O país mais belo do mundo!
- Com uma redacção do menino Carlinhos
Nos últimos dias, voltámos a ter notícias do nosso atraso. Desta vez, não ficaram quaisquer dúvidas: Portugal é o país mais atrasado da Europa, garantiu o Eurostat. Nem Chipre, nem a Grécia, nem qualquer um dos outros países lá dos confins desta Europa, agora com 25 membros, está atrás de nós. Finalmente, ocupamos, destacados, isolados, orgulhosamente sós – e cada vez mais sós – o lugar que compete a um povo sereno, manso, inerte. Um povo que só não pode ser classificado como carneiro, porque, conforme aprendemos na escola, os simpáticos animais são vertebrados e nós, de coluna vertebral, nem pó. Aproximamo-nos mais dos vermes.
Logo a seguir a estas fúnebres notícias, veio o carrasco de serviço, mais conhecido por José Sócrates, dizer que a economia está a mostrar alguns sinais positivos, que o país está muito melhor. Também o governador do Banco de Portugal, embora envergonhadamente e de forma muito vaga e difusa, falou de alguns indicadores animadores, e que… patati, patatá.
É verdade que Sócrates está a perder gás. Anda mais irritadiço, um pouco mais curvado, mais inseguro – e com a ponta do nariz cada vez maior. Começa a ter cara e expressões de homem acossado, de tipo que já percebeu que entrou num beco e ainda não sabe como vai sair dali. Desconfio que lá dentro, no PS, as coisas também estão a ficar com um piquinho a azedo, isto é, começaram a azedar devido ao estilo quero, posso e mando do secretário-geral, que também é, para azar nosso, primeiro-ministro cá da estrumeira.
Desculpem-me esta linguagem forte, mas as palavras vêm-me à boca tal como as penso, e de nada serve tentar dourar a pílula. Mas a coincidir com estas lúgubres notícias, teve lugar no Estádio Nacional, no Jamor, uma iniciativa patriótica, que deve ter feito a Europa inteira pôr as mãos na barriga de tanto rir. É que o país mais miserável da UE, aquele pindérico parceiro da comunidade, onde 1% da população enriquece à custa dos outros 99%, tem como grande objectivo nacional (mais um enorme e patriótico desígnio) vencer um campeonato de futebol.
Agrave-se o desemprego, corte-se nas pensões, fechem-se escolas, maternidades e extensões de saúde, fechem-se fábricas e abram-se casinos, eliminem-se direitos sociais, tratem-se os velhos e as crianças como se de trastes se tratasse, mas mobilizem-se pessoas e recursos para arrotarmos patriotismo pacóvio a propósito de uns joguecos de futebol. Isso é que são prioridades! Isso é que é um belo retrato da nossa inteligência colectiva!
E se a iniciativa, pelo número de participantes, entrou no Guiness, também nele entrou pela sua imensa estupidez e confrangedor ridículo. Portugal mostra-se ao mundo como o pelintra incapaz de sustentar a família, mas que faz do campeonato de sueca lá do bairro a grande batalha da sua vida.
Mas deixem-me ler a redacção que, a este propósito, escreveu o Carlinhos, um puto que, na sua santa ingenuidade, fala por todos nós.
Redacção
Eu tenho muito orgulho em ser português. Eu amo a minha pátria, Portugal. Portugal é o país mais belo do mundo, com muito sol e muitas praias, por isso os turistas vêm cá para apreciar o mar e o sol, especialmente no Algarve onde, apesar do mar e o sol serem ali mais caros, também são muito melhores, são mais quentinhos. Dantes, também tínhamos muitos pinheiros e eucaliptos, mas essa parte está pior, porque os fogos têm destruído tudo, e ainda não aproveitaram para construir, nesses sítios, grandes casas com piscinas, campos de golfe ou hotéis de luxo.
Mas Portugal também tem cidades muito grandes e bonitas, com estádios de futebol novos e às cores. Alguns estão sempre vazios, mas não faz mal, porque as cadeiras são às pintinhas, para a gente julgar que eles estão cheios. A capital de Portugal chama-se Lisboa, e é uma cidade muita nice, é mesmo a mais bonita e moderna do mundo. Tem a Expo e tudo. Agora, tem até um casino à maneira, para as pessoas poderem ir ali apostar e ficarem cheias de grana, o que é bom, pois como também há bué de pobrezinhos em Portugal, assim eles podem ganhar montes de massa se lá forem jogar e tiverem sorte.
Os meus pais também gostam muito de Portugal e dos nossos governantes, especialmente a minha mãe, que já me disse para agradecer ao governo por estar agora sempre em casa, porque a fábrica onde ela trabalhava fechou há mais de dois meses. Agora, a minha mãe joga no Euromilhões e vê as telenovelas todas, porque assim aprende, de borla, a falar português e, principalmente, aprende a ser rica, bonita e elegante.
O meu pai, esse, acha que Portugal está imparável, que vai na brasa, porque ainda ontem, ao ouvir as notícias, dizia para a minha mãe: «Beatriz, não sei onde isto vai parar!». O meu pai também é um grande patriota. Agora, para Portugal não gastar muito dinheiro a comprar petróleo ao estrangeiro, resolveu vender o carro e andar sempre a pé. Nem de autocarro vai para o emprego. Diz ele que não é pelo preço dos transportes, mas porque andar a pé faz bem ao coração e aos ossos do esqueleto, e assim também poupa dinheiro ao governo com os medicamentos, que estão pela hora da morte, o que quer dizer que estão caros comó caraças. O meu pai vê sempre mais longe do que nós, até parece que é bruxo. Há dias, disse que não fazia mal as fábricas fecharem, pois o nosso clima e a nossa situação geográfica são bons para outra indústria muito lucrativa: a indústria do sexo, que vai ser, com os casinos, a nossa safa.
Mas em minha casa somos todos muita fixes, bons patriotas e cidadãos (não sei se se diz cidadãos, ou cidadões ou cidadães, porque ainda não demos isso nas aulas de Português – ou se demos, eu esqueci-me, deu-me uma branca). Até a minha avó Francisca, que está à espera, há mais de três anos, de ser operada aos rins, já garantiu que vai morrer sem ser operada. Disse-me a velha: «Olha, meu filho, qualquer dia vou-me desta para melhor, e eles que fiquem lá com o dinheiro da pensãozita e da operação. Que lhes faça bom proveito!». Até começou a chorar de alegria. Depois, disse uns palavrões, que metia a mãe não sei de quem e tudo, mas acho que essas partes já são coisas da idade.
Mas onde eu senti um grande orgulho em ser português – e vi bem como, cá na minha palhota, a pátria está acima de tudo – foi no sábado passado, no Estádio Nacional. Eu conto a cena: quando se pediu às mulheres portugueses para fazerem a mais bela bandeira do mundo, no Estádio do Jamor, a minha mãe disse logo que queria ir, desse lá por onde desse. Assim, se tivesse sorte, até podia aparecer na televisão e ser vista ao lado de gente fina. O meu pai disse, aos gritos de entusiasmo, que aquilo até parecia coisa dos tempos do velho de Santa Comba, organizada para a malta não pensar nas coisas sérias da vida (eu não topo quem é esse velho, mas, para o meu pai se excitar tanto, deve ser um tipo muita bacano).
E como o meu pai gosta de fazer todas as vontades à minha mãe, principalmente porque ela tem uma doença dos nervos desde que está em casa, disse que sim, que íamos todos, mas que o pior era o transporte. Foi então que a minha mãe disse que isso estava resolvido, porque o senhor Laurentino Dias, que é secretário de Estado não-sei-das-quantas, e manda no Instituto Português da Juventude, arranjava boleia. E lá fomos todos, menos a avó Francisca, que já está velha demais para estas cenas. E o meu pai sempre a dizer baixinho que isto era coisa do tal velho de Santa Comba.
Mas aquilo no Jamor foi muita joli, quer-se dizer: foi bonito. Ali é que estava o país todo, bem unido à volta da pátria e dos seus mais altos valores, sem distinção de raças, credos e classes sociais. Ricos e pobres, doentes e saudáveis, patrões e trabalhadores, ganzados e betinhos. Quando os nossos jogadores chegaram à tribuna, então, até me arrepiei comó caraças. Nessa altura, a minha mãe, apesar de desempregada, era igualzinha às outras senhoras que estavam ali à volta, especialmente as mulheres dos jogadores, que eram as mais emocionadas. Então, ela abraçou-se ao meu pai (que apesar de estar agora a contrato de seis meses numa firma de segurança, valia, naquele instante, o mesmo que o Gilberto Madail e o senhor do banco que organizou a iniciativa), e disse, de lágrimas dos olhos: «Ó Zé, tás a ver aqueles lá em cima? Porque é que tu nunca tiveste jeito para a bola? Não estávamos hoje neste aperto, e até a tua mãe já tinha sido operada aos rinzes. Sabes quanto é que ganha o Figo, o Pauleta ou o Scolari, sabes?!». «Aos rins», corrigiu o meu pai, que se pôs a olhar para mim antes de dizer: «E tu, para desgraça nossa, também és um cepo do caraças. E já que não sabes dar uns toques, olha, vê lá se vais para a política. A par do futebol, é o que está a dar. Se fores deputado ou presidente de câmara, ao fim de meia dúzia de anos, já tens o teu garantido para o resta da vida».
Depois, no fim, ainda foi mais emocionante, com todos a cantarmos o hino nacional, até aqueles que não sabiam nem a letra nem a música, especialmente uma esganiçada que estava ao meu lado. Toda a gente cantou, e aí eu percebi melhor o que é ser um português a sério. É deixarmos de lado aquilo que nos divide, as coisas sem importância da vida, as pequenas tretas, os pequenos problemas como o dinheiro e o trabalho, chatices como as doenças e os medicamentos, a escola e os livros, a gasolina e o carro, os assaltos, a reforma da avó, as prestações da casa ou o frigorífico vazio, porque essas tretas o governo há-de resolver um dia destes. O que é muita giro e bué de importante é juntarmos as nossas forças para Portugal ser campeão do mundo. É isso, meus, é isso!
Ah ganda Carlinhos! Mai nada!
Crónica de: João Carlos Pereira
Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 24/05/2006. (Não deixe de ouvir e participar todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00, em 98.7 Mhz)
Nos últimos dias, voltámos a ter notícias do nosso atraso. Desta vez, não ficaram quaisquer dúvidas: Portugal é o país mais atrasado da Europa, garantiu o Eurostat. Nem Chipre, nem a Grécia, nem qualquer um dos outros países lá dos confins desta Europa, agora com 25 membros, está atrás de nós. Finalmente, ocupamos, destacados, isolados, orgulhosamente sós – e cada vez mais sós – o lugar que compete a um povo sereno, manso, inerte. Um povo que só não pode ser classificado como carneiro, porque, conforme aprendemos na escola, os simpáticos animais são vertebrados e nós, de coluna vertebral, nem pó. Aproximamo-nos mais dos vermes.
Logo a seguir a estas fúnebres notícias, veio o carrasco de serviço, mais conhecido por José Sócrates, dizer que a economia está a mostrar alguns sinais positivos, que o país está muito melhor. Também o governador do Banco de Portugal, embora envergonhadamente e de forma muito vaga e difusa, falou de alguns indicadores animadores, e que… patati, patatá.
É verdade que Sócrates está a perder gás. Anda mais irritadiço, um pouco mais curvado, mais inseguro – e com a ponta do nariz cada vez maior. Começa a ter cara e expressões de homem acossado, de tipo que já percebeu que entrou num beco e ainda não sabe como vai sair dali. Desconfio que lá dentro, no PS, as coisas também estão a ficar com um piquinho a azedo, isto é, começaram a azedar devido ao estilo quero, posso e mando do secretário-geral, que também é, para azar nosso, primeiro-ministro cá da estrumeira.
Desculpem-me esta linguagem forte, mas as palavras vêm-me à boca tal como as penso, e de nada serve tentar dourar a pílula. Mas a coincidir com estas lúgubres notícias, teve lugar no Estádio Nacional, no Jamor, uma iniciativa patriótica, que deve ter feito a Europa inteira pôr as mãos na barriga de tanto rir. É que o país mais miserável da UE, aquele pindérico parceiro da comunidade, onde 1% da população enriquece à custa dos outros 99%, tem como grande objectivo nacional (mais um enorme e patriótico desígnio) vencer um campeonato de futebol.
Agrave-se o desemprego, corte-se nas pensões, fechem-se escolas, maternidades e extensões de saúde, fechem-se fábricas e abram-se casinos, eliminem-se direitos sociais, tratem-se os velhos e as crianças como se de trastes se tratasse, mas mobilizem-se pessoas e recursos para arrotarmos patriotismo pacóvio a propósito de uns joguecos de futebol. Isso é que são prioridades! Isso é que é um belo retrato da nossa inteligência colectiva!
E se a iniciativa, pelo número de participantes, entrou no Guiness, também nele entrou pela sua imensa estupidez e confrangedor ridículo. Portugal mostra-se ao mundo como o pelintra incapaz de sustentar a família, mas que faz do campeonato de sueca lá do bairro a grande batalha da sua vida.
Mas deixem-me ler a redacção que, a este propósito, escreveu o Carlinhos, um puto que, na sua santa ingenuidade, fala por todos nós.
Redacção
Eu tenho muito orgulho em ser português. Eu amo a minha pátria, Portugal. Portugal é o país mais belo do mundo, com muito sol e muitas praias, por isso os turistas vêm cá para apreciar o mar e o sol, especialmente no Algarve onde, apesar do mar e o sol serem ali mais caros, também são muito melhores, são mais quentinhos. Dantes, também tínhamos muitos pinheiros e eucaliptos, mas essa parte está pior, porque os fogos têm destruído tudo, e ainda não aproveitaram para construir, nesses sítios, grandes casas com piscinas, campos de golfe ou hotéis de luxo.
Mas Portugal também tem cidades muito grandes e bonitas, com estádios de futebol novos e às cores. Alguns estão sempre vazios, mas não faz mal, porque as cadeiras são às pintinhas, para a gente julgar que eles estão cheios. A capital de Portugal chama-se Lisboa, e é uma cidade muita nice, é mesmo a mais bonita e moderna do mundo. Tem a Expo e tudo. Agora, tem até um casino à maneira, para as pessoas poderem ir ali apostar e ficarem cheias de grana, o que é bom, pois como também há bué de pobrezinhos em Portugal, assim eles podem ganhar montes de massa se lá forem jogar e tiverem sorte.
Os meus pais também gostam muito de Portugal e dos nossos governantes, especialmente a minha mãe, que já me disse para agradecer ao governo por estar agora sempre em casa, porque a fábrica onde ela trabalhava fechou há mais de dois meses. Agora, a minha mãe joga no Euromilhões e vê as telenovelas todas, porque assim aprende, de borla, a falar português e, principalmente, aprende a ser rica, bonita e elegante.
O meu pai, esse, acha que Portugal está imparável, que vai na brasa, porque ainda ontem, ao ouvir as notícias, dizia para a minha mãe: «Beatriz, não sei onde isto vai parar!». O meu pai também é um grande patriota. Agora, para Portugal não gastar muito dinheiro a comprar petróleo ao estrangeiro, resolveu vender o carro e andar sempre a pé. Nem de autocarro vai para o emprego. Diz ele que não é pelo preço dos transportes, mas porque andar a pé faz bem ao coração e aos ossos do esqueleto, e assim também poupa dinheiro ao governo com os medicamentos, que estão pela hora da morte, o que quer dizer que estão caros comó caraças. O meu pai vê sempre mais longe do que nós, até parece que é bruxo. Há dias, disse que não fazia mal as fábricas fecharem, pois o nosso clima e a nossa situação geográfica são bons para outra indústria muito lucrativa: a indústria do sexo, que vai ser, com os casinos, a nossa safa.
Mas em minha casa somos todos muita fixes, bons patriotas e cidadãos (não sei se se diz cidadãos, ou cidadões ou cidadães, porque ainda não demos isso nas aulas de Português – ou se demos, eu esqueci-me, deu-me uma branca). Até a minha avó Francisca, que está à espera, há mais de três anos, de ser operada aos rins, já garantiu que vai morrer sem ser operada. Disse-me a velha: «Olha, meu filho, qualquer dia vou-me desta para melhor, e eles que fiquem lá com o dinheiro da pensãozita e da operação. Que lhes faça bom proveito!». Até começou a chorar de alegria. Depois, disse uns palavrões, que metia a mãe não sei de quem e tudo, mas acho que essas partes já são coisas da idade.
Mas onde eu senti um grande orgulho em ser português – e vi bem como, cá na minha palhota, a pátria está acima de tudo – foi no sábado passado, no Estádio Nacional. Eu conto a cena: quando se pediu às mulheres portugueses para fazerem a mais bela bandeira do mundo, no Estádio do Jamor, a minha mãe disse logo que queria ir, desse lá por onde desse. Assim, se tivesse sorte, até podia aparecer na televisão e ser vista ao lado de gente fina. O meu pai disse, aos gritos de entusiasmo, que aquilo até parecia coisa dos tempos do velho de Santa Comba, organizada para a malta não pensar nas coisas sérias da vida (eu não topo quem é esse velho, mas, para o meu pai se excitar tanto, deve ser um tipo muita bacano).
E como o meu pai gosta de fazer todas as vontades à minha mãe, principalmente porque ela tem uma doença dos nervos desde que está em casa, disse que sim, que íamos todos, mas que o pior era o transporte. Foi então que a minha mãe disse que isso estava resolvido, porque o senhor Laurentino Dias, que é secretário de Estado não-sei-das-quantas, e manda no Instituto Português da Juventude, arranjava boleia. E lá fomos todos, menos a avó Francisca, que já está velha demais para estas cenas. E o meu pai sempre a dizer baixinho que isto era coisa do tal velho de Santa Comba.
Mas aquilo no Jamor foi muita joli, quer-se dizer: foi bonito. Ali é que estava o país todo, bem unido à volta da pátria e dos seus mais altos valores, sem distinção de raças, credos e classes sociais. Ricos e pobres, doentes e saudáveis, patrões e trabalhadores, ganzados e betinhos. Quando os nossos jogadores chegaram à tribuna, então, até me arrepiei comó caraças. Nessa altura, a minha mãe, apesar de desempregada, era igualzinha às outras senhoras que estavam ali à volta, especialmente as mulheres dos jogadores, que eram as mais emocionadas. Então, ela abraçou-se ao meu pai (que apesar de estar agora a contrato de seis meses numa firma de segurança, valia, naquele instante, o mesmo que o Gilberto Madail e o senhor do banco que organizou a iniciativa), e disse, de lágrimas dos olhos: «Ó Zé, tás a ver aqueles lá em cima? Porque é que tu nunca tiveste jeito para a bola? Não estávamos hoje neste aperto, e até a tua mãe já tinha sido operada aos rinzes. Sabes quanto é que ganha o Figo, o Pauleta ou o Scolari, sabes?!». «Aos rins», corrigiu o meu pai, que se pôs a olhar para mim antes de dizer: «E tu, para desgraça nossa, também és um cepo do caraças. E já que não sabes dar uns toques, olha, vê lá se vais para a política. A par do futebol, é o que está a dar. Se fores deputado ou presidente de câmara, ao fim de meia dúzia de anos, já tens o teu garantido para o resta da vida».
Depois, no fim, ainda foi mais emocionante, com todos a cantarmos o hino nacional, até aqueles que não sabiam nem a letra nem a música, especialmente uma esganiçada que estava ao meu lado. Toda a gente cantou, e aí eu percebi melhor o que é ser um português a sério. É deixarmos de lado aquilo que nos divide, as coisas sem importância da vida, as pequenas tretas, os pequenos problemas como o dinheiro e o trabalho, chatices como as doenças e os medicamentos, a escola e os livros, a gasolina e o carro, os assaltos, a reforma da avó, as prestações da casa ou o frigorífico vazio, porque essas tretas o governo há-de resolver um dia destes. O que é muita giro e bué de importante é juntarmos as nossas forças para Portugal ser campeão do mundo. É isso, meus, é isso!
Ah ganda Carlinhos! Mai nada!
Crónica de: João Carlos Pereira
Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 24/05/2006. (Não deixe de ouvir e participar todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00, em 98.7 Mhz)
7 Comments:
Olá Carlinhos
Lembras-te de mim ? Eu sou a Aninhas que morava no 2º esquerdo e que tu andavas sempre a dizer que querias casar comigo quando entrámos para a escola primária. Já nessa altura tu eras um ganda malandro e mentiroso e até andavas sempre a prometer-me tudo e mais alguma coisa. Por isso, como o teu velho diz que não tens jeito para a bola, deves, de certeza, dar um bom político; daqueles que a gente curte na televisão a dizer que as coisas vão melhorar, que já há retoma económica, que o desemprego vai diminuir, que se preocupam muito com a educação e a saúde da gente, etc.
Até parece que já te estou a ver dentro dum bruto BM. Só espero é que não te calhe um que venha com deficiências e depois tenhas que o devolver…
Quem também me parece já ter o futuro assegurado é o Pedrito. O pai dele inscreveu-se num partido da política e até já lhe arranjaram um emprego bué de fixe numa empresa pública. O meu pai diz que é mais um “bói” mas isso eu não sei o que quer dizer; da maneira como ele falou, calculo que deve ser uma cena muita curtida, onde não é preciso trabalhar nem ser competente, mas apenas abanar a cabeça quando os chefes lá do tal partido mandam.
É engraçado e olha que quase nos encontrámos; enquanto tu foste no sábado com os teus velhos ao Jamor para colaborar naquele folclore da bandeira, eu fui no domingo com os meus à corrida que dizem que é contra a fome, porque se paga 10 euros e depois ficamos durante um ano com a consciência tranquila porque já contribuímos para não haver fome no mundo. Diz lá se isto não é nice ? Até parece aquela coisa que eu não sei como se chama, mas que se paga ao senhor padre para se poder comer carne à sexta-feira sem ser pecado.
Bom, isto já vai longo e eu tenho que ir com a minha mãe à Farmácia para ver se já chegou um remédio que se chama genérico e que tem estado esgotado.
Qualquer dia volto a escrever-te.
Beijinhos,
Aninhas
Olha, a Aninhas!
Então, pequena? Tu não és a mesma garina que escrevia umas becas num certo jornal, aqui há uns anos? Eh, pá! As voltas que o planeta dá!
Pois, não tenho puto de jeito prá redondinha, mas também não devo safar-me na política. Não tenho encosto, topas?
Quanto ao BM, tá fixe, deve ser piada a alguém que eu conheço, mas, se é, que se lixe, que ande de Mercedes, que também é preto...
Queres uma dica? Então, arrecada: se quiseres uma piscina boa e barata, há um arquitecto meu amigo que faz o desenho de borla. Depois, também conheço um empreiteiro que a constrói à borliú. Vês? Não é bom termos bons conhecimentos?
Olha: quando tiveres uma herdade com piscina, fala comigo, pode ser que eu resolva mesmo casar-me contigo. Tá, minha?
Beijocas.
Carlinhos
Oi Carlinhos.
Continuas na mesma e não tens vergonha nenhuma !
Depois admiras-te de te quererem puxar as orelhas e colocarem-te ao canto da sala com orelhas de burro...
P’ra mim já estás marcado e esquece o casamento porque eu não dou confiança a putos interesseiros que só pensam em herdades com piscina e não se preocupam com os outros putos que nem puliban têm.
Pelos vistos, desde que és chefe de turma subiu-te alguma coisa à tola e já esqueceste as tuas origens, dando mais importância aos betinhos que te dão muitas palmadinhas nas costas e nunca discordam das tuas imbecis opiniões ou dos teus discursos no recreio, para que não lhes retires os chocolates e os rebuçados.
Como sou tua amiga, ainda te mando beijinhos. Mas aviso-te já: se é para continuares assim parvo, não falo mais contigo.
Aninhas
Agora escondem-se atraz de nomes de Carlinhos e Aninhas porque não tem coragem de assinar com o nome que teem. Sao muito corajosos e pensam que sabem tudo.
Também acho. Sejam lá quem forem estes engraçadinhos, o melhor era que chamassem os bois pelos nomes. Estão ali umas pistas muito giras...
Não conseguem ser mais precisos? É que eu fiquei com água ma boca.
Zeca da Borga
Sendo este um espaço livre para todos aqueles que queiram comentar, debater ou criticar as crónicas que semanalmente publicamos, convidamos todos os democratas ou pseudo-democratas, anónimos ou não, a aparecerem e a dizerem aquilo que pensam, independentemente do seu credo religioso, raça, ou tendência política.
Se não souberem escrever, têm ainda a possibilidade de utilizar o espaço das "provocações" onde livremente podem participar todas as quartas-feiras entre as 9 e as 10 horas na Rádio Baía, na frequência 98.7 Mhz.
Celino Cunha Vieira
Se não souberem escrever, podem ligar para a Rádio Baía?
O mais certo, pelo que já ouvi, é eles também não saberem falar!
Zeca da Borga
PS - Começo a gostar disto...
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