01/10/2006

ESTA SEMANA

INFECÇÕES
Depois do ministro da Saúde ter dito há tempos que uma das causas principais das infecções hospitalares se deve às más práticas de higiene de médicos e enfermeiros, vem agora a Direcção Clínica do Hospital de S.João, no Porto, ameaçar com procedimentos disciplinares para todos aqueles que não lavem as mãos apôs procederem a actos clínicos.
Se isto fosse um País a sério, a Ordem dos Médicos e a Ordem dos Enfermeiros já deveria ter instaurado um processo crime ao ministro e ao director clínico daquele Hospital, pois não se admite que possa ser posta em causa a idoneidade profissional de toda uma classe, lá por poder haver um ou outro que não cumpre.
A estratégia para as falhas destes pseudo-socialistas já começa a enjoar, porque a culpa é sempre dos profissionais e nunca deles próprios e das suas brilhantes ideias ou falta de condições de trabalho.
O ministro da Administração Interna diz que há maus polícias, a ministra da Educação diz que há maus professores e agora o ministro da saúde diz que há maus médicos e enfermeiros. Mas não dizem que há maus governantes e maus gestores públicos, porque esses fazem parte da “família” e têm de ser preservados.
Se existe algum profissional de saúde que tenha um comportamento reprovável, então que lhe seja instaurado o tal processo disciplinar com vista ao despedimento e até ao afastamento da profissão que exerce, por negligência e manifesta incompetência. Agora não se ponha é tudo no mesmo saco e não venham com a desculpa de que as infecções hospitalares são da sua responsabilidade.
Digam antes que as condições de trabalho são em muitos locais deploráveis e que os profissionais de saúde não podem fazer milagres;
Digam antes que os doentes com variadas patologias infecciosas se concentram em pequenos cubículos transformados em salas de espera e que se contaminam mutuamente;
Digam antes que os blocos operatórios deveriam ter uma pressão atmosférica superior à do exterior, mas porque os aparelhos de pressurização não funcionam, as salas são focos e contaminação;
Digam antes que pela falta de manutenção dos filtros e das condutas, o ar condicionado é um excelente disseminador de toda a espécie infecciosa;
Digam antes que em muitos locais a falta de instrumentos cirúrgicos obriga a uma grande rotação do mesmo e que a sua esterilização nem sempre é a mais recomendada;
Digam antes que a falta de material de penso (que já se faz sentir pelas restrições orçamentais) obriga a que os profissionais tenham de “inventar” soluções para resolverem os problemas que se lhes deparam;
Digam antes que o encerramento de Centros de Saúde vai piorar tudo isto com a concentração de mais doentes em menos locais;
E finalmente digam antes que não têm moral para apontar o dedo seja a quem for, quando as suas principais preocupações são as taxas moderadoras e não a saúde de todos nós.


SONDAGENS
Volta não volta somos bombardeados com sondagens, as quais traduzem na maioria das vezes os resultados que os seus promotores desejam passar para a opinião pública, servindo até de argumento a alguns comentaristas afectos ao poder instituído para dizerem que tudo está bem e que os portugueses até estão satisfeitos com as decisões governamentais.
Nos tempos que correm, nem os mais ingénuos podem acreditar nesta última da Marktest que conclui: “se as eleições legislativas se realizassem hoje o PS teria mais um ponto percentual em relação ao que obteve em Fevereiro de 2005”.
Estas mentiras, de tantas vezes repetidas, qualquer dia até passam a ser verdadeiras. É como o Sócrates: não só mentiu durante a campanha eleitoral, como continua a mentir descaradamente.
Na 5ª feira disse na Assembleia da República que as reformas não iam diminuir. Na 6º feira vem o seu o ministro das finanças dizer que os aposentados da função pública iriam passar a descontar 1% da reforma para a ADSE, desde que recebessem mais de um salário mínimo e meio, qualquer coisa que nem sequer chega aos 120 contos mensais.
Realmente as reformas não baixam: os descontos é que passam a ser maiores e assim a mentira fica encapotada.
Mas o Sócrates diz mais: o crescimento interno continua a aumentar, o desemprego cotinua a diminuir e os grandes investimentos estão quase a chegar. Mas entretanto mais umas quantas empresas continuam a fechar as portas e a mandar mais uns milhares para casa.
Por muita propaganda e sondagens encomendadas, não nos queiram convencer daquilo que está à vista de toda a gente e que se traduz num descontentamento generalizado, excepto para aqueles que, bens instalados na sociedade e em perfeita sintonia com o sistema vigente, dele podem retirar benefícios pessoais e viver desafogadamente e sem preocupações com o seu semelhante.


MULHERES
Há dias ofereceram-me o livro “ÁLVARO CUNHAL E AS MULHERES QUE TOMARAM PARTIDO” da autoria de João Céu e Silva publicado pelas Edições ASA e que foi lançado recentemente na última Festa do Avante.
Esta obra é inteiramente dedicada às mulheres comunistas que, na clandestinidade, no exílio ou na prisão, entre os anos 40 e 70, desenvolveram um importante trabalho dentro da organização do Partido em que militavam e militam, tornando-se credoras de admiração, respeito e consideração de todos aqueles que se consideram e são verdadeiros democratas.
Meninas que não tiveram infância e se fizeram mulheres, amigas ou companheiras, sabendo resistir ante todas as adversidades. Meninas que foram mães ausentes e que pelas circunstâncias não puderam dar aos seus filhos o amor que tinham. Meninas que perante os mais variados perigos eram as primeiras a dar o exemplo de coragem.
Num tempo em que as ideologias políticas andam tão arredadas do mundo em que vivemos, ler este livro deverá fazer despertar algumas consciências, verificando-se que as preocupações e as injustiças anteriores a 1974 continuam na ordem do dia e a necessitarem de um combate constante de todos aqueles que pensam por si próprios e que defendem os valores de uma sociedade mais justa e mais fraterna.
Seria bom que todos os comunistas o pudessem ler. Uns para que se sintam orgulhosos do seu Partido e de todos aqueles que se sacrificaram para o legar aos mais novos. Outros, que deslumbrados pelo poder, sintam vergonha na cara pelos actos que praticam e que nada têm a ver com os exemplos destas MULHERES.

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