31/12/2008

DO GUETO DE VARSÓVIA À FAIXA DE GAZA

O ano de 2008 termina como começou e decorreu. Pesado, triste, injusto, violento, manchado de sangue, sujo de fome e de sofrimento para milhões de pessoas. Os senhores que mandam – tanto do alto do poder económico como na política, através dos seus homens de mão – mostraram a sua face hedionda. Os escândalos rebentaram uns a seguir aos outros, provando qual a marca genética do capitalismo reinante.

O povo critica-os, despreza-os, vai percebendo cada vez melhor quem eles são, mas, como que por hipnose, continua a sustentá-los, a mantê-los. No fundo, a deixar-se governar por esta gente.

Portugal, entregue a um pardacento aprendiz de Salazar, arrogante e insensível aos problemas sociais (que só tem agravado) – mais desemprego, mais trabalho precário, menos poder de compra, pior educação, pior saúde, pior segurança social, estagnação económica e a inevitável recessão – tornou-se um feudo do Partido Socialista.

Não vale a pena gastarmos muitas palavras para caracterizar a governação do «engenheiro-chefe», mas há dois exemplos que, na singeleza da forma como contrastam, dizem tudo a respeito da rapaziada cor-de-rosa que abocanhou o poder em Portugal.

Atentemos no Diário da República n.º 255, de 6 de Novembro 2008:

Exemplo 1:

No aviso n.º 11.466/2008 (2.ª Série), declara-se aberto concurso no I.P.J. para um cargo de «assessor», cujo vencimento anda à volta de 3.500 euros (700 contos mensais). Na alínea 7 lê-se: «Método de selecção a utilizar é o concurso de prova pública que consiste na (...) Apreciação e discussão do currículo profissional do candidato.»

Exemplo 2:

No Aviso simples da pág. 26.922, a Câmara Municipal de Lisboa lança concurso externo de ingresso para «coveiro», cujo vencimento anda à roda de 450 euros (90 contos) mensais. E ali se lê que o método de selecção é o seguinte: «Prova de conhecimentos globais de natureza teórica e escrita, com a duração de 90 minutos. A prova consiste no seguinte:

1. - Direitos e Deveres da Função Pública e Deontologia Profissional;
2. - Regime de Férias, Faltas e Licenças;
3. - Estatuto Disciplinar dos Funcionários Públicos.»

Depois, vem a prova de conhecimentos técnicos: Inumações, cremações, exumações, trasladações, ossários, jazigos, columbários ou cendrários.
Por fim, o homem tem que perceber de transporte e remoção de restos mortais. Os cemitérios fornecem documentação para estudo. Para rematar, se o candidato tiver:

- A escolaridade obrigatória, somará + 16 valores;
- O 11º ano de escolaridade, somará + 18 valores;
- O 12º ano de escolaridade, somará + 20 valores.

No final, haverá um exame médico para aferição das capacidades
físicas e psíquicas do candidato.

Tudo isto, meus amigos, para um vencimento de 450 euros mensais! O outro, o boy socialista, que vai arrecadar 3.500 euros por mês, só precisa de uma cunha.

Está tudo dito. Tem sido assim desde que Sócrates subiu ao poder, e assim vai continuar a ser até que ele seja apeado e substituído por gente séria e decente. Entretanto, será este regabofe do socialismo de plástico.

Se em Portugal é assim, no mundo, a pata dos poderosos não deixa de esmagar quem se lhe oponha. Pela força, ou pela dependência económica. O ano termina com uma das mais violentas carnificinas em que os sionistas neo-nazis de Israel são peritos.

Convém aqui recordar a história recente, que as boas consciências ocidentais se esforçam por apagar. Após a II Grande Guerra, e utilizando como argumento os massacres nazis (que não foram praticados apenas sobre judeus, mas, como se sabe, sobre comunistas, socialistas, sindicalistas, católicos, democratas sem filiação definida e outros opositores ao nazismo, pois todos estes homens e mulheres alimentaram as câmaras de gás e os fornos crematórios), os judeus reforçaram a exigência de criar um estado na Palestina.

A Inglaterra, que administrava o território como potência colonial, tinha consciência da instabilidade que a criação desse estado provocaria na comunidade árabe, mas os EUA, que emergiam da guerra como uma nova potência, e sob a pressão do sionismo, cuja força económica sempre foi determinante na economia norte-americana, pressionaram a favor da causa judaica.

A tragédia do povo palestiniano tinha início, e sucedia ao drama da ocupação inglesa. De facto, em 1947, a Inglaterra submete a questão às Nações Unidas, cuja Assembleia, ignorando todos os argumentos e apelos dos palestinianos, aprova a partilha da Palestina entre árabes e judeus. Em 14 de Maio de 1948, a Inglaterra retira-se da Palestina e os judeus proclamam o Estado de Israel, ocupando as melhores terras e controlando os recursos hídricos, essenciais numa zona por natureza árida. Face ao esbulho, os árabes da Palestina, do Egipto, Jordânia, Iraque, Síria e Líbano declaram guerra ao recém-criado Estado de Israel, ignorando a excelência do potencial bélico sionista, devidamente fornecido pelas potências ocidentais.

Com a vitória dos judeus, em 1949, são estabelecidas fronteiras ainda mais draconianas. Cerca de 75% da Palestina é incluída nas fronteiras de Israel; Jerusalém foi dividida entre Israel e Jordânia. O estado árabe-palestiniano deixa de existir. Quase 2/3 da população árabe é forçada a abandonar as suas casas e torna-se refugiada. Centenas de milhares de palestinos emigram para os estados árabes, nos quais passaram a sobreviver em acampamentos precários, e onde, periodicamente são chacinados pelos sionistas e seus aliados. Os que permaneceram, ficaram na condição de refugiados na sua própria pátria.

Nos campos de refugiados, desde então, nasceram, sofreram e morreram gerações inteiras de palestinianos. Será, assim, motivo de espanto que os palestinianos resistam e lutem pelo seu direito a viverem, livre e dignamente, na sua própria terra?

Apesar da comunidade internacional pouco mais fazer do que derramar lágrimas de crocodilo pela infelicidade dos palestinianos, e porque é sempre bom, em política, salvar as aparências, foram aprovadas numerosas resoluções nas Nações Unidas, apelando à paz, ao retorno dos refugiados às suas terras e casas (as que não tiverem sido ocupadas ou destruídas pelos judeus), exigindo a retirada dos sionistas dos territórios ocupados e o estabelecimento de fronteiras permanentes. Israel não acatou nenhuma delas.

Curiosamente – ou talvez não – os paladinos «justiceiros» norte-americanos, que já invadiram países, depois de sobre eles derramarem toneladas de bombas, argumentando que não cumpriam resoluções da ONU, ainda não tiveram oportunidade de invadir Israel e obrigar os judeus a respeitar as resoluções que os vinculam.

Aparentemente – e de acordo com a velha filosofia nazi – para norte-americanos e judeus, os palestinianos não deverão ser seres humanos, ou, sendo-o, não se lhes aplica, por qualquer desconhecida razão, a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Nem dos animais…

Socorramo-nos de um artigo publicado no New York Times, pela altura da célebre visita do Papa, João Paulo II, em 1999, ao campo de refugiados de Dehaishem:

"Quase 10.000 refugiados palestinos, quase todos muçulmanos, vivem em menos de 1 milha quadrada de terra, amontoados em barracas que formam becos salpicados de sucata de carros velhos, velhas bobinas de fio e lixo. Eles são refugiados há 52 anos, e muitos deles ainda guardam as chaves de suas casas, que foram forçados a abandonar, quando da criação de Israel."

Mas quem conseguir visitar a Faixa de Gaza, perceberá ainda melhor a tragédia dos palestinianos. Com uma população de mais de 1 milhão de habitantes, a Faixa de Gaza, (o «Soweto de Israel» em alusão ao antigo gueto da África do Sul), não é um estado e não foi anexada a Israel. As forças de Israel controlam toda a fronteira. Se os moradores de Gaza quiserem sair dessa área, precisam de obter uma permissão dos israelitas. Muitos palestinianos – nascidos a partir de 1967 – nunca saíram dessa faixa, uma tira de terra situada entre o deserto de Negev e o mar Mediterrâneo, que mede 46 km de comprimento e 10 km de largura, aproximadamente. Não restam dúvidas. O sionismo judaico aprendeu bem as lições de Hitler, desde o gueto de Varsóvia aos campos de extermínio.

Perante este quadro, quem se pode admirar com ataques suicidas? Não perderam os palestinianos tudo o que é possível perder? Tudo, menos a coragem, deve acrescentar-se.

E assim termina 2008 e começa 2009. Então, a par dos desejos (irrealistas) de um Bom Ano Novo, que só por hábito e tradição aqui vos deixo, fica a promessa de continuarmos a ser, nesta trincheira de liberdade que é a Rádio Baía, uma voz de denúncia e combate.


Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 31/12/2008.
(Não deixe de ouvir em 98.7 Mhz e participar pelos telefones 212277046 ou 212277047 todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00).

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Quem lê os seus artigos, fica com a ideia que o senhor vive noutro conçelho, que não o do seixal!O que o semhor tem a dizer sobre este mau executivo camarario?

1/1/09 1:44 da manhã  

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