26/05/2008

REFLEXÕES XXXV

AS IDEIAS IMORTAIS DE MARTI

HÁ apenas uns dias, uma pessoa amiga enviou-me o texto de uma declaração da Gallup, famosa firma de sondagens dos Estados Unidos. Comecei a ler o material com natural desconfiança pela informação mentirosa e hipócrita que usualmente empregam contra a nossa pátria.

Era uma sondagem sobre educação, na qual era incluída Cuba, que soe ser ignorada. Analisava-se a situação em quatro regiões do mundo: Ásia, Europa, África e América Latina. Nalguns aspectos, eram incluídos vários países do Caribe.

Primeira pergunta: As crianças do seu país são tratadas com dignidade e respeito?

Resposta positiva: Ásia 73%; Europa 67%; África 60%; América Latina 41%. Se são incluídos os países caribenhos, a Gallup expressa que, no Haiti, apenas 13% das pessoas responderam afirmativamente a essa pergunta.

Segunda pergunta: As crianças do seu país têm a oportunidade de aprender e crescer a cada dia?

Na Ásia 75% responderam sim; na Europa 74%; na África 60%; na América Latina 56%. Muitos países da região ficaram abaixo de 50%.

Terceira pergunta: É a educação deste país acessível para qualquer pessoa que queira estudar independentemente da sua situação económica?

As respostas mostram que em muitas nações da América Latina existe uma situação dolorosa, e melhores respostas no Caribe anglófono.

Não desejo ofender nenhum desses países que mencionei, mas não faria sentido escrever estas linhas sem assinalar o lugar ocupado por Cuba — que tanto é caluniada — na sondagem. Ficou no primeiro lugar entre todos os países do mundo.

À primeira pergunta, 93% dos entrevistados pela Gallup respondeu sim; à segunda, 96%, e à terceira 98%. Como é sabido, o cubano costuma responder a qualquer pergunta com toda a franqueza.

Outro ponto que chama especialmente a atenção é que a Venezuela, 70% e 80%, respectivamente, respondeu sim à primeira e segunda perguntas. Trata-se de um país que implementa um grande programa de educação erradicando o analfabetismo e promovendo o estudo em todos os níveis, cujo processo começou há poucos anos. Por isso, ocupou a segunda colocação na região. À terceira pergunta respondeu sim 82%, razão pela qual ocupou o terceiro lugar na América Latina e no Caribe, superada por Trinidad e Tobago, que ocupou o segundo com 86%.
Em importantes países da América Latina, como a Argentina, México, Brasil e Chile, responderam sim à pergunta 57%, 56%, 52% e 43%, respectivamente, dos entrevistados. Tiveram melhores resultados que estes a República Dominicana, Panamá, Uruguai, Belize e Bolívia, com 76%, 73%, 70%, 66% e 65%. Entre os piores lugares encontram-se o Paraguai e o Haiti, com 17%.

Cuba coopera gratuitamente com esses dois e com muitos outros países irmãos do hemisfério, tanto na educação como na saúde, pondo especial ênfase na formação de pessoal médico. Assim, Cuba cumpre modestamente o seu dever martiano: "Pátria é humanidade", como afirmou o nosso Herói Nacional.

Em 19 de maio, completou-se o 113.º aniversário de sua morte, em Dos Ríos, em 1895. Como é sabido, a intervenção militar dos Estados Unidos frustrou a independência da nossa pátria. Inúmeros patriotas morreram na luta ao longo de quase 30 anos.
A poderosa potência do Norte sempre foi hostil à nossa luta, pois havia muito tempo que lhe dera o destino manifesto de fazer parte de seu território em plena expansão.
Na hora, a decadência do império espanhol, onde nunca se punha o Sol, facilitou o golpe à nova potência imperial para lhe arrebatar Cuba, Porto Rico, Filipinas e Guam. Procurou pretextos, utilizou o engano e a mentira, reconheceu que, de facto e de direito, o povo cubano era livre e independente, com o qual procurava o apoio dos seus aguerridos combatentes para apoiar a guerra dos interventores.
Naquela luta final, os espanhóis demonstraram a habitual valentia dos seus soldados e a burrice do seu governo. A esquadra de Cervera foi inteiramente aniquilada à saída da Baía de Santiago de Cuba pelos couraçados norte-americanos, como já explicámos noutras ocasiões, quase sem poder disparar um canhonaço. A grande fraude veio depois, quando já desarmado o povo, impuseram a Cuba a Emenda Platt e acordos económicos leoninos; o país, destruído e sangrado, passou a ser inexoravelmente uma propriedade dos Estados Unidos.

É essa a verdadeira história.

O que vem acontecendo nos últimos tempos? Enlouquecem diante da firme resistência do nosso povo e o seu avanço modesto rumo a um mundo mais justo, apesar da desintegração do bloco socialista e da URSS.

A Rádio Martí, a Tevê Martí e outras formas sofisticadas de agressão mediática são insultos ao nome do nosso Herói Nacional, com que tentam humilhar o povo cubano e destruir a sua resistência.

Um dilúvio de discursos e mentiras é dirigido contra Cuba. Fala McCain, candidato de Bush à presidência do império; fala o próprio Bush. Contra quem? Contra Martí. Em nome de quem? De Martí.

Referem-se a torturas atrozes, algo que jamais tem acontecido no nosso país, e até a pessoa menos informada dos cubanos sabe disso. E quem falam de torturas? McCain, o candidato, e George W. Bush, o presidente.

O que declara o candidato?

"Gostaria de agradecer aos meus dois caros amigos do Congresso, Lincoln e Mario Díaz-Balart, que são fiéis defensores da liberdade do povo de Cuba. São homens de honra e de integridade. Eu respeito-os e admiro-os muitíssimo. São os melhores membros do Congresso com que pude trabalhar e que conheci…"
"Meus amigos, hoje, dia da independência de Cuba, temos a oportunidade de celebrar o legado cultural e as raízes mais arreigadas do povo cubano…"
"Os lutadores da liberdade que conseguiram a independência de Cuba há mais de cem anos, nem imaginavam que os seus descendentes travariam uma luta pela liberdade e democracia um século mais tarde…"
"Um dia, Cuba será um aliado importante para conseguir a democracia no nosso hemisfério…"
"A tirania não se manterá até ao fim dos tempos e, como presidente, não esperarei passivamente o dia em que o povo cubano possa desfrutar da alegria da liberdade e da democracia. Não esperarei…"
"A minha administração obrigará o regime de Cuba a libertar todos os presos políticos, sem condições, e a planejar umas eleições sob supervisão internacional…"
"O embargo deve manter-se, até surgirem esses elementos cruciais da democracia e da social-democracia."
"Há que impedir que a Venezuela e a Bolívia sigam o exemplo de Cuba."

McCain, no seu livro “A fé de meus pais”, confessou que estava entre os cinco últimos alunos do seu curso em West Point. Está demonstrando isso. No fim da sua prisão foi débil, e também o reconhece. Lançou um sem-número de bombas contra o povo vietnamita. Quantas vidas e quanto dinheiro custou aquela aventura? O ouro valia então US$35 e delapidaram nessa guerra US$500 bilhões. As consequências ainda estão a ser pagas. A onça troy vale hoje mil dólares e são novamente delapidados centenas de bilhões em cada ano nas guerras. Novos e complexos problemas se acumulam. Onde estão as soluções?

O que disse o presidente George W. Bush?

"Há 113 anos, Cuba perdeu José Martí, o seu grande poeta e patriota, e há 106 anos, Cuba conseguiu a sua independência, pela qual Martí entregou a sua vida... Martí e as suas palavras provaram serem mais certas do que nós podíamos ter imaginado…"
"O regime não tem feito sequer mudanças cosméticas. Os dissidentes continuam sendo perseguidos, surrados, encarcerados…"
"O mundo tem os olhos postos no regime cubano. Se realmente abrir ou implementar aberturas sobre a informação, se respeitar as liberdades políticas, os direitos humanos, então, poderá dizer que realmente começou uma mudança nesse país… Não vamos permitir que nos decepcionem e nos mintam, e também não o permitirá o povo cubano. Enquanto o regime se isolar, o povo cubano continuará agindo com dignidade, com honra, com valor…"
"Este é o primeiro dia de solidariedade ao povo cubano, e os Estados Unidos devem lembrar esses dias, celebrá-los, até a liberdade chegar a Cuba.
"Devemos apoiar Cuba, até se converter numa nação democrática, pacífica.
"Nós envidamos esforços para promover a liberdade e a democracia em Cuba, incluindo a abertura da informação, o acesso à informação através da Rádio "Martí".
"Também queremos licenciar organizações não-governamentais e outras instituições caridosas para que o povo cubano tenha acesso aos celulares e à internet…"
"Através destas medidas, os Estados Unido ajudam o povo cubano. Contudo, sabemos que a vida não mudará radicalmente para os cubanos até mudar a sua forma de governo. Para aqueles que têm sofrido durante décadas, talvez essas mudanças pareçam impossíveis, mas, na verdade, são inevitáveis…"
"Chegará o dia em que todos os prisioneiros políticos serão libertados, e isso levar-nos-á a outro grande dia: que Cuba possa eleger os seus próprios líderes por meio de votação em eleições livres e justas.
"Cento e treze anos depois da morte de José Martí, um novo poeta e patriota expressa a esperança do povo cubano. Willy Chirino vai cantar uma canção que está nos corações e nos lábios do povo cubano: Nosso dia vem chegando."

Do cerco de fome e bloqueio que dura decénios, nem fala.

Martí era um pensador profundo e anti-imperialista vertical. Ninguém como ele na sua época conhecia com tanta precisão as funestas consequências dos acordos monetários que os Estados Unidos tentavam impor aos países latino-americanos, que foram a matriz dos de livre comércio, que hoje, em condições mais desiguais que nunca, ressuscitaram.

"Quem fala em união económica, fala em união política. O povo que compra, comanda. O povo que vende, serve. É preciso equilibrar o comércio, para garantir a liberdade… O povo que quiser ser livre, terá que ser livre em negócios."

São princípios proclamados por Martí.

Na época, pagava-se com prata ou ouro. Hoje paga-se com papéis.

Numa carta inconclusa ao seu amigo Manuel Mercado, na véspera de sua morte, sublinhou:

"…Já estou todos os dias em perigo de dar a minha vida pelo meu país e pelo meu dever — visto que o entendo e tenho ânimos com que realizá-lo — de impedir a tempo com a independência de Cuba que os Estados Unidos se estendam pelas Antilhas e caiam, com essa grande força, sobre as nossas terras da América. Quanto fiz até hoje, e farei, é para isso. Em silêncio teve que ser e indirectamente, porque há coisas que para consegui-las hão-de fazer-se às ocultas, e de se proclamarem o que são, provocariam dificuldades demasiado violentas para alcançar sobre elas o fim."

Não importa as vezes que se repitam estas íntimas e reveladoras palavras maravilhosamente expostas.

Com essas frases lapidares na mente lançou-se ao ataque, horas depois, por sua própria conta, contra a coluna espanhola. Ninguém o teria podido reter. Cavalgando na primeira linha, recebeu três tiros mortais no seu avanço impetuoso.

Em 26 de julho de 2004, quando Bush fazia quase três anos que já estava bombardeando, torturando e matando na sua absurda guerra antiterrorista, no meio da invasão ao Iraque, analisei a sua esquisita personalidade, partindo do estudo do interessante livro “Bush no divã”, do dr. Justin A. Frank, que contém um dos mais reveladores e fundamentados estudos da personalidade de George W. Bush:

"A confabulação é um fenómeno comum entre os consumidores de álcool, como o é a perseverança que se evidencia na tendência de Bush a repetir palavras e frases chaves, como se a repetição o ajudasse a permanecer calmo e a manter a atenção."
"…Se, além disso, assumirmos que os dias de alcoolismo de George W. Bush ficaram atrás, ainda resta a interrogação do dano permanente que pode ter causado antes de deixá-lo, além do considerável impacto na sua personalidade que podemos rastejar até à sua abstinência sem tratamento. Todo o estudo psicológico ou psicanalítico integral do presidente Bush terá que explorar quanto mudou o cérebro e as suas funções em mais de 20 anos de alcoolismo."

Nenhum dos dois oradores de 20 e 21 de Maio menciona sequer os Cinco heróis antiterroristas cubanos, cuja informação permitiu descobrir os planos de Posada Carriles e impedir a explosão de aviões em pleno vôo com visitantes estrangeiros, inclusive norte-americanos, para golpear o turismo. Pressionaram e subornaram a presidente do Panamá e ajudaram a libertá-lo. Santiago Álvarez levou-o ilegalmente à Flórida. Logo após denunciei-o publicamente. Tudo foi comprovado. Depois foi confiscado um enorme arsenal de armas ao próprio Santiago Álvarez.

Desejam a impunidade dos terroristas e dos mercenários. Quão longe estão de conhecer Cuba e o seu povo!

As grosseiras mentiras de McCain e de Bush constituem o único caminho para não obter absolutamente nada do povo heróico que tem sabido resistir ao poder do império durante quase meio século.

Desejamos confirmá-lo perante a história: as ideias imortais anegadas com o sangue de Martí jamais serão traídas!


Fidel Castro Ruz
22 de Maio de 2008

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