11/03/2009

O SENHOR SOUSA – O PRINCÍPIO DO FIM?

Em 7 (sete!) dos últimos 10 (dez!) anos, o país esteve entregue aos senhores doutores e engenheiros do PS. Nesse período, as desigualdades sociais agravaram-se de forma abismal, não havendo maneira de atirar as culpas para cima da recém-nascida crise internacional. Só em 2008 – antes, portanto, dessa crise – saíram de Portugal, como emigrantes, rumo a vários países da Europa, para Angola e para outros destinos, cerca de 150 mil portugueses. Tantos quantos os empregos que o senhor Sousa (Sócrates, para os mais distraídos) prometeu criar.

Dados recentes dizem-nos que mais de 30 mil desempregados já estão em risco de pobreza absoluta. Os dramas de famílias inteiras entregues à miséria dos frágeis e perecíveis subsídios de desemprego e, a par disso, a angústia de centenas de milhares de outras que dependem de um emprego precário e sem direitos, retratam um país cada vez mais injusto e mais desigual. Nenhum português comum sabe como vai ser o dia de amanhã. Ou melhor: os portugueses sabem que o dia de amanhã vai ser pior do que o dia de hoje.

Há pouco mais de oito dias, em Espinho, no congresso do PS, para além das palmas ao engenheiro Pinto de Sousa (é, outra vez, a Sócrates que me refiro) nem uma palavra para o desemprego, para os baixos salários, para os salários em atraso, para os mais de 2 milhões de portugueses que vivem no limiar da miséria. Ou na mais absoluta miséria. Só palmas, bandeiras, aparato, alegria e festa. Tudo iluminado e cor-de-rosa, como convém. Ideias para a negridão em que o país está mergulhado, zero. Nada se passa de preocupante neste quintal que não se resolva com o Simplex ou o Magalhães.

A propósito do Magalhães, cá está mais uma digna do senhor Carvalho Pinto de Sousa (Sócrates, se preferirem). Então, não é que uma preciosidade destinada, principalmente, aos nossos alunos mais jovens, tem textos com mais erros ortográficos, gramaticais e de sintaxe, que milímetros mede o nariz do Pinóquio? Já não bastava o Magalhães ser um negócio à PS, feito com e para «camaradas socialistas» com problemas fiscais, sem concurso e contrabandeando um produto original da Intel, ainda precisava de mais esta trapalhada pedagógica?

Então, onde estão a qualidade e a excelência, já que a transparência, essa, há muito que parece uma mina de carvão em noite de lua nova? Quem é responsável por esta bronca terceiro-mundista que, aqui para nós, me deu um gozo dos diabos. Parece que ainda estou a ver o senhor engenheiro Sousa, com um batalhão de câmaras e microfones atrás, a fingir que distribuía Magalhães a alunos/figurantes, e lá dentro, da caixinha azul, um rol de asneiras e calinadas maior que a viagem de circum-navegação do próprio Fernão de Magalhães.

Por estas e por outras, é que já se diz que Sócrates «está mais sozinho do que parece» (disse-o Manuel Alegre), ou que ele «é um homem muito cansado, obcecado com o BE e o PCP» (disse-o Soares dos Santos, presidente do grupo Jerónimo Martins). Mas nem seriam precisas estas dicas, porque é visível no seu comportamento, nas suas atitudes, no vazio dos seus repetitivos discursos e intervenções, no descontrolo que evidencia nos debates, enfim, nos tiques que os sorrisos forçados já não mascaram, que José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa, engenheiro-técnico, bacharel e, finalmente, engenheiro, já percebeu que dias negros (para ele) se aproximam. E bem os merece. A ambição levou-o a ser o que não podia ser.

No meio disto tudo, um homem (entre outros) vai-se agitando no seio do PS. Não, não me refiro a Alegre, nem a Seguro. Muito menos a Santos Silva ou Silva Pereira, já que estes não passam de dois caniches do senhor Sousa e, em termos mediáticos, só existem porque o senhor Sousa existe. Refiro-me a António Costa. Ora, aí está a sombra negra do senhor Pinto de Sousa (não, não se trata de uma baixa metáfora inspirada na cor da pele). António Costa tem sabido, pela calada dos reposteiros do aparelho socialista – e parecendo estar sempre ao lado do chefe – fazer a caminhada da sucessão.

O seu gabinete na Praça do Município é um gabinete-sombra de São Bento, onde se vão tecendo tácticas e estratégias para o PS que aí vem. Um PS que já percebeu que não pode governar sozinho e que, com o senhor José Sousa (Sócrates, como gosta de ser tratado) e as suas inenarráveis figuras (Linos, Lurdinhas, Pinhos, Anas Jorges, Jaimes Silvas ou Albertos Costas) corre o risco de nem sequer governar.

Há muito que é sabido que muitos dos dados referentes às aventuras de Sócrates só vieram a público porque alguém, dentro do próprio PS, as pôs cá fora, dando pistas a jornalistas e a elementos da oposição para que as broncas estoirassem ou renascessem.

António Costa, porém, em termos ideológicos, não é melhor do que o tal senhor Sousa – ou o Zézito, para os familiares. É um neo-liberal, tal e qual o outro, o senhor engenheiro. Sorri mais, tem voz de homem, de barítono, figura bonacheirona, formou-se mesmo a sério, sem trapalhadas, enfim, não tem – que se saiba – rabos-de-palha (mas isso também se julgava que o senhor Sousa não tinha).

Porém, se Costa chegar, como deseja, ao topo do PS e da nossa governação, não será mais do que uma nova roupa e uma nova máscara para a mesma política. Não acredito, por isso, que haja quem pense que a câmara municipal de Lisboa possa ser palco de alianças e experiências unitárias, à esquerda, pois isso seria tão irrealista e tão espúrio que deverá estar fora de qualquer cogitação. E se Costa já excluiu o Bloco de Esquerda dos seus planos, todo eu tremo só de pensar com quem andará agora a conversar.

A propósito de autarquias, julgo que prestamos pouca atenção ao que se passa nesse patamar do poder político. Abílio Curto, Fátima Felgueiras, Isaltino, Valentim, Ferreira Torres e mais alguns menos mediáticos, são meros exemplos do relaxamento que por aí vai. Mesquita Machado, cuja súbita fortuna ninguém quer explicar – e que a justiça, talvez por estar vendada, se recusou a investigar – é, seguramente, o caso mais exemplar da impunidade reinante.

Todos os dias ouvimos coisas estranhas e nos deparamos com estilos de vida e patrimónios que não podem ser explicados. Eis um bom tema para, um dia destes, aqui trazermos.

Afinal, Mesquitas Machados, de vários tamanhos, cores e paladares, parece ser coisa que por aí não falta. De tal modo que o povo já diz, matreiro:

Queres encher a arca? Então, faz-te autarca.


Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 11/03/2009.
(Não deixe de ouvir em 98.7 Mhz e participar pelos telefones 212277046 ou 212277047 todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00).

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