02/11/2008

O SISTEMA “DEMOCRÁTICO”

Na próxima madrugada de 5 de Novembro ficaremos a saber quem vai governar os Estados Unidos da América durante os próximos anos e a expectativa não é nenhuma, já que, quer ganhe o Republicado quer ganhe o Democrata, para o mundo nada será diferente; ambos quererão continuar a dominar-nos política e economicamente.

Que ninguém se iluda! Nem mesmo a origem africana de um dos candidatos nos dá a esperança de que ele, a ganhar, olharia com outros olhos para o vasto continente onde diariamente morrem milhares de seres humanos por falta de alimentos e assistência médica.

Republicanos e Democratas têm vindo sucessivamente a prolongar há décadas o bloqueio económico a Cuba e nem sequer aceitam as exigências das Nações Unidas, onde recentemente foi votada pela 17ª vez consecutiva uma resolução para o fim do bloqueio, com 185 votos a favor, 3 contra (Estados Unidos, Israel e Palau) e 2 abstenções (Ilhas Marshall e Micronésia).

Este bloqueio assassino estende-se aos mais ínfimos pormenores, levando, por exemplo, a que desde 2003 o Centro Nacional de Genética Médica, uma prestigiada instituição pertencente ao pólo científico de Havana, tenha pedido ao Departamento do Tesouro dos Estados Unidos autorização para adquirir um Analisador de Genes, a fim de continuar o desenvolvimento do Programa Nacional de Diagnóstico, Manejo e Prevenção de Doenças Genéticas, iniciado na década de 1980.

Esse Analisador possibilita o estudo em famílias cubanas dos denominados "genes susceptíveis" de doenças de alta prevalência na população, como o cancro de mama, colo, próstata e Alzheimer.

Embora esses avançados equipamentos sejam produzidos também por firmas de outros países, os seus componentes são elaborados maioritariamente por companhias americanas, o que impede a sua compra directa.

Nem do ponto de vista profissional, nem humano, a directora do Centro de Genética, doutora em Ciências Médicas Beatriz Marcheco Teruel, pode compreender essa atitude do governo americano, que cinco anos depois "nem sequer se dignou responder ao nosso pedido".

A cientista indicou que aproximadamente 75% dos reactivos necessários no Centro para o diagnóstico de doenças genéticas são produzidos nos EUA, alguns, exclusivamente nesse país. Citou o caso do Amniomax, utilizado para o diagnóstico pré-natal de anomalias cromossómicas, como o síndrome de Down. Pela proibição de venda a Cuba, o sistema de saúde teve que pagar quase três vezes mais pelos frascos desses reactivos (cada um dá para três grávidas), ao ter que adquiri-los em mercados de países distantes.

Para dar uma ideia das acções de distribuição que isso traz, basta assinalar que em 2007 foram realizadas nacionalmente cerca de 7 mil estudos pré-natais cromossómicos e, nesta altura de 2008, atingem já quase 6 mil.

Em Cuba, todas as crianças entre o quinto e o décimo dia após o seu nascimento recebem "uma agulhada no pezinho", dirigida à detecção precoce de quatro doenças metabólicas.

O sangue obtido para esses diagnósticos deposita-se num papel com características especiais, denominado “Whatman”, sendo processado com a tecnologia SUMA (Sistema Ultramicroanalítico) de produção cubana.

No passado dia 4 de Junho de 2008 a doutora Beatriz Marcheco recebeu uma carta onde se lê textualmente:

"Informamos que recentemente a Empresa Whatman, originária de Inglaterra, foi comprada pela GE (General Electric) Healthcare dos EUA. Recebemos comunicação da GE no sentido de que estamos proibidos terminantemente de vender produtos de Whatman a Cuba. Portanto, anulamos todos os pedidos pendentes dos nossos clientes em Cuba e desactivamos completamente as nossas actividades relacionadas com os produtos Whatman nesse país".

Das 112.472 crianças nascidas no ano passado, realizaram-se 109.418 diagnósticos, para 97,3% dos nascimentos.

O bloqueio genocida quer também impedir o desenvolvimento normal das crianças cubanas e, sem a mais ponta de vergonha, dizem: “a partir de agora não têm acesso aos recursos que necessitam para realizar os diagnósticos”.

Mas a doutora Beatriz Marcheco aponta uma das coisas que mais a impressionam sempre nestas sistemáticas agressões dum governo tão poderoso, que é a atitude de resistência e luta do Estado revolucionário que, imediatamente e perante cada acção criminosa do bloqueio, busca alternativas e variantes para manter disponíveis os serviços de saúde tão necessários e requeridos pela população.

Disse a doutora Beatriz: “esquecem que para a Revolução Cubana a saúde é um direito humano inalienável”.

Por isso, digo eu, não se espere nada destas eleições norte-americanas assentes numa democracia podre, numa economia em ruínas e numa protecção social inexistente.

É todo o sistema que está em causa! Lá, como em Portugal e no resto do mundo dito ocidental, o que importa é o lucro fácil e a riqueza acumulada por alguns com o sacrifício de todos os outros.


Celino Cunha Vieira

1997, 2007 © Guia do Seixal

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