29/06/2007

REFLEXÕES X

UMA RESPOSTA DIGNA

Os factos acontecem com um ritmo incrível. Às vezes acontecem vários em simultaneidade. A gente está com vontade, ou melhor ainda, sente a necessidade de comentar algum deles pela sua importância intrínseca e o seu valor como exemplo.

Não falo hoje do que aconteceu em Genebra, que foi considerado um merecido triunfo revolucionário dos países do Terceiro Mundo. Falarei da resposta de Cuba ao Conselho das Relações Exteriores da União Europeia, publicada na primeira página do jornal Granma, na sexta-feira passada, 22 de junho.

São palavras dignas da nossa Revolução e da sua alta direção política. Um por um, foram tratados e esclarecidos os pontos que deviam receber imediata resposta. Enumero-os e reitero:

“Com Cuba, só será possível um diálogo entre soberanos e iguais, sem condicionamentos nem ameaças pendentes. Se a União Europeia desejar um diálogo com Cuba, deverá eliminar definitivamente essas sanções, que desde então, foram inaplicáveis e insustentáveis.”

“As ‘Conclusões’ também não mencionam a chamada ‘Posição Comum’, acordada às pressas pelos Ministros de Finanças da EU em 1996, sob a pressão de Aznar e a partir de um rascunho escrito no Departamento de Estado norte-americano.”

“Depois de tantos erros e fracassos, a única conclusão óbvia à qual poderia chegar a União Europeia é que a chamada ‘Posição Comum’ deve desaparecer, porque não houve nem há razão alguma para que exista e porque impede manter um relacionamento normal, mutuamente respeitoso e de interesse comum com o nosso país.”

“Um grupo de influentes nações europeias realizou esforços para mudar esta ridícula situação. Outros, como a República Checa, consagraram-se como peões norte-americanos no mapa europeu. As ‘Conclusões do Conselho’ imiscuem-se de maneira caluniosa em assuntos estritamente internos cubanos, emitem juízos e anunciam actos hipócritas de ingerência que Cuba considera ofensivos, inaceitáveis e condena energicamente.”

“Cuba é um país independente e soberano e a União Europeia engana-se se acha que pode tratá-lo de outra maneira, como igual”.

“A União Europeia mostrou uma persistente e humilhante subordinação aos Estados Unidos que a incapacita para manter posições baseadas nos interesses europeus e torná-la cúmplice, embora diga o contrário, do criminoso e inumano bloqueio que esse país aplica contra o povo cubano, e do qual as ‘Conclusões’ não se atrevem a dizer nem uma só palavra”.

“Na Cimeira realizada em abril com os Estados Unidos, a União Europeia subordinou-se para questionar Cuba e aceitou uma menção que reconhece a legitimidade do ‘Plano Bush’. São bem conhecidos os seus conciliábulos com mensageiros do império, inclusive com o espúrio interventor nomeado pelos Estados Unidos para Cuba.”

“A União Europeia é vergonhosamente hipócrita quando se dirige, injustamente, a Cuba, mas não diz nada a respeito das torturas norte-americanas na ilegal Base Naval de Guantanamo, que usurpa território cubano, e em Abu Ghraib, onde são aplicadas inclusive a cidadãos europeus”.

“Cala impudicamente os sequestros de pessoas realizados pelos serviços especiais estadunidenses em terceiros países e ofereceu o seu território para colaborar com os voos secretos da CIA e para instalar cárceres ilegais. Também não disse nada a respeito das dezenas de pessoas desaparecidas nessas circunstâncias nem das centenas de milhares de civis assassinados no Iraque.”

“Cabe à União Europeia rectificar os erros cometidos com Cuba”.

Ainda com o risco de fazer com que a reflexão seja extensa, desejo acrescentar alguns elementos de juízo. A União Europeia foi conduzida por Washington a um beco sem saída honorável. A guerra fria concluiu com a vitória do consumismo real do capitalismo desenvolvido perante a ânsia de consumo que o mesmo criou em amplas massas do campo socialista e da própria União Soviética. Perderam a batalha de ideias. Ao povo russo, eixo central da Revolução de Outubro, tiraram-lhe compromissos importantes, que por sua vez, estavam acompanhados por acordos e garantias para a sua segurança e soberania: A Europa foi libertada de mais de 400 mísseis SS-20, como os qualificava a NATO, que eram móveis, com três ogivas nucleares cada um, e apontavam para todos os cantos da Europa onde havia bases militares norte-americanas e forças da NATO. Na sua embriaguez triunfalista, a agressiva aliança tinha acolhido no seu seio muitas antigas repúblicas socialistas europeias, algumas das quais, na procura de vantagens económicas, converteram o resto da Europa em reféns da sua política exterior, servindo incondicionalmente os interesses estratégicos dos Estados Unidos.

Quaisquer dos membros da União Europeia pode bloquear uma decisão. Esse sistema não funciona politicamente e faz com que diminua na prática a soberania de todos. A União Europeia está agora pior do que o antigo campo socialista. Já o vaidoso Blair, o construtor de submarinos sofisticados, amigo de Bush, é anunciado como possível candidato futuro à presidência da União. Os cabogramas anunciam que hoje foi designado Enviado Especial para o Oriente Médio, onde tanto contribuiu para a desastrosa guerra desatada pelos Estados Unidos.

No tema energético vê-se os governos europeus mendigar combustível nas poucas regiões onde o império ainda não se tem apoderado dele pela força, da mesma forma que compra com papéis qualquer empresa europeia.

O euro é, contudo, uma moeda sólida; ainda mais do que o dólar, que se desvaloriza constantemente. Embora este seja defendido pelos possuidores de bónus e bilhetes ianques, o império corre o risco de um descalabro de dramáticas consequências económicas.

Por outro lado, a Europa seria uma das áreas mais afectadas pelo aquecimento climático. As suas famosas e modernas instalações portuárias ficariam por baixo de água.

Hoje propõe com desesperação tratados de livre comércio com a América Latina, piores do que os de Washington, procurando matérias-primas e biodiesel. Já se escutam críticas sobre o tema. Porém o dinheiro europeu não é da comunidade, é das multinacionais e em qualquer momento marchará rumo aos países com mão de obra barata, procurando maior rentabilidade.

Com a sua altiva e digna resposta, Cuba pôs ênfase no fundamental.

Os próprios europeus compreenderão algum dia a que absurda situação os levou o imperialismo e que um país do Caribe lhes disse as verdades necessárias. O cavalo desbocado do consumismo não pode continuar essa louca carreira porque é insustentável.

A última reunião da União europeia sobre o futuro tratado comunitário foi mais uma prova da desmoralização reinante. A agencia AFP publicou no passado domingo 24 de junho que “O chefe do governo italiano, Romano Prodi, expressou a sua ‘amargura’ pela cimeira realizada em Bruxelas na qual participaram os líderes da União Europeia, aos quais acusou de terem dado o ‘espectáculo’ de uma Europa ‘sem emoção’, numa entrevista ao jornal La Republica deste domingo”.

“’Como pró-europeu, sinto amargura pelo espectáculo que assisti’, disse Prodi, ex-presidente da Comissão Europeia.

“’O empenho de alguns governos por negar qualquer aspecto emocional da Europa doe-me’, acrescentou, referindo-se à Polónia, à República Checa, à Holanda e à Grã-Bretanha.

“’São os mesmos governos que impõem à Europa estar longe dos cidadãos’, considerou.

“’Porém como fazemos para implicar os cidadãos sem sentimentos (...) que podemos fazer para que se sintam orgulhosos de serem europeus se lhes são negados os símbolos como a bandeira e o hino’, perguntou-se”.

“Tony Blair leva a cabo uma batalha contra a Carta dos Direitos Fundamentais’, disse.”

“Criticou o presidente polaco Lech Kaczynski, que lhe disse que não podia estar de acordo com as suas posições porque a Itália e a Polónia ‘são povos muito diferentes’.

“’Jamais os euro-cépticos se manifestaram ‘de forma tão explícita e programática’ como na última cimeira, concluiu Prodi.”

Na reunião do G-8 Bush atirou um balde de água gelada contra os europeus.

Nesta época decisiva não importa o número de inimigos, que serão cada vez menos, mas sim “o número de estrelas na frente”.


Fidel Castro Ruz
27 de Junho de 2007

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