28/02/2007

A PROPÓSITO DE ALBERTO JOÃO

Entre Janeiro e Outubro do ano passado – em apenas nove mesinhos bem contados – deixaram de descontar para a Segurança Social mais de cem mil indivíduos, pois o número de inscritos, como pessoas singulares, com remuneração declarada e contribuições pagas era, em Janeiro de 2006, de 3.526.180, e, em Outubro, era só de 3.418.701. Feitas as devidas contas, apuramos 107.479 contribuintes a menos.

Morreram e reformaram-se mais de 107 mil portugueses? Alguns, certamente, terão morrido. Outros, também, ter-se-ão reformado. No conjunto, não terão chegado a 10 mil. A resposta talvez esteja aqui ao lado, em Espanha, pois esta redução coincide com um aumento sem precedentes dos trabalhadores portugueses inscritos na Segurança Social espanhola, dado que nos últimos 12 meses, foi de 35% a taxa de crescimento dos trabalhadores portugueses inscritos em Espanha. Em Janeiro deste ano, estavam registados 72.349, enquanto em Janeiro de 2006 o total era apenas de 53.538.

Se outros dados não tivéssemos para avaliar o estrondoso fracasso das políticas levadas a cabo pelo governo de Sócrates, este, por si próprio, fala, de forma eloquente, do beco sem saída onde a gentalha socialista está a encurralar Portugal e os portugueses. Muito por alto, menos 100 mil trabalhadores a descontar representa, se todos só ganhassem o salário mínimo, um rombo superior a dois milhões de contos mensais nos cofres da nossa Segurança Social.

Face à crise económica persistente – com o consequente desemprego (ou a ameaça constante de desemprego) – milhares de portugueses, tal como acontecia nos anos negros do fascismo, rumam a outros países para fugirem à fome e à insegurança. Muitos destes novos emigrantes, face ao excelente comportamento da economia espanhola (a Espanha aumentou o Produto Interno Bruto em 3,9% em 2006, e Portugal ficou-se por uns miseráveis 1,3%), decidiram passar a fronteira e encontrar trabalho no outro lado.

Pergunto o que mais será preciso para que os portugueses percebam que o rei Sócrates vai nu e leva, alegremente, o país a caminho da vala comum.

Outro assunto que está aí a dar que falar, é o recorrente Alberto João Jardim. Aliás, um dos nossos ouvintes referiu-se a ele quando, há oito dias, nos ligou para aqui. Não fosse isso e alguns dados que me apareceram na Net, e não traria o senhor da Madeira às Provocações de hoje. A verdade, é que Alberto João cria anticorpos. É grosseiro, boçal, roça, muitas vezes, a ordinarice. Tudo bem. Mas diz e faz muitas coisas que eu (já que só por mim posso falar) assinaria por baixo. Uma delas, é que, tal como eu, despreza os políticos bem engravatados, perfumados, de falinhas mansas e discursos retocados, politicamente correctos, mas que tratam o país e os portugueses muito pior do que ele trata a Madeira e os madeirenses.

Os recentes debates verificados e a luta partidária a propósito da reacção de Jardim face à nova Lei das Finanças Regionais, acabaram por cair, à falta de melhores argumentos, no seu apoio descarado a um jornal madeirense que mais não é do que a voz do dono – a voz dele, Alberto João, é claro.

Não duvido, nem um segundo, da veracidade dessas denúncias, mas espanto-me com a hipocrisia das críticas. Onde é que está o político, desde primeiros-ministros até ao mais desenxabido e obscuro presidente de câmara, que não tenha – ou faça por ter – a comunicação social pela arreata? De actuais governantes, por exemplo, sei das pressões que exerceram – e exercem – sobre jornalistas, chefes de redacção, direcções e proprietários de órgãos de comunicação social, não só para calarem ou menorizarem certos factos, mas também para destacarem aqueles que ao governo interessam. Ouvi – e ainda oiço – confidências arrepiantes sobre a permanente pressão a que estão sujeitos os jornalistas, divididos entre o dever de noticiar e opinar e a necessidade de conservarem os seus postos de trabalho. Eu próprio, enquanto dirigi um pequeníssimo jornal, aprendi o que custa fazer jornalismo sério sem pagar o «atrevimento» com as mais ignóbeis perseguições e ameaças, algumas delas ainda hoje em vigor. E nenhuma delas veio do senhor da Madeira.

Por isso, aqueles que falam – e bem – desse aspecto de Alberto João, deveriam acrescentar que isso é o pão-nosso de cada dia em todas as latitudes e momentos desta democracia de faz-de-conta.

Mas também podiam acrescentar que a Madeira de hoje está, a nível de acessibilidades, nos antípodas do que era aqui há uns anos, onde se demorava uma hora para se chegar do aeroporto ao Funchal, ou um dia para se ir do Curral das Freiras a Porto Moniz, coisas que hoje se fazem em poucos minutos.

Deviam dizer, por ser verdade, que o sistema de Saúde, na Madeira, ao contrário do que acontece no Continente, aumenta e melhora a sua rede, em vez de encerrar pontos de atendimento. E que a rede escolar, o acompanhamento na primeira infância e o apoio domiciliário aos idosos são realidades sociais indesmentíveis e, muito provavelmente, a principal causa do apoio de que Jardim goza no interior da Madeira.

A política, como eu a entendo, faz-se com verdade, e outra verdade é que, enquanto no país, a classe política, na sua quase totalidade, engordou a mamar nas tetas da democracia, Alberto João vive na mesma casa onde vivia há trinta anos e tem o mesmo carro particular há mais de dez anos, não lhe sendo conhecidos – apesar da pequenez do meio – sinais exteriores de riqueza. Por cá, pelo Continente, a política é um emprego que dá grandes proveitos directos e indirectos, e até qualquer autarca borra-botas, ao fim de uns anitos, constrói vivendas, compra quintarolas com belíssimas piscinas e vai de férias para as estâncias de turismo que estiverem na moda. Um reles caixa bancário (sem ofensa para os caixas bancários) à custa da política, chegou a ministro e, corrido do cargo por indecente e má figura, subiu a administrador da instituição onde, sem a política, nunca passaria da cepa torta. Apetece perguntar: já chegámos à Madeira? Ou não será mais correcto perguntar: já chegámos ao Continente?

Dizem que o desenvolvimento da Madeira se faz à custa dos impostos dos continentais, e que os cortes que a região vai sofrer resultam da necessidade de tornar mais equitativo o desenvolvimento do todo nacional. Mas o que não dizem, porque estão sujeitos à bota censória socratiana, é que esse pretenso critério de solidariedade nacional não é praticado no rectângulo continental, onde as disparidades entre o litoral e o interior são verdadeiramente ignóbeis – e muito mais gritantes do que entre o Continente e a Madeira.

Perguntem a qualquer figurão das Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto se quer perder investimento para que se possa desenvolver o interior, onde se vive – ou sobrevive – no limiar da pobreza? Far-nos-á um manguito! Então, aquilo que é válido para a Madeira, já não é para o litoral do Continente?

Afinal, e feitas as contas com os números da verdade, só podemos chegar a uma grande – e principal – conclusão: a grande questão não reside na necessidade de equilibrar o desenvolvimento nas diversas regiões do país, mas no singelo facto de, na Madeira, não ser o PS a vencer as eleições regionais. Ou seja, o grande problema é o poder não ser cor-de-rosa. Felizmente para os madeirenses, acrescento eu.

Confesso que não admiro Alberto João Jardim. Mas confesso também que, na sua luta contra um poder político que pontapeia, só num ano, mais de cem mil portugueses para o estrangeiro, tem – embora só conjunturalmente – a minha compreensão.

É que eu acho, antes de mais, que é preciso exorcizar este país de Sócrates e de toda a súcia de trampolineiros que lhe fazem companhia. Ao pé deles (ao pé deles, disse eu), Alberto João, apesar de toda a sua incontinência verbal e poses de Ferrabrás, é um anjinho papudo…


Crónica de: João Carlos Pereira
Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 28/02/2007.
(Não deixe de ouvir em 98.7 Mhz e participar pelos telefones 212277046 ou 212277047 todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00).

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Não é preciso ir tão longe para vermos como o poder local controla a comunicação social, pois no nosso concelho do seixal o mesmo acontece, tendo como exemplo o Diário do Pres.Câmara, Boletim Municipal.

Parabens pelo post.

3/3/07 9:43 da manhã  

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