31/05/2006

O OUTRO CAMPEONATO DO MUNDO

Um pouco por toda a parte – mas, segundo parece, com exagero doentio em Portugal – a comunicação social dá enorme destaque à maior competição do pontapé na bola que, entre selecções nacionais, se realiza no mundo. No entanto, meus amigos, aconteça o que acontecer, ganhe quem ganhar, perca quem perder, para além das manifestações de euforia ou desânimo, o mundo continuará na mesma. Ia a dizer «continuará a ser a porcaria do costume», mas hoje prometi a mim mesmo não ser agressivo.

Por isso, muito pouco me preocupo com o evento que aí vem, com «os nossos rapazes» – que, segundo contas feitas por alto, devem ganhar, no seu conjunto, mais de meio milhão de contos por mês – nem me vou preocupar com o treinador ou o presidente da Federação, e muito menos com um ou outro mafioso que gosta de golfar, volta não volta, as suas patacoadas a propósito da “seleçon”. O que eu espero do campeonato que aí vem, é «só» poder assistir a bons jogos, ver grandes golos, defesas extraordinárias, tudo com muita emoção, incerteza e desportivismo. Que aquilo seja uma festa para os olhos e para o espírito. Um tempo de descanso e alegria. Sem políticos nem políticas.

Desconfio, porém, que pouco – ou nada – disso vai acontecer. Os grandes jogadores, se estão em fim de carreira, apenas aspiram a mostrar a sua habilidade em duas ou três jogadas por jogo, mas desde que isso não seja perigoso para as pernas, nem muito cansativo para os músculos. Ainda querem fazer, nos seus – ou noutros – clubes, mais uma ou duas épocas. Depois, os maiores artistas vêm de campeonatos desgastantes, estão saturados de bola, não é nas selecções que ganham a vidinha, não vão para ali, como se percebe, para deixar a pele em campo. Patriotas, sim; mas trouxas, não.

Há, é verdade, os bons jogadores mais novos, que pretendem mostrar o que valem. São os que querem melhorar as suas cotações no mercado internacional, «dar o salto» das suas carreiras. Esses, vão encarar cada jogo presos num dilema: como mostrar valor sem arriscar uma lesão. Também aqui o principal – as cores nacionais – ficam em segundo ou terceiro plano.

Portanto, meus amigos, as minhas expectativas só vivem do que poderão fazer as selecções menos cotadas, aquelas que ninguém conhece, nem os nomes da maioria dos seus jogadores. Aquelas que vão entrar em campo com verdadeiro espírito de conquista, equipadas com a pele de David, e enfrentando, de dentes e punhos cerrados, os Golias do futebol mundial. Serão poucas, mas sempre serão algumas. É por essas, por esse espírito, que eu vou torcer. Pelos mais fracos, pelos que lutam por um lugar ao sol.

Por outras palavras. Vou tentar divertir-me durante duas ou três semanas, mas não vou distrair-me do que continuará a acontecer neste país e neste mundo. No grande e verdadeiro campeonato, onde nós, gente simples, a ralé, os Zés-Ninguém, somos a tal equipa que já entra derrotada no relvado, porque é tudo – o campo, a bola, as regras, o árbitro, as bancadas, o policiamento e os balneários (com escutas instaladas) – é tudo propriedade do nosso adversário. Até o resultado é deles – e já está feito antes do jogo.

Ao chegar aqui, lembrei-me do grande, verdadeiro e trágico campeonato do mundo, que está a decorrer em vários estádios, como, por exemplo, no do Médio Oriente. Falo da Palestina e do Iraque, cenários de um dos mais trágicos e sangrentos desafios que alguma vez a humanidade travou.
É. Entretido com o que se vai passando nesta lixeira à beira-mar encravada, neste aterro sanitário, neste esgoto moral e físico da Europa (Mau! Já estou a ser outra vez agressivo. É melhor utilizar, para não magoar os tímpanos de algum ouvinte mais patriota e menos atento à realidade, a velha metáfora: neste jardim à beira-mar plantado. Assim é mais bonito, não é?) mas eu dizia que, entretido com a nossa casa, não temos falado no que vai pelo mundo.

E pelo mundo vai que uma verdadeira cidadela fortificada, maior que o estado do Vaticano e "mais segura do que o Pentágono" está a ser construída em Bagdad, nas margens do Tigre, na "zona verde", onde se encontram os chamados palácios de Saddam. Mil operários, vindos dos países mais pobres da Ásia, constroem ali a nova embaixada dos EUA. São mil milhões de dólares, dos quais o Congresso já libertou 600 milhões. É a maior e a mais fortificada embaixada do mundo, estendendo-se sobre mais de 42 hectares. Para se ter uma ideia da sua extensão, a área equivale a cerca de 80 estádios de futebol, ou seis vezes a da sede das Nações Unidas, em Nova Iorque. Segundo um relatório da Comissão dos Negócios Estrangeiros do Senado americano, o complexo será composto por 21 edifícios. Dois serão destinados ao embaixador e ao seu adjunto, os outros aos escritórios, aos empregados e aos serviços. Em funcionamento pleno, ali trabalharão 8.000 pessoas, e ela tornar-se-á o cérebro da administração colonial do Iraque, escondida atrás de figuras dos líderes iraquianos, ocupados apenas em repartir as migalhas que caem da mesa dos ocupantes.

Ultrapassando em grandeza, majestade e funcionalidade os edifícios onde se reúnem o parlamento e o governo iraquianos, é uma mensagem clara para o povo iraquiano, e para o mundo, sobre quem realmente governa o país, e sobre as intenções de Washington de continuar a ocupar o Iraque durante anos. A cidadela imperial será praticamente inatacável da terra e do céu, cercada por um muro com cinco metros de espessura, com seis portas de entradas, com saídas ultra-seguras, e uma sétima, para saídas de emergência (não vá o diabo tecê-las) directamente para o aeroporto, defendida por baterias de mísseis terra-ar e terra-terra e por uma grande caserna de marines. O aspecto mais impressionante da nova embaixada é o seu isolamento total do resto da capital iraquiana. Ao contrário dos velhos palácios coloniais britânicos, a cidadela ianque será como uma nave espacial aterrada no centro de Bagdad. Completamente auto-suficiente, terá os seus próprios poços para o abastecimento de água, uma central eléctrica, um sistema de recolha e tratamento de lixo, sistema de esgotos, a maior piscina da cidade, restaurantes, snacks, cinemas, ginásios e um sistema de comunicações interno.

Bagdad cai em ruínas, mas nas bases norte-americanas – nesta, tal como nas outras 14 disseminadas por todo o Iraque – a vida continua a decorrer com as mil comodidades de uma tranquila província americana. Os soldados do império, totalmente ignorantes acerca do lugar onde estarão, verão assim o Iraque apenas através dos visores dos seus tanques e das miras ópticas das suas armas. Esta nova cidade proibida, já denominada "o palácio Bush", ou a "mãe de todas as embaixadas", poderia ser chamada, com mais propriedade, como a maior estação de combustíveis do mundo, graças à qual os EUA poderão continuar a delapidar as riquezas do planeta e poluir a terra, o ar e a água. Isto passa-se no Iraque onde, graças aos "acordos" com o governo fantoche local, os nazis norte-americanos (perdão: os queridos democratas, salvadores da humanidade) não só se apropriaram desta vasta zona sem pagar um centavo, como impuseram que todas as suas estruturas são território norte-americano, bem como a impunidade absoluta para os seus homens.
O projecto de construção da nova embaixada (a única obra de construção imobiliária no Iraque que, por enquanto, está dentro dos prazos previsto), foi confiado, na maior parte, a uma empresa kuwaitiana, a First Kuwaiti Trading (dirigida por um tal Wadi al Absi, um cristão maronita libanês) e a seis outras empresas, das quais cinco norte-americanas. A sociedade de Wadi al Abdi, com mais de 7.000 empregados no Iraque, foi criticada várias vezes por diversos organismos humanitários, assim como por empreiteiros e responsáveis norte-americanos, pelas péssimas condições de vida e de trabalho dos seus empregados, transferidos em massa para a região a partir dos países mais pobres da Ásia: com jornadas de 12 horas de trabalho, ausência de todas as condições de segurança, são verdadeiros escravos utilizados para construir as pirâmides do novo faraó americano.

Mas a notícia mais alarmante que nos chega do Médio Oriente, é outra, e vem de várias fontes distintas. E como, em Portugal, os governantes e os órgãos de comunicação social não passam, no seu conjunto, de reles lacaios do IV Reich (Ai! Lá me fugiu outra vez a boca para uma rudeza e uma agressividade politicamente incorrectas…) queria eu dizer que o nosso governo, bem como os órgãos de comunicação social, para salvaguardar a opinião pública de boatos não confirmados, resolveram omitir a coisa, sinto-me eu na obrigação de dela aqui dar o conhecimento possível.

É assim: os norte-americanos e os seus aliados ocidentais (Portugal é um deles), com a ajuda da Mossad, a polícia secreta israelita, já levaram a efeito mais de 550 assassinatos selectivos, tendo como alvo cientistas nucleares iraquianos e professores universitários de diferentes campos científicos. As fontes a que me refiro são: Frente Democrática para a Libertação da Palestina, mas esta, claro, é suspeita, pois trata-se de um grupo político com interesse directo no assunto. Mas, em Fevereiro último, um relatório semelhante, de fonte mais crível, assegura: "O Pentágono gastou 3 mil milhões de dólares na criação dos “esquadrões da morte” que poderiam estar por trás dos assassinatos de docentes...". Em folha actualizada até 14 de Março último, o Comité de Solidariedade com o Iraque do Tribunal de Bruxelas, precisa as circunstâncias em que foram torturados e assassinados 141 professores de várias instituições e centros de ensino superior, referindo nomes das instituições: Universidade de Bagdad, al-Mustansiriya, Tecnológica e al Bahrein, todas da capital iraquiana; ou as de Hilla, Mosul, Diwaniya, Instituto Técnico, de Basora, Saladino (Tikrit), Baquba, Ramada, Kufa, Mosul, entre outras instituições académicas.

Acerca da situação naquele que foi o mais intelectualmente avançado país do Islão, o redactor do relatório, Dick Adriansens, diz: "O pessoal universitário iraquiano está desesperado". A lista inclui nomes, apelidos e direcções de reitores, decanos, biólogos, sociólogos, médicos, historiadores, filólogos, físicos, engenheiros, pediatras, linguistas, geógrafos, economistas, educadores e cientistas nucleares que, lamentavelmente, já não poderão colaborar com o novo "governo democrático do Iraque". Foram assassinados.

Mas a barbárie norte-americana não se fica por aqui. O Sindicato dos Jornalistas do Iraque apresenta uma relação, actualizada a 4 de Maio último, de 109 filiados assassinados em diversas situações. Ambos os relatórios corroboram o apresentado pelo colombiano Fernando Báez, que em Maio de 2003 visitou o Iraque com uma comissão da UNESCO. Báez é biblioclastiólogo (de biblioclastia), nome que os gregos davam à destruição de livros. Só a Biblioteca Nacional de Bagdad (três pisos uniformes, de 10.240 metros quadrados construídos em 1977) perdeu com os bombardeios mais de um milhão de volumes, dezenas de milhões de documentos impressos, a quase totalidade dos arquivos microfilmados e do Arquivo Nacional do Iraque.

Báez pergunta-se: porque fizeram as tropas de ocupação vista grossa aos saqueadores das grandes bibliotecas do país? Quem organizou os grupos de civis que, no meio ao caos, entraram nos recintos climatizados que guardavam os manuscritos mais importantes, pergaminhos, peças e placas de argila com mais de 2 mil anos, mais antigas que o reino de David?

O antigo director da Biblioteca de Bagdad lamentou com nostalgia: "Não recordo semelhante barbaridade desde os tempos dos mongóis". Referia-se à invasão de Bagdad, em 1258, quando as tropas de Hulagu, descendente de Gengis Kan, destruíram todos os seus livros, lançando-os no rio Tigre).

"Concluída a desastrosa pilhagem – acrescenta Báez – não havia literalmente nada que fazer. O secretário da Defesa dos Estados Unidos, Donald Rumsfeld, a modo de desculpa perante estes factos, comentou: “a pessoa livre é livre para cometer desmandos e isso não se pode impedir”."

Entre aqueles que livremente cometem "desmandos" não há apenas militares e saqueadores. Os criminosos de guerra também contam com o apoio implícito de intelectuais "livres" como Salman Rushdie ou Oriana Fallacci, e aqueles outros que, pelo silêncio, são cúmplices activos da barbárie e escondem que a primeira destruição de livros do século XXI ocorreu na nação onde teve lugar a invenção do livro em 3.200 antes de Cristo. A última, na década de trinta do século passado, foi levada a efeito pelo III Reich, de Adolph Hitler. Até nisso se parecem um com o outro: o III Reich, de Hitler, e o IV Reich de Bush.

Cito, ainda, Fernando Báez:
«Há, no Iraque, dezenas de bibliotecários detidos, e os que trabalham temem contar a verdade completa. Sobre isto, não se diz nada. Porquê? O que se tenta esconder? Por acaso, a única resposta possível a estas perguntas, e eu a assinalo para terminar, deve ser encabeçada por uma epígrafe: “A primeira vítima da guerra é a verdade”. A frase, convém lembrar, não foi dita por um filósofo ou um jornalista. Foi dita por um congressista norte-americano, Hiram Warren Johnson, em 1917. E o pior é que os acontecimentos de Hiroshima, Nagasaki, Vietname, Etiópia, Líbano, Afeganistão e Iraque não param de lhe dar razão».

E eu acrescento, a concluir: não perca o próximo desafio. Vai ter lugar no Irão, na antiga Pérsia, outro dos berços da civilização. A equipa de Bush só espera a altura oportuna para entrar em campo. Mas nós sabemos – eu, pelo menos, sei – que as equipas de futebol são como os impérios, ou vice-versa. Um dia, vão-se abaixo.

E eu, como estou sempre ao lado dos mais fracos, vou pular de contente.


Crónica de: João Carlos Pereira
Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 31/05/2006. (Não deixe de ouvir e participar todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00, em 98.7 Mhz)

4 Comments:

Blogger x said...

Oh João !
Mas tu ainda acreditas que eles um dia se vão abaixo ?
Então não vês que o jogo está viciado e que mesmo levando na “corneta” em todos os conflitos onde se meteram, o sistema está cientificamente estudado para que assim continue a desenvolver-se ?
Os fortes interesses da indústria militar americana (propriedade dos mais destacados dirigentes) necessita de criar os conflitos para poder aumentar a fortuna pessoal de cada um deles, pois possuem suficiente “carne para canhão” para assim continuarem por muitos anos, enganando os seus concidadãos com um patriotismo bacoco e ridículo, já que aquilo nem sequer é uma nação, mas sim um conjunto de descendentes de emigrantes que, coitados, com a crise que se vivia na europa do século XIX, foram tentar sobreviver noutro local, iludidos com o ouro e com as terras férteis que estavam por desbravar.
Muitos morreram miseravelmente porque eram honestos e não tiveram a tal "esperteza" de explorar o seu semelhante. Os outros, os que sem qualquer escrúpulo mantiveram o regime de escravatura, que mataram, que incendiaram, que agiotaram, etc., deixaram os genes que deram origem aos Roosevelt, aos Truman, aos Kennedy, aos Nixon, aos Ford, aos Carter, aos Reagan. aos Clinton ou aos Bush, para além de muitos outos. Todos eles, cada um à sua maneira e independentemente de serem “democratas” ou “republicanos” tudo têm feito para serem eles a controlar o mundo de uma forma batoteira e mentirosa.
Para que o jogo deles mude será necessário em primeiro lugar que os cidadãos americanos abram de uma vez por todas os olhos e que se oponham de forma generalizada a continuarem em campo, sujeitos como estão a sofrerem lesões graves, diria até gravíssimas, já que muitos regressam da competição dentro de caixas de madeira, mas como manda o patriotismo, com uma linda bandeira por cima e uma foto de como eram esbeltos antes de terem entrado no jogo.
O que me admira e muitas vezes tenho pensado nisso, é como é que aquelas mães e aqueles pais suportam isto sem se revoltarem. Ou são muito estúpidos ou então a “lavagem ao cérebro” deixou-os em tal estado de letargia que nem pelos filhos reagem.

Celino

31/5/06 6:01 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Caro Celino

Antes de mais, obrigado pelo teu comentário e pelo espaço que dás aos meus desabafos disfarçados de crónicas. Às minhas provocações.

Depois, quero louvar-te por seres capaz de assumir a denúncia do IV Reich - o do Bush - coisa que não é fácil nos tempos que correm, nem para o mais pintado «democrata» ou «revolucionário». Hoje, muitos deles, são cópias baratas do nazi da Casa Branca. «Dá cá o meu, e que se lixe o mundo...».

Mas deixemo-nos de trocar galhardetes e vamos àquilo que, no teu comentário, não me parece tão certo: o não acreditar que o Império há-de cair. Todos caíram, e, para além disso, nada é eterno. Caracterizas bem a teia de interesses que alimenta - e se alimenta - da guerra, mas esqueces que, embora mais lentamente do que seria desejável, a humanidade acaba sempre por reagir e por forçar mudanças.

Mesmo nos EUA, há milhões de homens e mulheres que são capazes de pensar pelas suas cabeças e que já não confundem patriotismo com manipulação de sentimentos para cimentar a política imperial. É verdade que a maioria dos norte-americanos são consequência «genética» da forma como o país nasceu, através dos genocídio e esbulho de milhões de seres humanos que ali habitavam. É verdade que a força que sustenta o sistema, internamente, é a convicção instalada na generalidade da população norte-americana de que eles são o que de melhor há no mundo, e que tudo, em redor dos EUA, são quintais habitados por gentios à espera de serem civilizados pela nação ianque. E que a única forma de sucesso que essas pessoas conhecem, assenta no que se conquista através do soco, do pontapé, da bala, da bomba, do míssil. «Esmaga-os!», diz qualquer pai ao seu filho, mesmo que se trate de um jogo de basebol. É a cultura da brutalidade, da violência da razão do mais forte.

Aquela nação nasceu e cresceu assim, mas tudo o que nasce, cresce, definha e morre. E quem com ferro mata...

Façamos a nossa parte. Denunciemos, não nos rendamos, defendamos outros valores, aqueles que distinguem os Homens dos animais com aspecto de gente. Dos Rambos, ícone máximo da «cultura» norte-americana.

Um abraço

João Carlos Pereira

1/6/06 9:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Olá tio João Carlos.
Eu sou a Aninhas e quero dizer-lhe que gosto muito de o ouvir, mas gostaria também que falasse das coisas aqui do nosso Concelho do Seixal. Sabe, tio João Carlos, tenho muitas saudades do tio Eufrázio que foi lá para aquelas coisas do turismo e que, com o que vou escutando aqui e ali, faz muita falta na nossa terra. Dizem que no tempo em que ele era presidente as pessoas trabalhavam mais por “amor à camisola” do que por dinheiro (embora o pilim faça muita falta a quem ganha pouco). Hoje parece que andam todos aflitos porque não sabem se quando chega o fim do mês há dinheiro para lhes pagar.
Dizem também que foram contratados para a Câmara muitos doutores, engenheiros e professores, mas gente para trabalhar cada vez existem menos. Será assim tio João Carlos ?
Eu sei que o senhor sempre se interessou por estas coisas e que até chegou a ser presidente de uma Junta de Freguesia. Não percebo porque é que não continuou, se não foi para o turismo como o tio Eufrázio nem para outra coisa qualquer... Se calhar não gostam de si ! Mas não se importe: eu gosto e sei de muitas outras pessoas que também gostam.
Agora anda toda a gente muito contente porque vamos ter um hospital – não se sabe é quando – mas isso não é importante, porque se algum dia ele vier a ser construído, já eu devo ter netos na tropa. Deve ser como a universidade: pensava eu que ainda seria para a minha geração, mas pelo andar da carruagem é melhor tirar daí a ideia.
Estou é muito contente com isto de os nossos pais poderem avaliar os professores, porque assim já os podemos enfrentar de uma forma mais livre e democrática, pois se nos chatearem, já sabem que vão ter uma nega para a promoção.
Bom, tio João Carlos: tenho que terminar porque vai começar os “morangos” e eu não perco um episódio.
Beijinhos da,
Aninhas

1/6/06 5:31 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Aninhas, minha cara

A menina - ou a senhora? - deixa-me ligeiramente embaraçado. Não por me tecer alguns elogios; não por, nitidamente, tentar «dar-me corda»; muito menos por tocar alguns assuntos incómodos. Mas porque parece saber mais de mim do que eu sei de si, embora o seu nome e as suas ideias não me sejam propriamente estranhas. Mas gostava de lhe ver a cor dos olhos. Enfim, não pode ser, mas sempre direi qualquer coisa, só para que não diga que me encolhi.

As suas saudades do «tio Eufrázio» não são monopólio seu. Há muita gente a tê-las. O Eufrázio está para o Seixal como o Eusébio para o Benfica, ou a Amália para o fado. Façamos votos para que, um dia destes, apareça alguém que - sem fazer esquecer esse homem, a quem se deve muito do que o Seixal ainda é - reacenda a chama e volte a criar um clima de verdadeira comunhão entre a autarquia e as populações. Que volte a permitir que chamar ao Seixal «concelho de Abril» não seja uma piada de mau gosto ou, quando muito, um chavão.

Relativamente à CMS é às perguntas que me faz sobre dinheiro (falta dele) e doutores, engenheiros, arquitectos e técnicos disto e daquilo (fartura deles)parece-me ligeiramente pérfida. Acho que está melhor informada do que eu...

Fui autarca, hoje sou, apenas, um cidadão atento, e a coisa que menos me preocupa é saber se gostam de mim - ou não. Confesso-lhe uma coisa: há certas pessoas que, se gostassem de mim, isso seria quase uma ofensa. Tal como seria uma ofensa se alguém se atrevesse a oferecer-me um job, fosse para me calar, fosse pelo que fosse.

Sobre o hospital, cara Aninhas, se eu fosse ministro também diria logo que sim. Já viu a chatice que é agora não haver mais bandeiras para agitar, para mostrar que estamos vivos? Esvaziou o balão da «grande luta» deste mandato. Agora, temos a Universidade Aberta e o Hospital no mesmo saco, à espera de verbas. Para ser sincero, bem gostaria que o concelho todo se mobilizasse para que esses dois grandes objectivos fossem alcançados. A ver vamos...

Sobre os pais poderem avaliar os professores, olhe que se a coisa pega, vai ser um fartote. Já viu a família do coveiro a avaliar o presidente da Junta? E a sogra do cantoneiro a dar palpites sobre o presidente da Câmara? E a mulher do segundo oficial a avaliar o ministro da Admnistração Interna? E as namoradas do Ronaldo a classificarem o Scolari? Era giro, que as coisas fossem até estas (últimas)consequências!

Sabe que me desiludiu? Então a menina - ou a senhora? - gosta de telenovelas? É pirosa, ou anda a imitar? Francamente, Aninhas...

João Carlos

1/6/06 8:36 da tarde  

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