02/08/2006

PODEM CHAMAR-ME TERRORISTA

Comecei a alinhavar esta crónica no domingo à tarde, ainda influenciado pelas notícias do massacre de mais de 60 civis libaneses, na sua maioria crianças, devido ao bombardeamento premeditado do prédio onde viviam, em Canaã. E parece que ainda há mortos sob os escombros. Tenho à minha frente imagens pavorosas do morticínio, e não consigo encontrar palavras para descrever o que vejo e o que sinto. Não é difícil, ao ver aquilo, perceber as razões de quem põem bombas à cintura e decide morrer para vingar a morte dos seus parentes, amigos ou compatriotas, humilhados e trucidados pela opressão que a besta sionista exerce, há mais de 60 anos, sobre as populações árabes da região. Recordo que este massacre parece a réplica do que já fora praticado pelo exército de Israel, em 18 de Abril de 1996, também em Canaã. É um método, não é um erro.

Perante a brutalidade da acção, e como resultado da onda de repúdio que alastra por todo o mundo, até a senhora Condoleza Rice verteu uma lágrima de crocodilo, dizendo-se chocada com o sucedido. Não esclareceu se o choque teria alguma coisa a ver com o facto de os mísseis que massacraram tantas crianças, mulheres e idosos, todos civis, terem sido fornecidos pelo seu país, os EUA, o maior especialista mundial em assassinar populações segundo a técnica do «efeito colateral». Iraque, Afeganistão, Bósnia são, entre muitos, os exemplos mais recentes dessa táctica. Hiroshima e Nagazaki, os mais remotos.

É claro que, sendo domingo, muito podia acontecer até esta crónica ser lida, hoje, aos microfones da Rádio Baía, tanto mais que, na altura em que escrevia estas primeiras notas, já tinha sido marcada, por Kofi Anan, uma reunião urgente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que, como de costume, lamentou a ocorrência, mas não chamou as coisas pelos seus nomes. Muito menos agiu. Aliás, mesmo que agisse e aprovasse qualquer resolução, Israel não a cumpriria, como nunca cumpriu as anteriores, já que os EUA e os seus aliados não são obrigados a cumprir nenhuma lei internacional. Mas uma coisa é certa: haja o que houver, o que o estado sionista já fez nestas três semanas de guerra, chega e sobra para voltar a ser tema desta nossa conversa e, acima de tudo para, a par do seu grande aliado e guarda-costas, os EUA, ser classificado como um estado terrorista e indigno de permanecer no quadro das nações. Como dizia uma mulher libanesa, não se pode ofender as palavras para qualificar Israel. Chamar-lhes animais, dizia ela, seria, neste caso, ofender os animais.

Mas antes de irmos a esse tema, algumas notas nacionais não podem deixar de merecer a nossa atenção. Começo por Maria João Pires, que resolveu emigrar para o Brasil, onde, segundo disse, ira respirar e descansar do que por cá tem passado, e onde verá o seu projecto de formação musical ser devidamente apoiado pelas autoridades brasileiras. Cansada e desiludida com Portugal, a notável pianista junta-se, assim, aos milhares de portugueses que, todos os anos, vão procurar no estrangeiro as oportunidades – ou os ares menos impuros – a que não têm acesso no seu país. A pianista, afinal, não fez mais do que seguir as pisadas de, por exemplo, Paula Rego, José Saramago, Maria de Medeiros ou Eduardo Lourenço, intelectuais que escolheram viver além fronteiras.

Mas diga-se, também, que com os seus 20% de cidadãos com habilitações académicas ao nível do Ensino Superior vivendo e trabalhando no estrangeiro, Portugal ocupa mais um «brilhante» primeiro lugar no ranking da União Europeia, neste caso no que respeita à fuga de quadros técnicos.

Triste destino este, que condena à emigração tanto português – são 100 mil os que, por ano, procuram outras paragens. E se alguém achar este número exagerado, que saiba que, em 1997, eram 4,5 milhões os portugueses emigrados, e que, em 2005, já eram mais de 5,1 milhões. Só nos últimos tempos, rumaram para Angola 12 mil compatriotas nossos, e em Espanha trabalham, actualmente, mais de 80 mil portugueses. Em Inglaterra, o número ultrapassa os 100 mil. São os resultados das políticas de Guterres, Durão, Santana e Sócrates, ou seja do PS e do PSD.

Mas, meus amigos, isto não está mau para todos. Os resultados dos bancos, relativos ao primeiro semestre, continuam a sair e a impressionar o pagode. Só o Totta, o Millenium, o BES e o BPI somaram, nesses seis mesinhos, 956 milhões de euros de lucros. E, se tudo não ficar em águas de bacalhau, também ser presidente do conselho de administração dos CTT é bastante gratificante, a fazer fé nas notícias recentemente divulgadas. Milhões de euros esbanjados em despesas sumptuárias e luxos e caprichos variados, a par da venda de um prédio que, passados, dias, já valia quase o dobro. E tudo a uma empresa que compraria outro com um cheque careca, sem que tal tivesse outras consequências que não a anulação da venda. Quanto ao resto, tudo bem, os CTT e a tal empresa continuaram de mãos dadas em alegre relação comercial. Espera-se que o processo seja arquivado sem mais aquelas… Gente fina, é outra coisa.

Quem um dia convidou Mobutu para se fixar em Portugal, afinal sabia o que estava a fazer. E conhecia bem este país… Terceiro mundo, e do pior.

Mas voltemos ao Médio Oriente.

Não é fácil falar sobre a animalesca fúria sionistas contra as populações árabes. Se, num momento, temos à mão uma selvajaria para comentar – e condenar – no momento seguinte outra, ainda mais atroz e revoltante, ultrapassa a anterior em violência e barbárie.

E tão revoltantes como as proezas nazis dos sionistas de Israel, são as opiniões de alguns comentadores alinhados com a pandilha do eixo que pretende deitar as mãos a todo o mundo – Washington / Londres / Israel (como criatura do sionismo judaico) e onde luta por ter lugar uma União Europeia cada vez mais ridícula e, de tão subserviente ante o império norte-americano, cada vez mais desprezível –. Esses comentadores, embora engasgados pela realidade que é o genocídio levado a efeito pelas hordas hitlerianas comandadas de Telavive, lá vão cuspindo os gafanhotos que podem para explicar o que não tem explicação. Ou tem, mas não é aquela que eles nos servem.

É tempo – e parece que o mundo vai despertando para compreender isso mesmo – de olhar a História dos últimos 60 anos à luz da verdade e numa perspectiva de respeito pelos valores que a Declaração Universal dos Direitos Humanos contém. Desculpem-me se insisto nisto, mas só o faço porque esta é uma das muitas verdades históricas revoltantemente escondidas ou deturpadas nos últimos 60 anos.

E essa verdade, objectiva e indesmentível, à prova de toda a manobra ou manipulação ideológica, ou qualquer outra falsificação dos factos, é que o povo palestiniano foi, de todos os que eram colonizados ou administrados por potências ocidentais no Próximo e Médio Oriente, o único que não teve direito à independência. Em vez disso, foi entregue pela potência colonial – a Inglaterra – aos judeus, que, no minuto a seguir, para fundarem o seu estado, espoliaram os palestinianos de terras, casas, água e, principalmente, do direito à cidadania.

Repito – e repetirei sempre, mesmo que a voz me doa – que milhões de seres humanos, há séculos vivendo na Palestina, foram amontoados em campos de refugiados e deixados a viver entre terra árida, pedras e lixo, sempre dependentes das esmolas que os caridosos ocidentais lhes decidam deitar, para que não morram todos de repente e, claro, para aliviarem a sua consciência pesada pelo crime que sabem ter cometido. E ali ficaram, sempre sobre a mira das armas sionistas e eternamente condenados a cederem o que for seu, logo que os judeus, nas terras que lhes tinham deixado, ali entendessem fundar um colonato. Isto é, em vez de alcançarem a independência, como aconteceu ao Líbano, ao Iraque, à Síria, ao Irão (então, Pérsia) e a outros povos da região, os palestinianos ficaram pior do que se tivessem continuado sob a pata dos súbditos de Sua Majestade Britânica.

Mas nisto, que eu aqui já disse várias vezes, não tocam os comentadores marionetas, os robôs do império bushiano ou dos sionistas, comentadores que, para não sujar os dedos nem a língua, me dispenso de adjectivar. Por isso, sem medo de ser excessivo ou pouco preciso, digo que o estado sionista de Israel é, nos dias que correm, a maior afronta à humanidade e aos seus valores mais nobres, tal como – a par das atrocidades do regime nazi, do regime do apartheid Sul-Africano e das bombas sobre Hiroshima e Nagazaki – já o tinha sido na segunda metade século passado.

Subscrevo, por isso, e adopto como minha –, a definição do estado de Israel, dada por um elemento do Ezbollah, que lhe chamou aquilo que ele realmente é: um imenso colonato situado em território árabe usurpado.

Neste combate desigual, travado desde meados do século passado no Líbano, na Palestina e em toda aquela região, há duas coisas a reter:

A primeira, é que se trata de uma guerra de usurpação, visando a construção e expansão de um estado (o estado de Israel) sobre as terras e os corpos dos povos espoliados e a espoliar:

A segunda, é que esse estado, com a cumplicidade activa dos EUA e doutros países ocidentais, reivindica para si o direito a ter um dos mais bem equipados exércitos do mundo, mas nega às suas vítimas, aos povos a usurpar, o legítimo direito de disporem de meios de combate minimamente eficazes.

Mas, como temos vindo a verificar, vale mais a coragem e a determinação de um resistente, de um patriota, do que vários exército juntos. Porque, se assim não fosse, já não teríamos árabes na Palestina, no Líbano, na Síria, ou em qualquer outro lugar do mapa onde os sionistas querem, há muito, construir a sua nação: o Grande Israel, fundado sobre os ossos, as terras e os bens de milhões de árabes.

Felizmente, há sempre alguém que resiste. E nesta luta, como em muitas outras, eu já escolhi o meu lado: o lado dos oprimidos, o lado dos espezinhados.

E agora já podem, se quiserem, chamar-me terrorista.


Crónica de: João Carlos Pereira
Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 02/08/2006.
(Não deixe de ouvir e participar todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00, em 98.7 Mhz)

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

TERRORISTA

3/8/06 7:21 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Então tá !
O gajo passa a ser conhecido por:
"Joãozinho - O Terrorista" . . .
Realmente, assenta-lhe melhor de que os cognomes anteriores, incluindo os dos heterónimos.
A: Gaivota

11/8/06 3:27 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Este gaijo nem merece que lhe chamem terrorista é de uma baixeza indescriminávél.
Só quem não o conhecem é que o não levam preso.

16/8/06 1:09 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Intitula-se poeta e escritor,foi autarca e só fez foi merda.
Quis ser vereador mas não conseguiu ,inclusivamente bateu com a porta na cara dos seus própios camaradas,não vale nada.
Agora é comentador deixe-se disso e dedique-se mas é a apanhar bonés.

16/8/06 1:19 da tarde  

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