06/02/2008

AINDA A ESQUERDA MODERNA

- Factos e ameaças

Se alguém está à espera que fale da remodelação ministerial, declaro desde já que não falarei disso. Porque não houve remodelação. Só a teríamos se Sócrates e o PS deixassem o país em paz. Mas a gamela do poder é como a droga. Vicia. E os que nela chafurdam, não conseguem deixá-la de livre vontade. Por isso, vamos a coisas mais interessantes.

Li o título da notícia e esfreguei os olhos. Isto é: numa primeira reacção, não acreditei. No entanto – e preto no branco – ela ali estava, a merecer honras de primeira página no Correio da Manhã. E um juiz do Tribunal Constitucional, para que dúvidas não tivéssemos, confirmava, em declarações prestadas ao jornal, a sua veracidade. «Várias dezenas de titulares de cargos políticos solicitaram ao Tribunal Constitucional que o conteúdo das suas declarações de rendimentos fossem ocultadas da opinião pública».

Ora aqui está – pensei eu – um bom exemplo de transparência política, certamente inspirado nos valores da Esquerda Moderna, essa coisa defendida pelo «engenheiro» Pinto de Sousa, também conhecido por Sócrates.

Um dia depois, volto a sentir-me vítima de outra alucinação. Duas confederações patronais (as confederações da Indústria Portuguesa e a do Comércio e Serviços) querem alargar a figura do despedimento com justa causa com base na necessidade de renovar o pessoal das empresas. Querem, também, diminuir o montante das indemnizações. Se bem entendi, sempre que uma empresa entenda necessitar de trabalhadores diferentes dos que tem, porque admite, por exemplo, que gente nova pode dar mais rendimento por menos dinheiro, pode atirar para o olho da rua, com justa causa, qualquer dos trabalhadores ao seu serviço. Li e reli. Mas isto, entre outras coisas, estava lá: «A CIP sustenta que, por vezes, as empresas estão apenas carecidas de trabalhadores diferentes e não de menos trabalhadores. Daí que a renovação do quadro deva ser integrado como fundamento legitimador (da justa causa para despedimento).» Depois de me beliscar – e me ter doído – percebi que não estava a sonhar.

E, inevitavelmente, lá concluí que nada disto pode estar dissociado da emergência desse novo conceito ideológico, que dá pelo nome de Esquerda Moderna, tão querido do senhor presidente do conselho de ministros.

Outra notícia, esta por via particular, chega-me às mãos. Um trabalhador da Carris, com 33 anos de serviço, é informado que o seu posto de trabalho na empresa foi extinto. Não foi despedido, mas as ofertas para executar funções diferentes das que sempre desempenhou – e para as quais não está habilitado, nem com idade para a elas se adaptar física e psicologicamente – (trinta e três anos não são trinta e três dias, ou meses) conduzem para um quadro de rescisão por saturação psicológica muito provável. Ao fim de uma vida de trabalho, aí está eminente mais um drama que a crueldade dos senhores do mando, beneficiando do clima da governação socratiana, não hesitam em provocar. Mas a Esquerda Moderna é mesmo assim.

O concurso público para gestão do célebre Hospital Amadora-Sintra já deveria estar programado, pois o contrato com o grupo Mello termina em 31 de Dezembro deste ano. No entanto, segundo parece, o Governo esqueceu-se que o prazo para denunciar esse contrato terminava em 31 de Dezembro do ano passado, pelo que, se assim for, já não irá agora a tempo de cessar esse vínculo. Em consequência, não haverá concurso público, conforme o governo socialista tinha prometido, do que resultará o favorecimento do grupo Mello, que assim, sem mais chatices, continuará a explorar a loja que a governação lhe ofereceu.

E lá me veio à cabeça a cativante expressão Esquerda Moderna, mais os seus altos valores éticos e sociais.

Como se vê, nesta Esquerda Moderna mamam, como sôfregos leitões nas tetas da porca da sua mãe, os clãs que dominam a economia nacional. E há tetas à fartura para todos. Suculentas, macias, rosadinhas, de um rosa velho made in Largo do Rato, que está mais mãos-rotas para os senhores do capital que os velhos coitos do velho regime de Salazar e Caetano.

Depois de dominarem o sistema financeiro a seu bel-prazer, acumulando lucros sobre lucros – e sempre fabulosos – mas não pagando impostos na mesma proporção dos lucros anunciados, a Esquerda Moderna pô-los a mamar na Saúde, na Educação (onde, aliás, depois, vai comprar licenciaturas, bacharelatos, e outros títulos, alguns deles pagos a prestações), nas Obras Públicas, oferecendo-lhes estradas e pontes, ou na Cultura, oferendo ao impagável Berardo um vasto espaço público – e ainda lhe pagando por cima.

Perante isto, é um Sócrates que vai perdendo o fôlego e baixando a grimpa, que vemos a negar, sem convicção, mais algumas trapalhadas da sua vida como político e, principalmente, como «engenheiro».

E lá volto eu às notícias incríveis:

«Sócrates assinou, durante uma década, projectos da autoria de outros técnicos», garante o jornalista José António Cerejo, homem que conheço há vários anos, e por cuja honradez e mérito profissional ponho as mãos – ou qualquer parte do corpo – no lume.

E mais à frente: «José Sócrates assinou numerosos projectos de edifícios na Guarda, ao longo da década de 80, cuja autoria os donos das obras garantem não ser dele. Nalguns casos, esses documentos eram manuscritos com a letra de Fernando Caldeira, um colega de curso do actual primeiro-ministro que era funcionário do município e que, por isso, não podia assumir a autoria de projectos na área do concelho».

Pasmado, continuo a ler: «O primeiro-ministro diz que assume “a autoria e a responsabilidade de todos os projectos” que assinou e que a sua actividade profissional privada se desenvolveu “sempre nos termos da lei”. Embora se trate de uma prática sem relevância criminal, as chamadas “assinaturas de favor” em projectos de engenharia e arquitectura constituem uma “fraude à lei”, no entendimento do penalista Manuel Costa Andrade, e são unanimemente condenadas pelas organizações profissionais dos engenheiros técnicos e dos engenheiros.

A actividade privada do actual primeiro-ministro como projectista de edifícios era publicamente desconhecida até que, em Junho do ano passado, um antigo presidente da Câmara da Guarda, o também socialista Abílio Curto, a ela se referiu numa entrevista. “Uma vez disse-lhe [a José Sócrates] que ele mandava muitos projectos para a Câmara da Guarda, obras públicas, particulares. (...) O que sei é que nem todos os projectos seriam da autoria dele. Mas isso levar-nos-ia muito longe e também não vale a pena”, afirmou o ex-autarca à Rádio Altitude, pouco depois de ter terminado o cumprimento de uma pena de prisão por corrupção passiva».

Desculpem-me se sou desmancha-prazeres, mas, perante esta escabrosa situação, o grave, para mim, não é que Sócrates tenha assinado projectos que não eram seus. O verdadeiramente grave, face ao que vamos sabendo, seria se os projectos tivessem sido, realmente, da sua autoria.

Tome-se, como exemplo, no que está a dar o seu projecto político. Um descalabro social, um colapso económico, um país em vias de ruir. Se é que já não ruiu, de facto

Bem, meus amigos, agora que já percebi o que é a Esquerda Moderna, muito obrigado, mas rejeito.


Crónica de: João Carlos Pereira
Lida nas “Provocações” da Rádio Baía em 06/02/2008.
(Não deixe de ouvir em 98.7 Mhz e participar pelos telefones 212277046 ou 212277047 todas as quartas-feiras entre as 09H00 e as 10H00).

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Ò meu parvalhão tu querias é que o teu partido comunista consegui-se ser poder central mas nunca vais ter esse previlégio.
Olha mas é para o teu passado e deixa-te de mariquices toda a gente sabe o que tu foste nessa altura só não sabe aqueles ouvintes que não te conhecem.
Nem um bom chefe de familia foste nem um bom pai foste e és.Tem mas é verganha nessa cara ,não seijas ordinário.

6/2/08 10:16 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home

1997, 2007 © Guia do Seixal

Visões do Seixal Blog Directório Informações Quem Somos Índice