06/06/2007

HAVIA UM PAÍS CHAMADO PORTUGAL

Apanhei este texto na internet: «O Norte de Portugal e a Galiza estão a viver dois ciclos completamente diferentes. Enquanto na região norte se vive um ciclo de recessão e de estagnação económica, a Galiza vive um ciclo importante de crescimento».

Segundo fiquei a saber, um relatório sobre a conjuntura económica, divulgado pela Junta da Galiza, mostra um cenário de franca expansão económica, com uma taxa de crescimento do PIB a atingir 4,1%, verificando-se ainda que o sector da indústria é o que apresenta maior dinamismo, com a produção industrial a registar uma sensível recuperação, atingindo o nível mais alto de sempre. Ainda assim, continuou a ser o sector dos serviços o que mais contribuiu para a subida do PIB na Galiza, cuja taxa média de crescimento, de 2001 a 2005, rondou os 3,3%.

Outro sinal da prosperidade galega é o facto de a taxa de desemprego ter caído pela primeira vez no último quarto de século, contrariamente ao que sucede em Portugal e, com muita incidência, na região Norte.

Separado geograficamente da Galiza por um rio que facilmente se atravessa, o Norte de Portugal, definhando sem remédio ou panaceia, está, apesar da proximidade, nos antípodas daquela região espanhola. À indústria florescente dos galegos e à sua saúde económica e social, respondemos nós com o fecho ou a fuga das empresas, com o desemprego em subida alucinada, com o fecho de escolas, maternidades e serviços de saúde, com despovoamento do território, com uma emigração galopante e com os baixos salários a reflectirem-se no poder de aquisição das populações que ainda restam. O Norte de Portugal agoniza num catre miserável – como, aliás, o resto do país.

Ora, se todos sabemos que as diferenças entre a Galiza e o Norte de Portugal não são geográficas, climatéricas, demográficas ou antropológicas – pois entre portugueses e galegos são mais as características comuns do que as dissemelhanças – só nos resta concluir que a explicação para o progresso na Galiza e a recessão em Portugal só pode estar nas políticas implementadas pelos respectivos governos, o que não é nenhuma novidade, como, de resto, aqui estamos fartinhos de afirmar.

Não deixa de ser quase anedótico que, perante esta realidade indiscutível, tenha sido precisamente em Braga – isto é: bem no coração do depauperado norte do país e a um pulinho da risonha Galiza – que Cavaco Silva tenha resolvido chamar a atenção dos portugueses para – e cito: «se pensar seriamente sobre as políticas de natalidade, de protecção das crianças, de valorização dos jovens e de qualificação dos activos». Tudo porque, advertiu Cavaco Silva, se avizinha um «cenário de envelhecimento e de recessão demográfica, fenómeno que, até pela sua dimensão estrutural, não encontra precedentes na nossa história».

Ao falar em políticas de natalidade e de protecção das crianças, Cavaco Silva terá querido dizer, lá na dele, que pelo facto de, nas últimas décadas, as taxas de natalidade terem vindo a baixar drasticamente em Portugal, é fundamental que os portugueses invertam esta realidade. Isto é, que passem a ser mais reprodutivos, dando ao país os filhos que ele precisa para que possa rejuvenescer-se e promover um equilíbrio inter-geracional necessário à nossa sobrevivência colectiva.

Ao discorrer sobre estas coisas, Cavaco Silva deveria ter meditado – e, se possível, meditado em voz alta – sobre as razões que levam os portugueses a evitar ter filhos. Não será, certamente, porque os homens deixaram de ser viris e as mulheres de ser férteis. Não será, certamente, porque o natural e normalíssimo desejo de procriar tenha sido substituído por outros desejos menos naturais ou, até, contrariando as leis naturais. Cavaco deve saber que a taxa de natalidade tem vindo a baixar – e que essa tendência se tem acentuado nas últimas décadas e, em especial, nos últimos anos – porque os portugueses deixaram de ter condições para suportarem as consequências da procriação.

Cavaco devia saber que os baixos salários, a precariedade de emprego, as taxas galopantes do crédito à habitação, a perda do poder de compra, a insegurança quanto ao futuro, a degradação do ensino e da saúde são, entre outros, factores que fazem um casal responsável pensar várias vezes antes de se aventurar a trazer um filho a este miserável país.

Aliás, quantos jovens, com as políticas hoje em dia em vigor em Portugal, se podem aventurar sequer a constituir família, sem o risco muito real de terem a vida completamente do avesso daí a poucos meses?

Cavaco deveria ter dito, porque deve sabê-lo, que o envelhecimento demográfico resulta da falta de esperança e de perspectivas de um povo, e representa, por si mesmo, um dos mais contundentes libelos acusatórios contra as políticas económicas e sociais a que esse povo está sujeito. Resulta, também, da desumanização instilada pelo poder dominante a nível planetário, cuja principal consequência é a desvalorização da vida, a vulgarização da violência e a negação da estabilidade e da paz.

É neste contexto que um pouco por toda a Europa e EUA as taxas de natalidade têm vindo a cair, atingindo em Portugal, como acontece com tudo o que é negativo, valores verdadeiramente alarmantes.

Portugal envelhece. Definha. Agoniza.

E um dia, quando as mais variadas comunidades imigrantes se encontrarem disseminadas por este velho recanto da Península Ibérica, constituindo extractos distintos e prevalecentes, alguém contará uma história que começará assim:

«Havia um país chamado Portugal. Um dia, o seu povo, nos primeiros anos do século XXI, elegeu, com maioria absoluta, um indivíduo sinistro, chamado José Sócrates, que se fazia passar por engenheiro civil…»


Crónica de: João Carlos Pereira
Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 06/06/2007.
(Não deixe de ouvir em 98.7 Mhz e participar pelos telefones 212277046 ou 212277047 todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00).

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Cuba um país de partido único , sem imprensa independente, onde não há liberdade de pensamento nem de associação não pode o GOVERNO ACTUAL, rapinante do poder, intitular-se representante do Povo Cubano e dai reivindicar a imunidade perante a Opinião Mundial e a sua Independência a par dos outros países os quais têm como governantes os que o Povo escolhe.
Vejo, significantemente, que o ÚNICO Partido Estalinista da EU usa este espaço de liberdade para fazer a apologia de tal mostruosidade que se chama Fidel de Castro.
Como diz Zita , e ela sabe-o melhor que ninguém, o PCP nuna esteve interessado na DEMOCRACIA.

22/7/07 9:50 da tarde  

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