09/09/2007

REFLEXÕES XXV

W (BUSH) E A APEC

As reuniões importantes sucedem-se a um ritmo tal e é tanta a velocidade com que voa e fala Bush, que é quase impossível determinar a quantidade. Durante a viagem a Sydney, fez escala de várias horas no Iraque. Não posso afirmar se isto aconteceu há dois ou três dias, porque quando em Sydney é quinta-feira, e o sol radia quase na vertical sobre a Terra, em Havana ainda é quarta-feira com o ar fresco da noite. O planeta Terra globalizado muda e transforma conceitos. Só uma realidade permanece inalterável: a rede de bases militares, aéreas, navais, terrestres e especiais do império, cada vez mais poderoso e ao mesmo tempo débil.

Não há que fazer especial esforço de persuasão. Deixemos que fale a própria agência norte-americana de notícias.

“SYDNEY, Austrália (AP).- O presidente dos Estados Unidos George W. Bush pediu na terça-feira aos países da Bacia do Pacífico que lutem de maneira conjunta contra o aquecimento global da atmosfera, e disse que a China e outras nações responsáveis pela contaminação ambiental devem contribuir para a procura de uma solução efectiva.

“Bush apoiou uma proposta da Austrália para que os países da APEC, (siglas em inglês de Asia-Pacific Economic Cooperation, ou Fórum da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico), respaldem um novo enfoque perante o desafio da mudança climática.

“Esse enfoque ao contrário do protocolo de Kyoto, que os Estados Unidos e a Austrália se negaram a assinar, exige uma acção mais firme por parte da China e de outros países em desenvolvimento.”

“’Para que exista uma política eficaz no que respeita à mudança climática, a China deve estar presente’, disse Bush numa entrevista colectiva da qual também participou o primeiro-ministro da Austrália John Howard. Bush e Howard emitiram um comunicado conjunto que apoiou a energia nuclear, as novas tecnologias alternativas e abundante diálogo a favor da diminuição do aquecimento global da atmosfera.”

“Por outro lado, perto de trezentos manifestantes, muitos deles estudantes de colégios, reuniram-se para protestar contra Bush, contra a guerra no Iraque e contra o apoio que Howard oferece a Bush e à guerra.

“Soube-se por outra parte que na minuta de declaração final que emitirá a Cúpula na sua reunião do próximo fim de semana, faz-se uma breve referência ao problema da mudança climática. The Associated Press obteve uma cópia da minuta na quarta-feira.”

Os parágrafos que aparecem entre aspas, tirados do cabograma, são textuais. Outras agências internacionais tradicionais afirmam com maior ou menor extensão os mesmos factos.

Não é, contudo a única notícia que chega da contínua torrente de palavras de Bush.

Por exemplo, a agência DPA informa que em Sydney, Bush traçou as directrizes daquilo que se deve fazer em Myanmar, antiga colônia britânica da Birmânia com 678.500 quilômetros quadrados e 42.909.646 habitantes.

“Sydney, 5 de setembro de 2007 (DPA).— O presidente dos Estados Unidos George W. Bush criticou hoje, utilizando duros termos, a junta militar de Myanmar (antiga Birmânia) e instou os líderes que participarão neste fim de semana na Reunião de Cúpula do Foro de Cooperação Ásia-Pacífico (APEC), na cidade australiana de Sydney, a fazerem o que lhe corresponde.

“’É imperdoável que exista esta classe de comportamento tirânico na Ásia. É imperdoável que pessoas que se manifestam a favor da liberdade recebam o tratamento de um Estado repressivo’, afirmou hoje nas suas primeiras declarações públicas após a sua chegada a Sydney na véspera para participar da Cúpula de APEC.

“Nas suas palavras o presidente norte-americano referia-se à violenta repressão dos protestos que tiveram lugar nos últimos dias de Agosto em Myanmar. ‘Aqueles que vivemos comodamente numa sociedade livre devemos levantar a nossa voz contra esse tipo de violações dos direitos humanos’, enfatizou Bush.”

É bem conhecido que no Iraque têm morrido por volta de um milhão de pessoas e dois milhões viram-se forçados a emigrar a partir do momento em que o país foi invadido pelas tropas dos Estados Unidos e dos seus aliados, entre eles a Austrália. Nenhum desses dois países mencionados assinou o acordo de Kyoto, convertendo-se em aves estranhas os representantes permanentes dos seus governos nas Nações Unidas, onde a recusa é quase unânime. Também se sabe que o substituto de Blair programou a retirada das tropas britânicas que se encontram no Iraque. Nesses três países, incluindo logicamente os Estados Unidos e a Austrália, existe uma crescente resistência à aventura do Iraque, ao qual se acrescenta hoje a aventura do Afeganistão, onde os campos se encheram de papoula, com a qual se pode produzir noventa por cento do ópio do mundo.

No Afeganistão, país de tradição independentista e rebelde, jamais tinha acontecido esse fenômeno. Agora surge sob a ocupação estrangeira. A maioria dos seus habitantes, 84 por cento, são de crença muçulmana sunita. Os soldados e as armas dos Estados Unidos e dos seus aliados da OTAN matam ali todos os dias mulheres e crianças. Além do mais, Bush ameaçou o Paquistão em levá-lo novamente à idade de pedra, declarou terroristas os Guardiães da Revolução, um contingente de milhões de homens ligados ao exército iraniano, e pressiona fortemente, com o mesmo pretexto de lutar contra o terrorismo, o primeiro-ministro do governo do Iraque apoiado até agora pelas tropas invasoras.

Deixemos que cada um medite sobre a missão atroz dos governos repressivos formados durante décadas pelos Estados Unidos para a América Latina nas escolas norte-americanas de torturadores, e sobre o papel que conserva a droga no mercado da sociedade consumista do império. Essa é a democracia que W predica na APEC. Tudo de marca e patente norte-americana.

Quer-se castigar o povo de Myanmar mesmo como fizeram ao povo de Cuba. Por que não concedem uma Lei de Ajuste para que os seus emigrantes formados como enfermeiros, médicos, engenheiros e pessoas capazes de produzirem mais valores para as multinacionais, tenham direito a residirem nos Estados Unidos?

A reflexão estende-se e devo concluir.

Como no nosso país cada instituição ou acontecimento importante vai fazendo um ano adicional de vida, cinco, dez, até cinqüenta ou mais, aproveito a ocasião para partilhar a honra dos cienfuegueros pela comemoração, há dois dias, do 50º Aniversário do levantamento dos marinheiros do Comando do Distrito Naval de Cayo Loco, dirigidos pelo Movimento 26 de Julho, e do 20º Aniversário da criação dos Clubes de Computação para Jovens, que cumpre-se precisamente amanhã sábado. Envio a todos os meus mais calorosos parabéns.


Fidel Castro Ruz
7 de Setembro de 2007

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