30/08/2006

OS ALEGRES CANGALHEIROS

O governo comandado por José Sócrates é, todo ele – ou quase – um governo de sorrisos. Tirando o próprio primeiro-ministro e um ou outro ministro ou secretário de Estado, que, por muito que se esforcem, não conseguem imitar um sorriso (para além de Sócrates, estou a lembrar-me, por exemplo, das ministras da Cultura e da Educação, cujos esgares se assemelham a patibulares imitações dos trejeitos de Drácula em noite de festim) tirando esses, praticamente toda a gente sorri muito bem.

O mais sorridente, mesmo quando representa o governo em funerais, é o ministro António Costa, que ri – e sorri – por tudo e por nada. O país está a arder, e ele, risonho, explica que ainda não ardeu tudo. Morreu um bombeiro, e o Costa, mal contendo um sorriso de inspiração clerical, volta a declarar que o Governo vai tomar medidas para evitar mais tragédias. A violência aumenta e a segurança dos cidadãos e dos seus bens é mais frágil do que asa de borboleta, e sua excelência, do alto da sua redonda, morena e luzidia face, aberta num sorriso de superior indulgência, informa, lúcida e inteligentemente, que Portugal é um dos países mais seguros da Europa e do mundo. O Costa ri e sorri porque, acima de tudo, é ministro. E gosta.

O bem-amado delfim de Sócrates, Pedro Pereira da Silva, alcandorado a ministro da Presidência, sorri pouco – mas sorri – para anunciar que o desemprego está a baixar, mesmo que esteja mais alto do que no ano passado, por esta altura. Sorri, anafado, Correia de Campos, ministro da Saúde, para decretar o fecho de maternidades e o aumento das taxas moderadoras, com o mesmo sorriso que teve quando decidiu retirar da lista dos medicamentos comparticipados perto de cem fármacos. Sorri, especialmente, quando privatiza a saúde. Um sorriso maligno, de tumor.

Sorriem, preclaros, os ministros da Economia, das Finanças e da Agricultura e Pescas, cada um no seu estilo, quando garantem que vamos no bom caminho, mesmo que todos os dias se produza menos, se importe mais, o endividamento das famílias ultrapasse todos os limites do razoável e, em suma, a indústria, o comércio e a agricultura não saibam para que lado se hão-de virar.

Um comerciante aqui do Seixal, a quem fiz a conversa das «lojas às moscas», contou-me que esteve, há dias, num grande centro comercial de Lisboa, onde viu o impensável há tempos: várias lojas fechadas. Disse-me que o parque de estacionamento, que era habitual estar lotado, estava, também ele, quase deserto. Isto corresponde ao que tenho visto por todo o lado, onde nem os saldos de 30, 40, 50 e 60% atraem meia dúzia de compradores, quanto mais as célebres corridas de há uns anos atrás.

Mas o governo sorri. Mente, mas sorri. Destrói o país, mas sorri. Leva, literalmente, o país para a cova, mas, como faz o ministro Costa, sorri alarvemente durante a função fúnebre.

A Península de Setúbal está sob a ameaça da co-incineração, método de eliminação de resíduos industriais perigosos (RIP) que, com boa vontade, se poderá classificar de criminoso – e há muito considerado pela União Europeia como coisa ultrapassada e de consequências extremamente perigosas para a saúde pública e para o ambiente – e Sócrates, para quem esta questão é uma fixação próxima da paranóia, uma teimosia pessoal, uma vingança pela derrota de há cerca de seis anos, sorrirá, finalmente, porque julga que, desta vez, vai levar a sua avante.

Na Arrábida, um parque natural de extrema sensibilidade, um santuário da fauna e da flora mediterrânicas, com espécies únicas no planeta, e onde a existência da própria cimenteira é um crime terceiro-mundista, Sócrates, qual Mobutu do ambiente, impõe, ditatorialmente, a sua solução assassina para a eliminação de RIP. Só a co-incineração fará sorrir, ainda que sinistramente, o cangalheiro Sócrates.

Para que se tenha uma pálida ideia do que é a co-incineração, basta que se diga que, nos países onde ela funcionou, era proibido produzir leite e outros produtos alimentares num raio de 30 quilómetros. Mas Sócrates, aqui, casquina como Drácula, porque julga que vai satisfazer a sua birrinha de menino «copo de leite». A ver vamos… Em Tróia, do outro lado do Sado, Belmiro não deve estar a construir um complexo turístico para os ricos do mundo virem respirar dioxinas, furanos e outros venenos. Veremos, então, quem vai sorrir no fim, isto é, quem vai sorrir melhor.

Também vêm aí a aulas. E o Governo sorri, porque o negócio da Educação, tal como o negócio da Saúde (que a nossa Constituição diz que devem ser tendencialmente gratuitas), esses negócios vão de vento em popa.

Pois é. As famílias portuguesas vão ter que abrir (mais) os cordões à bolsa. Em 2006/2007, os pais e encarregados de educação vão gastar mais de 500 milhões de euros na compra de manuais escolares e material didáctico. Segundo dados avançados pelo ministério da Educação, estão inscritos cerca de 1,5 milhões de alunos no ensino básico e secundário (i.e., no ensino obrigatório) o que representa uma média de 350 euros (70 contos) por família.

Feitas as contas, chega-se à conclusão que o valor mínimo de despesas ascende aos 130 euros (26 contos) por aluno, somando só o preço dos livros escolares, referentes ao 2.º ciclo do Ensino Básico. Mas, se aos livros recomendados acrescentar os livros auxiliares, ou cadernos de actividades, o custo agrava-se e sobe para mais de 150 euros (30 contos).

Mas é a passagem para o 3.º ciclo que faz disparar os preços para valores mais elevados e representa os anos em que mais dinheiro vai ter que se desembolsar. Os manuais escolares obrigatórios para o 3.º ciclo atingem, em média, os 200 a 250 euros (40 a 50 contos), que somados aos cadernos de actividades, alcançam valores que rondam os 275 euros.

O preço dos manuais escolares é um verdadeiro imposto, sobre as famílias com filhos em idade escolar. Na verdade, o ensino é obrigatório, mas como é que um casal com filhos, se cada membro do casal ganhar à volta do ordenado mínimo, pode mandar os filhos à escola? Ou será que, como antigamente, só os filhos dos ricos é que podem ter estudos? Mesmo as famílias da dita classe média, com as despesas da habitação, saúde, alimentação e vestuário, onde é que vão buscar dinheiro para pagar os balúrdios que os livros, cadernos e material escolar custam? Dizem os cangalheiros que há casos em que o Governo pagará a factura. O Governo? Ou nós? Directa ou indirectamente, é sempre o contribuinte a encher o baú de alguém.

Mas o governo sorri, porque ao sacrifício pedido às famílias para poderem dar educação aos seus filhos, corresponde a entrada de muito dinheiro no bolso daqueles que o Governo abençoa com a negociata dos manuais e demais material escolar. Negociata de 500 milhões de euros, ouviram bem?

Desculpem-me, mas não posso, hoje, deixar de dedicar umas palavras ao futebol. Não pelo futebol em si, que, como dizem os especialistas, já não é um desporto, nem um espectáculo, mas uma indústria. Verdade seja que, hoje em dia, quem manda nos clubes são os bancos, as grandes empresas ligadas ao negócio do futebol (sejam de equipamentos, sejam as cadeias televisivas, sejam os mercadores de carne, também chamados agentes de jogadores) ou, como se vê a olho nu, os interesses imobiliários. Os sócios e simpatizantes dos clubes é que, nos dias que correm, ali não pescam nada. Só pagam. Aliás, apareça por aí um mafioso russo cheio de guita, e verão como as SAD’s lhe fazem logo olhinhos na esperança de que ele abra os cordões à bolsa e compre… a empresa – ou a instituição.

O caso Mateus – é a ele que me refiro – só aqui o trago porque, como temos vindo a falar em risos e sorrisos, ele apenas dá para rir. A bandeiras despregadas, à gargalhada.

Ele é, caros ouvintes, o retrato fiel do que é o nosso país e a sua «classe dirigente»: uma estrumeira governada por oportunistas, corruptos, incompetentes relapsos, manipuladores, ladrões e, como cereja neste bolo, uma vara de imbecis. E quando digo «vara», não me estou a referir a pau, ou ripa, mas a um conjunto de porcos, entenda-se.

Longe de me preocupar com as consequências disto tudo, eu dou pulos de contente. É que quanto mais depressa esta coisa bater no fundo – o futebol e o país – mais depressa nós, os verdadeiros donos de tudo – do país e do futebol – tomaremos conta do que é nosso.


Crónica de: João Carlos Pereira
Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 30/08/2006.
(Não deixe de ouvir e participar todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00, em 98.7 Mhz)

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Ò grande palhaço terrorista fos-te sempre um granda porco em toda a tua vida e agora vens para aqui comentar barbaridades e dar lições de moral onde nuncaas soubes-te dá-las.
Tu e o teu partido é que destruiram todo o Destrito de Setubal em todos os niveis e agora andamos a pagar por isso mesmo.
pôe-te no teu lugar e deixa-te de merdas.

30/8/06 11:51 da tarde  

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