05/09/2005

Furacão Katrina

- É duro, é muito duro !
Foi esta a expressão que ouvi, vinda de um pobre cidadão anónimo de Nova Orleães que vagueava sobre os escombros daquilo que outrora fora uma cidade de um dos países considerados mais ricos e evoluídos do mundo, onde os estragos do último furacão foram muito mais devastadores do que o atentado do 11 de Setembro, falando-se em mais de 10.000 mortos e milhões de desalojados, como se a própria natureza estivesse ao serviço de conspiradores e terroristas.

Goste-se ou não da (des)governação americana – e eu não gosto – não podemos ficar indiferentes aos dramas de uma população que ficou sem os seus bens e, bem mais grave, em muitos casos, sem os seus familiares mais próximos.

O senhor todo poderoso que os (des)governa vem agora pedir apoio e ajuda, mas não pára a máquina de guerra que tem espalhada por todo o mundo. Não desiste das ingerências e não aproveita os vastos recursos financeiros que gasta diariamente com os conflitos que criou e que não lhe dizem respeito, sob a capa da democracia e dos direitos humanos que não aplica no seu próprio país

Parece que o Congresso norte-americano tinha aprovado há cerca de 4 anos uma verba destinada ao reforço e reparação dos diques da cidade de Nova Orleães e que, por interferência do senhor Bush, esses fundos foram desviados no seu todo ou em parte para financiar as operações no Iraque. A ser verdade, a responsabilidade da catástrofe não pode ser somente assacada às forças da natureza, mas também e principalmente ao paranóico que os (des)governa, ao cometer um acto criminoso contra a humanidade, devendo por isso responder em Tribunal Internacional.

Mas se Bush deve ser considerado um assassino por estes motivos, também o deve ser por não querer assinar o tratado internacional de redução da emissão de gases para a atmosfera e por se recusar a cumprir o acordo mundial de combate às alterações climáticas que originam estes fenómenos, pondo em risco não só americanos como também outras Nações e outros Povos.

Sendo eles os maiores poluidores que até se dão ao luxo de comprar quotas para poderem conspurcar à vontade o Planeta, aparecem agora outros Países, a Comunidade Europeia e a Nato a quererem ajudar com petróleo, quando, devido à vergonhosa política americana o preço do crude chegou onde chegou, afectando toda a economia mundial.

Hoje o mundo pode constatar as fragilidades daquele sistema e a forma como trata os mais desprotegidos de uma sociedade fria, calculista e desumanizada, destituída de valores e de referências porque não têm história nem Pátria, mas apenas um conjunto de interesses vindos desde a época em que os seus antepassados emigraram para explorarem as terras que não lhes pertenciam e os escravos que compraram aos mercadores de negros africanos.

No turbilhão de notícias a que temos assistido, alguém disse que tudo aquilo mais se parece com um barco de negreiros em que se amontoavam miseravelmente os escravos no convés, entregues à sua sorte e a todo o tipo de doenças.

Hoje o mundo pode ver como é fácil falar em liberdade, quando vemos cenas lamentáveis de autêntica miséria humana – e não é só de agora com o furacão – num país que se diz de liberdade, quando não existe ninguém no mundo que tendo fome, possa ser livre.

Mas não há ninguém que lhes diga para pararem com a indústria da guerra e que utilizem esse dinheiro para o aplicarem internamente ?

Olhando um pouco para trás na história recente, principalmente a do último século, passamos pela criação e extinção da União das Repúblicas Socialistas, cujo sistema era tão criticado pelo ocidente pela falta de liberdade e ingerência em países e povos que queriam voltar a ser independentes. O estranho é que ninguém se questione em relação à União dos Estados Americanos que foram criados pela força, sem que o próprio povo tivesse oportunidade de se pronunciar, até porque nessa altura nem sequer tinham direito ao voto; eram simples índios ou escravos, ou seja, não tinham personalidade jurídica, sendo tratados pior que os animais.

Porque será que os defensores da extinção da URSS não se levantam agora a pedir a extinção dos EEUU ?

Que vantagem têm aqueles estados para estarem unidos, se nas dificuldades não têm qualquer apoio do poder central a não ser de lamúrias e lamentações, quando eles necessitam de imediato é de água, de alimentos, de medicamentos, de alojamentos, etc, ?

Porque esperam para exigirem a independência de quem os abandonou ?

1 Comments:

Blogger x said...

Caro Celino

Nos tempos que correm, onde é cada vez mais perigoso ter ideias que não se alinhem pelas do IV Reich (USA)e as do bronco nazi (Bush) que o governa, esta crónica é um acto de lucidez e de coragem.

A tragédia que se abateu sobre milhares de seres humanos nascidos nos EUA, deve merecer de todos nós solidariedade e apio activo. Mas refiro-me, apenas, às pessoas - e não à administração norte-americana. Essas pessoas, tal como os afegãos, os iraquianos, os pelestinianos, os cubanos, grande parte dos sul-americanos e, de um modo geral, milhões de outros seres humamos espalhados pelo mundo, também são vítimas do mesmo sistema infame que pretende ser hegemónico em termos planetários.

Por isso, esta tragédia teve um lado positivo: mostrar ao mundo qual é a verdadeira face dos EUA. Uma nação que oscila entre o tudo e o nada. Uma nação onde a vida humana é secundarizada para que uns quantos nadem na mais obscena opulência.

Parabéns, pois.

jclp

6/9/05 3:19 da tarde  

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