07/12/2008

A ÚLTIMA ABERRAÇÃO DE SÓCRATES

Todos nós sabemos o que pagamos em taxas moderadoras, seja ligeira ou grave a maleita que nos afecta.

Todos nós sabemos o que pagamos pelos medicamentos, mesmo os que são comparticipados (e são cada vez menos – e mais caros – os medicamentos comparticipados).

Todos nós sabemos que a cada anúncio de baixa de preço dos medicamentos, eles sobem, em vez do inverso.

Todos nós sabemos o que pagamos por um internamento nos hospitais públicos, depois de penosas horas de espera e trambolhões no meio das urgências.

Todos nós sabemos o que se paga por fraldas para incontinentes. Todos nós sabemos o calvário de milhares de doentes crónicos, quer em despesas de medicamentos e tratamentos, quer em deslocações.

Todos nós sabemos, afinal, o que nos custa uma doença e, principalmente, o que sofrem centenas de milhares de portugueses que não conseguem suportar as suas despesas com a saúde e prescindem da consulta necessária, ou deixam de aviar os seus medicamentos – ou fazem-no a fiado, por complacência do farmacêutico amigo e generoso.

Todos nós sabemos que, para poupar dinheiro, se fecharam serviços de urgências por todo o país, se reduziram serviços nos Centros de Saúde e se encerraram maternidades.

Em conclusão: os cuidados de saúde pioraram e custam-nos mais.

Contudo… contudo, quando parecia que as coisas estavam mal para toda a gente, especialmente para quem contrai uma doença qualquer – muito ou pouco grave – ou sofreu um acidente – com ou sem culpa – eis que aparece um oásis no meio deste deserto infernal em que o governo do «engenheiro» Sócrates (dito socialista e dito de esquerda) meteu a enorme maioria da população.

Se pensam que vou falar da distribuição gratuitas de seringas aos toxicodependentes, desenganem-se. Já nem vale a pena. Se pensam que vou falar da distribuição de kits para os reclusos toxicodependentes poderem satisfazer, confortavelmente, o seu vício nas prisões – onde, por princípio e definição, a entrada de droga seria uma coisa inconcebível, e onde, em vez de incentivar o consumo, se deveria fazer o contrário, tratando os viciados – desenganem-se também. Vou falar-vos é de notícias recentes, que nos dizem que o Estado comparticipa a 100% as intervenções cirúrgicas para… mudança de sexo.

Para mudança de sexo?! A 100%?! Inicialmente – distraído como eu sou – pensei que se tratasse de uma partida de quem me chamou a atenção para tão aberrante medida. Confesso que andava a leste da coisa. Depois, pesquisei na Internet e rapidamente conclui que era verdade.

A minha primeira reacção foi pensar: Mas… e os doentes a sério, isto é, os que têm graves problemas de saúde? Mas prefiro utilizar as palavras de um amigo meu, ouvinte e também leitor assíduo destas crónicas, que me enviou um texto de que respigo algumas passagens.

Diz ele: «Então e os restantes cidadãos portugueses, idosos ou jovens, abastados ou carenciados (a maioria), ditos normais, que padecem de doenças e lesões – algumas incuráveis e irreversíveis – que têm de pagar do seu próprio bolso, ou comparticipar com consideráveis quantias, as despesas com medicamentos, tratamentos, exames médicos, intervenções cirúrgicas, etc. etc.?»

E questiona: «E os trabalhadores da Função Pública, ou da privada, os militares, os polícias, os pensionistas, os deficientes, etc., etc., a quem foram retirados velhos direitos de protecção na saúde, no Regime Geral, na ADSE e por aí fora?»

Indignado, continua: «Então, as verbas que todos nós descontamos e entregamos bovinamente (sem ofensa para ninguém, é claro) ao Estado (leia-se Governo), agora também servem para comparticipar a 100% mudanças de sexo?! Já não nos chegava o TGV? Já não chegavam as indemnizações pelas nacionalizações dos Bancos a banqueiros criminosos? Agora são as mudanças de sexo? O que virá a seguir?

Tanta publicidade sobre a disfunção eréctil, que afecta tantos homens a partir de certa idade – e, até, noutros extractos etários – já para não falar nos famosos comprimidos azuis e similares, para, afinal, não merecerem um cêntimo de comparticipação.

Mas que país é este. Que governo PS é este?», pergunta, a rematar.

E assim, inesperadamente, arranjei tema para esta crónica. Não que me faltasse assunto, pelo contrário, pois até já tinha alinhavado uma ideias sobre a nossa desgraçada situação económica, onde provaria que não foi a crise financeira internacional que trocou as contas a Sócrates. Na verdade, caros amigos, o nosso descalabro é anterior à crise, começou muito antes, pode dizer-se, até, que começou com a tomada de posse de Sócrates e comitiva.

Hoje, e só para vos aguçar o apetite, apenas vos digo que entre 2005 e 2008, com o «engenheiro» no poder, o crescimento económico foi, em média, igual a menos de metade da União Europeia, já que, em quatro anos, Portugal cresceu 4,8%, enquanto a UE a 27 cresceu 9,8%. E o pior é que, mesmo crescendo pouco, uma parcela cada vez maior da riqueza produzida foi transferida para o estrangeiro, o que veio estrangular o investimento e a consequente melhoria das condições de vida dos portugueses.

Na verdade, todos os indicadores económicos pioraram desde que Sócrates teve a sua desejada maioria absoluta. Do que resulta estarmos cada vez mais pobres e atrasados. «Todos», é uma forma de dizer, porque, no mesmo período, as grandes fortunas consolidaram-se, esgotaram-se os automóveis de luxo, os andares de 900 mil contos (sim, contos, e não euros) nos condomínios de luxo, idem, idem, aspas, aspas, os offshores lavaram milhões de euros com origem neste jardim à beira-mar plantado, enfim, foi aquilo que se sabe… e aquilo que ainda falta saber.

Mas nada disto importa. Tirem-se alguns Magalhães da manga, mude-se de sexo com uma varinha mágica, sumam-se, num milagroso passe de magia, milhões da banca privada, coloque-se um «cego» a governar o Banco de Portugal, diplome-se um «engenheiro» num abrir e fechar de olhos, ponha-se o homem a contar anedotas e histórias da carochinha, e aí está, para todo o povo português, de borla e ao domicílio, o fabuloso Circo Lusitano, no seu deslumbrante espectáculo de Natal.


Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 03/12/2008.
(Não deixe de ouvir em 98.7 Mhz e participar pelos telefones 212277046 ou 212277047 todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00).

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