26/03/2007

A FRUTA DA ÉPOCA

Há sempre uma época em que a fruta é mais abundante, mais suculenta e mais carnuda, mas mesmo assim não deixa de estar sujeita a ser atacada por pragas que acabam por a estragar e de lhe retirar o que ela tem de mais puro e nutritivo.

Por mais que se queira, não se consegue compreender alguns dos procedimentos que rodeiam a completa bagunça de alguns serviços públicos e quem sofre são sempre os mais necessitados que não podem gritar a sua indignação e protestar contra o poder instituído, porque “democraticamente” a quem manda, tudo é permitido.

Tenhamos então como base não um conto imaginário, mas sim a pura e dura realidade vivida por um dos muitos milhares de cidadãos atingidos pela prepotência escudada num pretenso défice a ser atingido.

Aconteceu neste mês em que a Primavera começa a dar os seus primeiros sinais e a parca reforma que se recebe, em troca do suor de toda uma vida de trabalho sofre uma quebra, tornando-se angustiante para quem tem de cumprir as suas responsabilidades e fica sem saber o que se passa.

Imaginando algum erro informático e sem vontade de dar mais um passo, o nosso cérebro só contempla uma expressão: “assim não dá”.

- Mas o que foi agora ?

Desabafa-se com as pedras da calçada ou num recôndito canto da casa de toda uma vida e assalta-nos o pensamento de que “qualquer dia ainda andamos a pedir para dar aos Grandes Senhores”.

Nesta labiríntica confusão de pensamentos e emoções, procura-se entender e procurar uma explicação razoável em fonte segura, ou seja, na Caixa Nacional de Pensões, para saber o motivo do corte na mísera pensãozita que nos foi atribuída.

Ao mesmo tempo que se “saca” a respectiva senha para o atendimento, depara-se com uma sala cheia, levando-nos a imaginar que afinal não somos só nós a querer explicações e que os atingidos pela “fruta” são aos milhares.

Só o tempo de espera da nossa vez num ambiente carregado e triste, leva-nos a pensar que a poluição da rua, a chuva, o vento e o frio, seriam um melhor refugio para este desencanto.

Mas nem tudo está perdido e no meio de tudo isto surge um funcionário que trabalha como segurança e que pela experiência do seu dia-a-dia presta algumas informações úteis, explicando como se preenche a folha onde deve constar “o local do crime” (em sentido figurado), com a indicação dos escalões de cada pensão, etc.

Logo ali o mistério fica desvendado e neste vai-vem de algumas horas de espera a chamada aguardada com tanta ânsia logo se esvazia, porque a justificação do corte deve-se ao aumento no escalão e por isso a diminuição da pensão, sendo o resultado da conjugação da Lei, com o Decreto-Lei aprovado em mil novecentos e troca o passo, tendo em consideração a Portaria e o Despacho de dois mil e não-sei-quantos.

Estupefactos com estas informações (do segurança), pergunta-se então se a via dos correios não funciona e se os pacatos cidadãos não têm o direito antecipadamente a uma explicação clara e transparente que lhes permita fazer contas à vida, já que protestar de nada lhes vale.

E não venham dizer que os meios de comunicação são complicados, já que o plano tecnológico, tal como o sol, quando nasce deveria ser para todos.

É esta a FRUTA DA ÉPOCA a que estamos sujeitos e que nos desmotiva, porque os pobres são cada vez mais pobres e os ricos podem sempre recorrer à fruta bem servida e que não apodrece.


Jaime Reis

1997, 2007 © Guia do Seixal

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