07/01/2009

O HOLOCAUSTO CONTINUA

Admita o ouvinte que, vivendo numa casa de três ou quatro assoalhadas, um dia lhe invadem a habitação e lhe dizem que, a partir desse momento, passará a viver na despensa com a sua mulher e filhos, ficando a sala, os quartos, a cozinha, a casa de banho, as varandas e tudo o resto para os novos ocupantes. Mais: não poderá sair da despensa sem autorização e, se os novos inquilinos quiserem, podem dispor, também, das partes que entenderem da despensa que lhe deixaram. E se alguém da sua família se tiver refugiado em casa de um vizinho e não desistir de lutar por voltar à casa que era sua, será impiedosamente perseguido e massacrado e, naturalmente, chamado de terrorista e fanático.

Este exemplo é, em ponto pequeno, o que se passa na Palestina desde 1947, altura em que os sionistas, apoiados pelas potências ocidentais, se apossaram das terras, casas, água e de todos os recursos dos palestinianos, remetidos, desde então, a um pequeno território onde, mesmo assim, foram obrigados a ceder aos judeus os terrenos que estes quisessem para erguerem os famigerados colonatos. Portanto, não foram os mísseis do Hamas, nem Arafat, nem a intifada, nem os combatentes suicidas que estiveram na génese do conflito no Médio Oriente, mas a usurpação da terra dos palestinianos pelo sionismo. Isso – e só isso.

Já disto aqui falámos a semana passada, mas estando em curso mais uma fase do genocídio que os sionistas, há décadas, levam a cabo contra o povo da Palestina, visando a conquista de todo o Médio Oriente, obriga-me a consciência a não pactuar, pelo silêncio, com os nazis de Israel e, por tabela, com as hipócritas potências ocidentais que, fingindo preocupação, vão deixando o estado sionista concretizar os seus sinistros objectivos.

Deixem-me, agora, utilizar palavras que li no site www.resistir.info (site cuja visita aconselho), palavras essas que ilustram o que acabo de dizer:

«Em Abril de 1943, os judeus do Gueto de Varsóvia foram massacrados pela máquina militar do III Reich nazi. Em Dezembro de 2008, os palestinianos do Gueto de Gaza são massacrados pela máquina militar do IV Reich nazi-sionista. Ambos os povos exerceram o seu direito inalienável à revolta contra a opressão.

É hipócrita e cínica a atitude do governo português, ao recomendar que cessem os ataques de ambos os lados. Com essa argumentação, pretende-se comparar a resistência digna do povo palestiniano e a acção criminosa do invasor sionista, que massacra a população civil e destrói a infra-estrutura de Gaza, depois de sustentar durante meses um bloqueio total contra o seu povo.

Este genocídio só é possível porque o lobby judeu mundial concede-lhe o combustível necessário, porque os EUA dão cobertura política, económica e bélica ao agressor, porque a União Europeia lhe deu um sinal verde e porque grande parte da população israelita dá apoio à limpeza étnica promovida pelo governo nazi-sionista.

Só o levantamento generalizado no mundo árabe e a solidariedade internacional, com todo o tipo de protestos por toda a parte, poderá deter essa acção criminosa. Neste momento, é importante reiterar a solidariedade com o governo legítimo do Hamas e repudiar a posição cúmplice do actual presidente da Autoridade Nacional Palestiniana, senhor Mahmud Abbas. Este, apesar da carnificina em curso, optou por acusar o Hamas pelo que está a acontecer e, de forma submissa, procura negociar com os assassinos do seu povo.

As novas atrocidades cometidas pelo estado judeu colocam questões candentes. O bombardeamento indiscriminado da população de Gaza pelos caças F-16 da entidade sionista, já provocou mais de 600 mortos e perto de 1.000 feridos. Isto vem na sequência de um cerco prolongado, em que se priva aquela população de alimentos, combustíveis e medicamentos. A palavra genocídio tem razão de ser. Ele está a ser efectuado desde há anos. É um genocídio em câmara lenta. A cumplicidade/passividade da União Europeia e dos governos de muitos países árabes (a começar pelo do Egipto) é notória. Mas acima de tudo é notória a conivência de grande parte dos cidadãos de Israel.

Na década de 1930, o cidadão médio da Alemanha podia alegar desconhecimento dos crimes perpetrados pelo nazismo. O aparelho de propaganda hitleriano jamais mencionava o holocausto em curso. A existência dos campos de concentração e dos fornos crematórios era cuidadosamente escondida. Os «media» da Alemanha nazi nunca mencionavam a existência de tais infâmias.

E o que se passa hoje em Israel? Os crimes do estado sionista são bem conhecidos. A realidade do apartheid é evidente para todos, basta olhar as muralhas que esquartejam a Palestina. Os assassinatos das sinistras polícias políticas de Israel são divulgados nos «media». As 100 toneladas de bombas já despejadas sobre a população indefesa de Gaza são anunciadas nos jornais israelitas. As perseguições ao espoliado povo palestino (10 mil palestinos presos) são notórias. Por isso – ao contrário do povo alemão dos anos 30-40 – o povo de Israel não pode alegar ignorância. Assim, exceptuando as forças democráticas e progressistas (como o PCI, o Hadash e algumas personalidades dignas), deve-se colocar o problema da responsabilidade colectiva dos cidadãos israelitas, que permanecem passivos ou dão apoio (inclusive com o seu voto) a um governo que comete tais atrocidades».

Assim se escreve – e bem – no site www.resistir.info. A faixa de Gaza é, hoje em dia, a maior prisão do mundo. E aquela onde, sem a menor dúvida, os Direitos Humanos são há anos espezinhados impunemente, expondo de forma exuberante o cinismo do mundo ocidental, cujos valores apregoados não passam de meras palavras sem a menor correspondência com a realidade. Na Palestina só faltam, como disse José Saramago, as câmaras de gás, para que a correspondência com o holocausto seja perfeita. Mas – digo eu – só não existem câmaras de gás porque outras maneiras existem de exterminar um povo. O que só não vê quem não quer.

Por todo o mundo, entretanto, erguem-se vozes contra as acções do estado nazi-sionista de Israel. Na Europa e nos Estados Unidos, importantes manifestações demonstram que os Palestinianos não estão sozinhos na sua luta pelo direito a viver na sua pátria, livres e independentes. Em Portugal, estão programadas as seguintes acções de protesto contra o massacre da população de Gaza:

- Dia 7 de Janeiro, 18h30, Sessão pública de esclarecimento (R. da Palma, 248 em Lisboa)

- Dia 8 de Janeiro, 18h00, Embaixada de Israel (R. António Enes, 16 em Lisboa)

PS – Hoje não falo de Sócrates. Na sua entrevista à RTP nada foi dito de realmente importante. O homem parece-me um balão em acelerado processo de esvaziamento. Trapalhão e atrapalhado. E inseguro. A única coisa a destacar é a sua única preocupação: o poder. Mas isso já nós sabíamos. Como sabemos que o poder está a fugir-lhe.


Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 07/01/2008.
(Não deixe de ouvir em 98.7 Mhz e participar pelos telefones 212277046 ou 212277047 todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00).

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