côdeas que mastigam. A maioria dos cidadãos não tem cartão de crédito da empresa nem verbas para ajudas de custo, e tudo o que come ou bebe, paga do seu bolso – incluindo os belos uísques e os vinhos de marca, pois autarca que se preze não bebe «vinho da casa».

Conheci um destes «artistas», que era especialista em marcar reuniões de trabalho para a hora do almoço ou do jantar e, naturalmente, para os melhores restaurantes do concelho. Era ali que ele era «produtivo», porque era ali, depois do excelente repasto, que as coisas ficavam adiadas para a próxima reunião… isto é: para a próxima almoçarada.

Outro autarca dizia-me, há anos, justificando-se quando o censurei pela catadupa de admissões que começou a fazer mal segurou nas rédeas do seu município, que não era nada demais, pois Almada ainda tinha um rácio de trabalhadores municipais por habitante muito superior. Incapaz de perceber a diferença que há entre quantidade e qualidade, e que cada conselho tem características e processos evolutivos diferentes, rodeou-se, até deitar por fora, de técnicos, adjuntos, assessores e outros crânios. Encheu a Câmara de uma corte de gente de gabinete, bem refastelada no ar condicionado, gente que teria como objectivo ajudá-lo a traçar o rumo do concelho e a magicar o futuro. Hoje, nem rumo nem dinheiro para o cumprir, caso rumo tivesse havido. Esgotaram-se os recursos nos cérebros e nos gabinetes. Adiou-se o futuro e, em muitas situações, recuou-se no tempo.

Mas voltando ao Teatro Azul. Com 446 lugares, a boca de palco do novo auditório tem 30 metros de altura, devendo dizer-se que, em Portugal, apenas o palco do Centro Cultural de Belém é maior. Com uma área de cerca de 8 mil metros quadrados, o edifício dispõe ainda de uma sala experimental e outra de ensaios. Os indispensáveis camarins, uma galeria de exposições, espaço para café-concerto, livraria, ludoteca, sala de vídeo e cafetaria, completam o equipamento cultural, projectado pelos arquitectos Graça Dias e Egas Vieira. Note-se que Almada também dispõe de um Fórum Cultural, o Fórum Romeu Correia, com todas as valências próprias deste tipo de infra-estrutura cultural. Em Almada, meus amigos a crise dá-se mal com a honestidade e a competência. Passa ao lado. E, quando entra, é só pela mão do governo da nação.

Mas o que desejo aqui realçar – e é esse o tema central da conversa de hoje – é que há um outro equipamento que foi – e ainda é – muito badalado na comunicação social, apesar de ser, em tudo, semelhante ao Teatro Azul. Falo da Casa da Música, no Porto: é semelhante em dimensão, capacidade, funções e, até, no tempo de construção. Têm, contudo, uma grande diferença. Custou dez vezes mais do que o Teatro Azul (BIS). E não sou só eu a dizê-lo. Ou melhor: se eu o digo, é porque também o ouvi a um repórter de uma das nossas insuspeitas televisões, que disse (e passo a citar): «O novo Teatro Municipal de Almada tem as mesmas dimensões da Casa da Música, no Porto, com uma única e grande diferença: custou um décimo do que se gastou para construir o equipamento do Porto».

Fica-se assombrado! Como é possível duas obras semelhantes apresentarem custos tão diferentes? Uma custa dez vezes mais do que a outra! Bem…Uma, a mais cara, é da responsabilidade dos governos do PS e, depois, do PSD/CDS; a outra, a mais barata (dez vezes mais barata!) é da responsabilidade de uma autarquia, por sinal muito bem gerida, por gente séria e competente, que essa coisa da competência (ou da incompetência), como se prova, não tem nada a ver com ser-se público ou privado. Tem a ver, quanto a mim, com outra coisa, com outro mal que alastra por este país, a pontos de Portugal já ser considerado o maior especialista na matéria. Estou a referir-me, como é fácil de perceber, a um fenómeno chamado corrupção.

E é aqui que eu tenho um sobressalto. Ou melhor: dois sobressaltos. Um, chama-se TGV; outro, chama-se Ota. Há dias, no célebre programa Contra Informação, parodiava-se o facto, pondo-se o boneco de Jorge Coelho (e não foi por acaso que era Jorge Coelho o visado, suponho eu) a publicitar o aeroporto da Ota, com um cartaz da sua invenção, que dizia: «Construir o aeroporto é dar de comer a um milhão de empreiteiros», acrescentando logo a seguir, para Sócrates e outros membros do Governo, que a coisa era mesmo assim, pois quem quer ganhar eleições tem de as pagar.

Era uma alusão aos dinheiros que escorrem por fora (e que fazem duplicar, triplicar e, até decuplicar os preços finais das obras, como acontece amiúde). Dinheiros para financiar partidos políticos que, por sua vez, pagam isso com novas adjudicações e favores de toda a ordem, mal chegam ao poder, já para não falarmos no que recebem, em dinheiro, ou em espécie, os políticos que entram nesta jigajoga. É, meus amigos, a corrupção na sua esplendorosa normalidade. A corrupção como instituição Nacional. Democrática

Mas disto só fala o Contra Informação em ar de brincadeira, fala-se às mesas do café, nas conversas de amigos e nas tertúlias partidárias, falo eu aqui, mas não falam os analistas, comentaristas e outros palhaços pagos a peso de ouro pela comunicação social para nos levarem no engodo, nem fala o senhor Presidente da República nem o Governador do Banco de Portugal, como se o dinheiro, com o seu toque, cor e cheiro, não fosse um esgoto que escorresse aos milhões por debaixo da mesa, e não representasse uma grande fatia no buraco do filho da mãe do défice.

Não, disso não se fala, porque toda a gente sabe que as coisas são mesmo assim – e assim é que grande parte da distinta classe política se amanha – enquanto outra parte espera a sua vez, ou aspira vir a amanhar-se um dia.

Entretanto, faz-se aquilo que é democrático. Vai-se ao bolso dos pequenos, porque ir ao bolso dos outros, é antidemocrático, é uma irresponsabilidade política, é um atentado à economia. A economia não aguenta que se vá ao bolso dos grandes, só admite que se vá ao bolso dos pequenos, da ralé. Por isso, eu sou forçado a concluir que a justiça social, o bem-estar das pessoas comuns, o acabar com a pobreza e a miséria, com as crianças com fome, como acabar com os comilões que têm várias e grandes reformas, e ainda mais tachos por cima, acabar com tudo isso é, naturalmente, antidemocrático. Então, meus amigos, do alto deste microfone, proclamo que esta democracia é uma coisa que cheira mal, que cheira a fezes, para não dizer aquela palavra que o povo vulgarizou e que todos vocês sabem qual é.

E acabo (mais uma vez) com o Eça, aqui há 140 anos atrás.
O défice
"Sempre que no Parlamento se levanta a voz plangente dum ministro, pedindo que cresça a bolsa do fisco e se cubra de impostos a fazenda do pobre, para salvação económica da pátria, há agitações, receios, temores, inquietações, oposições terríveis, descontentamentos incuráveis. O povo vê passar tudo, indiferente, e atende ao movimento da nossa política, da nossa economia, da nossa instrução, com a mesma sonolenta indiferença e estéril desleixo com que atenderia à história que lhe contassem das guerras exterminadoras duma antiga república perdida.
Temos um défice de 5 mil contos. Esta é a negra, a terrível, a assustadora
verdade. Quem o promoveu? Quem o criou? De que desperdícios incalculáveis se formou? Como cresceu? Quem o alarga? É o governo? Foram estes homens que combatem, foram aqueles que defendem, foram aqueles que estão mudos? Não. Não foi ninguém. Foram as necessidades, as incúrias consecutivas, os maus métodos consolidados, a péssima administração de todos, o desperdício de todos. Depois, as necessidades da vida moderna, de terrível dispêndio para as nações. Como na vida particular, cresceram as superfluidades, o vão luxo, o aparato consumidor, mais precisões, mais gastos, a vida internacional tornou-se tão cara que mais ou menos todas as nações estão esfomeadas e magras.
O défice tornou-se um vício nacional, profundamente arraigado, indissoluvelmente preso ao solo, uma lepra incurável."
O Eça de Queiroz, em 1867, já falava do Portugal de 2005. Essa é que é essa!

Crónica de João Carlos Pereira - Lida aos microfones da Rádio Baía em 27/07/2005

Dois Escândalos e uma Farsa

Se esta crónica tivesse título, só podia ser um. «Dois Escândalos e uma Farsa». Dois escândalos dos grandes – tenebrosos, como veremos – e uma farsa que, embora faça rir, como compete a uma boa farsa, acaba por fazer chorar, tal a dimensão do seu ridículo.

O primeiro escândalo fala-nos de guerra e servidão. Vamos a ele:

Mais de duzentos militares portugueses partiram recentemente para o Afeganistão, com a missão de controlar o aeroporto de Kabul. No Afeganistão, como sabem aqueles que procuram mais alguma informação para além daquela que é dada pelos jornais, rádios e têvês nacionais, as forças norte-americanas já mal saem dos seus aquartelamentos e fazem todos os possíveis por encarregar das missões que envolvem maiores riscos as forças dos países seus aliados. Os seus lacaios. Depois de meses de brutais bombardeamentos, a pretexto de caçar bin Laden e depor o regime talibã, a que se seguiu a ocupação militar, política, económica e cultural do país, a vida para os afegãos piorou substancialmente e, de bin Laden, nem sombras.

Uma ou outra iniciativa de carácter humanitário, preparada mais para europeu ver nos canais temáticos do que para resolver problemas reais, não chega para alterar um cenário de pura miséria, onde sobreviver se tornou a palavra de ordem. Na verdade, o principal objectivo dos norte-americanos está, por enquanto, assegurado: ocupar um país situado numa região estratégica, na rota das grandes reservas do petróleo e do gás natural. De burkas e direitos humanos violados já não se fala, embora as duas coisas continuem a ser uma realidade quotidiana, ao que a presença de forças estrangeiras de ocupação confere uma nota ainda mais trágica e sinistra.

Neste contexto, a missão que o governo português aceitou cumprir, como autêntico subempreiteiro de uma desavergonhada guerra de agressão e domínio colonial do mundo e dos seus recursos naturais, implica-nos cada vez mais num contexto autenticamente explosivo. Portugueses em Kabul, de camuflado e armas na mão, é coisa que não entendo nem aceito, e que, em consequência, repudio. Mas é coisa que pago, como todos pagamos, pois a missão de lambe pés ao IV Reich e ao seu chefe – o bronco nazi, George Bush – custa às nossas finanças não sei quantos milhões de euros. Muitos milhões de euros.

Dizia há dias, a este propósito, um popular entrevistado pela televisão, no meio de um incêndio que devorava florestas e habitações, que os bombeiros não tinham meios suficientes para combater o fogo, mas que havia dinheiro para mandar homens para uma guerra que não é nossa, nem justa. Benditas palavras, que demonstram que, apesar de tudo, ainda há gente de olhos abertos neste país, e coragem para dizer o que é urgente dizer. Nem tudo está perdido.

Então, dizem os governantes que a situação das contas públicas é calamitosa, apela o venerando chefe de Estado aos portugueses para que façam sacrifícios de cara alegre com muita auto-estima, aumentam-se os impostos, ataca-se a saúde, agravam-se as prestações sociais, aumenta-se a miséria e as dificuldades que já tocam em milhões de portugueses, mas há dinheiro para ir combater as guerras sujas dos outros?!

Este é um escândalo que não posso aqui deixar passar em claro, tanto mais que foi por estas e por outras que espanhóis e ingleses já experimentaram na pele o resultado dos seus governos terem participado na vertigem imperial dos norte-americanos. É que os senhores Blair, Aznar, Berlusconni, Durão ou Sócrates, tal como Bush, esquecem-se que a globalização não se aplica só à economia, também se aplica à guerra, e que por muito forte que seja uma nação, já não pode, como sucedia há um século, ir despejar bombas onde muito bem lhe convier, ir roubar e humilhar milhões de pessoas em África, no Médio Oriente ou na Ásia, e não ficar à espera que o mesmo terror lhe bata à porta, ou lhe entre pela casa adentro. Em Nova Iorque, em Madrid, em Londres, ou em Lisboa.

O outro escândalo passa-se mais perto. Na Caixa Geral de Depósitos. Aliás, este escândalo é do tipo «dois em um». É escândalo, porque com as mexidas agora operadas na administração desta instituição, lá vamos nós pagar mais indemnizações e reformas aos senhores afastados. Mas é escândalo, porque um dos premiados com um lugarzinho na administração foi um fulano que, se isto fosse um país a sério, deveria ter saído de circulação (da vida pública) em Dezembro de 2000. Falo de um antigo caixa da Caixa Geral de Depósitos, que a porca da política alcandorou, um dia, a ministro deste acampamento chamado Portugal, e de tal maneira se comportou que foi o próprio Jorge Sampaio a exigir, nessa altura, que Guterres o demitisse.

Falo, pois claro, de Armando Vara, o exemplo mais acabado de que Portugal se transformou numa autêntica estrumeira – e numa estrumeira maior sempre que o PS chega ao poder. Armando Vara, como já disse, era um simples caixa numa agência de CGD, lá para Trás-os-Montes, e disso – diz quem o conhece bem na instituição – nunca passaria se não se tivesse agarrado ao PS e, lá dentro, trepado com unhas e dentes. Enveredou pela política e, como para se ser ministro, em Portugal, só é preciso estar-se do partido certo e lidar com a ética como se a ética fosse uma gamela, o tal Vara deu consigo em ministro, sem saber ler nem escrever, coisa que era muito natural na altura em que Guterres a dirigia o barco.

Foi assim que rebentou o escândalo da Fundação para a Prevenção e Segurança, um esquema diabólico que gastava dinheiro do Estado a dar com um pau, mas sem que se soubesse bem para onde ele ia. Disse-se, na altura, que tudo não passava de uma esquema para meter dinheiro nos cofres do PS, de tal modo que a sigla FPS não queria dizer Fundação para a Prevenção e Segurança, mas Fundos Pró PS. Sampaio exige, então, a demissão de Vara e, surpresa das surpresas, o antigo caixa, em vez de voltar às suas funções, regressa à CGD mas, – veja-se bem! – para ocupar um lugarzinho de director. Por alma de quem!? – pergunta você, amigo ouvinte, justamente escandalizado. Por alma do lodaçal infame em que se transformou a nossa vida política, com a boyada toda a abocanhar o que pode, enquanto pode. Pois foi este caixa que, passou a director por obra e graça da política, que agora se vê promovido a administrador – e cujos méritos conhecidos são apenas os de ser do PS. Sampaio, entretanto, tão preocupado com as trapalhadas de Santana, vai deixando passar em claro as trapalhadas de Sócrates, embora esta governação cheire cada vez mais a latrina.

Se algum ouvinte, aqui chegados, sentir náuseas e precisar de ir vomitar, eu espero. Tudo bem? Continuemos, então.

Depois da tristeza dos escândalos, o riso da farsa. Das presidenciais. O maior partido de Portugal, que governa com maioria absoluta, que se porta com os portugueses como se tivesse o rei na barriga, não conseguiu parir um candidato presidencial credível e capaz de representar o PS, já que a esquerda é outra coisa totalmente diferente.

Cá para mim, não é que não houvesse gente no PS com a água a escorrer-lhe da boca, capaz de dar tudo e mais oito tostões para se sentar em Belém. Mas a esses falta-lhes coragem para entrarem numa competição que não têm, à partida, a certeza de vencer. É que a figura salazarenta de Cavaco paira há muito, ameaçadora, sobre o palácio de Belém, e, segundo as sondagens, tem fortes possibilidades de ganhar. No fundo, para além dos tachos e do prestígio que resultam de se ter um camarada na presidência da República – e que uma vitória de Cavaco lhes roubaria – os socialistas nem temem a magistratura do professor de Boliqueime, pois, como bem reconheceu Marcelo Rebelo de Sousa, a política económica de Sócrates, de tira ao pobre para dar ao rico, tem todos os condimentos para fazer Aníbal salivar de prazer.

Mas o que é grotesco, neste madrugar das eleições presidenciais, é a avidez senil de Mário Soares, sempre sedento de protagonismo e ainda convencido de que é o pai e a mãe da democracia portuguesa. Bom, mas sendo esta democracia o que é, com um estado falido, com a pobreza e as desigualdades sociais em constante alastramento, com o trabalho precário, os salários em atraso, as falências e as deslocalizações a serem notícias todos os dias, com a Sida e a tuberculose, o analfabetismo e a corrupção a colocarem o nosso país no top de tudo o que é negativo ou nefasto, pois que seja Soares o pai, a mãe e os resto da família desta triste democracia.

Sim, porque de uma verdadeira democracia, humanizada, justa, solidária e capaz de fazer as pessoas felizes, sem fome, sem miséria, sem desemprego, sem desigualdades, sem tubarões a devorarem peixe miúdo, dessa democracia ele nem quer ouvir falar. Por isso, a farsa das presidenciais, em vez de fazer rir, acaba por fazer chorar.

Crónica de João Carlos Pereira - Lida aos microfones da Rádio Baía em 07/07/2005

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