21/06/2006

MANUAL DO LOCUTOR PATRIOTA E OUTRAS PROVOCAÇÕES

Como já informei os ouvintes da Rádio Baía, devo agora informar os leitores destas crónicas que vou estar ausente cerca de três semanas. Contudo, posso ainda, para este nosso site, deixar alguma coisa escrita, prometendo que, se tal me for possível, enviarei outros textos.

As minhas palavras de hoje foram-me sugeridas pelos relatos do mundial de futebol, a decorrer na Alemanha. Porque os nossos locutores, tanto na rádio, como na televisão, em vez de profissionais encarregados de relatarem e comentarem um jogo, me parecem membros vesgos e fanáticos da claque a quem puseram um microfone na mão, lembrei-me que seria giro – já que ninguém lhes chama a atenção para a coisa, sendo, por isso, oportuno pensar-se que os seus patrões estão de acordo com o método – elaborar um Manual de Locutor Patriota, que seria distribuído pelos candidatos a futuros locutores e comentadores. Vamos a isso?

Capítulo I
Do árbitro e seus auxiliares

1 – Todas as faltas cometidas pelos jogadores nacionais não devem ser relatadas como faltas.

1.1 – Assim, devem evitar-se frases do género: «Maniche agarrou o adversário, e o árbitro assinalou a respectiva falta».

1.2 – O locutor deve, por isso, dizer: «O árbitro decidiu assinalar uma falta que, sinceramente, não descortinámos. Aliás, o juiz estava distante do lance, e o auxiliar nada assinalou». Ou então: «Foi falta, na opinião do árbitro». Ou ainda: «O juiz de campo viu ali uma falta, num lance que nos pareceu absolutamente normal!». Isto é: nunca se diz que foi falta, mas sim que o árbitro viu uma falta.

1.3 – Se a falta tiver sido muito evidente, o lance deve ser relatado assim: «O jogador português reagiu à dureza que os nossos adversários vêm usando, mas já vimos lances semelhantes, por parte da equipa contrária, e o juiz não assinalou nada».

1.4 – Qualquer falta, mesmo que ligeira, cometida sobre um jogador português, deve ser sempre relatada deste modo: «Falta! O árbitro, bem posicionado, não teve dúvidas em assinalar a entrada sobre o nosso jogador, só é pena que outras já tenham passado em claro.

1.5 – Se houver uma entrada dura sobre um jogador nacional, o locutor deve mostrar a sua indignação e reclamar, logo, a amostragem do vermelho. Se tal não se verificar, e for o amarelo, dirá que «o árbitro está a prejudicar, claramente, a equipa das quinas». Se nem for o amarelo, então, o árbitro é, no mínimo, «um elemento da equipa adversária».

1.6 – Admitamos, agora, uma entrada violenta sobre um jogador adversário, daquelas que até o senhor Scolari põe as mãos na cabeça à espera da expulsão. O locutor patriota deve relatar assim. «Bom… pareceu-nos falta. De facto, Deco entrou de pé em riste, mas o seu adversário também baixou a cabeça. Enfim… no critério do árbitro, o amarelo devia ser mostrado… e foi o que ele fez».

1.7 – Há uma jogada duvidosa, em que parece ter havido falta sobre um jogador nacional, mas o árbitro nada marca. O locutor deve gritar: «Incrível! Foi mesmo nas barbas do árbitro e, mais uma vez, o senhor do apito mandou seguir! Inadmissível. Esperemos pela repetição para vermos melhor aquilo que só ele não viu!».

1.7.1 – Se a repetição, de vários ângulos, der razão ao árbitro, o comentador e o locutor devem ignorar o facto, continuando o relato do jogo.

1.8 – Se a pretensa falta tiver sido dentro da área, deve dizer-se mais tarde, que «já houve um lance muito duvidoso, que pareceu penalti claro, a que o árbitro fez vista grossa», e insistir nisso nos comentários finais.

1.9 – Se o árbitro, porém, tiver marcado, a nosso favor, uma falta inexistente, e a repetição provar isso mesmo, o locutor patriota deve dizer que «o árbitro, de onde estava posicionado, terá visto algo que justificou a marcação do castigo», acrescentando que «no entanto, as próprias imagens da repetição deixam algumas dúvidas».

1.10 – Resumindo, os nossos jogadores nunca fazem (ou raramente fazem) faltas. Faltas para expulsão, isso, NUNCA!

1.11 – Os nossos adversários só fazem faltas, quase todas passíveis de acção disciplinar.

1.12 – A equipa de arbitragem nunca favorece Portugal. Favorece, sempre, os nossos adversários.

Capítulo II
Do mérito das equipas

2 – A «selecção de todos nós» joga sempre bem, podendo, às vezes, ter uma exibição menos conseguida. (exclui-se o caso em que a exibição e o resultado forem miseráveis, pelo que, apenas nesses casos, é permitido ao locutor ser objectivo, mas só a partir dos último quarto hora de jogo.

2.1 – Os nossos jogadores são sempre excelentes, salvo quatro (Figo, Deco, Cristiano e Quaresma) que são «mágicos», os «melhores do mundo», «de outra galáxia», «fantásticos», etc, etc.

2.2 – Uma bola rematada por um dos nossos jogadores, que passe a dois metros dos postes ou da barra, é sempre uma «jogada perigosíssima» (convém dizê-lo em altos gritos, como se a bola já estivesse a beijar as redes), e o remate «rasou» o poste – ou a barra.

2-3 – Um adorno do Cristiano ou Quaresma, mesmo que dê em nada – ou dê, até, num golo do adversário – deve ser relatado assim: «É para ver isto que as multidões enchem os estádios! É a fantasia de um dos maiores jogadores do mundo – provavelmente, daqui a dois ou três anos, o melhor jogador do mundo!».

2.4 – Deco faz um bom passe, e o locutor deve dizer: «Magnífico passe de Deco, um passe que só ele é capaz de executar. Excelente visão de jogo». Se Deco falhar uma série de passes, ignora-se o facto, podendo encontrar-se, quando muito, uma desculpa no estado do terreno ou na capacidade de antecipação da defesa adversária.

2-5 – A equipa adversária, (salvo se conseguir anular completamente a equipa nacional), é, apenas, uma equipa esforçada, composta por bons jogadores, mas sem a técnica e a capacidade de improvisação e a disciplina táctica da selecção nacional.

2-6 – Se o resultado não for favorável, deve atribuir-se o insucesso a:
- A erros da arbitragem, que, apesar de não ter influído directamente no resultado, foi cortando, com o uso habilidoso do apito, o nosso fio de jogo;
- Ao anti-jogo do adversário, muito fechado no seu meio campo, não jogando, nem deixando jogar;
- Ao mau estado do terreno, o que favorece sempre a equipa menos apetrechada tecnicamente;
- Falta de inspiração de alguns dos nossos melhores elementos.

Buzinam carros, lá fora

Ao concluir este pequeno manual, começo a ouvir buzinas lá fora, na minha rua. Deve ser a população a protestar por mais um aumento dos transportes, que aí vem. Só este ano – e só agora vamos em metade – já chegam aos 5%!

Afinal, não era nada disso. Eram só uns patriotas a celebrar a passagem da selecção aos oitavos de final. Que bom, não é? Para aqueles, a gasolina deve ser de borla. Trabalham ao pé da porta, se calhar…

AZAMBUJA

A Opel vai fechar, porque diz que consegue fazer carros 500 euros mais baratos, em Saragoça. Se os espanhóis ganham mais, se a produtividade da fábrica da Azambuja é das mais altas da Europa, quem é que me explica isto? Olhem: mas expliquem como se eu fosse muito estúpido…

GUANTÁNAMO

Na prisão hitleriana de Guantánamo, foram suicidados três afegãos. O Hitler norte-americano, por alcunha, George, e por cognome, O Bush, diz que vai mandar para o Afeganistão alguns outros prisioneiros que estão, há vários anos, presos na referida base nazi, sem culpa formada, a fim de que possam, naquela colónia norte-americana da Ásia, serem julgados ou libertados. Mais uns que vão ser suicidados…

TIMOR

Ramos Horta, o homem que os norte-americanos e os seus aliados australianos têm em Timor, lá vai fazendo pela vida. Incapaz de disfarçar a ambição e a sede de protagonismo, quer transformar Timor numa colónia do Império. Vaidoso, mas estúpido, não percebeu que a sua necessidade de aparecer nas varandas é topada à légua.

Depois, Timor tem petróleo. O que podia ser um bem, acaba por ser um mal. É que há vampiros que se alimentam de crude. E onde há crude… há vampiros destes. Lindos, de gravata – ou lacinho – risonhos, bem falantes. E quem não vai na conversa, come com o Plano B. B, de BOMBA!


Crónica de: João Carlos Pereira

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Olá tio João Carlos

Então o tio vai estar ausente 3 semanas e não disse para onde ia ? Cá para mim, que às vezes me ponho a adivinhar e até acerto, foi até à Alemanha para assistir aos jogos da selecção nacional de futebol e não quer dar o braço a torcer. Isso é que deve ser fé: tirou logo 3 semanas a contar que Portugal vá à final. Quero ver se o vejo na televisão a dar uma entrevista a um dos “pés de microfone” que andam por lá e a dizer que está muito contente com o Scolari, com o Madail, com o Sócrates e com o Cavaco, porque graças a eles podemos ser campeões do mundo e depois passamos a viver todos muito melhor e sem grandes preocupações.
Nem sei o que pensar de tal coisa, mas como há por aí tanta gente que vira a casaca com a maior das facilidades dependendo só da cenoura que lhes põem à frente ...
Claro que estou a brincar, porque sei que seria mais fácil o tio ganhar sozinho o euromilhões do que trair a sua consciência.
Espero que descanse muito e que volte depressa para o nosso convívio.

Beijinhos da,

Aninhas

22/6/06 7:17 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

E que tal elaborar um Manual do
"Xico-Esperto"?
Artigo 1º:
Intitula-se "xico-esperto" todo o ser humano (não importa o sexo)que perceba de tudo.
Artigo 2º:
Que comente e critique de tudo, como se dum especialista se trate.
Artigo 3º:
Não interessa o grau de instrução que o indígena possui.
Artigo 4º:
Interessa, isso sim, dose q.b. de maledicência.
Vulgarmente designada por má língua.
Artigo 5º:
Condição essencial: Desocupado!
Condição opcional: Não gostar de trabalhar!
Ass:
Mocho Sábio

3/7/06 4:09 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Olá, Aninhas!

Pois é, estive ausente três semanas... e ficas logo a magicar coisas. É da tua índole, gostas de especular, és dada às adivinhações.

Mas, olha: não fui à Alemanha, e só por uma única razão. Não há carcanhol para esses devaneios, pois se houvesse, bem gostaria de ter ido - e não por causa da selecção, mas, isso sim, do futebol. Mas, acima de tudo, para descansar deste país de pindéricos mais ou menos imbecis, convencidos da sua enorme «sapiência», da sua enorme vocação para pides «new fashion». Uns pedizecos democráticos, que detestam aqueles que não baixam a cabeça ao poder instituído, especialmente quando a «boyada» cor-de-rosa ocupa o poleiro mais alto.

Sabes quem são, Aninhas? Olha, eu explico, como se tu só tivesses 4 anos. São aqueles que não querem que eu diga que a filha do Sampaio já arranjou um tacho no Governo, como assessora do amiguinho do Sócrates, um tal Silva Pereira, ou Pereira da Silva, aquele que tem a beiça inferior descaída, de tanto lambuzar o dono. E a pequena ainda acumula com a sua profissão de professora. Tás a ver como a coisa tá boa lá para as bandas dos gajos?

Mas caluda, estas coisas não se podem dizer, porque somos logo alcunhados de coisas feias. Como e cala, Aninhas, que eles andam aí, à solta. Eles, os pides, as crias dos vampiros que, ontem como hoje, «comem tudo e não deixam nada».

Beijinhos

João Carlos

7/7/06 2:30 da tarde  

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